segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Deslocamentos em queda são desafio para metrópoles

O Globo

Pesquisa verificou redução de 15% nas viagens diárias dos paulistanos, tendência que se repete pelo Brasil

A última edição da tradicional pesquisa Origem e Destino, do Metrô paulistano, constatou um fato inédito na série histórica que começa em 1967: a maior metrópole do país desacelerou. Pela primeira vez, caiu o total de viagens diárias dos habitantes da Região Metropolitana de São Paulo. A tendência se repete noutras regiões metropolitanas. Nos últimos cinco anos, os passageiros de transportes coletivos no Rio caíram de 147 milhões para 115 milhões por mês, ou 22%. Tal cenário traz desafios de toda sorte para as autoridades.

Realizada em 32 mil domicílios nas 39 cidades da Grande São Paulo, a pesquisa verificou que, em menos de dez anos, os deslocamentos diários caíram 15% — de 42 milhões, em 2017, para 35,7 milhões, em 2023. A queda se deu com mais intensidade nos transportes coletivos (de 15,3 milhões para 12,3 milhões) que nos individuais (de 13 milhões para 12,9 milhões). Os deslocamentos a pé caíram de 13,4 milhões para 10,1 milhões. Os ônibus perderam 2,6 milhões de viagens (32%), o metrô 626 mil (18%), e os trens 165 mil (13%). Por fim, os trajetos feitos em carro particular caíram de 11,3 milhões para 10,5 milhões (8%).

A lógica elementar do governo Trump – Fernando Gabeira

O Globo

Estamos diante de um desesperado desejo de grandeza ou, se quiserem, um profundo medo da decadência

Há muitas teses para interpretar o tsunami de medidas de Donald Trump. Respeito todo o esforço para desvendar a estratégia política por trás dessa avalanche. Para mim, existe uma lógica simples, sobretudo a partir das palavras. Uma secretária de Trump chamou os imigrantes ilegais venezuelanos de sacos de lixo. Elon Musk disse que a Usaid estava corroída por vermes.

Trump não só privou pessoas trans de direitos legais, como decidiu enviar mulheres a presídios masculinos, indiferente à violência que as destruiria. A lógica se desdobra de indivíduos para minorias e de minorias para populações, como os 2 milhões de palestinos da Faixa de Gaza. Simplesmente deveriam, na lógica de Trump, ser retirados de suas terras para dar lugar a um resort de luxo.

Eu só quero é ser feliz – Preto Zezé

O Globo

Aos políticos que se dedicam a perseguir funk, aconselho conhecer e dialogar com seus líderes

Nos últimos anos, diversos projetos de lei têm visado o funk, muitas vezes sob o argumento de coibir apologia ao crime, mas, na prática, dificultando a contratação de jovens funkeiros e prejudicando a indústria do gênero. Parte desse movimento é motivada pela associação da música ao crime. Outra parte é consequência da própria violência e da ausência do Estado, que produzem um cenário de falta de segurança presente em relatos e valores de alguns adeptos do gênero.

A ilusão de que regulamentar resolve tudo - Dora Kaufman

O Globo

Desafio requer colaboração estreita entre a academia, instituições da sociedade civil, associações setoriais, agências reguladoras e poder público

O aplicativo chinês DeepSeek-R1, lançado em 20 de janeiro, “abalou o mundo” pelos resultados comparáveis, ou até superiores, aos similares americanos mais avançados, aparentemente a um custo consideravelmente menor. Em poucos dias, assumiu a liderança entre os aplicativos mais bem avaliados e mais baixados na App Store, provocando, em 27 de janeiro, uma perda aproximada de US$ 1 trilhão no valor de mercado das grandes empresas de tecnologia americanas. A queda refletiu a expectativa de um futuro da inteligência artificial (IA) mais acessível e econômico.

O risco de 'Bidenização' de Lula em 2026 - Bruno Carazza

Valor Econômico

Nova pesquisa do Datafolha liga sinal de alerta sobre popularidade do presidente

Os números do Datafolha caíram como uma bomba no Palácio do Planalto. A queda de mais de dez pontos na aprovação de Lula é um acontecimento nunca visto em seus três mandatos como presidente.

A se confirmar essa tendência, fica cada vez mais palpável o risco de uma espécie de “Bidenização” de Lula até 2026. Os paralelos existem, e vão muito além da idade avançada.

Lula não apresenta os sinais de senilidade que forçaram Biden a desistir de concorrer à reeleição. A popularidade do brasileiro, porém, começa a ser assombrada por uma circunstância que, no caso de Biden, foi muito mais nociva do que os lapsos de memória e o raciocínio lento no debate presidencial.

A inflação de alimentos incomoda - e as pressões não se limitam a ela - Sergio Lamucci

Valor Econômico

Reduzir as incertezas fiscais é o melhor caminho que o governo pode adotar para combater a alta de preços; não existem atalhos

A inflação de alimentos continua na berlinda. Os preços de comida em casa sobem com força desde 2019, com exceção da queda de 0,5% registrada em 2023. O aumento expressivo das cotações desses produtos afeta especialmente o poder de compra dos consumidores de baixa renda, sendo um dos principais motivos para o tombo da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apontado por pesquisa do Datafolha divulgada na sexta-feira - a aprovação do governo caiu de 35% para 24%. Neste ano, a alta do grupo alimentação no domicílio deve ficar entre 6,5% e 7%, um pouco abaixo dos 8,2% do ano passado, mas ainda assim um aumento nada desprezível - e, pior, que se dá em cima de uma base já elevada. Uma safra maior, um clima menos adverso e alguma valorização do câmbio contribuem para um salto menor desses preços, mas o alívio não deverá ser dos maiores.

Trump leva o pânico a Europa - César Felício

Valor Econômico

Discurso chocante de J.D.Vance aumenta sensação de abandono do continente na guerra da Ucrânia

A cena se desenrolou agora em Munique , mas não faltou quem sentisse os ecos de uma outra cúpula internacional na mesma cidade, em 29 de setembro de 1938. O discurso do vice-presidente americano J.D.Vance a treze chefes de Estado ou de governo da Europa essa sexta-feira deixou claro que o continente não irá mais contar com a proteção dos Estados Unidos diante de um avanço da Rússia, a não ser que a extrema-direita passe a ser aceita como parceira de alianças.

A chantagem ganha uma primeira alavanca para se amplificar porque se dá na reta final da campanha eleitoral na Alemanha, em que a extremista AfD pode dar um salto, embalada pela propaganda proporcionada por Elon Musk e pela comoção de um atentado cometido por um imigrante afegão, ocorrido em Munique mesmo, na véspera do discurso de Vance.

O problema é no maquinista - Carlos Pereira

O Estado de S. Paulo

Restrições ao presidencialismo multipartidário não justificam a sua reforma

Desde a Constituição de 1988, quando se estabeleceu que o sistema político brasileiro combinaria presidencialismo com multipartidarismo, discute-se se esse desenho institucional é equilibrado ou se precisa ser reformado.

Recorrentemente, defensores de um sistema político supostamente ideal propagam a necessidade de mudança. Agora, a ideia da vez parece ser o semipresidencialismo, defendido inclusive pelo novo presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta. Esses críticos afirmam que a tarefa do presidente de montar e gerir coalizões majoritárias em um ambiente fragmentado torna o sistema presidencialista multipartidário ingovernável, ineficiente, caro e gerador de crises. A lista de argumentos detratores desse sistema é inesgotável e frequentemente reiterada.

Comunicação é política - Camila Rocha

Folha de S. Paulo

Sidônio Palmeira não tem como fazer milagres sozinho

A pesquisa do Datafolha que aponta a queda da popularidade de Lula vem agitando a mídia tradicional, redes sociais, analistas e influenciadores de todos os matizes políticos. A manchete que acompanha a divulgação dos dados é dramática: "Aprovação de Lula desaba e é a pior de todos os seus mandatos".

Lula teria batido 24% de aprovação e 41% de reprovação, algo inédito para o político que, em 2010, terminou seu segundo mandato com aprovação recorde de 87%.

De acordo com o monitoramento realizado pelo Núcleo de Integridade da Informação da Nova Agência S.A., na noite do dia 14, as hashtags #DataFolha, #ForaLula e #AprovaçãoDeLula apareceram entre os temas mais comentados do X. À direita, repetia-se: "esse governo acabou", e à esquerda falava em "enfrentamento urgente".

Como mensurar a corrupção - Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

A porcentagem de brasileiros que declararam ter pago propina (a policiais, fiscais, provedores de serviço etc.) aumentou entre 2011 e 2019

Como mensurar a corrupção em um país? Através de pesquisa de opinião sobre a extensão da corrupção, como muitos alegaram após a divulgação do desempenho pífio do país no Relatório Anual da Transparência Internacional 2025? Elas aferem a centralidade do tema na opinião pública, tema obviamente de grande interesse, mas não a extensão da corrupção real. Aqui a distinção entre o que a literatura chama de pequena (petty) e de grande (grand) corrupção. A pequena corrupção envolve transações singulares, individualizadas, e não institucionalizadas de pequeno valor; a grande, é institucionalizada, envolvendo burocracias públicas, partidos políticos, estatais, sendo recorrente e de elevado valor.

Como Trump está transformando os EUA na China dos anos 2000 - Thomas L. Friedman

Folha de S. Paulo / The New York Times

Há uma inversão total em relação a 25 anos atrás, quando chineses precisavam de transferência de tecnologia americana

Quando olho para a enxurrada de decretos e tarifas que o presidente Donald Trump emitiu desde que assumiu a Presidência dos Estados Unidos, tenho medo de estar assistindo à versão da vida real daquele comercial do Conselho de Planejadores Financeiros Certificados que tenta mostrar por que a especialização é realmente importante.

No comercial, um cirurgião entra em um quarto de hospital e conhece sua paciente. Primeiro, o médico a chama de Brenda e ela responde: "É Carol". Em seguida, o médico pergunta: "Então, em que perna estamos operando?" E ela responde: "Você quer dizer braço". O médico, então, tenta afastar sua preocupação dizendo: "Está tudo conectado".

Agora totalmente aterrorizada, a paciente finalmente pergunta ao cirurgião: "Tem certeza de que é um ortopedista?" O médico responde: "Na verdade, sou de Sagitário".

Perdoe meu ceticismo, mas tenho sérias dúvidas sobre o grau em que Trump e sua equipe de cirurgiões orçamentários realmente estudaram não apenas como implementar todos os cortes, tarifas, congelamentos e demissões que eles se apressaram em fazer, mas também os efeitos de longo prazo que eles terão sobre a governança, o comércio e os investimentos americanos como um todo.

Um governo sem criatividade - Ivan Alves Filho

Poucas semanas antes de Lula da Silva assumir seu terceiro mandato, escrevi que seu governo não teria como dar certo. Na minha compreensão, não se tratava apenas da ausência de um projeto de nação, que seus sucessivos governos nunca tiveram. Ou sequer de um projeto de governo, administrativo. Mal tocam a máquina.

Poesia | O Sonho, de Pablo Neruda

 

Música | Lenine - Todas elas juntas num só ser