*Norberto Bobbio(18/10/1909-09/01/2004), filósofo
político, historiador do pensamento político, escritor e senador vitalício
italiano. ”Teoria Geral da Política - A Filosofia Política e as Lições dos
Clássicos”. P.387.Editora Campus, Rio de Janeiro. 2000.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quarta-feira, 21 de maio de 2025
Opinião do dia – Norberto Bobbio*
O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões
Ibama acertou ao autorizar simulação na Margem Equatorial
O Globo
Qualquer exploração de petróleo deve estar
sujeita a exigências rigorosas, mas não faz sentido atrasar pesquisa
Apesar da demora, o Ibama fez
bem em permitir à Petrobras trabalhar
na Margem Equatorial. A autoridade ambiental deu sinal verde para a petroleira
simular o resgate de animais na região da Foz do Amazonas, faixa oceânica entre
os litorais de Amapá e Pará. Trata-se do último passo antes da licença ambiental
necessária a prospectar petróleo e gás. Um novo pedido de licenciamento será
necessário para exploração, caso a prospecção constate haver viabilidade
econômica. Não fazia sentido o Ibama continuar a atrasar a etapa de pesquisa,
como vinha fazendo.
Na simulação de um vazamento de petróleo em alto-mar, as autoridades avaliarão a agilidade na resposta, a eficiência dos equipamentos e a comunicação com comunidades e o poder público. Ciente do desafio, a Petrobras contará durante o teste com um contingente de 400 profissionais, navios de grande porte, helicópteros e uma sonda de perfuração que virá do Rio.
A República em seu labirinto - Marcelo Godoy
O Estado de S. Paulo
O general parece sepultar com seu depoimento toda uma época de golpes, rebeliões e ditaduras
“Se dissemos que não há inocentes na política, isso se aplica mais aos juízes do que aos condenados”, assim Merleau-Ponty tratou a confissão de Nikolai Bukharin no julgamento de Moscou, o terceiro do Grande Terror. O depoimento do dirigente bolchevique foi o ponto alto do processo. Descrito por Lenin em seu testamento como “o preferido do partido”, Bukharin confessou o que lhe atribuíam. Queria salvar a pele de sua mulher, Anna Larina, e do filho do casal. Mas, para surpresa de todos, negou a acusação de ter tramado a morte de Lenin. Mesmo assim, foi condenado e executado com os demais réus. A engrenagem que se moveu em Moscou naqueles anos está no centro de Humanismo e Terror, de Merleau-Ponty.
Diante do gigantismo do espetáculo que se começou a encenar em Brasília, é possível relembrar o filósofo francês. Cada vez que Alexandre de Moraes interpelava o general Marco Antonio Freire Gomes, o magistrado despertava na audiência a impressão de estar diante de um Andrei Vichinski, o implacável acusador de Bukharin. Mas, se é verdade que os juízes não são inocentes na política, os acusados – e as testemunhas – também não são. É o que, no fim, mostrou o depoimento do general.
A importância do ‘habeas corpus’ - Nicolau da Rocha Cavalcanti
O Estado de S. Paulo
Persistem e revivem ainda hoje algumas incompreensões sobre o ‘writ’, o que acaba por reduzir ou mesmo tolher sua eficácia
No início do mês, noticiou-se que a Casa Branca estuda suspender o habeas corpus nos EUA, como medida da política anti-imigração de Donald Trump. Em outro contexto, mas com semelhante raiz autoritária, em dezembro de 1968, o Ato Institucional n.º 5 (AI-5) suspendeu no Brasil “a garantia de habeas corpus, nos casos de crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular”. É incrível como se manifesta, em diferentes circunstâncias políticas, a mesma lógica do arbítrio: enxerga-se na proteção da liberdade – no habeas corpus que assegura limites ao poder estatal – um obstáculo a ser removido, sob pretexto de defesa do interesse nacional.
O ataque de Trump ao dólar global - Martin Wolf*
Valor Econômico
Embora outros países possam desejar diversificar-se para além da moeda americana, eles carecem de uma alternativa atraente
Estaria o domínio do dólar prestes a desaparecer? “Se perdermos o dólar como moeda mundial [...] isso seria o equivalente a perder uma guerra”, insiste em dizer Donald Trump. Ele próprio, contudo, poderia ser a causa dessa derrota. Confiar em uma moeda estrangeira depende de confiar na própria liquidez e solidez dessa divisa. A passos lentos, a confiança no dólar vem se desgastando já há algum tempo. Agora, com Trump, os Estados Unidos se tornaram erráticos, indiferentes e até hostis: por que alguém confiaria em um país que deu início a uma guerra comercial contra aliados?
O livro que Lula levou para a viagem a Rússia e China - Fernando Exman
Valor Econômico
Presidente carregava um exemplar de “O Animal social”, de Elliot Aronson
Seis dias antes do fatídico jantar em que
ocorreu o constrangimento diplomático com a China provocado pela intervenção
não programada da primeira-dama Rosângela da Silva em uma conversa sobre
regulação das redes sociais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou
na base aérea de Moscou para participar das homenagens aos 80 anos da vitória
contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial. Tudo seguiu como previsto pelos
zelosos cerimonialistas dos dois países. Contudo, um detalhe se sobressaiu nas
imagens divulgadas pelo Planalto.
Aberta a porta do avião, Lula desceu calmamente os cerca de 20 degraus da escada. Um tapete vermelho decorava a estrutura. Após breves honras militares, ao presidente foi exibida uma brochura comemorativa em alusão ao fim do conflito. Sorrisos. Os fotógrafos oficiais registraram, então, o objeto que Lula carregava consigo: um exemplar do livro “O animal social”, de autoria do psicólogo social Elliot Aronson, que nessa edição contou com a parceria de seu filho, Joshua, para desbravar fenômenos como a ascensão de bolhas de informação e o comportamento polarizado dos Estados Unidos.
Começou a temporada das ‘jenialidades’ - Lu Aiko Otta
Valor Econômico
Ano pré-eleitoral e crise na popularidade de
Lula colocaram em força máxima a usina de ideias de novas medidas para
conquistar o coração do eleitor
O ano pré-eleitoral e a crise na popularidade
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocaram em força máxima a usina de
ideias de novas medidas para conquistar o coração do eleitor. O problema é que
o governo cuida mal dos programas que já existem, como mostra o recente
escândalo dos descontos não autorizados no INSS.
Além disso, por serem genéricas, informações sobre planos e ideias deixam no ar a dúvida se representam ou não pressão para aumentar gastos, já fortemente comprimidos pelo arcabouço fiscal. Ou, como tem sido a tendência mais recente, se são despesas que, por serem financeiras, não afetam o resultado primário das contas públicas e o arcabouço, mas podem aumentar a dívida.
Renda do trabalho em alta e supersafra fazem marcado elevar projeção do PIB
Mayra Castro / O Globo
Desaceleração adiada de novo
A desacerelação da economia foi, mais uma
vez, adiada — e, talvez, a freada seja menor do que a que vinha sendo esperada.
Com mais uma supersafra cada vez maior, o mercado de trabalho aquecido, com
rendimento nas máximas históricas, e o crédito ainda em expansão, mesmo com
juros em alta, economistas já estão revisando para cima suas projeções de
crescimento econômico para o primeiro trimestre.
Já era esperado que a agropecuária puxasse a
economia, com clima favorável e boa quantidade de chuvas desde outubro do ano
passado, mas a freada no consumo deverá ficar mais para este segundo trimestre
e, principalmente, para a segunda metade do ano.
Uma confirmação do adiamento da desaceleração veio anteontem. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) indicou que a economia brasileira cresceu 1,3% no primeiro trimestre ante o período de outubro a dezembro de 2024.
Vaias são trilha sonora de crise sem fim - Vera Magalhães
O Globo
Fragilidade de Lula diante de cenário adverso
em que problemas se acumulam ficou evidente na marcha dos prefeitos
As vaias se sobressaíram aos aplausos na
recepção ao presidente Lula na marcha dos prefeitos em Brasília nesta
terça-feira. O petista poderia ter passado batido pelos apupos, mas acusou o
golpe ao dizer que nunca fez distinção partidária ou ideológica para atender a
municípios e seus representantes em todas as vezes que ocupou o Planalto. Sua
fragilidade diante de um cenário cada vez mais adverso, em que as crises, em
vez de ser debeladas, vão se somando, é cada vez mais notória.
O contingente que compareceu ao evento anual dos prefeitos é aquele que emergiu das urnas no ano passado, sem que o entorno de Lula desse a devida importância: administradores oriundos de partidos do Centrão, em grande parte reeleitos ou eleitos com apoio de gestores alimentados à base de emendas direto na veia. Esses políticos são dissociados de qualquer vínculo mais forte com o Planalto, por isso não estão nem um pouco preocupados em demonstrar um tipo de gratidão com que Lula se acostumou nos mandatos anteriores — e não entendeu que não existe mais.
Israel escancara uso da fome como arma de guerra em Gaza - Bernardo Mello Franco
O Globo
Foto de palestinas com panelas vazias é novo
retrato da barbárie que parte do mundo finge não ver
As fotos correram o mundo nesta
segunda-feira. Num campo de refugiados ao norte de Gaza, dezenas de palestinos
famintos estendem suas panelas vazias. Tentam receber alguma comida após quase
três meses de bloqueio à entrada de ajuda humanitária.
Em março, o governo de Israel fechou a
passagem de comboios com doações para a população civil. A atitude escancarou o
uso da fome como arma de guerra contra inocentes.
Nesta segunda, o primeiro-ministro Benjamin
Netanyahu finalmente autorizou a entrada dos primeiros caminhões com alimentos.
Fez questão de informar que agia a contragosto, por “razões diplomáticas”.
Depois de um longo silêncio cúmplice, países que apoiavam Israel incondicionalmente enfim começam a se manifestar contra a calamidade em Gaza. Em declaração conjunta, os governos de Reino Unido, França e Canadá afirmaram que o nível de sofrimento humano na região se tornou “intolerável”.
O Brasil estará preparado para as oportunidades do futuro? - Zeina Latif
O Globo
A insegurança jurídica, disseminada, retira
potencial de crescimento do país e poderá impedi-lo de aproveitar
satisfatoriamente as novas oportunidades
Tornou-se um mantra entre os economistas a
frase “o Brasil está ficando velho antes de ficar rico”. Não é um problema
exclusivamente brasileiro, sendo um tema para muitos países emergentes, mas
aqui preocupa mais.
O Brasil tem envelhecimento populacional mais
rápido do que a América Latina. O percentual da população acima de 60 anos
correspondeu a 13,4% na América Latina e 15,8% no Brasil em 2022, aponta o
IBGE. A taxa de fertilidade é baixa (1,6 filho por mulher), e a taxa de
mortalidade de jovens, elevada (34% delas por homicídio, em 2023). As falhas
nas políticas públicas pesam nesse resultado.
Para se ter uma ideia, enquanto a França demorou mais de 100 anos para que o número de pessoas com 65 anos ou mais passasse de 7% para 14% do total da população, o Brasil o fez em 25 anos. Os EUA, por sua vez, conseguiram que transição demorasse 67 anos, por conta da imigração em larga escala e de taxas de fecundidade historicamente mais estáveis.
Julgamento dos "kids pretos" coloca em questão o papel das Forças Armadas – Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense
O grupo é integrado por militares formados
pelo Curso de Operações Especiais do Exército Brasileiro, treinados para atuar
nas missões sigilosas
Por unanimidade, os ministros da Primeira
Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) votaram para tornar réus mais 10
acusados de tentativa de golpe de Estado. O ministro Alexandre de Moraes foi o
primeiro a votar e liberou o coronel da reserva Cleverson Ney Magalhães e o
general Nilton Diniz Rodrigues por "falta de justa causa". Todos os
outros quatro integrantes da Primeira Turma o acompanharam. Foram rejeitadas
todas as chamadas "questões preliminares" apresentadas pelas defesas
dos acusados de integrar o Núcleo 3 da suposta tentativa de golpe de Estado.
Para Moraes, a denúncia não comprovou de maneira satisfatória a participação de Nilton Diniz Rodrigues, general que assessorava o ex-comandante do Exército Freire Gomes, e Cleverson Magalhães, que auxiliava o general Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira na trama golpista. Ambos foram acusados de agir para influenciar o Alto-Comando a aderir ao golpe.
Hamas venceu: inteligência morreu - Cristovam Buarque*
Correio Braziliense
A política externa israelense não consegue
construir uma nação em paz com seus vizinhos porque, ao serem provocados por
grupos terroristas, seus dirigentes abandonam a inteligência da diplomacia
Em geral, artigos em jornal morrem no dia
seguinte à sua publicação. Mas, ao assistir ao noticiário do último fim de
semana sobre a violência do exército israelense em Gaza, 20 meses depois de um
artigo, publicado em outubro de 2023, creio que se justifica republicá-lo, sem
mudar uma vírgula, nem título:
"Nenhum país do mundo tem o acervo de Israel em inteligência. Apesar disso, a política externa israelense não consegue construir uma nação em paz com seus vizinhos porque, ao serem provocados por grupos terroristas, seus dirigentes abandonam a inteligência da diplomacia, construtora da convivência no longo prazo, e optam pelo poder militar, da destruição da população palestina. Caem nas armadilhas dos que precisam incentivar o radicalismo que se retroalimenta impedindo a paz e promovendo o ódio que os terroristas precisam.
Avaliação de Trump despiora - Vinicius Torres Freire
Folha de S. Paulo
Confiança do consumidor afunda; efeito
político e econômico maior só a partir de julho
A avaliação de Donald Trump despiorou.
Não é tão baixa quanto no final de abril. Mas está longe do nível do início de
mandato. A despiora ocorreu depois de Trump desistir do aumento mais lunático
dos impostos
de importação (tarifas), rendendo-se à reação dos mercados financeiros e às
pressões de executivos de grandes bancos e empresas. No Brasil, talvez
dissessem que Trump foi vítima de ataque especulativo.
O ruído político-midiático diminuiu, o preço das ações aumentou —62% das famílias têm ações, segundo pesquisa Gallup de 2024. A confiança do consumidor americano, porém, desceu aos piores níveis da história registrada, mais de 70 anos.
Expulsando ‘fascistas’ do campus - Wilson Gomes
Folha de S. Paulo
Performance alimenta a ideia de que a
universidade é um feudo ideológico
A imagem das universidades públicas
brasileiras talvez nunca tenha sido tão ruim. É crescente o número de pessoas
convencidas de que se trata de um desperdício de recursos, já que essas
instituições estariam mais empenhadas em formar militantes radicais de esquerda
—e não os profissionais de que o país precisa—, além de oferecerem a estudantes
privilegiados um parquinho privado e caríssimo para o desfrute narcisista,
entre pares, de sua ideologia.
Em vez de entregar formação de alto nível, ciência e inovação, as universidades seriam parte da linha de produção da elite identitária. E, longe de espaços de liberdade intelectual, teriam se tornado ambientes intolerantes ao pluralismo de ideias e clubes privados dos progressistas, desconectados da população que os sustenta.
Não deveria ser necessário dizer isso, mas, nestes tempos em que a raiva política precede a leitura do texto, é preciso esclarecer: trata-se da percepção pública. Sei que as universidades públicas são muito melhores do que a imagem que delas fazem seus detratores. Acontece que, na hora da decisão parlamentar sobre os enormes orçamentos das universidades, ou quando se discute, por exemplo, se vale a pena gastar tanto com o ensino superior em vez da educação básica —dado o cobertor curto da fazenda pública—, é essa percepção, não a realidade, que costuma decidir as coisas.
Janja (desta vez) está certa - Raphael Di Cunto
Folha de S. Paulo
Primeira-dama fez bem ao tratar com
presidente chinês da influência das redes sociais sobre os jovens
A primeira-dama Janja da
Silva tem cometido muitos erros ao longo do mandato de seu marido, que lhe
renderam a fama de deslumbrada e atrapalham o próprio governo, mas a fala
sobre a necessidade de regulação das redes sociais num jantar com o
presidente da China, Xi Jinping,
não se enquadra em um desses episódios.
As críticas da oposição à quebra de protocolo são, no mínimo, descabidas. A conversa foi muito, mas muito menos grave do que os ataques públicos e reiterados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao governo chinês, que até derrubaram o seu ex-chanceler.
A Europa sucumbiu ao fascismo? - Hélio Schwartsman
Folha de S. Paulo
Chega, o partido de extrema direita, se torna
segunda força política de Portugal, mas discussão é mais complexa
O desempenho
do Chega, o partido de extrema direita português, no pleito de domingo (18)
nos dá razões para preocupação.
A legenda, que fizera um único deputado na eleição de 2019, obteve agora 23%
dos escrutínios, empatando com os socialistas como segunda força da política
lusitana.
Quem explica bem a trajetória de partidos como o Chega é o cientista político Vicente Valentim (Oxford) em "The Normalization of the Radical Right", livro que já comentei aqui. Num resumo grosseiro, eleitores têm ideias de direita, mas, por motivos reputacionais ou estratégicos, não as expressam em público nem nas urnas enquanto sentem que existe reprovação social a essa ideologia. Os diques, porém, só funcionam até certo ponto.