sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Incúria fiscal dos governadores é preocupante

O Globo

Em dois anos, despesas dos governos estaduais cresceram 8,7%, ante aumento de apenas 2,1% nas receitas

Menos evidente e menos discutida que a incúria do governo federal com as contas públicas, a irresponsabilidade fiscal dos governadores também preocupa. Assim como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, muitos administram as contas dos seus estados como se não houvesse amanhã. Com a perspectiva de desaceleração da economia, a má gestão dos estados é a receita para um desastre. As tentativas de ajuste têm sido insuficientes. Nenhum governador pode alegar desconhecimento sobre as consequências da negligência.

Os governos estaduais deverão encerrar a metade dos atuais mandatos com o crescimento dos gastos em ritmo superior ao das receitas. Em 2023, as despesas dos 26 estados e do Distrito Federal subiram 3,9% sobre o ano anterior, enquanto as receitas caíram 3,1%, segundo levantamento do jornal Valor Econômico. No ano passado, os esforços para conter o desequilíbrio foram insuficientes. De janeiro a outubro, as receitas cresceram 5,3% em relação ao mesmo período do ano anterior, e os gastos 4,7%. Ao longo dos dois anos, os gastos subiram 8,7%, e as receitas apenas 2,1%.

Um olho em Trump, outro na própria casa - Fernando Abrucio

Valor Econômico

É preciso definir quais são as questões prioritárias que devem ser a bússola até 2026, seja para implementação pelo Executivo, seja para aprovação no Congresso Nacional

O início do governo Trump causa incerteza, nervosismo e perplexidade no mundo. Não dá para saber o que será pirotecnia e o que será efetivamente implementado, mas há boas chances de os demais países terem de adaptar seus planos de voo à nova política americana. O Brasil poderá ser atingido também, embora não se saiba em que medida. De todo modo, Lula inevitavelmente terá de governar nos próximos dois anos de olho nas ações do trumpismo. Só que terá de adotar essa postura sem perder de vista que a lição de casa não pode ser esquecida em meio à turbulência externa.

Um bordão resume a estratégia que deveria ser adotada pelo governo brasileiro: um olho em Trump, outro na própria casa. Parece óbvio, porém, a avalanche de ameaças, factoides, ações cinematográficas, violência explícita e propostas de acordo que Trump fará ao mundo nos próximos meses será enorme. Isso tenderá a nublar a visão dos governantes pelo mundo, o que pode ocorrer igualmente com o presidente brasileiro.

A chapa ‘imbatível’ contra Lula para 2026 - Andrea Jubé

Valor Econômico

Declarações de caciques da direita sobre a sucessão presidencial confirmam o alinhamento dessas forças

As recentes declarações de caciques da direita sobre a sucessão presidencial de 2026 confirmam o alinhamento dessas forças, que se reuniram no ano passado pela reeleição de Ricardo Nunes (MDB) para a Prefeitura de São Paulo.

Não há consenso entre esses dirigentes, entretanto, sobre o nome que deverá enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas urnas no ano que vem. Porém, crescem adesões a uma chapa que um aliado próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro classificou como “imbatível”.

“Tarcísio para presidente, e Michelle na vice”, revelou essa fonte, em tom de franco entusiasmo, em alusão ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL). O argumento é de que Tarcísio, com apoio de Bolsonaro, reuniria a direita em torno de seu nome. E Michelle agregaria carisma e sua desenvoltura nas redes à aliança.

Em entrevista, Lula tenta trancar debate sobre sua sucessão em 2026 - César Felício

Valor Econômico

Reação do presidente às críticas de Kassab dá pistas sobre estratégia para próximas eleições

Na longa entrevista coletiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva há um ponto que se destaca: a reação do governante às declarações da véspera feitas pelo presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, que classificou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como “fraco” e disse que a oposição seria favorita se a eleição presidencial fosse hoje.

Seria fácil para Lula se esquivar da pergunta. Lula poderia dizer, assim como fez Haddad, que não havia tomado conhecimento das declarações. Ninguém iria acreditar, mas seria uma sinalização de que as declarações de Kassab não haviam sido tão importantes quanto parecem ser, vindas de quem vêm. O presidente optou por outro caminho: chamou Kassab de “companheiro” e disse que, ao ver a história, começou a rir. “A eleição vai ser só daqui a dois anos”, ressaltou Lula.

Lula rebate críticas de Kassab e defende Haddad – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O presidente da República admitiu que o governo ainda não entregou o que prometeu e, por isso, o povo fica insatisfeito. Disse, porém, que vai cumprir suas promessas de campanha

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu da zona de conforto, convocou uma entrevista coletiva sem pauta preestabelecida, na qual falou sobre quase tudo, e rebateu as críticas do presidente do PSD, Gilberto Kassab, de que Fernando Haddad (Fazenda) é "ministro fraco" e o PT, se as eleições fossem hoje, entraria na disputa pela reeleição "como derrotado". A entrevista de Lula marcou uma mudança de estratégia de marketing do governo, agora comandada pelo publicitário Sidônio Palmeira, que assumiu a Secretaria de Comunicação Social do Palácio do Planalto.

Lula disse que "começou a rir" quando soube da crítica feita pelo presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. Questionado, destacou que não adianta especular sobre o que acontecerá até 2026: "Quando eu vi a história do companheiro Kassab, eu comecei a rir. Porque, como ele disse que, se a eleição fosse hoje, eu perderia, quando eu olhei no calendário e percebi que a eleição vai ser só daqui a dois anos, eu fiquei muito despreocupado, porque hoje não tem eleição", respondeu Lula.

A cópia brasileira de Trump - José de Souza Martins

Valor Econômico

Na carona que tentaram pegar na candidatura e na eleição do americano, Bolsonaro e o bolsonarismo caíram numa armadilha

O teatro de comédia que se desenrolou quanto ao papel de brasileiros na posse de Donald Trump cumpriu funções reveladoras do muito menos do que para ele são Bolsonaro e os bolsonaristas.

Uma das revelações é a de que Bolsonaro não é o Trump brasileiro, é apenas pretensão de ser. Com a mudança política nos EUA, sendo Trump mediação involuntária do imaginário do bolsonarismo, os Bolsonaros vão se descobrir desconstruídos e revelados pela dialética do que é uma trama de irracionalidades e reciprocidades visíveis e invisíveis. E com eles o bolsonarismo, os cúmplices e coadjuvantes, os sabidos e os ingênuos, os que o integram, civis e militares.

Tanto Trump quanto Bolsonaro consideram-se absolutos. Trump entende que Deus é servo do poder que ele ocupa. Bolsonaro, como se viu em ato supostamente religioso, de que foi protagonista sua esposa que declarou ser a cadeira presidencial de Deus e que Deus designara o marido para ocupá-la.

O 'novo' comando do Congresso - Vera Magalhães

O Globo

Alcolumbre nunca deixou de exercer poder imenso no Senado, ditando o rumo dos recursos das emendas e decidindo pautas, e Motta teve de pedir a bênção de Lira

Vem aí um novo comando do Congresso, que de novo não tem nada. Só haverá, de fato, mudança se passar a vigorar uma nova lógica no pagamento de emendas parlamentares, depois de anos de um descontrole completo, que levou parlamentares a prescindir até da necessidade de manter boa relação com o governo para irrigar suas bases com dinheiro público.

Davi Alcolumbre nunca deixou de exercer poder imenso no Senado, ditando o rumo dos recursos das emendas e decidindo pautas e destinos a partir da Comissão de Constituição e Justiça. Agora só volta a ocupar a cadeira a que se agarrou com unhas e dentes em sua primeira eleição.

O jovem Hugo Motta se viabilizou para o comando da Câmara na base do “resta um”, depois que candidatos se lançaram cedo demais a uma guerra fratricida pela sucessão de Arthur Lira. Só foi ungido porque beijou a mão do próprio Lira, antes mesmo de conseguir apoio do governo e da oposição bolsonarista. É de esperar, portanto, que o alagoano mantenha sobre ele certa ascendência, sobretudo na largada.

As incertezas globais - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

“O ambiente externo permanece desafiador”, advertiu o Copom no comunicado divulgado logo após a reunião de quarta-feira que aumentou os juros básicos em 1 ponto porcentual, para 13,25% ao ano. Que desafios são esses e que grau de incerteza trazem para a economia?

A mãe de todas as incertezas são as políticas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. São três focos: seu protecionismo comercial, que começou nesta quinta-feira com a imposição de tarifa de 25% sobre produtos do Canadá e do México; a agressiva política anti-imigração; e a política fiscal baseada no corte dos impostos.

A sobretaxação alfandegária deve interferir nos fluxos globais de produção. Não terá mão única. Os países prejudicados tenderão a revidar. Os setores mais vulneráveis são o de veículos e o dos eletrônicos.

Tanto a política comercial protecionista como a política de repulsa à imigração tendem a aumentar os preços das mercadorias e os custos da mão de obra. Mais inflação deverá obrigar o Fed (banco central) a puxar outra vez pelos juros, na direção oposta à das pressões feitas por Donald Trump.

A lei da selva nas relações internacionais - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Trump implode o multilateralismo e instaura um salve-se quem puder no mundo

Com a postura imperial e a determinação de usar o poder dos EUA para impor vontades, crenças e certezas pessoais, Donald Trump está criando fissuras drásticas não apenas na sociedade americana, mas nos organismos internacionais e nas alianças regionais. O multilateralismo, que favoreceu países do porte do Brasil, está em desuso, com instituições desacreditadas, inoperantes. O mundo não é mais o mesmo. Prevalece a lei da selva, o que equivale a dizer: salve-se quem puder!

Brasil e EUA em novo começo de conversa - Fernando Gabeira

O Estado de S. Paulo

A ascensão de Donald Trump mexeu com três pontos básicos da agenda comum: meio ambiente, democracia e direitos sociais

As relações Brasil EUA vivem um momento de transição, talvez um dos mais delicados nestes dois séculos de intercâmbio.

Os EUA não veem o Brasil como prioridade, mas são o segundo maior parceiro comercial do País. Ator decisivo no mundo, os Estados Unidos são vistos com um olhar mais favorável pela maioria da população brasileira, como mostram as pesquisas.

A ascensão de Donald Trump mexeu com os três pontos básicos da agenda comum: meio ambiente, democracia e direitos sociais. Mas os problemas começam a surgir com a política de deportação em massa.

O Brasil vive duas consequências da virada política. A primeira delas é a expulsão de brasileiros transportados em condições indignas de volta ao País. A outra é a suspensão da verba americana que mantinha o trabalho da OIM, a agência da ONU que participa do trabalho da Operação Acolhida aos refugiados venezuelanos que entram no País via Santa Elena de Uairén-Pacaraima.

Em frente com os programas de inclusão - Robson de Oliveira*

Valor Econômico

Realidade brasileira é única e os avanços obtidos no país não podem ser comprometidos por decisões estrangeiras

Nos últimos anos, as políticas de diversidade e inclusão têm ganhado destaque no Brasil, impulsionadas pelo reconhecimento histórico das desigualdades estruturais que afetam a população negra e outros grupos minorizados.

A recente reversão de políticas de ação afirmativa nos Estados Unidos, como a decisão da Suprema Corte americana de restringir o uso da raça como critério em processos seletivos universitários e a implementação de medidas pelo presidente Donald Trump, desmantelam programas federais de diversidade, equidade e inclusão (DE&I) e os avanços conquistados.

Colocar funcionários de DE&I em licença remunerada, fechar escritórios dedicados a essas iniciativas, além de determinar ordens executivas que restringem o reconhecimento de gênero somente ao sexo biológico de nascimento, afetando diretamente os direitos da comunidade LGBTQ+, representam verdadeiros retrocessos.

Ações como essas em um contexto de conexões globais e influências internacionais geram questionamentos sobre quais os caminhos a seguir a partir de agora.

Viva Chacrinha! - Orlando Thomé Cordeiro

Correio Braziliense

O maior problema enfrentado pelo governo reside na dificuldade do presidente em compreender a necessidade de se fazer um ajuste fiscal que permita colocar as contas públicas em reta de sustentabilidade

"Quem não se comunica se trumbica". Essa frase famosa é de autoria de um dos maiores comunicadores populares do Brasil, José Abelardo Barbosa de Medeiros — Chacrinha. Referência para publicitários e comunicadores em geral, o apresentador, falecido em 1988, revolucionou a linguagem radiofônica e televisiva em seus mais de 50 anos de carreira.

Quem, atualmente, tem menos de 37 anos de idade não pode conviver com ele, mas pode conhecer um pouco desse verdadeiro gênio vendo vídeos disponíveis na internet. Também vale muito a pena assistir ao belo filme de 2018 intitulado "Chacrinha: O Velho Guerreiro", estrelado por Eduardo Sterblitch, que interpreta o personagem na juventude, e pelo grande Stepan Nercessian.

Trump 'Deus, pátria e família' - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Ênfase é atacar república, fazer propaganda fundamentalista e apoiar extrema direita

Donald Trump vai impor imposto de importação extra sobre produtos de Canadá e México, a partir de sábado, como prometeu? "Talvez sim, talvez não", disse o presidente americano nesta quinta (30). O motivo da punição imperial seriam imigrantes e fentanil. Nada a ver estritamente com relações comerciais.

Trump ainda pode arruinar o que resta de ordem econômica mundial e dar tiros na própria testa dos EUA. Mas sua prioridade até agora tem sido a produção e exportação de ignorância escandalosa e apelos aos sentimentos mais baixos dos americanos e de hordas extremistas pelo mundo, como aqui no Brasil.

O sindicato parlamentar – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Congresso muda comando com o compromisso de manter as coisas como estão

escolha dos novos presidentes da Câmara e do Senado, neste sábado (1º), contraria a regra de que eleição não se ganha de véspera. Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) consolidaram suas vitórias muito antes disso. O deputado Motta esteve desde sempre no radar como reserva técnica de Arthur Lira (PP-AL) enquanto ele exercia o poder do jogo de cena da indecisão versus expectativa entre três ou quatro companheiros de centrão.

O senador Alcolumbre cedeu a cadeira para Rodrigo Pacheco (PSD-MG), há quatro anos, já na perspectiva de uma volta certa sem contestações significativas ao nome daquele que havia chegado à presidência como novato em 2019 já derrotando o veterano Renan Calheiros (MDB-AL).

Tarcísio de boné de Trump está fracassando na segurança - Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Além dos espetáculos de truculência, caso de Guarulhos expõe ligações de setores da polícia com o PCC

Enquanto comemorava a eleição de Donald Trump nos EUA com uma constrangedora aparição nas redes sociais vestindo o boné do movimento Maga (Make America Great Again), o governador de São PauloTarcísio de Freitas, já vinha acompanhando a deterioração de uma de suas bandeiras, também acenada pelo norte-americano: o combate ao crime na base do enfrentamento e da truculência. O que se tem visto no estado é uma sucessão de casos estridentes e condenáveis de violência por parte de agentes, que chamam a atenção da mídia e da população.

Desde o final do ano passado, pesquisas de opinião têm apontado o aumento da insatisfação dos paulistas com a segurança pública do governador Tarcísio. É o ramo mais reprovado de sua administração.

Vasto leque de indesejáveis - Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Trump não quer saber de gays, cegos e mutilados na Nasa. E isso pode ser só o começo

Adolf Hitler passou à história como responsável pela morte de seis milhões de judeus. Mas não só. Não sei se já se fez ou se será possível fazer uma contabilidade sobre outras minorias que ele perseguiu, supliciou e também matou: os comunistas e supostos comunistas, ciganos, eslavos, homossexuais, alcoólatras, toxicômanos, deficientes físicos e mentais. Hitler não admitia essas pessoas em suas fronteiras. Elas comprometiam a "pureza" e a "vitalidade" do povo alemão.

Lula e a maldição de Cassandra - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Ninguém acreditou quando presidente disse na semana passada que poderia não disputar a reeleição

Políticos padecem de uma espécie de maldição de Cassandra quando falam de seus projetos pessoais. Eles podem jurar de pés juntos que não se candidatarão a algum posto eleitoral e ninguém acreditará. A desconfiança do público não é sem motivos. Se políticos já não são exatamente uma categoria kantiana, tornam-se verdadeiros cínicos quando lidam com suas ambições pessoais.

Nos últimos 20 anos, dois tucanos que haviam conquistado a Prefeitura de São Paulo, José Serra e João Doria, largaram o mandato no meio para disputar o governo do estado. O primeiro chegou a assinar um documento dizendo que permaneceria prefeito até o último dia do mandato.

Presidente Lula conversa com jornalistas

 

Poesia | A tarde sobe, de Joaquim Cardozo

Ao rés da Terra o tempo é escuro
Mas a tarde sobe, se ergue no ar tranquilo e doce
A tarde sobe!
No alto se ilumina, se esclarece.
E paira na região iluminada.

Sobe, desfaz a trama de entrelaços
Superpostos na maneira dos esquadros
Sobre o chão aos poucos escurecendo.
Sobe: No meio da parte densa.

Sobe alva, serena para as estrelas
Que irão em breve aparecer,
Luzindo, no princípio da noite;
No espaço branco em que se completa
Preenchendo o centro e a esquerda
Branco que saiu limpo
De um fundo escuro de hachuras.

A tarde sobe!
Sobe até o zênite dando aos que passam
A paz e a serenidade do entardecer.

A tarde sobe pura e macia!
As linhas de baixo se inclinam
Se afastam e vão deixá-la subir.

Música | Zeca Pagodinho -A Voz do Morro (Zé Keti)

 

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Na visão sobre o BC, Lula e Trump são almas gêmeas

O Globo

Ambos atrapalham combate à inflação ao dar declarações criticando política de juros

Por motivos distintos, o mercado aguardou com ansiedade o anúncio da taxa de juros no Brasil e nos Estados Unidos. Aqui, Gabriel Galípolo comandou a primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) como presidente do Banco Central (BC) desde que foi indicado para o cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela confirmou o que era esperado desde dezembro: a Selic subiu 1 ponto, para 13,25% ao ano. Nos Estados Unidos, o Fed fez o primeiro anúncio depois da posse de Donald Trump. Também como esperado, interrompeu a série de cortes consecutivos que promovera desde setembro – e manteve os juros em 4,5%.

Outro aumento da Selic da mesma magnitude está previsto para março. É uma medida indesejada, mas necessária diante da escalada da inflação. Com a maioria dos diretores do BC escolhidos pelo PT, Lula não deverá mais abusar da demagogia, como fazia com o ex-chefe do BC, Roberto Campos Neto, transformado pelos petistas em bode expiatório para as mazelas econômicas. Mas o governo precisa fazer muito mais para ajudar no controle da inflação.

Cafezinho frio - Merval Pereira

O Globo

Lula descobre que nem mesmo dando ministérios importantes a partidos supostamente aliados garantirá apoio

Uma tempestade perfeita sobrevoa o Palácio do Planalto, prenunciando anos difíceis para o governo Lula, que aparentemente errou o timing e entra no terceiro ano de seu terceiro mandato fustigado pela inflação crescente e pelo desequilíbrio nas contas públicas, ameaçando uma crise econômica semelhante à vivida por Dilma Rousseff.

Lula reassumiu a Presidência como se fosse a sequência de seus dois mandatos anteriores e se esqueceu de organizar as contas públicas antes de partir para o desenvolvimentismo. Obteve crescimento de cerca de 7% nos dois primeiros anos à custa de aumento da taxação e do descontrole das contas. Tudo indica, porém, que o ritmo não será mantido, e a reação política já sugere que Lula chegou ao limite antes do que se pensava.

Não é à toa que uma das petistas mais ativas, a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, avisou em entrevista ao GLOBO que o apoio do Nordeste a Lula não está garantido. As pesquisas de opinião mais recentes mostram que a popularidade dele já está mais negativa que positiva, e, embora continue liderando as preferências no Nordeste, única região em que ganhou de Bolsonaro na eleição de 2022, esse apoio vem diminuindo. Mesmo no Nordeste, Lula já não reina como anteriormente, e sua popularidade, embora forte, está decadente.

Kassab mira em Haddad e acerta no presidente Lula - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Na avaliação do presidente do PSD, qualquer candidato de centro que chegar ao segundo turno tem chances de derrotar Lula. Eduardo Bolsonaro (PL-SP) é o único que perderia

Nem só a oposição bolsonarista sentiu o cheiro de animal ferido na floresta, os aliados de conveniência também. E se aproveitam da queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a começar por Gilberto Kassab, presidente do PSD, que até agora manteve um pé em cada canoa, mas nesta quarta-feira subiu o tom contra o governo, para aplausos da oposição. Em evento com empresários e executivos do banco de investimento UBS BB, em São Paulo, disse que Fernando Haddad é fraco na condução do Ministério da Fazenda: “Um ministro da economia fraco é sempre um péssimo indicativo”.

Cenário é preocupante - William Waack

O Estado de S. Paulo

Diversos componentes estão se combinando para formar uma só crise

É até com certa fleuma que Lula parece caminhar para um cenário dominado por componentes preocupantes. Ou então é a calma dos que ignoram o que pode acontecer, pois até aqui nada é galopante.

A tendência da inflação – o pior inimigo da popularidade de qualquer governo – é de subida. Os gráficos apontando para cima já vêm desde a metade do ano passado. Não causaram pânico, mas seu efeito corrosivo é palpável.

O mesmo ocorre com as taxas de crescimento de um PIB muito dependente do expansionismo fiscal e, portanto, do consumo das famílias. As previsões de que a economia vai esfriar são unânimes, o que parece se confirmar diante do sufoco causado por juros elevadíssimos.

O maior risco para IBGE - Malu Gaspar

O Globo

Quem reclama que o governo Lula não produziu grandes novidades se esquece de olhar para as crises. Nesse quesito, Lula 3.0 tem inovado. Depois da crise do Pix, que machucou seriamente a popularidade do presidente da República, o foco é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo Censo populacional e pelos dados de inflação e PIB, entre outras estatísticas relevantes.

O caso ainda não viralizou como o anterior, mas a semente está plantada. Já começaram a surgir fake news sugerindo que esteja havendo manipulação de dados de inflação ou de emprego, e até um pedido de CPI já foi anunciado pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG).

Não se conhece nenhum indício de manipulação, mas isso não quer dizer que a crise no IBGE não seja grave. Seu presidente, o economista Marcio Pochmann, conseguiu a proeza de unir contra si 289 coordenadores e gerentes do instituto — gente que nunca se manifestou publicamente contra nenhum outro dirigente da instituição, nem no governo Bolsonaro. Eles subscreveram uma carta em solidariedade a duas diretoras que pediram demissão por divergências e falta de interlocução com o chefe.

Fim de ciclo de corte na taxa americana indica juros mais altos em todo o mundo - Míriam Leitão

O Globo

O encerramento do ciclo de corte de juros nos Estados Unidoscom a manutenção da taxa básica entre 4,25% e 4,5%, tem um efeito sobre os juros mundo afora. Isso porque os juros americanos são uma espécie de patamar mínimo de juros global, explica o economista Thiago Moraes Moreira, professor do Ibmec-RJ. Como o dólar e os títulos públicos americanos (os Treasures) são considerados os investimentos mais seguros do planeta, quando a taxa básica da economia americana se estabiliza em patamar considerado alto para o padrão local, indica que os juros tendem a ficar mais altos nos demais países para poderem atrair capital para seus respectivos mercados. No Brasil, a estimativa de consenso é que a Selic chegue a 15% ao fim do ano, mas já há quem fale até em 17%, diz Moreira.

- Os juros mais altos são perigosos para a economia global, inflação com juros altos levam à desaceleração da economia, seja por redução de investimentos ou do consumo das famílias, ou pelos dois. Se ultrapassarmos os 15% aqui no Brasil haverá uma desaceleração grande da economia, que pode levar o PIB a crescer 0,5% ou até zero, depois de uma alta que deve ultrapassar 3,5% em 2024, e o desemprego pode voltar à casa de pelo menos 8%. É difícil competir com juros reais de 10% e os investimentos serão reduzidos, assim como o crédito ao consumidor ficará mais caro. Fica difícil convencer alguém a investir, quando sem risco nenhum um título público lhe garante 10% - diz o economista.

Geoeconomia e bens de produção no Brasil - Assis Moreira

Valor Econômico

Estrutura produtiva brasileira passa ser mais sensível a decisões de China, Ìndia e Rússia, e não só de EUA e UE

Praticamente coincidindo com a volta de Donald Trump à Casa Branca, o Ipea (Instituto de Pesquisa Economica Aplicada), vinculado ao Ministério do Planejamento, acaba de publicar um texto para discussão sobre a origem geográfica dos bens de produção na economia brasileira assinado pelo economista Renato Baumann.

Normalmente, como lembra Baumann, as análises de relações econômicas entre dois países ou grupo de países concentra o foco no comércio (superávit ou composição da pauta de exportações e importações) e nos fluxos de recursos (magnitude e ritmo de investimentos diretos e de fluxos financeiros bilaterais).

O convívio social ficou de recuperação - Rudá Ricci*

Correio Braziliense

Muito além das notas do Ideb ou do Enem, a educação também se aufere pelo desenvolvimento humano, como bem nos lembra a ONU neste dia 24 de janeiro, o Dia Internacional da Educação

Em 24 de janeiro, o mundo celebrou o Dia Internacional da Educação. Instituída pela ONU, a efeméride deste ano foi dedicada à discussão sobre a inteligência artificial (IA) e seu impacto em sala de aula. Mais do que o uso adequado desse recurso, a discussão sobre esse ou qualquer outro tema ligado à educação precisa estar alinhada à missão civilizatória do ensino. Esse direito universal transcende não apenas a tecnologia, mas também as gerações e os territórios, na busca do desenvolvimento humano, com equidade e paz.

Brasil: um enredo de governabilidade e reinvenção - Eduardo Galvão*

Correio Braziliense

Lula enfrenta um desafio que poderia ser tema de um épico político: governar um país dividido, em que alianças frágeis e interesses conflitantes tornam cada decisão um ato de coragem

Se a política brasileira fosse uma novela, estaríamos em um daqueles episódios de reviravolta — o tipo em que os personagens enfrentam dilemas impossíveis, mas, ainda assim, deixam os espectadores ansiosos pelo próximo capítulo. Só que, ao contrário da ficção, aqui não há roteirista. O Brasil está no centro de uma trama que envolve governabilidade, reformas e um povo que, apesar de tudo, ainda acredita em mudanças.

Parece simples? Não é. A política brasileira tem o dom de transformar cada avanço em um campo de batalha. Como pensa Steven Levitsky, autor de Como as democracias morrem, a democracia morre na sombra da polarização. E o Brasil, como muitos países, atravessa um momento em que as disputas vão além do campo ideológico. Elas se tornam pessoais, agressivas e paralisantes, transformando verdades em trincheiras e desacordos em conflitos permanentes.

O que era ruim, ficou um pouco pior, diz BC - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Festa do risco não tem hora para acabar, cenário indica Selic bem maior, bola está com governo

Não houve grande novidade no comunicado em que o Banco Central informou ao público sua decisão de elevar a Selic de 12,25% para 13,25%. Mas houve alguma novidade:

1) menção enfática ao risco de danos da política econômica de Donald Trump; 2) menção explícita do risco de o desemprego baixo no Brasil acabar em mais inflação; 3) a projeção de inflação do BC para o "horizonte relevante" de sua atuação continuou em 4%. Quer dizer, nem a promessa de arrocho refrescou o IPCA anual previsto para o terceiro trimestre de 2026.

Isolamento da extrema direita cai na Alemanha em votação histórica -José Henrique Mariante

Folha de S. Paulo

Moção sobre imigração para constranger governo Scholz é aprovada com apoio da AfD, marco do país no pós-guerra

Uma moção que pede fronteiras fechadas na Alemanha foi aprovada nesta quarta-feira (29) no Parlamento Alemão, em Berlim. A sessão ganhou contornos históricos, já que a oposição ao governo Olaf Scholz contou com votos da extrema direita para aprovar a resolução, proposta após novo episódio de violência ligado a imigrantes irregulares.

O ato não tem força de lei, é apenas uma orientação a ser seguida. A votação, porém, mobilizou o debate público no país. De um lado, os que veem a necessidade de medidas urgentes para coibir a crise imigratória; do outro, os que temem a naturalização da AfD, uma legenda populista, nacionalista, que defende a saída da União Europeia, a volta do marco alemão e tem integrantes investigados por discurso de ódio e neonazismo.

A garota do Arpoador - Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Marina Colasanti não reprovava as mulheres atreladas ao fogão. Só exigia que lutassem por orgasmos

Marina Colasanti morreu nesta terça (28), aos 87 anos. Muita coisa deve estar saindo sobre ela como a mulher que, em veículos de grande circulação, revirou a cabeça das leitoras nos anos 1970 e 1980. Eu próprio escrevi um dia sobre a enorme influência de Marina sobre elas: "Não se tratava de arrancar as mulheres do fogão e plantá-las em escritórios. Mas, as que preferissem ficar no fogão deveriam exigir, pelo menos, grandes e regulares orgasmos —e, se não os tivessem, que tomassem providências". De onde tirei isso? De uma conversa com a própria Marina, com aquele seu misto de doçura e autoridade.

A Joaquim Cardozo, de João Cabral de Melo Neto

Com teus sapatos de borracha
seguramente
é que os seres pisam
no fundo das águas.

Encontraste algum dia
sobre a terra
o fundo do mar,
o tempo marinho e calmo?

Tuas refeições de peixe;
teus nomes
femininos: Mariana; teu verso
medido pelas ondas;

a cidade que não consegues
esquecer
aflorada no mar: Recife,
arrecifes, marés, maresias;

e marinha ainda a qrquitetura
que calculaste:
tantos sinais da marítima nostalgia
que te fez lento e longo

Música | Zé Keti- Diz que fui por ai

 

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

O que pensa a mídia / Editoriais / Opiniões

Angústia com segurança exige resposta ágil

O Globo

Pesquisa constatou que violência se tornou maior preocupação do brasileiro, à frente da economia

Além de constatar queda na aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a última pesquisa Quaest mostra que a violência é hoje o tema que mais preocupa os brasileiros. Mencionada por 26% dos entrevistados, ultrapassou a economia (21%). Os pesquisadores recomendam cautela ao associar qualquer preocupação específica à queda na popularidade de Lula — atribuída sobretudo ao fiasco do Pix —, mas seria ingênuo supor que a segurança pública tem pouca influência sobre a opinião a respeito do governo. O resultado é um recado aos governos federal e estaduais. A população está insatisfeita com as medidas adotadas até agora. Propostas de solução, como a PEC da Segurança, caminham lentamente e geralmente esbarram na falta de consenso entre as esferas de governo. Isso precisa mudar.

De crise em crise não se constrói imagem – Vera Magalhães

O Globo

Lula está desnorteado, sem saber ao certo como navegar nas novas águas da economia

O que falta ao governo Lula 3 é uma cara. Os dois primeiros mandatos do petista tiveram o êxito que se viu, a ponto de sobreviverem a escândalos de corrupção que mobilizaram o país, como o mensalão, e de terminarem com a eleição de alguém que nunca havia disputado eleições, como Dilma Rousseff, porque havia o que mostrar, mas, sobretudo, havia um bom resumo para a posteridade do que aqueles oito anos representaram na História brasileira.

Lula chegara ao poder tão ou mais desacreditado pelos agentes econômicos do que hoje, mas estreou oferecendo austeridade fiscal e diálogo com setores mais amplos da sociedade, proposto desde a campanha, com a Carta ao Povo Brasileiro. Saiu, oito anos depois, tendo mantido o controle da inflação legado pelo Plano Real, mas, sobretudo, tendo promovido a ascensão social de um grande contingente de pessoas, graças não só a programas de renda, como o Bolsa Família, mas a um projeto de acesso à educação superior a famílias nas quais nunca havia existido um universitário.

O que se prevê da relação entre Planalto e Congresso - Fernando Exman

Valor Econômico

Governo pretende ocupar a agenda legislativa e aprovar o máximo de itens da sua pauta prioritária já no primeiro semestre

Eleita a nova cúpula do Congresso no sábado (1º), o governo Lula pretende ocupar a agenda legislativa e aprovar o máximo de itens da sua pauta prioritária já no primeiro semestre. O horizonte a partir de julho é incerto e preocupa.

É preciso logo de saída, portanto, aproveitar o bom relacionamento estabelecido com os novos presidentes da Câmara e do Senado, ainda que hoje sejam distintas as expectativas no Executivo em relação ao deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) e ao senador Davi Alcolumbre (União -AP).

São reconhecidos o controle que Alcolumbre tem do plenário e a sua capacidade de mobilização das bancadas. No entanto, sua adesão à pauta do Planalto dependerá de cada caso, dizem fontes graduadas do governo, ainda que em seu Estado ele tenha se aproximado do PT com vistas à eleição de 2026.

A faixa e a Bíblia: posse e ‘inauguração’ – Roberto DaMatta

O Globo

Num regime aristocrático ou autocrático, não há disputas. Mas, nas democracias, a disputa requer pompa e circunstância

As etapas que legitimam a investidura de um cidadão como presidente são semelhantes nas democracias. Há candidatos, e uma eleição diz quem é o vitorioso. Mas, entre a vitória nas urnas e o cargo de supremo magistrado da nação, há diferenças que o estudo comparado do lado simbólico da vida social revela.

Porque nós, pós-modernos, guiados pela racionalidade tecnológica e pela implacabilidade dos mercados, investimos num ritual tão elaborado quanto dispendioso para investir um eleito na Presidência? Num regime aristocrático ou autocrático, não há disputas. Mas, nas democracias, a disputa requer pompa e circunstância ritual, talvez na esperança de assegurar uma continuidade que, como testemunhamos, tem a fragilidade das promessas humanas.

A “reinauguração” de Donald Trump revela como, nos Estados Unidos e no Brasil, esses ritos de passagem de poder mostram concepções diferentes de poder e política. Nos Estados Unidos, o rito se faz numa “inauguração”; no Brasil, numa “posse”. Dir-se-ia que procuramos chifre em cabeça de cavalo, mas “posse” remete a apropriação, ao passo que “inauguração” fala de história, de inicio, meio e fim — etapas que este furioso mandato de Donald Trump torna discutível.

Pochmann, pede para sair – Elio Gaspari

O Globo

Com a credibilidade de Lula em baixa, o melhor que o economista Marcio Pochmann tem a fazer é sair da presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele é um antigo quadro do PT e, em menos de dois anos, envenenou sua gestão com a proposta de criação de um IBGE +. Em tese, a novidade abriria uma janela para que o instituto firmasse parcerias com empresas privadas.

Quando interesses privados se misturam com a academia, coisas horríveis podem acontecer. Professores de Harvard e da London School of Economics meteram-se com o falecido ditador líbio Muammar Gaddafi. No Brasil, um braço da Fundação Getulio Vargas meteu-se com o então governador Sérgio Cabral.

Servidores e diretores do projeto de Pochmann batizaram-no de “IBGE Paralelo”. Ironia da vida: em 2007, quando o doutor presidiu o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, era acusado de cumprir a tarefa de “estatizar” o Ipea. (Em 2010, o instituto abriu um escritório na Caracas de Hugo Chávez.) Agora, acusam-no de querer privatizar o IBGE.