Valor Econômico
Um balanço da plataforma de monitoramento Datatora, da consultoria Torabit, indica o tamanho do problema do PT nas redes sociais. Os parlamentares da sigla se esforçaram para competir com os bolsonaristas do PL nas redes sociais em relação a dois temas: a anistia aos envolvidos em atos golpistas no 8 de janeiro e o afrouxamento das regras da lei da Ficha Limpa. Tramitam dois projetos na Câmara, ambos com potencial para beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro. Ao contrário do que ocorreu em outras polêmicas, a direita não ganha por W.O nas métricas sobre estes temas, mas não por causa do PT.
A Torabit trabalhou com o microcosmo de
deputados, senadores e uma seleção de influenciadores digitais nas redes X,
Bluesky, Instagram e Facebook. O recorte com mais escala é o de deputados: 543
posts com 6,6 milhões de interações.
PL e PT fizeram quase a mesma quantidade de
postagens: 174 no primeiro caso (32%) e 160 no segundo (29,5%). Houve
eficiência na conversão das postagens em engajamento no caso dos deputados do
PL, que ficaram com 47% das interações. No caso do PT, com apenas 9%, não
houve. Quem obteve mais interações no campo do governismo foi o Psol (16,5%),
seguido pelo PSB (15%).
Chama a atenção o desempenho do PSB, porque
foram apenas seis postagens, igualmente divididas nos perfis de três deputados:
Tabata Amaral (SP), Pedro Campos (PE) e Lídice da Mata (BA). As duas postagens
de Tabata, sozinhas,provocaram 891,9 mil interações, ou 90% de todo o tráfego
gerado pelo partido.
A argumentação dos bolsonaristas, segundo o
levantamento da Torabit, omite o favorecimento ao ex-presidente. Os
conceitos-chave são “liberdade”, “família” , “justiça” e “Hugo Motta”. Sim,
Hugo Motta, já que o novo presidente da Câmara , sem citar Bolsonaro, disse que
as penalidades impostas pelo Supremo Tribunal Federal em relação aos
manifestantes que já foram condenados eram pesadas demais. Motta também
contestou a tese de que houve uma tentativa de golpe no dia 8. O apoio externo
é algo valorizado na narrativa bolsonarista. Com menos destaque, o ministro da
Defesa José Múcio também foi citado pelos deputados do PL, pelo mesmo motivo.
No caso das postagens contra os projetos da
lei de Anistia e da flexibilização da Ficha Limpa, a palavra forte é Jair
Bolsonaro. Os parlamentares do PT, PSB, Psol, PC do B e André Janones, do
Avante, deram o nome ao boi, botaram o guizo no gato. Disseram claramente que
as propostas em tramitação na Câ mara são para recolocar Bolsonaro no jogo.
Os partidos do chamado “Centrão” praticamente
inexistem neste debate. O PSD de Gilberto Kassab, por exemplo, não teve nem 1
mil interações. O Republicanos de Hugo Motta fez melhor figura, com 13 mil, um
nada perto das 3,1 milhões do PL. O PSDB não foi detectado. O MDB teve 2,2 mil
interações, ante as 97 mil do PC do B. O “Centrão” faz juz ao nome. É um
resultado que denota um real afastamento das bancadas dessas siglas de temas
polarizados e polarizantes.
As esquerdas e o PL galvanizam a arena
pública em relação ao destino político e possivelmente penal de Jair Bolsonaro,
mas a definição da questão está nas mãos de quem se mantém distante do debate.
As redes em relação a este tema—o que fazer com Bolsonaro—estão confinadas em
suas bolhas. Há uma ligeira prevalência a favor do ex-presidente em engajamento
e um cenário desfavorável para ele no volume de postagem dos deputados.
Pesquisas de opinião pública que consultam o
eleitorado em relação a este tema também mostram divisão em proporções
relativamente parecidas com a votação do segundo turno de 2022, com ligeira
prevalência do antibolsonarismo.
Enquanto o cenário for esse, de relativa
divisão nas ruas e nas redes, o “Centrão” estará muito pouco pressionado a
decidir a anistia a golpistas e uma mudança da Ficha Limpa talhada a favor do
ex-presidente. O tempo joga contra Bolsonaro: em Brasília, estão todos
esperando Gonet.
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