sábado, 19 de abril de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Nova condenação do Google reúne apoio bipartidário

O Globo

Plataformas digitais bajularam Trump acreditando em reviravolta na Justiça. Por ora, estratégia deu errado

Pela segunda vez em menos de um ano, o Google foi julgado culpado de abuso de monopólio nos Estados Unidos. A primeira sentença dizia respeito ao mercado de buscas na internet. Nesta semana, a juíza Leonie Brinkema, da Virgínia, considerou que a empresa também agiu ilegalmente no mercado de anúncios digitais. Ainda cabem recursos nos processos, que provavelmente chegarão à Suprema Corte. De todo modo, tem sido notável o avanço da Justiça sobre as plataformas digitais, com apoio tanto de democratas quanto de republicanos.

Na mesma semana, a Meta — dona de Facebook, Instagram e WhatsApp — começou a se defender num processo diante da Comissão Federal de Comércio (FTC), autoridade reguladora da concorrência nos Estados Unidos. A mesma FTC processou a Amazon, sob a acusação de sufocar pequenos negócios. E o Departamento de Justiça — autor das ações contra o Google ao lado de estados governados por ambos os partidos — também entrou com ação contra a Apple, argumentando que ela dificulta o acesso de consumidores a produtos e serviços de concorrentes.

Urgência para o PL da anistia causa divergência no PSDB e Cidadania

O Globo

Líder tucano lembra luta histórica contra ditadura; Comte avalia expulsão

Lideranças do PSDB e do Cidadania, partidos que formam uma federação marcada por desavenças, se uniram no discurso de repúdio a deputados das respectivas siglas que apoiaram pedido de urgência para a votação do projeto de lei que busca anistiar os envolvidos em atos golpistas. O ex-senador José Aníbal, dirigente tucano em São Paulo, pressionou cinco deputados do PSDB a retirarem suas assinaturas do requerimento de urgência. Já o presidente do Cidadania, Comte Bittencourt, disse que o apoio à Anistia pode acarretar em punições, “inclusive a expulsão do partido”.

Mauro Vieira diz que asilo diplomático a ex-primeira-dama do Peru foi concedido por questões humanitárias

Ivan Martínez-Vargas / O Globo

Nadine Heredia, condenada a 15 anos de prisão no Peru, foi recentemente operada e está em recuperação

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou nesta sexta-feira que o governo Lula decidiu conceder o asilo humanitário à ex-primeira-dama peruana Nadine Heredia por razões humanitárias, e explicou que ela foi recentemente operada e está em recuperação. Vieira também disse que a decisão foi tomada e só depois informada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Nadine e o marido, o ex-presidente peruano Ollanta Humala foram condenados a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro nesta semana em um caso relacionado ao recebimento de caixa 2 do regime venezuelano e da empreiteira Odebrecht (hoje Novonor) nas eleições presidenciais do país vizinho de 2006 e 2011.

Vieira ressaltou que tratou do pedido de asilo de Nadine "de acordo com o que estabelece a Convenção de Caracas, de 1954", que dita normas para a concessão de asilo diplomático.

Corrupção vai, impunidade vem – Pablo Ortellado

O Globo

Muitas vozes reagiram indignadas quando Donald Trump concedeu perdão aos vândalos e golpistas que invadiram o Capitólio, nos Estados Unidos. Outras vozes se escandalizaram quando o ex-presidente Jair Bolsonaro concedeu indulto ao ex-deputado Daniel Silveira, acusado, entre outras coisas, de incentivar a agressão a ministros do STF. A maioria dessas vozes, porém, se calou quando o presidente Lula concedeu asilo, intercedeu por um salvo-conduto e enviou um avião da FAB para resgatar Nadine Heredia no Peru.

Nadine foi condenada pela Justiça peruana por gerir o caixa dois da campanha do marido, o ex-presidente Ollanta Humala, e por ter recebido pelo menos US$ 3 milhões de doação ilegal da empreiteira brasileira Odebrecht. Segundo delações premiadas dos executivos da Odebrecht no Brasil, o pedido para a doação ilegal veio do PT. De acordo com a delação do ex-ministro Antonio Palocci, diretamente do então presidente Lula.

Apertem os cintos: o humor sumiu - Eduardo Affonso

O Globo

O humorista é o bobo da corte, aquele a quem cabe enunciar o que não queremos ouvir

Procure um bom programa humorístico na TV aberta. Encontrou? Pois é, pode dar descanso ao controle remoto: o humor sumiu. Imbuídos das melhores intenções do politicamente correto, ao jogarem fora a água do banho (o racismo recreativo, a ridicularização de minorias sexuais, a desumanização de pessoas com deficiência, a objetificação da mulher etc.), descartaram também a bacia, o bebê, o berço e a babá.

O humor — como a Vila de Noel e a crase — não foi feito para humilhar ninguém. É só uma quebra de expectativa, uma subversão da lógica, um olhar para o absurdo. Mas requer — de quem faz e de quem consome — inteligência e coragem, insumos escassos no mercado.

Três problemas em busca de soluções - Bolívar Lamounier

O Estado de S. Paulo

Mais grave, no entanto, é que sequer compreendemos as raízes de nossa ingovernabilidade, ou seja, essa difusa maçaroca que mal conseguimos identificar

Francamente, nunca me ocorrera que cedo ou tarde iria s i mpatizar com um país governado de forma totalitária – a China –, e me posicionar contra outro que sempre vira como uma “democracia exemplar”, os Estados Unidos.

Três fatores contribuíram para alterar minha perspectiva. Primeiro, eu me haver convencido de que o atual governo dos Estados Unidos representa um risco muito maior para o mundo do que o destrambelhado sr. Donald Trump. Custa-me acreditar que a maioria dos cidadãos americanos tenha prostituído suas instituições a ponto de eleger e empossar na Presidência um indivíduo duas vezes condenado por tentativa de golpe de Estado e se abalançado a praticar políticas comerciais capazes de desmantelar toda a ordem mundial edificada desde a Segunda Guerra Mundial. Isso sem contar as incontáveis ameaças e violências contra indivíduos, instituições culturais e de governo em seu próprio país. A esperança de superar esse estado de coisas, se houver, será o Congresso americano acionar contra ele, o quanto antes, o instituto constitucional do impeachment.

Ouro, prata e pânico: a era Trump - Fabio Gallo

O Estado de S. Paulo

O tarifaço foi um catalisador para uma corrida no mundo por ‘ativos de refúgio’

Na era Trump, o mundo financeiro está vivendo um fenômeno que já não se via com tanta intensidade desde 2008: a busca frenética por proteção. Com a escalada do tarifaço, os investidores têm abandonado o mercado de capitais dos EUA e migrado para o que o mercado chama de “ativos de refúgio”.

Investidores institucionais e bancos centrais estão abandonando títulos dos EUA e migrando para metais preciosos e dívidas soberanas de países mais estáveis. A demanda por ouro disparou e, em abril, o metal atingiu a máxima histórica de US$ 3.290 por onça. A prata seguiu o mesmo caminho. Enquanto isso, os rendimentos dos títulos do Tesouro americano subiram para mais de 4,5%. Em paralelo, os títulos da Alemanha e do Japão foram os mais procurados, com seus rendimentos caindo – um clássico sinal de busca por segurança.

Trump repete erro da década de 1930 - Fareed Zakaria

O Estado de S. Paulo

EUA vivem nostalgia, que olha com receio para o passado, em vez de mirar o futuro com confiança

Estamos tributando todo o país para subsidiar os 8% que trabalham com manufatura

Quando Donald Trump tomou posse, pela maioria dos indicadores, os EUA eram a economia mais forte do mundo. O crescimento era robusto, o desemprego estava um pouco acima do mínimo histórico, a inflação havia caído para um nível controlável e a produtividade – elixir da economia – havia aumentado. Trump pegou a economia em expansão e a derrubou com aumentos de tarifas. Já houve algo parecido antes?

Bem, nada tão autodestrutivo, mas as tarifas Smoot-Hawley também foram impostas depois de uma década de crescimento inebriante. Vale a pena relembrar essa história, porque há paralelos surpreendentes com a situação atual.

Lembramos a década de 1920 como os “loucos anos 20”. Em termos econômicos, isso é apropriado. A taxa de crescimento anual foi superior a 4%. O desemprego permaneceu baixo durante a maior parte dela. Inovações revolucionárias definiram o período, permitindo a produção em massa de carros, aviões, telefones, rádios e filmes. A televisão nasceu nessa época, assim como os band aids, que muitos consideraram a melhor coisa desde o pão fatiado, também inventado nessa época.

21 de abril - André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

O nome de JK entrou na história do Brasil pela coragem de mudar o país. Desde então, os políticos se acovardaram

Na noite do dia 21 de abril de 1960, estava com um amigo na Praça dos Três Poderes. Assisti, maravilhado, às festas da inauguração da nova capital do Brasil. Meu pai foi convidado para o baile de gala, que foi realizado no Palácio do Planalto. Eu e um amigo carioca ficamos passeando pela imensa praça ouvindo o magnífico coral de não sei quantas centenas de vozes, os gritos entusiasmados dos candangos. Vi os fogos. Senti a alegria. A festa atingiu seu ápice quando o presidente Juscelino Kubitschek desceu a rampa, atravessou a rua e se jogou no meio da multidão. Foi um suceder de abraços, parabéns, cumprimento, apertos de mão. Uma senhora beijou-lhe os pés.

Lições de um jovem magistrado - Oscar Vilhena Vieira

Folha de S. Paulo

Poder e autoridade judicial são fenômenos semelhantes

Certa vez fui despachar com um jovem magistrado, que me interrompeu no meio de uma frase: "Já entendi, o senhor está dizendo que eu errei". Percebendo a minha perplexidade, voltou-me sua folha de anotações, onde estava escrito, em letras garrafais: "Errei!!! Corrigir", numa clara demonstração de que sua autoridade não estava em jogo.

Poder e autoridade judicial são fenômenos semelhantes. Ambos se referem a capacidade de um juiz ou tribunal de impor conduta a outro agente. O respeito à autoridade judicial, no entanto, está intrinsecamente associado à imparcialidade, objetividade e rigor com que um juiz ou tribunal aplicam a lei. Já a submissão ao poder judicial decorre, sobretudo, do medo de sofrer alguma forma de coerção.

Os atritos entre a Justiça do Trabalho e o Supremo Tribunal Federal têm origem na forma equivocada como o Supremo vem aplicando a legislação trabalhista, assim como as normas constitucionais relativas ao direito do trabalho, nos últimos anos.

Sob o pretexto de que a Justiça do Trabalho estaria confrontando a jurisprudência do Supremo, diversos de seus ministros têm cassado decisões proferidas por juízes e tribunais do trabalho que, no exercício de suas competências constitucionais, detectaram a existência de fraude na contratação de trabalhadores, por meio de pessoas jurídicas.

A China de amanhã - Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo

País se tornará economia industrial normal após mutação acelerada por Trump, mas custo do reequilíbrio recairá sobre EUA

China representa 19% do PIB global, mas responde por 32% da produção industrial mundial. O desequilíbrio, cujas implicações contribuíram para a ascensão de Trump, não é sustentável. No fim do percurso, o triunfo chinês na guerra tarifária depende da "normalização" de sua economia.

O modelo exportador da China ancora-se no excesso de poupança doméstica –ou, dito de outro modo, num consumo interno reprimido. O segredo repousa no sistema político totalitário, que mantém baixos salários, veta políticas de bem-estar social e recusa-se a erguer um sistema decente de seguridade social.

Desde o ingresso chinês na OMC, em 2001, à base de uma intrincada rede de subsídios estatais, o modelo propiciou a expansão da indústria em saltos tecnológicos sucessivos, até a produção de veículos elétricos, painéis solares, baterias e softwares de IA. Os bens chineses inundaram o mercado mundial, eliminando competidores, devastando antigas regiões industriais e, nesse passo, deslocando os sistemas políticos nacionais.

LDO de 2026 mostra realidade inconveniente - Marcos Mendes

Folha de S. Paulo

Podemos ter soluções reais, ou mais complacência

Na última terça-feira (15) foi apresentado o PLDO (Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2026. Ele estima receitas e despesas até 2029, explicitando uma realidade inconveniente: a partir de 2027, depois de pagas as emendas parlamentares e cumprido o gasto mínimo em saúde e educação, não restará um tostão para financiar outras despesas discricionárias.

Vamos aos números. O total de despesas discricionárias previstas para 2027 é de R$ 122 bilhões. Porém, as emendas parlamentares obrigatórias serão de, no mínimo, R$ 55 bilhões.

Além disso, aproximadamente R$ 70 bilhões serão gastos para complementar a despesa mínima em saúde e educação, pois o gasto obrigatório nessas rubricas não é suficiente para cumprir o mínimo exigido pela Constituição.

O arcabouço fiscal já era - Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Em 2027, segundo as previsões oficiais, o dinheiro acaba. Feitos os gastos obrigatórios, não sobra nem para o cafezinho

Quando o governo Lula criou o arcabouço fiscal, muitos analistas e jornalistas, inclusive o autor desta coluna, sustentaram que só funcionaria com expressivos aumentos de receita. Como a carga tributária já era elevada, parecia tarefa impossível. Vá lá que se conseguisse algum ganho inicial, mas imaginar que se poderia tirar mais dinheiro do contribuinte por anos a fio era ilusão.

Do outro lado da conta, o arcabouço garantia crescimento da despesa de 2,5% ao ano, acima da inflação. E esse era o verdadeiro objetivo do governo Lula: voltar à velha política petista do aumento permanente do gasto público. Como a dívida pública já estava em níveis muito elevados, foi preciso criar o tal arcabouço, apresentado como sistema mais sofisticado que o teto de gastos.

Havia aí um argumento: o teto de gastos havia sido furado no governo Bolsonaro. Mas o teto serviu muito bem durante o governo de Michel Temer, com Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda. A regra, introduzida naquele mesmo governo, era de uma simplicidade brilhante, facilmente compreensível. Dizia: o gasto do governo de um ano será igual ao do ano anterior, mais a inflação do período. Não haveria aumento real da despesa.

Quem domina a pauta? - Aldo Fornazieri

CartaCapital

O governo não consegue enfrentar o bolsonarismo na disputa da opinião pública

A pesquisa Datafolha divulgada no início de abril trouxe certo alívio ao governo. Depois de ter caído para o patamar de 24% de avaliação positiva, agora o instituto mostra uma reação, de 24% para 29%, enquanto a avaliação negativa caiu de 41% para 38%. Somados os dois ganhos, são 8 pontos. Mas isso não significa que a avaliação seja confortável, pois ela está ainda a uns 11 a 12 pontos do patamar mínimo que poderia tranquilizar o governo para transitar rumo a 2026 e às eleições presidenciais.

Existem muitas e variadas análises que buscam explicar as vicissitudes do governo na opinião pública. Uma das mais apontadas é a da inflação, com destaque para o preço dos alimentos. Além de corroer os salários, principalmente dos setores de renda baixa, a inflação bate forte na mesa das famílias. Outra pesquisa do Datafolha mostra que 58% dos brasileiros reduziram a compra dos alimentos e o consumo de água, luz e gás por causa dos reajustes. Para 54%, o governo Lula é muito responsável pela inflação, para 29% ele é um pouco responsável e para 14% ele não tem nenhuma responsabilidade.

Darwinismo monetário - Manfred Back e Luiz Gonzaga Belluzzo

CartaCapital

O movimento do dinheiro e suas formas mudam, mas sempre acabam no mesmo lugar, na preferência pela liquidez

As relações entre dívida pública, gestão monetária e setor financeiro privado não são “externas”. São orgânicas e constitutivas. A dívida do governo é a garantia de última instância das operações financeiras privadas. Nos tempos de “normalidade”, as formas financeiras do poder privado permitem diversificar a riqueza de cada grupo, distribuí-la por vários mercados e assegurar o máximo de ganhos patrimoniais, se possível no curto prazo. Os agentes dessas operações são as instituições da finança privada. São elas que procuram antecipar movimentos de preços e definir os instrumentos de hedge e os riscos de contraparte nos mercados financeiros contemporâneos.

O choque necessário - Cristovam Buarque

Veja

É preciso criar um ministério para a educação de base

É atávico. Todos os anos, os brasileiros se surpreendem com os baixos índices na qualidade e na equidade como a educação é oferecida. Apesar de avanços, três brechas estão aumentando. Uma brecha social: mesmo com a evolução no número de matrículas na escola para os pobres, a qualidade cresce mais para a parcela rica. A brecha internacional: outros países avançam mais rapidamente, nos deixando para trás. E aumenta a brecha pedagógica: entre o que é ensinado e o que deveria ser ensinado para preparar um jovem para as necessidades de conhecimento que o mundo contemporâneo exige.

Crônica de uma morte anunciada - Marcus Pestana

Fique tranquilo o leitor que não se trata de uma homenagem ao grande escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez, nem de uma resenha sobre um de seus mais belos romances. Seria até mais interessante, mas o mar não está para peixe e a situação brasileira recomenda extremos cuidados.  Vamos falar aqui dos alertas lançados nos últimos anos pela Instituição Fiscal Independente (IFI), da qual sou diretor-executivo, sobre o continuo e crescente estrangulamento do orçamento público federal e seus efeitos deletérios para o desenvolvimento do país, sem a repercussão proporcional à sua importância junto aos tomadores de decisões.

Poesia | Embriague-se, de Charles Baudelaire

 

Música | Roberta Sá - Fogo de Palha