terça-feira, 6 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Reforma homeopática não muda 1º escalão de patamar

Folha de S. Paulo

Troca na pasta das Mulheres é a sexta desde janeiro, sem melhora na relação com partidos aliados ou em política pública

A reforma ministerial promovida em doses homeopáticas há quatro meses somente merece esse nome, até o momento, pelo critério quantitativo —e olhe lá.

De janeiro para cá, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) providenciou a troca do comando de 6 das numerosas 38 pastas do Executivo federal, já incluída na conta a troca de Cida Gonçalves por Márcia Lopes no Ministério das Mulheres, oficializada nesta segunda-feira (5).

Já no aspecto qualitativo, as substituições não ampliam nem tornam mais coesa a coalizão partidária de apoio ao Palácio do Planalto. Tampouco buscam nomes de maior expressão em suas áreas ou visam novas orientações de políticas públicas.

Raízes socioeconômicas do trumpismo - Luiz Gonzaga Belluzzo

Valor Econômico

Entusiasmado com favores e poderes da oligarquia, Trump encarregou seus auxiliares de cortar os direitos sociais e econômicos de seus cidadãos em nome da eficiência dos mercados

Avaliado em seus próprios termos e objetivos, o projeto iluminista da Liberdade, Igualdade e Fraternidade está fazendo água diante da alucinante e alucinada competição entre as lideranças contemporâneas e seus asseclas para mergulhar o planeta nos esgotos da barbárie.

O filósofo Fredric Jameson, no livro “A Cultura do Dinheiro”, já advertia no início do milênio: “Os quatro pilares ideológicos, jurídicos e morais do alto capitalismo - constituições, contratos, cidadania e sociedade civil - são, hoje, vadios maltrapilhos, mas sempre lavados, barbeados e vestidos com roupas novas para esconder sua verdadeira situação de penúria”. Não podemos colher outro ensinamento dos embates travados por Donald Trump para tornar a América Grande Outra Vez.

Peço licença aos leitores para retomar considerações a respeito da Grande América, o país que emergiu dos sofrimentos da Grande Depressão e da Segunda Guerra Mundial.

O problema do centro – Pedro Doria

O Globo

Política se tornou identidade. Ser de esquerda ou de direita exige o ritual de estar na vida on-line reforçando pertencer à tribo ou às subtribos

No início da semana passada, o noticiário político foi revolvido pelos movimentos do ex-presidente Michel Temer (MDB-SP) e do governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB-RS) querendo intervir na disputa pelo Planalto em 2026. O evento agitou inúmeros grupos de zap centristas voltados para o debate de política. Não é à toa: poucos lugares são mais solitários, no Brasil de hoje, que o centro. Por aqui, consistentemente invertemos a ordem das coisas. Discute-se muito quem pode ser o candidato a representar aquela visão de país que, um dia, Fernando Henrique Cardoso representou. Como se o candidato certo bastasse para conquistar o eleitor. Não faltam políticos capazes de ocupar esse lugar. O que falta, ora, são os eleitores. E nenhuma força política trabalha para atraí-los.

A batalha política nesta década do novo século se trava em duas dimensões. A principal é identidade. Mas o que a molda é uma narrativa. E as duas passam, fundamentalmente, por um único meio de comunicação. São, evidentemente, as redes sociais.

Estagnação social - Merval Pereira

O Globo

Estamos estagnados em políticas sociais fundamentais, como a redução da taxa de pobreza e do analfabetismo funcional

Dois dados de pesquisas nacionais são indicadores de que estamos estagnados em políticas sociais fundamentais, como a redução da taxa de pobreza e do analfabetismo funcional. Apesar de termos avançado nesses dois campos até recentemente, os números mostram que já não temos eficiência para manter o declínio dessas taxas, o que talvez explique parte da dificuldade para reverter a impopularidade de Lula neste seu terceiro governo.

Responsável pela redução da taxa de pobreza com programas sociais do tipo Bolsa Família, reforçando a melhoria que já havia sido determinada pelo Plano Real com o fim da hiperinflação, há registros mostrando que a perda de fôlego dessas políticas começou em 2023, quando a redução da pobreza passou de 5 pontos percentuais para 2, caindo para 0,8 em 2024 e 0,2 esperado para este ano. Mesmo tendo caído de 21,7% para 20,9% no ano passado, o terceiro consecutivo em que o indicador do Banco Mundial mostra redução, a taxa brasileira ainda é muito alta em comparação com países da região, casos de Chile (4,6%), Argentina (13,3%), Bolívia (14,1%) e Paraguai (16,2%).

Os juros no meio do caos de Trump - Míriam Leitão

O Globo

Brasil vai subir juros, EUA devem manter: decisões dos bancos centrais refletem tensão global sob efeito da política do presidente norte-americano

Nestes primeiros quatro meses do ano, o ambiente na economia já mudou várias vezes. E é com a sensação de absoluta incerteza que os dois bancos centrais, do Brasil e dos Estados Unidos, iniciam hoje a reunião de dois dias para definir a taxa de juros. Provavelmente, a decisão será elevar meio ponto percentual aqui, e manter os juros estáveis lá, apesar da pressão de Donald Trump, que quer novos cortes. O mais importante será observar os recados que estarão nos comunicados. Quando vão parar de subir aqui, quando voltarão a cair na economia americana?

Metade do mercado acha que no Brasil para por aí, no estratosférico patamar de 14,75%, uma taxa maior do que quando o país enfrentava, dez anos atrás, uma inflação em torno de dois dígitos. A outra metade acha que haverá em junho uma nova alta para chegar em 15% ou 15,25%.

União Europeia, big techs e redes sociais - Cláudio de Oliveira*

O Conselho Europeu, braço executivo da União Europeia, multou, em abril último, a Apple e a Meta por violarem regras antimonopolistas.

A fabricante de iPhones recebeu multa de R$ 3,2 bilhões por limitar a capacidade de operação dos desenvolvedores de aplicativos.

A proprietária do Facebook e do Instagram foi penalizada em R$ 1,3 bilhões por violar regras de privacidade com a utilização do uso de informações dos usuários europeus.

Lei de Mercados Digitais e a Lei dos Serviços Digitais 

Desde março de 2024 vigora na União Europeia a Lei de Mercados Digitais, que regulamenta os serviços prestados por grandes empresas de tecnologia, como a Apple, Alphabet, Amazon, Byte Dance, Meta e Microsoft.

Onde Master e INSS se encontram - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Cresce disputa das instituições financeiras pelo crédito dos aposentados, maior caixa da República

Há uma intersecção crescente entre duas crises que envolvem instituições financeiras avantajadas, além de seus aliados no Congresso e no Executivo. A crise no INSS ameaça invadir o processo em curso de alienação dos ativos do banco Master. No pano de fundo está a disputa pelo orçamento público.

Em pleno feriado de 1º de Maio, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, na companhia de dois outros diretores, concedeu uma audiência a Joesley Batista, do grupo J&F. Foi a segunda, em menos de um mês. O sigilo da audiência, atribuído às “regras do silêncio do Copom”, não permitiu que dela se tenha informações oficiais.

Relatos de agentes que acompanham de perto as transações permitem saber que o J&F, por meio de seu banco digital PicPay, levou à autoridade monetária seu interesse na aquisição de ativos do Master, notadamente o Credcesta, cartão de benefício consignado, focado em servidores, além da carteira de precatórios e alguns ativos do patrimônio de seu controlador, Daniel Vorcaro. O interesse bate de frente com o de outras instituições financeiras, como o BRB e o BTG. Mas não apenas.

Reforma do IRPF: de vilã para tábua de salvação do governo - Luiz Schymura

Valor Econômico

Isenção do IRPF até R$ 5 mil e a desoneração entre R$ 5 mil e R$ 7 mil geram perda de receita considerável, de cerca de R$ 25 bilhões

Ao longo dos últimos meses, as pesquisas vêm apresentando piora contínua na avaliação do governo. Porém, começaram a surgir sinais no radar de alguns analistas políticos de que haveria uma inversão na tendência. Segundo essa percepção, a proposta de reforma do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) que tramita nas casas legislativas teria o condão de reverter o quadro desanimador das pesquisas de opinião, pois sua aprovação seria uma boa notícia para a base de eleitores simpatizantes do presidente Lula, mas que vinham demonstrando insatisfação com sua gestão. No entanto, o surgimento, nestes últimos dias, da fraude no INSS colocou em xeque esse caminho promissor tão aguardado pela assessoria de comunicação do Planalto. Seja como for, o governo continua apostando na reforma do IRPF para reverter a queda nas pesquisas.

Suposto assédio e queda nas pesquisas provocaram troca de ministras – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O governo muda o eixo de atuação do Ministério das Mulheres para temas como saúde, educação e violência, em lugar de feminismo, identitarismo e a diversidade

"O que é uma mulher?" A intelectual francesa Simone Lucie-Ernestine-Marie-Bertrand de Beauvoir (1908-1986), mulher do filósofo Jean-Paul Sartre, com quem nunca se casou, respondeu essa indagação. Foi a partir dela que feminismo emergiu na política, depois da publicação de O segundo sexo (Nova Fronteira), em 1949, obra seminal da autora. As mulheres ganhavam menos do que os homens, eram privadas de direitos políticos e sujeitas às mais diversas e perversas formas de opressão.

Para Simone, era essencial distinguir entre ser fêmea e ser mulher, rejeitar a teoria do "eterno feminino" (a feminilidade era usada para justificar a desigualdade) e destacar a "alteridade" das mulheres em relação aos homens. Ou seja, ser mulher e ser "feminina" são coisas diferentes. Segundo ela, formada pelas expectativas da sociedade, a mulher pode transcender essas limitações por sua livre escolha.

A foto da posse amarelou - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Após a guerra da Igualdade Racial com Direitos Humanos, cobras e lagartos da pasta das Mulheres?

Alinda foto da posse de Lula no terceiro mandato, com uma profusão de cores e sorrisos, entre homens, mulheres, indígenas, brancos e pretos, amarelou rapidamente, como se fosse antiga, de outros tempos. Dois ministros foram demitidos por desvios, um por conveniência política, mais um por assédio e, das 11 mulheres, quatro caíram. Aliás, nenhuma delas por corrupção, mas por desempenho.

A última demissão, justamente da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, não foi apenas de surpresa, mas de forma inusitada: quem anunciou a troca não foi o presidente, nem o Planalto, nem a própria ministra que sai, mas, ora, ora, a ministra que entra. Onde já se viu uma coisa dessas? Márcia Lopes foi convidada por Lula e correu para anunciar aos quatro ventos, com a antecessora ainda no cargo, que tomaria posse ontem. No mínimo, deselegante.

A impositiva agenda da segurança pública - Paulo Hartung

O Estado de S. Paulo

Ainda que olhar o caminho que nos trouxe até aqui seja relevante, o que precisamos, com diagnóstico cristalino das demandas e urgências dessa área, é construir soluções

É inquestionável a constatação de que o descaso com a segurança pública no Brasil conforma uma das mais lamentáveis lacunas que atravessam as quatro décadas desde a redemocratização. Essa área foi para o limbo dos esforços nacionais de reconstrução das bases da cidadania em nosso país. Nesse período, a saúde ganhou o SUS, a educação, o Fundef/Fundeb, a assistência social, o Suas, e por aí vai. Mas o enfrentamento eficaz das criminalidades passou ao largo da agenda das políticas públicas prioritárias.

Um país menos desigual - Jorge J. Okubaro

O Estado de S. Paulo

Sem dúvida, nesse aspecto fundamental para o quadro social o Brasil melhorou, mas poucos parecem ter notado

Em 2024, pelo terceiro ano consecutivo, a pobreza diminuiu no Brasil. A informação, muito boa num país que tem uma das piores distribuições de renda do mundo, mereceu ressalvas. Uma delas é a de que a inflação impediu que a redução da pobreza fosse ainda mais intensa. É verdade. Outra é a de que, com as projeções para a economia brasileira em 2025, neste ano a queda será menor. Provavelmente isso ocorrerá.

Trump afunda a direita global - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Depois das eleições no Canadá e na Austrália, já dá para dizer que existe uma tendência

Se algo acontece uma vez, é um fenômeno pontual. Se acontece duas, é uma tendência. Então, já dá para dizer: Trump afundar a direita nas eleições de outros países já é uma tendência.

Primeiro foi o Canadá. Depois de dez anos de governo do Partido Liberal de Trudeau, que deixou o governo altamente impopular, a vitória parecia certa para os conservadores. Inexplicavelmente, Trump começou a insultar o Canadá, repetindo que deveria se tornar um estado americano. Bastou ao Partido Liberal (esquerda) colocar o moderado Mark Carney na liderança para a opinião pública dar a eles mais um mandato.

Lula colhe tempestades - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Alguns ministros o presidente frita, outros cozinha e há os que segura por incúria ou inércia

A retirada de Carlos Lupi (PDT) da cena da roubalheira no INSS deu-se nove dias depois de estourar o escândalo.

Nesse meio-tempo, o então ministro da Previdência Social protagonizou um teatro de explicações desastrosas e ainda assim teve o benefício de sair a pedido.

A pedido dos fatos, é verdade, mas em respeito a eles o presidente da República poderia ter feito um favor a si e ao seu governo tomando a iniciativa de demiti-lo após a entrevista em que Lupi defendia a honra dos executivos afastados pela Justiça enquanto seus colegas de mesa, dois ministros e o diretor da Polícia Federal, o desmentiam reiteradamente.

Mudando de ideia - João Pereira Coutinho

Folha de S. Paulo

Se parecem com brigas de galos: vence quem dá mais bicadas no adversário

Foi milagre. Semana passada, assistindo a um debate político na TV, um dos participantes mudou de ideias ao vivo. "Você tem razão", disse ele, depois de uma pausa de alguns segundos. "Pensando melhor, seus argumentos me convenceram."

O outro, surpreso, respondeu: "Sério? É a primeira vez que isso acontece na minha vida". No estúdio, todos riram.

Eu também ri, imaginando a cena, que nunca aconteceu. O responsável por minhas divagações mentirosas é o escritor Julian Barnes, que escreveu um breve ensaio a respeito: "Changing my Mind" (mudando de ideias).

Escreve Barnes, citando o artista Francis Picabia, que nossas cabeças são redondas para que nossos pensamentos possam mudar de direção. Mas quantas vezes isso acontece?

O Dia D soviético - Breno Altman*

Folha de S. Paulo

Desde o fim da Segunda Guerra, narrativa anticomunista trata nazismo e bolchevismo

[ResumoAutor sustenta que a definição do país responsável por selar a derrota de Hitler se tornou o principal terreno de disputa da historiografia sobre a Segunda Guerra Mundial, influenciado pelo conflito entre EUA e URSS durante a Guerra Fria. O revisionismo ocidental, escreve, vem distorcendo eventos históricos para minimizar o papel do Exército Vermelho e justificar a teoria dos dois demônios, que compara a URSS ao regime nazista.

Batizou-se de Guerra Fria o período no qual, de 1947 a 1991, o mundo se viu dividido entre o campo capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o socialista, comandado pela União Soviética. Muitas foram as frentes desse conflito —entre elas, a historiografia. O principal choque de narrativas deu-se sobre a luta contra o nazifascismo e se estende até os nossos dias.

Cumpria papel ideológico e cultural fundamental definir qual teria sido a força decisiva na derrota da Alemanha hitlerista, empreitada na qual os soviéticos estiveram aliados às democracias liberais. Inserido na disputa geopolítica, esse debate sempre foi reavivado, nos últimos 20 anos, pela decadência do bloco ocidental.

Os fatos de guerra, porém, constituíam enorme obstáculo para o discurso antissoviético. Mais de 25 milhões de cidadãos da primeira pátria socialista haviam sido mortos, contra cerca de 1 milhão de norte-americanos e britânicos. Quando ocorreu o desembarque na França, em junho de 1944, a sorte dos alemães já estava selada: os soldados da URSS haviam quebrado a coluna vertebral dos exércitos inimigos na Batalha de Stalingrado, finalizada em fevereiro de 1943, e marchavam rumo a Berlim.

Poesia | Um dia você aprende, de William Shakespeare

 

Música | Edu Lobo e Maria Bethânia - Cirandeiro (Edu Lobo e Capinan)