quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Denúncia implode campanha por anistia a Bolsonaro e golpistas Vera Magalhães

O Globo

Peça de Gonet deixa clara conexão entre trama golpista iniciada em 2021 e o 8 de Janeiro de 2023 e joga balde de água fria em articulação bolsonarista

O capítulo mais relevante do ponto de vista da estruturação da denúncia de 276 páginas do procurador-geral da República Paulo Gonet é justamente a sua introdução. Não por acaso, o PGR o chamou de "uma introdução necessária". É nele que Gonet diz que uma democracia que não se protege não resiste às tentativas de suprimi-la e lista as incumbências constitucionais de cada uma das instituições de zelar por ela.

É a partir desse arrazoado legal e teórico que Gonet mostra como a trama golpista, cujo início ele situa em junho de 2021, foi comandada por Jair Bolsonaro e pela cúpula militar e policial de seu governo (dos oito principais denunciados, 6 são militares e os 2 únicos civis são delegados da Polícia Federal) e se estendeu até o 8 de Janeiro de 2023 --o que já joga por terra a estratégia que se intensificou nas últimas semanas de tentar minimizar os acontecimentos daquele dia e creditá-los a mera baderna desorganizada.

Gonet acolheu integralmente o relatório da Polícia Federal que trouxe o indiciamento de 40 pessoas. A discrepância entre o número de indiciados e dos denunciados é apenas residual: dos excluídos por Gonet, os únicos nomes notáveis são o do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e o do ex-assessor do Palácio do Planalto Tércio Arnaud, um dos integrantes, segundo as investigações da PF, do chamado "gabinete do ódio" voltado a difundir desinformação contra inimigos de Bolsonaro e também o sistema eleitoral.

O PGR descreve minuciosamente eventos que integraram a trama golpista e pormenoriza e individualiza as condutas de cada um dos denunciados.

O retrato traçado na denúncia não é nada lisonjeiro para as Forças Armadas. A expectativa silenciosa das tropas, de que o grande número de militares indiciados fosse notavelmente reduzido por Gonet não se confirmou. Ele de fato excluiu alguns militares, entre eles três coronéis da ativa e um general da reserva, mas os nomes mais destacados estão lá, entre eles os ex-ministros e generais Walter Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Oliveira, o almirante e ex-comandante da Marinha Almir Garnier e o general da reserva Mário Fernandes.

O comando de Jair Bolsonaro em todas as etapas da articulação foi cuidadosamente detalhado por Gonet, o que faz um grande contraste com a movimentação algo desesperada do próprio ex-presidente nesta mesma terça-feira em busca de apoio da sua bancada para anistia ou qualquer outra clemência que possa livrá-lo não só da inelegibilidade, mas do temor de uma prisão num horizonte não tão distante.

Ao insistir na anistia, Bolsonaro quer minar justamente a caracterização de que o que aconteceu em 8 de Janeiro foi sim uma tentativa de golpe, o que Gonet trata de desmontar. Depois de elencar todos os outros atos golpistas, todos eles ordenados por Bolsonaro e a ele informados, ele chama a invasão das sedes dos Três Poderes de última tentativa desesperada de evitar a perda do poder.

 

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