quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Repúdio ao 8 de Janeiro é fator de união dos brasileiros

O Globo

Tentativas de partidos de esquerda de se apropriar da defesa da democracia é jogo falso e perigoso

Quando a invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília completa dois anos, é um alento para a democracia brasileira a constatação de pesquisa Quaest de que a maioria esmagadora da população brasileira (86%) repudia os ataques do 8 de Janeiro. A reprovação é avassaladora. Acontece em todas as faixas de renda, escolaridade, idade e em todas as regiões do país. Embora esse percentual tenha recuado 8 pontos em relação à pesquisa realizada em fevereiro de 2023, quando era de 94%, o resultado mostra que, na questão central da democracia — se ela deve ser preservada ou atacada —, o Brasil permanece unido, um resultado notável em tempos de alta polarização.

Eventos diversos deverão celebrar a vitória da democracia sobre as aventuras golpistas. Mas é preciso cautela. Tentativas do PT e de outros partidos de esquerda de se apropriarem dos atos de repúdio são contraproducentes. A pesquisa mostra que o percentual de eleitores de Jair Bolsonaro em 2022 que desaprovam as invasões (85%) é quase o mesmo entre os de Luiz Inácio Lula da Silva (88%). Apenas a franja radical e inconsequente do bolsonarismo foi a Brasília ou apoiou o vandalismo na Praça dos Três Poderes. É falsa e caluniosa a ideia de que todos os apoiadores de Bolsonaro nas eleições presidenciais são golpistas. A cada 8 de Janeiro, os defensores da democracia nos campos conservador e progressista devem exaltar a comunhão de ideias. Esse é o maior seguro contra tentativas futuras de golpe de Estado.

O poder da palavra - João Pereira Coutinho*

Folha de S. Paulo

Para Michael Walzer, liberal não define o que se é, mas como se é

Flanando pelas ruas de Edimburgo, leio nesta Folha o artigo de Deirdre McCloskey sobre os verdadeiros liberais.

Sorrio. Estou no lugar certo: foi aqui, na Escócia, em pleno século 18, que a palavra "liberal" surgiu pela primeira vez em inglês com conotação abertamente política.

Um pormenor, porém, merece ser realçado: "liberal" nasceu como adjetivo antes de se tornar substantivo. Como explica o economista Daniel Klein, que tem estudado essas arqueologias conceituais, foram iluministas escoceses, como Adam Smith, que definiram como liberal um sistema de governo que permite a cada um procurar os seus interesses e fins de vida, desde que respeitando a lei geral.

A palavra acabaria por evoluir até se cristalizar numa ideologia política —o liberalismo— e num substantivo —o liberal. E, como normalmente acontece com ideologias, surgiram escolas, subescolas, sub-subescolas, que se guerreiam e se excomungam.

Mas haverá alguma vantagem em retornar ao adjetivo? E, em caso afirmativo, será possível encontrar espíritos liberais nos lugares mais inusitados?

STF contra o Império? – Vera Magalhães

O Globo

Integrantes do STF preveem que Musk e Trump voltarão sua metralhadora giratória na direção de Moraes e do tribunal

Mark Zuckerberg não fez questão de ser sutil em nada em seu vídeo de capitulação completa aos desígnios do governo Donald Trump 2.0. Assim, a menção “indireta” ao Supremo Tribunal Federal brasileiro não poderia ser mais explícita e já inaugurando a fase do descompromisso total da empresa que comanda com qualquer rigor factual ou disposição de moderar o debate público.

Pelo contrário: ao replicar as acusações sem fundamento do até aqui concorrente, e agora aparentemente guru Elon Musk, de que o STF mandaria retirar conteúdos do ar por meio de decisões secretas ou clandestinas, o magnata da Meta deixa claro que, de agora em diante, vale tudo em nome do conceito deturpado de liberdade de expressão.

E como reagirá o Supremo diante da mudança de vento nos Estados Unidos que, pelo visto, pode levar outros gigantes da tecnologia e das mídias digitais a fazer guinadas em suas políticas de conteúdos em nome de uma boa convivência com a gestão Trump-Musk, quando não atendendo a ameaças feitas à luz do dia pelo futuro presidente americano?

Bernardo Mello Franco – Ministério da Reeleição

O Globo

Diz o dito popular que a propaganda é a alma do negócio. O presidente Lula parece acreditar nisso. Vai dar um cargo de ministro a seu marqueteiro de campanha.

Sidônio Palmeira substituirá Paulo Pimenta na Secretaria de Comunicação Social. Mais que uma troca de nomes, a pasta passará por uma mudança de perfil. Sai um político gaúcho, entra um publicitário baiano.

Os marqueteiros sempre tiveram influência nos governos petistas. No primeiro mandato, Lula se aconselhava com Duda Mendonça. No segundo, recorria a João Santana.

Os dois eram acionados para traçar estratégias, embalar políticas públicas e preparar pronunciamentos para a TV. Nenhum deles precisou ser ministro para exercer essas funções.

O encantamento de Rubens Paiva – Elio Gaspari

O Globo

Fernanda Torres, vivendo a serenidade de Eunice Paiva no filme “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, levou o Globo de Ouro.

Guimarães Rosa avisou:

— As pessoas não morrem, ficam encantadas.

O encantamento de Rubens Paiva continua, ao lado de Eunice, morta em 2018.

Em janeiro de 1971, ela era apenas a mulher de um inimigo da ditadura desaparecido depois de ter sido levado para o DOI do I Exército. Como Dilma Alves, era mais uma viúva. Anos depois, Elzita Santa Cruz seria mais uma mãe procurando o filho. Buscavam os paradeiros de Mário Alves e de Fernando Santa Cruz. 

Para os poderosos da época, esses familiares eram estorvos. Os comandantes militares sabiam que Rubens Paiva tinha morrido depois de uma sessão de torturas. Sustentavam, e, oficialmente, continuam sustentando, que ele havia sido resgatado num episódio implausível.

Rubens Paiva encantou-se. Primeiro com o livro de seu filho Marcelo. “Feliz ano velho”, que teve centenas de milhares de leitores. Depois, com “Ainda estou aqui”, a partir do qual Walter Salles decidiu fazer o filme. Assim, o encantamento abraçou a memória de Eunice. O filme foi visto por mais de 3 milhões de pessoas, e seu roteiro foi premiado em Veneza. Aquela mulher, mãe de cinco filhos, queria o reconhecimento de que o marido morrera.

À sombra de Gusttavo Lima, nova flor do recesso - Fernando Exman

Valor Econômico

Partidos estão neste momento mais preocupados em redefinir algumas das regras que ditarão o jogo em 2026

Flores do recesso, diz a turma de cabeça branca do jornalismo e do Congresso, são aquelas pautas que desabrocham do nada quando há entressafra de notícias no cerrado do Planalto Central. Sazonais, elas se aproveitam da ausência de flora de melhor qualidade para ganhar espaço no jardim do noticiário quando deputados e senadores estão de férias, longe de Brasília. Sua estação se dá na segunda quinzena de julho e em janeiro. Neste recesso parlamentar, a flor da vez se chama Gusttavo Lima.

O meio político ainda enfrentava a ressaca provocada pela guerra judicial envolvendo as emendas ao Orçamento quando, no primeiro dia útil de 2025, o cantor sertanejo anunciou que pretende se candidatar à Presidência da República. Automaticamente, dirigentes partidários passaram a comentar a declaração. O grupo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) acusou-o de traição. Integrantes do governo, por sua vez, relativizaram a informação.

Lula contraria militares com 8 de Janeiro - Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Dia 2o, data da posse de Trump, também marca os 54 anos do desaparecimento de Rubens Paiva

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer transformar o 8 de Janeiro numa data oficial para marcar a defesa da democracia. Hoje, por exemplo, quando se completam dois anos dos ataques golpistas, Lula participará de quatro atos em memória daquele dia de horror. Nos bastidores, porém, comandantes das Forças Armadas, que estarão no Palácio do Planalto, mostram desconforto com essas cerimônias e dizem ser necessário “virar a página”.

Se dependesse do Exército, da Marinha, da Aeronáutica e até de alguns integrantes do governo que só falam sobre esse assunto sob reserva, o 8 de Janeiro ficaria agora apenas com a Justiça. A Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro, o general e ex-ministro Braga Netto, hoje preso, e outras 38 pessoas por tentativa de golpe.

Todos serão julgados e, provavelmente, condenados, mas tudo indica que, neste 2025, viveremos momentos de muito mais escândalos e novas prisões. Aguarda-se para os próximos meses, ainda, o término do inquérito das fake news.

A democracia está sob ameaça? - Miguel Reale Júnior

O Estado de S. Paulo

Diante do quadro de permissão e aplauso da violência, é importante saber se tal posicionamento corresponde a uma convicção antidemocrática da população

A Câmara dos Deputados vem de aprovar projeto de lei que prevê a castração química de pedófilos, devendo os infratores serem submetidos à inibição de impulsos sexuais, com o uso contínuo de medicamentos, em votação comemorada pelo capitão Jair Bolsonaro.

Como observa editorial do Estadão de 15/12/2024 (A23), a pena cominada é, além de cruel, invasiva da privacidade e fere a dignidade humana. Para deputado do PL do Rio Grande do Sul, no entanto, é uma “medida menos gravosa porque o ideal era a pena de morte”.

Lançamento de rapaz do alto de ponte, como um saco de lixo, em ato gratuito de soldado com gosto pelo abuso de poder, revela extrema malvadez. Senador de Santa Catarina se permitiu fazer gracinha diante de ato tão violador da pessoa humana. Disse ele: “O erro dos policiais foi ter jogado o meliante em um córrego? Não foi penhasco? (...) Tomar banho no córrego é prêmio. Minha solidariedade aos PMs”.

A violência policial deflui em grande parte da autorização para tanto que a tropa recebe de seus superiores, sejam agentes políticos, sejam oficias da corporação, correspondendo, portanto, a uma linha política dos governos estaduais.

Em defesa da bala, bet, boi, Bíblia e o diabo - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Câmara acelerou o ritmo de votação para evitar debate e impor medidas

Não só as emendas Pix —instrumento sem transparência em que a verba cai direto na conta das prefeituras e governos estaduais e cujo valor foi multiplicado por 12 desde 2020— definem o Congresso. O parlamentar de sucesso segue uma receita.

Com auxílio da IA, um estudo do jornal O Globo mostrou que os discursos em plenário encolheram 39% no século 21. Falas longas e elaboradas não cabem na modernidade que exige cortes precisos para divulgação nas redes sociais. Um Carlos Lacerda hoje, com sua oratória eloquente e de português compreensível, seria visto como estranho no ninho. Logo um colega de Rondônia iria chamá-lo num canto e dizer ao pé do ouvido: uma peruca colorida faz muito mais efeito. Atualize-se, rapaz. Compre um celular e o mantenha sempre ligado. Registre qualquer coisa, principalmente as mais insignificantes.

Guinada da Meta e a política digital - Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

Mudança sugere lobby mais agressivo, desafio a tribunais e circulação de 'coisas ruins'

A guinada anunciada pela Meta na regulação de plataformas como Instagram e Facebook terá impacto profundo no ambiente político de vários países. A redução do controle sobre desinformação e conteúdo potencialmente hostil tem tudo para se tornar o padrão das zonas digitais, onde cidadãos formam suas convicções e decisões de voto.

O momento da mudança, dias antes da posse de Donald Trump, revela a dose de oportunismo de Mark Zuckerberg. O chefe da Meta não escondeu a tentativa de alinhamento com o republicano e indicou que espera trabalhar com o governo para lutar contra a regulação de plataformas digitais na Europa e em outras regiões.

A guinada de Zuckerberg é uma onda que não temos como evitar - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Dependeremos cada vez mais da educação e da conduta dos indivíduos para construir um

O governo Trump começou antes do previsto com a guinada que Mark Zuckerberg deu à política da Meta, que detém o Facebook, o Instagram e o WhatsApp. As mudanças vêm em duas frentes: nas políticas internas e no posicionamento internacional.

Por anos, Zuckerberg tentou habitar um meio do caminho entre moderação de conteúdo e liberdade de expressão. Coibia algumas fake news nas suas plataformas e desincentivava temas políticos. Por mais que tentasse, no entanto, nunca agradou aos críticos. A cada surto de radicalismo ou teoria da conspiração, a culpa era das redes que permitiram desinformação ou do algoritmo que beneficiou os radicais.

Nada era o bastante e não tinha como ser. O que os críticos querem, no fundo, é que a rede perca sua característica de plataforma aberta e se torne algo similar à imprensa, na qual um grupo de editores determina o que é verdade ou não, o que está ou não está devidamente contextualizado, e portanto o que merece ir ao ar.

Não se deve partidarizar a defesa da democracia - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Lula descerá a rampa do Palácio do Planalto para um ato simbólico na Praça dos Três Poderes, onde participará do “Abraço da Democracia”, com presença do público e autoridades

O dia 8 de janeiro de 2023 deve sempre ser lembrado como uma data em que os democratas derrotaram o golpismo, mais ou menos como em 1961, na posse do presidente João Goulart, que só ocorreu graças à Campanha da Legalidade, liderada pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. Foi um dos episódios mais tensos da história política brasileira.

Naquele momento, a ampla cadeia de rádio que se formou para informar a população foi decisiva para garantir a democracia no Brasil, durante a crise política gerada pela renúncia de Jânio Quadros, em 25 de agosto (Dia do Soldado) de 1961, e a resistência dos setores militares e conservadores à posse de Goulart.

O vice-presidente João Goulart, o Jango, como era popularmente conhecido, havia sido eleito porque a escolha de presidente e vice era separada, e um movimento articulado por sindicalistas de São Paulo, intitulado “Jan-Jan”, desequilibrou o jogo e elegeu um presidente de direita e um vice de esquerda.

O que significa o 8 de janeiro para a extrema direita - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Grave violação das instituições democráticas dividiu grupo político entre críticas táticas e justificativas ideológicas

Oito de janeiro. A data desta coluna se impõe como tema e como memória, especialmente após os relatórios da Polícia Federal sobre a "trama golpista" da extrema direita. Não era, como supomos em 2023, o plano "A" do golpe —este havia sido previsto para dezembro de 2022—, mas um plano de contingência, a última tentativa dos conspiradores de fazer o Alto Comando das Forças Armadas ignorar sua avaliação de que as circunstâncias eram desfavoráveis.

Nos últimos dois anos, o governo, o campo político democrático, a imprensa e a esquerda adotaram concepção bastante homogênea acerca daqueles eventos.

Desde os primeiros "vivos", o telejornalismo tratou o episódio como uma tentativa de golpe de Estado, sem ambiguidades. Assim também se comportaram o governo e o Judiciário, que agiram rapidamente para debelar o ataque, evitar que suas consequências se alastrassem e punir os envolvidos. Tentativa de "abolição violenta do Estado de Direito" foi o selo definitivo que fechou a interpretação.

Pelo menos para o campo democrático e para as autoridades e instituições que tinham a obrigação de defender a democracia.

Mas e os envolvidos? Como os bolsonaristas elaboraram esses eventos e as suas consequências?

As consequências práticas do populismo: o 8 de janeiro - Daniel Abreu de Azevedo*

Correio Braziliense

O 8 de janeiro precisa ser visto como o ápice de um fenômeno que vem se construindo ao longo de mais de duas décadas no país: a percepção da política como a arena entre amigos e inimigos

Atordoados, catatônicos, surpresos. Não faltaram adjetivos para muitos dos brasileiros que assistiam ao evento do 8 de janeiro de 2023. Todos que eu conhecia tentavam entender o que estava ocorrendo e como chegamos a esse ponto. Essas são as duas grandes dúvidas sobre o tal dia que não podemos esquecer. 

A primeira está longe de ser um consenso. Uma pesquisa Datafolha publicada em março de 2024 revelou que 30% dos brasileiros viram o momento como uma tentativa de golpe. Porcentagem que, obviamente, diminuía quando se considerava apenas os eleitores de Jair Bolsonaro e aumentava entre os que votaram em Lula. 65% interpretavam o 8 de janeiro apenas como um ato de vandalismo. No meio acadêmico, a maioria definiu aquele dia como um ato antidemocrático e uma tentativa de golpe de Estado. Porém, houve vozes dissonantes, que viam na ausência de armas e na falta de envolvimento direto de militares evidências mais próprias de uma rebeldia violenta.

É preciso dar um jeito, meu amigo - Arthur Mello*

Correio Braziliense

A sociedade civil se mobilizou para criar a própria agenda, mas, desta vez, focada em mecanismos de defesa do Estado Democrático de Direito

Quando Eduardo Bolsonaro, o "03" de Jair, disse em uma palestra que, para fechar o STF, você precisaria de "um cabo e um soldado", não estava fazendo provocação. Na realidade, estava seguindo um costume de família que consiste em divulgar seus planos autoritários aos quatro ventos. Curiosamente, quatro anos depois a democracia mostrou que mesmo com capitão, tenente-coronel e general quatro estrelas não conseguiram abolir o Estado Democrático de Direito. 

O que aconteceu há exatamente dois anos, na tarde do dia 8 de janeiro de 2023, foi o resultado de um longo período de descredibilização das instituições brasileiras. Os articuladores intelectuais, por mais que esse nome possa parecer um oxímoro, dadas as evidências que temos conhecimento, estavam há anos dentro da estrutura do Estado com a clara intenção de corroê-la por dentro. Em um jantar em Washington com a ilustre presença do astrólogo Olavo de Carvalho, o ex-presidente disse que seria necessário primeiro "desconstruir muita coisa" antes de avançar com seus projetos. E, de fato, foi o que tentaram fazer: sequestrando ideologicamente as forças de segurança, degenerando o debate público, estimulando o desequilíbrio entre os poderes e perseguindo as organizações da sociedade civil. 

Dois anos do 8 de Janeiro - Edson Fachin*

Folha de S. Paulo

O bem-vindo chamado à paz deve vir acompanhado da memória viva e da imprescindível justiça

Eram 15h40 de 8 de janeiro de 2023 quando o Supremo Tribunal Federal foi invadido e violentamente vandalizado. A memória acesa alerta para que não se repita a infâmia (como denominou a ministra Rosa Weber, então presidente do tribunal).

Com a Constituição nas mãos e a segurança jurídica como bússola, a consolidação do respeito às instituições é o caminho que há de nos levar a um futuro no qual o que ocorreu seja, simplesmente, inconcebível.

Quando se levanta uma questão vital do Estado constitucional como essa, legitima-se institucionalmente, pelo tempo estritamente necessário, a defesa pública das condições de possibilidade da própria democracia. A imprescindível autonomia e independência da magistratura é consubstancial ao Estado de Direito democrático.

Nenhuma regra na ordem jurídica democrática em vigor autoriza ou permite o uso da força para a conquista do poder. Vivemos hoje esse tempo em que é necessário rememorar que a Constituição vigente escolheu o Estado e a sociedade fundamentados nos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, no pluralismo político e na livre manifestação do pensamento. Essa via compreende harmonia social, soluções pacíficas e preceitos que impõem respeito à soberania popular exercida pelo voto direto e secreto.

Poesia | Estou farto de semideuses, de Fernando Pessoa

 

Música (Elyanna Caldas, piano; e conjunto de choro - Choro No.5 (Capiba)