Tarifas são resposta errada a dilemas americanos
O Globo
A partir da constatação real de desequilíbrio
na relação com a China, Trump tira conclusões absurdas
Desde o início do mês, Donald Trump fez
o que pôde para implodir o regime global de transações comerciais. Levou pavor
às Bolsas de Valores — trilhões de dólares viraram pó. Pôs em risco a
estabilidade do sistema financeiro com a corrida inédita no mercado de títulos
da dívida americana. E minou a confiança no governo mais poderoso do planeta —
seu próprio governo. Por quê? Eis uma questão que intriga analistas. Os
argumentos apresentados para justificar a escalada tarifária são negados pela
ciência econômica e pelos fatos. As premissas de Trump são falsas, e seus
objetivos não passam de miragem.
É certo que ele parte de uma constatação real: os Estados Unidos registraram déficit no comércio de produtos e serviços em quase todos os trimestres desde 1976 (a única exceção foi o primeiro trimestre de 1992). Desde 2008, o resultado negativo tem ficado em 3,1% do PIB. Mas a realidade acaba aí. A partir dessa constatação, Trump tira conclusões fantasiosas ou absurdas. Para ele, déficit é sinônimo de perda ou, pior, roubo. Nessa visão deturpada, se uma empresa de Boston compra uma máquina do Japão, isso significa que os japoneses espoliam os americanos. Trump esquece que, caso essa máquina seja melhor, a empresa de Boston será mais produtiva, e a economia americana ganhará. Foi assim que a Coreia do Sul se industrializou tão rápido: importando máquinas e registrando repetidos déficits comerciais.