domingo, 9 de fevereiro de 2025

Extrema direita na cadeia e 2026 - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Extrema direita precisa de crise para mudar a Lei da Ficha Limpa ou aprovar anistia

A Polícia Federal acusa Jair Bolsonaro de liderar uma quadrilha golpista. Entre outras atividades, a organização criminosa tentava levar as Forças Armadas para o golpe. Tinha apoio de uma célula de terroristas militares. Coordenava acampados diante do Quartel General do Exército e contatos com gente que promoveu tumultos, incêndios e ataques em dezembro e no 8 de Janeiro.

O capitão das trevas e comparsas devem ser denunciados por essas acusações ainda em fevereiro pela Procuradoria-Geral da República. Em abril, o Supremo daria início ao processo. Em novembro, essa gente poderia estar condenada.

Deputados do PL, bolsonarista, querem mudar parte da Lei da Ficha Limpa. Mas, caso condenado por golpe, Bolsonaro continuaria inelegível mesmo aprovada essa lei para limpar outras de suas barras sujas.

Embora desesperada, a estratégia bolsonarista tem algum sentido. Caso a mudança na Lei da Ficha Limpa fosse aprovada e não fosse barrada por Executivo e Judiciário, não teria efeito prático, eleitoral, a condenação de Bolsonaro no TSE, de 2023, por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. Ao menos por um momento nome de novo viável para 2026, o capitão das trevas teria algum combustível extra para atacar o processo de golpe no STF.

Outra contraofensiva da extrema direita é a anistia dos condenados do 8 de Janeiro, que poderia beneficiar, no caso de terra em transe, também Bolsonaro. São hipóteses remotas, embora menos do que em fevereiro de 2024, quando a campanha foi lançada.

A discussão foi reavivada por Hugo Motta (Republicanos-PB), não se sabe por inadvertência ou como ameaça velada. O novo presidente da Câmara disse que condenações da turba do 8 de Janeiro são exageradas, assim como o tempo de inelegibilidade previsto pela Lei da Ficha Limpa.

Motta e Davi Alcolumbre (UB-AP) reiteraram também que querem paz com governo e STF; que não pretendem pautar projetos de leis divisivos e tumultuários; que vão ouvir os colégios de líderes do Congresso.

Primeiro, Alcolumbre e Motta querem acertar as contas —receber o dinheiro das emendas. Negociam novo acordão com STF e governo, embora Flavio Dino, do STF, tenha marcado audiência, para o dia 27, a fim de cobrar vergonha na cara. Segundo, o centrão discute como apoiar Lula em 2025, em troca de cargos, sem se comprometer com apoio em 2026 —ao contrário.

São negociações de risco para o governo e, pois, fresta de esperança para a extrema direita. Uma baixa maior da popularidade de Lula teria efeitos dúbios. Por um lado, diminuiria a força política do governo e favoreceria debandadas perigosas. Mas, por isso mesmo, criaria oportunidades para várias direitas em 2026. Haveria, pois, candidaturas interessadas em ver Bolsonaro fora do páreo.

Por ora, não há ambiente para anistiar a cúpula golpista, seja por qual meio for. Tais projetos implicam conflito ainda maior entre Congresso e STF. A maior parte da elite econômica não embarcaria, sem mais, em turbulência. De resto, essa elite pega mais carona na política do que a determina e, em caso de fraqueza de Lula, poderia entrar em outra canoa direitista, sem precisar de Bolsonaro.

Ainda assim, a política no Brasil pode mudar de água para vinho ou vinagre em meses (vide 2013, 2015, 2019). Atrasos do STF no processo do golpe e brincadeiras com a estabilidade econômica podem despertar monstros.

 

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