quarta-feira, 25 de junho de 2025

Opinião do dia – Antonio Gramsci*

I. Alguns pontos preliminares de referência

Nota III. Se é verdade que toda linguagem contém os elementos de uma concepção do mundo e de uma cultura, será igualmente verdade que, a partir da linguagem de cada um, é possível julgar a maior ou menor complexidade da sua concepção do mundo. Quem fala somente o dialeto ou compreende a língua nacional em graus diversos participa necessariamente de uma intuição do mundo mais ou menos restrita e provinciana, fossilizada, anacrônica em relação às grandes correntes de pensamento que dominam a história mundial. Seus interesses serão restritos, mais ou menos corporativistas ou economicistas, não universais. Se nem sempre é possível aprender outras línguas estrangeiras a fim de colocar-se em contato com vidas culturais diversas, deve-se pelo menos conhecer bem a língua nacional. Uma grande cultura pode traduzir-se na língua de outra grande cultura, isto é, uma grande língua nacional historicamente rica e complexa pode traduzir qualquer outra grande cultura, ou seja, ser uma expressão mundial. Mas, com um dialeto, não é possível fazer a mesma coisa.

*Antonio Gramsci (1891-1937), Cadernos do Cárcere, v. 1, p.95. 5ª edição – Civilização Brasileira, 2011.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

STF não deve abrir exceção ao julgar artigo do Marco Civil

O Globo

Excluir crimes contra honra da regra que responsabiliza plataformas por conteúdo favorecerá os criminosos

O julgamento sobre o artigo 19 do Marco Civil da Internet, retomado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quarta-feira, já resultou em avanço considerável. A Corte formou maioria para tornar as plataformas digitais corresponsáveis pelo conteúdo que veiculam a partir do momento em que notificadas de violações à lei — e não apenas depois de a Justiça determinar a exclusão desse conteúdo. Sete dos 11 ministros votaram para considerar o artigo inconstitucional no todo ou em parte. Falta, porém, estabelecer de modo objetivo as regras que passarão a vigorar.

Em meio à regulação deficiente — resultado da omissão do Congresso, onde o PL das Redes Sociais não avançou —, as redes sociais se tornaram campo propício ao florescimento de ódio e crimes. Não se pode achar normal que sejam usadas para incentivar automutilação ou suicídio de crianças, articular massacres em escolas, disseminar extremismo ou organizar golpes contra a democracia, entre tantas outras aberrações. É preciso chamar as plataformas à responsabilidade.

Nem tudo é culpa do governo - Vera Magalhães

O Globo

Bolhas consolidadas, ministros acovardados e falhas na comunicação e no trânsito no Congresso aumentam impressão de que tudo de errado é responsabilidade do Executivo

Num momento em que boa parte da sociedade parece ter escolhido viver confinada em câmaras de eco e só dar ouvidos àquilo que lhe parece correto e familiar, pouco se importando com os fatos, o iminente aumento na conta de luz resultante da derrubada de vetos de Lula ao marco das eólicas offshore tem tudo para ser atribuído... ao próprio Lula.

Isso porque explicar tudo nessa história é uma complicação a que nenhum ministro se dedicou até agora. Quais eram as medidas em discussão? O que exatamente Lula vetou? Que encargos abusivos o Congresso resolveu restabelecer (atendendo a que interesses econômicos silenciosos e bem articulados)? E quanto isso custará para o consumidor?

É por essa dificuldade de jogar uma luz sobre suas negociações de bastidores que deputados e senadores nem enrugaram a testa ao espetar a conta bilionária em todos os consumidores, ou seja, em seus próprios eleitores. Afinal, imaginavam que a maré já está tão ruim para os lados do Planalto que essa bomba também estouraria lá, do outro lado da praça.

Judiciário está com parafuso solto – Elio Gaspari

O Globo

O rei da Inglaterra estava doido, mas degolaram o francês

O paralelo pode parecer exagerado, mas o caso é o seguinte: em 1788, depois de ter perdido as colônias da América do Norte, George III, rei da Inglaterra, ficou maluco.

Um ano depois, deu-se uma revolução na França. Luís XVI foi deposto, preso e guilhotinado. Degolaram também sua mulher e barbarizaram a vida de seu filho, uma criança.

A Revolução aconteceu na França porque lá o andar de cima perdeu a cabeça na defesa de privilégios e honrarias absurdos, pouco se lixando para a defesa das instituições que lhes pareciam sólidas. A cegueira dos franceses foi tamanha que madame Du Barry, namorada do avô de Luís XVI, fugiu para Londres e vivia bem, até que decidiu voltar à França. Presa, foi para a lâmina.

Fora da ordem - Bernardo Mello Franco

O Globo

Ao atacar Irã sem aval da ONU, americano ajuda a demolir o que resta da ordem mundial

Em setembro de 1990, George Bush, o pai, anunciou o início de uma “nova ordem mundial”. A Guerra Fria e a ameaça de hecatombe nuclear haviam ficado para trás. Com o declínio da União Soviética, o caminho estava livre para a hegemonia americana.

Sem rivais à altura, os EUA prometiam fortalecer as Nações Unidas, buscar a paz e liderar pelo exemplo. Na nova ordem, disse o presidente, os fortes respeitariam os fracos e o Estado de Direito prevaleceria sobre a lei da selva. Se o discurso lido no Capitólio chegou a ser levado a sério, foi rasgado de vez por Donald Trump.

Trégua de Trump entre Israel e Irã não inclui fim da guerra em Gaza - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Conflitos na Ucrânia, na Palestina e a escalada militar entre Tel Aviv e Teerã, com envolvimento dos Estados Unidos, mudaram os paradigmas de defesa contemporâneos

Com proclamações de vitória de todos os envolvidos, inclusive do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a trégua entre Israel e Irã se manteve durante todo o dia de ontem, apesar das acusações mútuas de que, na segunda-feira, houve violações de parte a parte. O presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, e o comandante das Forças de Defesa de Israel (IDF), general Eyal Zamir, reconheceram publicamente o acordo imposto pela Casa Branca, depois de um alerta de Trump contra novos ataques de Israel contra o Irã, que ameaçava revidar com novos mísseis e drones. A trégua não incluiu, porém, as operações de Israel em Gaza, que massacram a população civil, ao combater o Hamas. Os palestinos estão órfãos.

"Imortalidades" do Giannetti - Cristovam Buarque*

Correio Braziliense

Costumamos dizer que, no parto, a mãe "dá à luz" ao filho, mais exato seria dizer que ela "dá o tempo", seu primeiro minuto: a luz conquistamos ao longo da vida — sempre em busca de não morrer cedo e de transcender à morte

A história do pensamento mostra que os intelectuais brasileiros se dedicam aos problemas do Brasil, enquanto os europeus abordam grandes temas da humanidade. De tempos em tempos, surgem exceções, como Eduardo Giannetti, que eleva nossa contribuição ao debate universal. Em suas obras, já ofereceu reflexões sobre felicidade, ética e racionalidade. Agora, com o livro Imortalidades, Giannetti une beleza literária à sólida base da história do pensamento e da reflexão filosófica, para tratar de assunto essencial à condição humana: a ideia de que a vida possa transcender sua curta duração biológica.

A hora do ouro - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

Em meio ao aumento na demanda, preço do metal caminha para nova alta nas próximas semanas

O ouro caminha para ameaçar a posição do dólar como o grande refúgio dos investidores em busca de proteção a um ambiente global de aguda incerteza, especialmente diante da escalada do conflito no Oriente Médio, após os Estados Unidos se juntarem a Israel com ataques militares contra o Irã. Não há quem descarte novo recorde de alta no preço do metal ao longo das próximas semanas caso a turbulência geopolítica aumente.

Esse movimento não reflete apenas as características do ouro como um ativo de reserva de valor ou de proteção à inflação, mas é também uma história de corrosão do dólar e de outras moedas fortes, a exemplo do iene e até do euro, como refúgio para momentos de crise ou de grande instabilidade dos mercados globais.

O desabafo de Freire Gomes para Toffoli - Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Comandante disse, em 2022, que Moraes extrapolava funções e ministro revidou: ‘Código do Marechal’

Em agosto de 2022, o ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli e o então procurador-geral da República, Augusto Aras, foram convidados para uma reunião reservada com os comandantes militares na casa do chefe da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, em Brasília. Havia no ambiente a preocupação de que as tropas fugissem do controle se Jair Bolsonaro perdesse as eleições.

Mais do que isso, um sentimento parecia prevalecer na cúpula militar, às vésperas do 7 de Setembro: a irritação com o ministro Alexandre de Moraes, que acabara de assumir a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O general Freire Gomes, à época comandante do Exército e hoje testemunha da Procuradoria-Geral da República na ação da trama golpista, estava exasperado. Dizia que Moraes usurpara suas funções ao chamar os 27 comandantes das polícias militares para discutir a segurança das eleições. Queria providências.

Baixo compromisso com o centro da meta - Nilson Teixeira

Valor Econômico

A sinalização dada pelo Copom de interrupção do ciclo de alta da Selic é prematura, pois diversos fatores ainda justificariam a manutenção do aperto monetário

O Copom elevou a taxa Selic em 25 pontos-base para 15% na sua reunião de 18 de junho, seu maior valor desde meados de 2006. Mesmo sendo contrária à expectativa da maioria dos participantes de mercado, a decisão foi acertada. O comunicado e a ata sinalizaram, porém, a provável interrupção do aperto monetário em julho, mantendo os juros estáveis por “período bastante prolongado” para avaliar se o nível atual assegura a convergência da inflação à meta.

Essa previsão de interrupção é prematura, pois diversos fatores ainda justificariam a manutenção do aperto monetário:

Guerra no Irã gera desafio adicional para a cúpula do Brics - Fernando Exman

Valor Econômico

Desafio da diplomacia brasileira será viabilizar a construção de um comunicado final que atenda a Irã, China e Rússia e, ao mesmo tempo, contemple aliados regionais dos EUA

Era madrugada de 17 de maio de 2010 em Teerã quando a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva irrompeu pela porta do saguão do hotel e, ignorando a imprensa, entrou apressada no elevador. As perguntas sobre o resultado das negociações sobre o programa nuclear iraniano ficaram para trás, sem respostas. Enquanto aceleravam os passos, as autoridades brasileiras se limitaram a dizer que era preciso aguardar a manhã seguinte para saber das novidades, quando os presidentes deveriam se pronunciar oficialmente.

Vivia-se uma época de grande projeção de Lula na cena global. O Brasil colocara a conquista de uma cadeira no Conselho de Segurança das Nações Unidas como prioridade da política externa e, naquele momento, crescia a inquietação da comunidade internacional com o avanço do programa nuclear iraniano.

A despeito da desconfiança de outros líderes ocidentais, para quem a iniciativa apenas faria o Irã ganhar tempo para atingir seus objetivos não-pacíficos, Lula decidiu aproveitar sua interlocução com as autoridades de Teerã para tentar mediar um acordo histórico. E de fato a expectativa naquela madrugada havia crescido, sobretudo devido à informação de que o primeiro-ministro turco, Tayyip Erdogan, também decidira de última hora se deslocar até o Irã para se reunir com os demais líderes naquela reta final das tratativas. Especulava-se que ele não viajaria se não houvesse um bom motivo, ou seja, um anúncio positivo a fazer.

O STF e a questão existencial do Congresso - Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Debate sobre impositividade das emendas ao Orçamento é uma discussão sobre quem dá as cartas na capital federal

Está marcada para a próxima sexta-feira, no Supremo Tribunal Federal (STF), uma audiência pública sobre um tema que está na raiz mais profunda do mau humor do Congresso Nacional em relação ao Executivo: se a impositividade das emendas ao Orçamento está ou não de acordo com a Constituição.

Sob um ângulo específico, é uma discussão sobre quem dá as cartas na capital federal.

Até 2015, deputados e senadores tinham uma cota na casa dos R$ 5 milhões para propor emendas individuais ao Orçamento. Eles conseguiam, dessa forma, direcionar recursos federais para obras e serviços que consideravam importantes para suas bases eleitorais.

Se essas obras ou serviços seriam executados, era outra conversa. Dependeria da disponibilidade do caixa, das prioridades de cada ministério, da chamada vontade política. Daí porque se tornou frequente parlamentares dizerem, na virada do século, que o Orçamento era uma peça de ficção. Porque a emenda estava lá, mas aquilo não queria dizer muita coisa em termos de realização. Podia nunca sair do papel.

Entidades de saúde respondem por R$ 34 bi de dívidas com a União, diz Haddad

Por Renan Truffi e Ruan Amorim / Valor Econômico

A principal novidade do programa é que o governo vai permitir que as empresas com dívidas façam o abatimento de seus débitos junto à União a partir da oferta de serviços de saúde para o público do SUS

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconheceu que o programa "Agora Tem Especialistas" foi criado porque, muitas vezes, a União não consegue cobrar as dívidas de hospitais privados e instituições de saúde filantrópicas. Segundo o chefe da equipe econômica, "quase todas as instituições de saúde" têm hoje uma dívida com o governo federal. Segundo o ministro, a União teria R$ 34 bilhões para receber de empresas privadas da área da saúde.

"As entidades de saúde respondem por R$ 34 bilhões de dívidas. Quase todas as instituições têm uma dívida. No âmbito desse programa, a transação abre a possibilidade dessas entidades oferecerem um serviço em troca de compensação", explicou o ministro da Fazenda.

Desequilíbrios globais importam - Martin Wolf*

Valor Econômico

Se os EUA quiserem acelerar um debate mundial sobre os desequilíbrios por meio uma intervenção de política econômica, a mais óbvia não seria aplicar tarifas, mas sim um imposto sobre os fluxos de capital

Ninguém tem como saber o rumo futuro da nova guerra no Oriente Médio nem seus possíveis efeitos econômicos. Escrevi o que pude a respeito em um artigo intitulado “As consequências econômicas da guerra”, em 31 de outubro de 2023. A grande questão, argumentei, era se a conflagração se estenderia à produção e ao transporte de petróleo proveniente da região do Golfo Pérsico. A região abriga 48% das reservas mundiais comprovadas e produziu 33% do petróleo mundial em 2022. Também tem um gargalo para as exportações no Estreito de Ormuz. Essas realidades continuam existindo. A questão agora, em grande medida, gira em torno a Donald Trump: será que ele sabe como acabar com esta guerra?

A doutrina Trump e uso da força - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Vance, vice-presidente dos EUA, diz que se forma uma diretriz trumpista de política externa

O vice-presidente dos EUA, J.D. Vance, tuitou que vai sendo criada uma "Doutrina Trump". O bombardeio do Irã seria um exemplo prático dessa diretriz.

"Estamos vendo o desenvolvimento de uma doutrina de política externa que vai mudar o país (e o mundo) para melhor: 1) defina claramente o interesse americano; 2) negocie de modo agressivo para garantir o seu interesse; 3) use força esmagadora quando necessário".

O fato de Trump ser ególatra, ignorante e "transacional" (negocista, no caso) tanto determina quando dificulta o entendimento das ações de seu governo, que não brotam apenas dos seus sentimentos de autopreservação e do que seria o interesse americano

Trump também é levado por correntes ideológicas ou de ideias acadêmicas e da burocracia estatal. Pelo interesse econômico grosso ou pela reação da elite econômica (vide o recuo nas "tarifas"). Pela política que lidera e o impulsiona, o MAGA e os Republicanos

A ilusão da regulação digital – Wilson Gomes*

Folha de S. Paulo

A crença de que novas leis resolverão os males da internet só pode gerar expectativas sociais impossíveis e frustração

Algumas coisas me preocupam nas disseminadas reivindicações de regulação do universo digital. Digo "universo digital" na falta de expressão melhor para abarcar tudo o que costuma ser fragmentado: redes sociais, plataformas, big techs, algoritmos, fake news e, até, "a internet".

A própria imprecisão na designação do objeto a ser regulado já indica a confusão em torno de uma demanda apresentada com senso de urgência e até de "já passou da hora".

Parlamentares não vieram de Marte - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Congresso é ruim, mas foram os eleitores que escolheram os deputados e senadores que aí estão

Como qualquer ser humano normal, acho que o Congresso brasileiro é, em termos qualitativos, uma porcaria. E ainda acredito na profecia atribuída a Ulysses Guimarães, segundo a qual quem considera ruim a atual composição do Parlamento deve esperar pela próxima, porque ela será com certeza ainda pior.

Isso posto, é preciso reconhecer que nenhum de nossos senadores e deputados é um produto extraviado de Marte que caiu em Brasília. Todos eles foram eleitos pela população. No caso da Câmara, por um método de votação que, embora não sem problemas, pode ser descrito como um dos mais democráticos do mundo.

Em busca do tempo perdido - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

A partir de agora, qualquer gesto do governo e da oposição será visto sob a ótica da disputa de 2026

Perdido o primeiro semestre com escaramuças entre os três Poderes, avizinha-se a segunda metade do ano sem boas perspectivas de que a situação se altere.

A campanha que oficialmente dura 45 dias a partir do início da propaganda em rádio e televisão no ano eleitoral, desta vez já está em andamento e só tende a ganhar velocidade daqui em diante.

Qualquer gesto vindo dos campos do governo ou da oposição —e até mesmo do Judiciário— será visto e julgado sob a ótica da disputa política.

Poesia | Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra, de Fernando Pessoa

 

Música | Joyce Cândido - Tesouro Maior (Lu Carvalho e Alceu Maia)