sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Toffoli persiste em desmonte metódico da Lava-Jato

O Globo

Com mais uma decisão monocrática, ministro do Supremo anulou todos os casos relativos ao ex-ministro Palocci

Em mais uma decisão monocrática, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli anulou todos os processos contra Antonio Palocci no âmbito da Operação Lava-Jato. Ex-ministro da Fazenda de Luiz Inácio Lula da Silva e da Casa Civil de Dilma Rousseff, Palocci foi condenado em 2016 por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Ainda que ele tivesse confessado tudo em delação às autoridades, sua defesa entrou com pedido junto ao Supremo para que recebesse o mesmo tratamento dado ao empresário Marcelo Odebrecht. Em maio do ano passado, Toffoli tornou nulos os atos praticados pelo então juiz Sergio Moro contra Odebrecht, decisão depois referendada pela maioria da Segunda Turma da Corte.

José de Souza Martins - O imaginário perverso da presidência vacante

Valor Econômico

O misticismo bolsonarista submete a política à crendice, é apocalíptico e sacrificial. É sacrifício humano pela nação. É, portanto, antipolítico e não só antidemocrático

A intentona de 8 de janeiro de 2023 não terminou apesar do julgamento dos participantes diretos da baderna daquele dia contra as instituições. Os depoimentos nos interrogatórios do STF contêm indícios de protagonistas invisíveis na mobilização dos manifestantes em diferentes cantos do país. Os depoentes não depuseram. Expuseram a inocência planejada e fingida, não o acontecido. Aquela era uma multidão de dupla personalidade.

Mas não foram questionados pelas incoerências dos relatos. Muitos disseram ter ido a Brasília para conhecer a cidade, embora tenham se limitado ao acampamento da porta de quartel e aos recintos invadidos do STF, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto. Brasília não era destino, era um alvo.

Caminho para Bolsonaro é estreito - Vera Magalhães

O Globo

Nos fronts jurídico e político, opções para o ex-presidente são parcas, e velocidade do processo tende a reduzi-las ainda mais

A apresentação da denúncia contundente de Paulo Gonet contra Jair Bolsonaro e os atos subsequentes de Alexandre de Moraes evidenciam que o caminho para o ex-presidente se contrapor a uma maré de más notícias judiciais e políticas se estreitou muito, e rápido. Digamos que Bolsonaro atrapalha muito qualquer estratégia de defesa por falar demais e sempre antecipar os próximos lances.

A óbvia manobra de seus advogados de tentar ganhar mais tempo na largada, pedindo mais prazo para a defesa, já nasceu fadada ao fracasso quando, um dia após o outro, Moraes levantou o sigilo da delação premiada de Mauro Cid e divulgou sua transcrição, com o bônus de áudios e vídeos para deleite da audiência da imprensa e das redes sociais. Depois, diante da própria decisão, negou os dilatados 83 dias pedidos pelos advogados de Bolsonaro, por desnecessários.

Para Lula, Bolsonaro assume a culpa ao pedir anistia – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Foram as declarações mais duras do petista, até agora, sobre a denúncia do Ministério Público Federal (PGR) contra seu principal adversário político

presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista exclusiva ao programa do Clóvis Monteiro, na Super Rádio Tupi, na manhã de ontem, disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro se comporta como quem é culpado pela tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, ao defender a própria anistia.

"Olha, se o cidadão está sendo acusado, não pode ficar pedindo perdão antes de ser julgado. Tem que, primeiro, provar que é inocente. Quando esse presidente fica pedindo anistia, está provando que é culpado. Está provando que cometeu um crime. Deveria estar falando: 'Vou provar minha inocência'", afirmou.

Durante a entrevista, da qual também participaram Sidney Rezende e Isabele Benito, âncoras de programas da emissora dos Diários Associados, campeã de audiência no Rio de Janeiro, Lula falou que Bolsonaro deve ser preso se for comprovada a culpa.

Julgamento na Primeira Turma tem previsão regimental - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Está nas mãos do ministro Alexandre de Moraes a decisão sobre a competência de julgamento da denúncia do procurador-geral da República, Paulo Gonet, contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 33 por tentativa de golpe de Estado. O regimento interno do Supremo Tribunal Federal prevê que o julgamento se dê na turma do ministro relator, no caso, a Primeira. O apelo da defesa para que a denúncia e, futuramente, a ação, sejam julgadas pelo plenário pode ser rejeitado pelo ministro. Além de Moraes, lá estão os ministros Carmen Lúcia, Luiz Fux, Cristiano Zanin Flavio Dino. É uma composição que tende a ter maioria para manter o julgamento na Turma. A celeuma se soma ao questionamento sobre Moraes pela participação no julgamento de um caso em que aparece como vítima.

Redes sociais e a denúncia contra Bolsonaro - César Felício

Valor Econômico

Fato quebrou sequência de narrativas favoráveis ao ex-presidente

Três empresas de monitoramento de redes sociais foram a campo entre terça e quarta-feira e chegaram à mesma conclusão. A denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por golpismo, apresentada pela Procuradoria-Geral da República, representou uma tomada de fôlego para a esquerda.

O ex-presidente e seus aliados até o início dessa semana estavam com várias operações em curso que geram engajamento massivo nas redes sociais. Pesquisas mostraram não só a queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas a dianteira de Bolsonaro em simulações sobre 2026. A ação do presidente americano Donald Trump contra a agência governamental Usaid mobiliza a extrema-direita no Brasil e em todo mundo. As convocatórias para manifestações públicas em 15 de março estão crescendo. O ovo está caro e a direita tenta convencer a opinião pública que a culpa é do governo.

Ódio não! - José Sarney*

Correio Braziliense

O ódio hoje é real. E deve acabar. Ele é a semente que desponta como o instrumento de divisão não só dos políticos, como do povo brasileiro

Eu, muitas vezes, em entrevistas, artigos, disse que, ao longo da vida, nunca tive capacidade de sentir ódio. E isso considero que me fez e faz muito bem. O ódio traz como consequência maior o ressentimento, e este, a amargura, que faz muito mal a nós próprios e deforma o nosso modo de viver.

Conheci um homem que tinha uma alma pura, o deputado Djalma Marinho. Era uma figura muito conhecida e respeitada na Câmara dos Deputados. Foi candidato a presidente da Casa. Perdeu. Eu e o deputado Nelson Marchezan fomos a sua casa prestar-lhe solidariedade. Com o meu jeito de não cultivar sentimentos negativos, disse-lhe: "Djalma, não guarde ressentimentos." Ele me respondeu: "Sarney, eu não guardei dinheiro na vida, que é coisa boa, lá vou guardar ódio e ressentimento, que não prestam para nada?". Foi ele que, depois, na comissão que presidia, recusou-se a cumprir uma ordem do governo para processar o deputado Moreira Alves, em 1968, quando o país estava sob as normas do AI-5. Renunciou ao cargo de presidente e, repetindo o espanhol Calderón de La Barca, marcou a Casa com a célebre frase: "Ao rei tudo, menos a honra".

As lágrimas do coronel - Bernardo Mello Franco

O Globo

A cena veio à tona ontem, dois dias depois da denúncia contra Jair Bolsonaro e seus comparsas. Em depoimento ao Supremo, o tenente-coronel Mauro Cid se desesperou e chorou. “Parece que a imprensa não me larga. Parece que qualquer coisinha minha eles querem vazar”, lamuriou-se.

O militar reclamava da revelação, pela revista Veja, de áudio em que investia contra os investigadores e o ministro Alexandre de Moraes. “Não sou só eu que estou sofrendo com isso. É eu (sic) e toda a minha família”, queixou-se. Ele tentou reduzir seus ataques à Justiça a um “desabafo num momento ruim”. “É um desserviço que essa porcaria da imprensa faz”, protestou.

Sim, o mundo está atento - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro tem razão: o mundo está atento às provas cabais de que ele tentou um golpe no Brasil

Jair Bolsonaro, indiciado, denunciado e candidato à prisão, abriu e fechou uma nota na internet, depois do longo parecer da PGR, com o mesmo alerta, ou ameaça: “O mundo está atento ao que acontece no Brasil!” Atento ao quê? O que acontece no País, na visão do ex-militar que começou e está encerrando a vida pública como golpista?

Não por pura coincidência, uma empresa de Trump abriu ação, no dia seguinte à denúncia pela PGR, contra Alexandre de Moraes, que era um dos alvos de assassinato dos golpistas, é relator do processo contra o golpe e mostrou ao X de Musk que o Brasil não é a casa da Mãe Joana.

Golpe - Laura Karpuska

O Estado de S. Paulo

A lógica por trás de todos os golpes é enfraquecer instituições para concentrar poder

A Constituição brasileira não possui uma definição precisa de golpe. Pensamos, de forma geral, que golpe é a tomada de poder de forma inconstitucional. A tomada clássica, digamos, seria o impedimento de eleições. Mas há muitas formas de ampliar o poder de forma inconstitucional.

Ao que parece, Bolsonaro se reuniu com militares, pressionou instituições e fez discursos que incentivavam atos golpistas. Em um famigerado desfile de 7 de Setembro na Avenida Paulista, Bolsonaro disse que só sairia do poder preso, morto ou com vitória. O ex-presidente deve ser julgado ainda neste ano por tentativa de golpe. Bolsonaro parecia envolvido em um clássico “coup d’état” latino-americano que, felizmente, falhou.

Só resta a Bolsonaro dizer que é vítima - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Estratégia de declarar-se perseguido pelo sistema funcionou com Lula e com Trump, mas caso do capitão reformado tem diferenças

cerco jurídico sobre Jair Bolsonaro está se fechando. Com o oferecimento da denúncia que o acusa de tentativa de golpe de Estado e outros crimes, é questão de semanas até que ele se torne réu. Não é impossível que até o final deste ano já tenha sido julgado e condenado pelo STF e quem sabe até esteja preso.

As primeiras reações de Bolsonaro e aliados próximos à denúncia da Procuradoria-Geral da República não deixam dúvida sobre qual será a estratégia do ex-presidente. Ele vai negar até o fim todas as imputações e dizer que é vítima de perseguição política.

Ficha suja social clube – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Esperança de Bolsonaro é revogação da Lei da Ficha Limpa antes de condenação no STF

Denunciados Jair Bolsonaro e companhia ao Supremo Tribunal Federal, é de se ver agora qual será o comportamento da turma de defensores da impunidade no Congresso Nacional.

A recente movimentação em prol de um alívio, via anistia ou mudança na Lei da Ficha Limpa, evidencia agonia do ex-presidente, cuja esperança é o atraso do processo no STF.

Lula quebra ovos, sem omelete - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

No que estava a seu alcance, atenuar altas de dólar e juros, presidente deu tiros no pé

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu de falar do preço do ovo. Faz um mês, o governo diz que vai tomar providências a fim de conter a alta do preço dos alimentos. Não fez nada a respeito, até porque não tem quase nada a fazer.

No que pode fazer, evitar sobressaltos no dólar ou nos juros, falhou, quando não deu tiros no pé. Dólar caro encarece alimentos. Juros altos causam problemas de amplo espectro. Até mesmo interrompem a concessão adicional de crédito subsidiado pelo Tesouro para agricultores, como se soube nesta quinta.

No meio do sururu dos alimentos, vem ainda mais essa. A oposição e a direita vão fazer festa.

Tragédia em forma de calor – Flávia Oliveira

O Globo

Nas favelas, multiplicam-se as interrupções de energia em decorrência do excesso de carga

Outrora invisível, o inimigo está mais evidente do que nunca. É implacável o calor extremo que alcança, em particular, o Rio de Janeiro desde a virada do ano. O segundo mês de 2025 nem chegou ao fim, e os especialistas já atestaram a terceira onda de calor da temporada. É fenômeno que impacta a saúde, a mobilidade, a aprendizagem, a atividade econômica. Como de resto, escancara desigualdades tatuadas na sociedade. E flerta com a tragédia.

A Prefeitura do Rio, via secretarias de Saúde, Meio Ambiente e Centro de Operações, elaborou protocolo de enfrentamento ao calorão. O conjunto de alertas e ações tomou forma no ano passado, meses depois da morte, por exaustão térmica, da jovem Ana Clara Benevides Machado, aos 23 anos. Ela sucumbiu à sensação de 60 oC que a cidade experimentou em novembro de 2023, durante o show da mega-star Taylor Swift no Engenhão.

Na ocasião, ficou exposta a desumanidade das condições impostas aos fãs: proibição de entrada com garrafas nas arenas, bem como de oferta gratuita do líquido vital. Prioritárias eram as receitas financeiras dos patrocinadores. O episódio fatal selou a série de normas impostas pela Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça aos organizadores de eventos de massa. Tem de haver atendimento médico e ambulância, mangueiras para banhar e resfriar a plateia. Foi autorizada a entrada com recipientes para bebidas; tornou-se obrigatória a hidratação gratuita. Água, afinal, é direito, não item de consumo.

Nesta semana, a capital fluminense alcançou pela primeira vez o nível 4 na escala de calor, que varia de 1 a 5. Significa dias seguidos com temperatura de 40 oC a 44 oC. Nenhuma hipótese de chuva. Equipamentos públicos, de naves do conhecimento a bibliotecas e museus, foram indicados como pontos de resfriamento com ar-condicionado, água potável, área de descanso. Distribuidoras saíram às ruas para entregar copos d’água em pontos de grande circulação e calor, como costumavam fazer apenas nas áreas de dispersão do carnaval

São medidas bem-vindas, necessárias, mas ainda insuficientes. Alunos se manifestaram contra ambientes escolares tornados saunas de aula. Há estudos que confirmam que o calor excessivo é inimigo da aprendizagem, tal como a fome e a violência. Os chamados ao Samu saltaram 45% nos dias de temperatura recorde, segundo a Secretaria estadual de Saúde. Na capital, em 15 dias, houve 2.400 atendimentos em unidades de saúde em razão do calor.

O sistema de transportes aprofunda o inferno, com a combinação de longos trajetos em veículos sem refrigeração, como se ar-condicionado fosse luxo, não necessidade. O sol, de tão forte, fez um trem da Supervia descarrilar após um trilho do ramal Guapimirim derreter sob o calor de 71 oC.

Nas favelas, multiplicam-se as interrupções de energia em decorrência do excesso de carga. A demanda por energia na Região Sudeste bateu dois recordes em um mês, segundo dados do Operador Nacional do Sistema. A Light, concessionária em 31 municípios fluminenses, reportou 1.150 transformadores queimados por sobrecarga em 45 dias deste ano. O consumo adicional na primeira quinzena de fevereiro foi equivalente ao de todo o estado de Roraima.

Na Rocinha, no Alemão, em comunidades da Zona Oeste e da Baixada Fluminense, o emaranhado de fios em curto entra em chamas. Inflama-se pela energia consumida pela avalanche de aparelhos ligados simultaneamente. Prenúncio de castatrofe.

Na favela da Zona Sul, a associação de moradores apelou a comércio e serviços por extintores. A população formou brigadas de incêndio improvisadas para deter o fogo até a chegada dos bombeiros. Homens, mulheres, crianças contam consigo e com Deus, na falta de condições de moradia, infraestrutura adequada, assistência do poder público. Residências ficam mais de 24 horas sem energia. Há casos de pessoas dormindo ao relento, diante da impossibilidade de suportar o calor em imóveis densamente habitados com circulação de ar deficiente.

Até a inflação do ovo se relaciona ao calor extremo. Sim, as galinhas, afetadas, também produzem menos. Hortaliças e frutas historicamente ficam mais caras na temporada. Ainda que anuncie medidas de emergência, o poder público segue devendo. A conta de anos, décadas, séculos de descaso e urbanização mal feita chegou pesada com o calorão. Todo mundo paga, mas os de sempre (pobres, pretos, favelados, subocupados) pagam muito mais. E as chuvas nem deram as caras. Ainda.

 

Poesia | Licença Poética, de Adélia Prado

p> 

Música | Francis Hime com. Simone | Samba Pra Martinho