Folha de S. Paulo
Em vez de elevar impostos de importação, EUA
querem que países se abram para produtos americanos
Até agora, Donald Trump estava
entretido com promessas de barrar
importações por meio de impostos maiores. Isto é, com protecionismo, não se
sabia quanto e por quanto tempo, com objetivos incertos ou variáveis. Chegou a
dizer que cobriria parte do grande déficit do governo com o dinheiro de
tributos sobre importados.
Nesta quinta, Trump disse que quer fazer o contrário. Vai exigir que outros países derrubem restrições aos produtos americanos, impostos de importação ("tarifas") ou outras. Trump deu mais ênfase a abertura comercial, na negociação ou na pancada.
É diferente. Em vez de aumentar o custo de
produtos e matérias-primas para empresas e consumidores, quem sabe a nova
iniciativa de Trump possa até resultar em redução de custos e abertura de
mercados. A Organização Mundial do Comércio, inerte e moribunda, seria em parte
substituída pelos Estados
Unidos, a OMC do porrete grande.
"Pancada" pode significar impostos
de importação maiores, restrições diretas a produtos estrangeiros ou ameaças em
outros campos das relações internacionais.
No caso de um país pequeno, quem sabe possa
ser a ameaça da visita de uma canhoneira ou de fuzileiros navais, como não era
incomum antes dos anos 1930. Trump já encostou uma pistola na testa do Panamá,
note-se.
Nesta quinta, em resumo, Trump mandou seu
governo estudar as restrições à compra de produtos americanos no exterior, país
por país. Repita-se que não se trata aqui apenas de impostos de importação, mas
de quaisquer barreiras a produtos americanos, diretas ou indiretas, muita vez o
modo mais eficiente de ser protecionista. Se não houver reciprocidade de
tratamento, haverá retaliações com "tarifas" ou equivalente.
O que está na mira dos americanos, segundo o
"Plano Justo e Recíproco"? Subsídios para produtos nacionais,
impostos ou restrições quaisquer sobre empresas americanas, impostos sobre
valor adicionado (se acompanhados de isenção do IVA sobre exportações),
regulação pesada, manipulação de taxa de câmbio, manipulações salariais (para
baixar o custo).
As barreiras não tarifárias são uma lista
enorme, na verdade aberta: incluem medidas sanitárias, barreiras técnicas ao
comércio, limitações de estrangeiros nas compras governamentais, falta de
proteção à propriedade intelectual ou favorecimento a estatais.
Em semanas ou poucos meses, a lista de
países-problema estaria pronta, assim como o rol de exigências. Como se vê, o
Brasil pode ser enquadrado em vários quesitos. Se os americanos quiserem
encrencar, talvez levem alguma coisa, alguma abertura comercial (o Brasil não
vai acabar com BNDES, isenção de ICMS para exportação, estatais, privilégio de
compras governamentais para produtos nacionais etc. certo?). Se o Brasil ceder
à pressão dos EUA, o que dirão outros parceiros sujeitos a restrições
parecidas? Vai ser difícil.
No caso dos EUA, suponha-se que tenha sucesso
esse plano de abrir mercados e exportar mais. Há sinais de que a economia está
no limite, dada a baixa taxa de desemprego e considerada a inflação ainda algo
distante da meta (para nem lembrar de que vai secar o fluxo de trabalho
migrante).
Como vão exportar mais sem importar mais (o
que Trump não quer) e sem mais oferta de trabalho (imigrantes)? Sem pressionar
a inflação)?
Vamos viver tempos ainda mais perigosos, mas
também curiosos.
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