domingo, 4 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Saída de Lupi, inevitável, não encerra escândalo

Folha de S. Paulo

Omissão de ministro ante fraudes no INSS, que dispararam sob Lula, é inquietante para um governo conectado a sindicatos

Em seu pronunciamento para o 1º de Maio, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apresentou rapidamente a versão oficial para o escândalo recém-revelado no INSS —foi seu governo que desmontou o esquema criminoso de desvios do dinheiro de aposentados e pensionistas, que será devolvido, discursou.

Os fatos, porém, são bem mais graves para a administração petista, como mostrou a queda do ministro da Previdência SocialCarlos Lupilogo no dia seguinte ao feriado dos trabalhadores.

Ficou evidente a omissão da pasta diante de sinais óbvios de desmandos no Instituto Nacional do Seguro Social, o órgão responsável por pagamentos de benefícios que somam quase R$ 1 trilhão ao ano. Providências só foram tomadas quando a Controladoria-Geral da União e a Polícia Federal deflagraram uma operação contra a fraude.

Opinião do dia | Hannah Arendt - A mentira (Visão geral criada por IA)

Para Hannah Arendt, a mentira é uma ferramenta poderosa, especialmente na política, que pode ser usada para manipular e controlar, mas também para criar e transformar a realidade. Ela distingue entre mentiras tradicionais e mentiras organizadas ou modernas, destacando que a mentira moderna visa a destruição da verdade, enquanto a mentira tradicional busca a ocultação. Arendt também enfatiza o perigo do autoengano, onde o mentiroso se torna vítima das próprias mentiras. 

Elaboração:

  • Mentira como Ferramenta Política:

Arendt defende que a verdade e a política raramente se encontram, e a mentira tem sido utilizada como um meio de manipulação e controle. Ela considera que o mentiroso é um homem de ação, capaz de imaginar e transformar a realidade, enquanto o que fala a verdade, muitas vezes, não é. 

  • Mentira Tradicional vs. Mentira Organizada/Moderna:

Arendt diferencia a mentira tradicional, que visa ocultar a verdade, da mentira organizada ou moderna, que busca a destruição da verdade. Essa distinção é importante para entender a natureza da mentira no contexto político e totalitário. 

  • Autoengano:

Arendt destaca o perigo do autoengano, onde o mentiroso se torna vítima de suas próprias mentiras. Ela argumenta que a mentira pode corroer a própria capacidade de distinguir a verdade da falsidade. 

  • Mentira no Totalitarismo:

Arendt analisa como a mentira é utilizada como um instrumento central na propaganda e na doutrinação em regimes totalitários. Ela enfatiza como a mentira organizada é utilizada para moldar a opinião pública e criar um mundo fictício. 

  • Importância da Verdade Factual:

Arendt enfatiza a importância da verdade factual, que depende do testemunho e da observação do mundo, para resistir à mentira. Ela distingue a verdade factual da verdade racional, que é baseada em princípios e conceitos. 

  • Mentira e a Educação:

Arendt reconhece a importância da educação na transmissão do conhecimento e da memória, como um meio de resistir à mentira e à propaganda. Ela argumenta que a educação pode ajudar a proteger o mundo comum e a preservar a verdade. 

A velha Carreira das Índias e o gargalo logístico para a Ásia - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O grande problema da expansão do comércio com a China não está nas rotas marítimas. É o sistema ferroviário, sobretudo o engate da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico) com a de Integração Leste-Oeste (Fiol)

Deveria ter escrito esta coluna no último dia 22 de abril, o dia que os portugueses chegaram aqui, no ano de 1500. Organizada pela Coroa Portuguesa com o objetivo de consolidar o comércio com as Índias Orientais, a esquadra de Cabral tinha 13 navios e 1,2 mil homens, entre marinheiros, soldados, religiosos e comerciantes. Partiu de Lisboa em 9 de março de 1500, com destino oficial à cidade de Calicute, na Índia. Desviando-se da costa africana, intencionalmente ou por força dos ventos, Cabral navegou rumo ao sul e oeste, atingindo o litoral da Bahia, que chamou de Terra de Vera Cruz.

Diversidade, democracia e fascismo – Raul Jungmann*

Correio Braziliense

Diversidade é a forma de enxergar a humanidade no outro. Não é uma construção fácil, pois, como disse o poeta Caetano Veloso, "Narciso acha feio tudo o que não é espelho"

Incorporada pelas sociedades em todo o mundo, a diversidade, cuja melhor síntese é a de um processo globalizado de inclusão social, vem sofrendo alguma inflexão, com mudanças de governos e conflitos ideológicos, que requer atenção e reação para evitar que venha a ser alvo de uma nova onda negacionista.

Não à toa, no livro Fascismo eterno, o filósofo Umberto Eco ensina que a perspectiva reacionária se escora no tradicionalismo como elemento imutável para justificar a oposição a quaisquer avanços, por já trazer o caminho da verdade. Algo na contramão da ciência, cuja evolução nasce da ruptura de consensos e alcança descobertas e soluções a partir das divergências.

A diversidade está na base do nosso enredo civilizatório, com evolução arrancada em muitas lutas ao longo da história, permeando a evolução da humanidade paralelamente ao seu desenvolvimento e  progresso. É preciso enxergá-la como indissociável da evolução, pois esta ocorre a partir das diferenças.  

A hora de Francisco - Bernardo Mello Franco

O Globo

O telefone tocava sem parar no escritório do arcebispo de Buenos Aires, mas não havia ninguém para atender. Era 11 de fevereiro de 2013, e Jorge Mario Bergoglio havia saído cedo para visitar a emissora de TV da Igreja. De volta ao gabinete, o cardeal foi alcançado por um jornalista que ligava de Roma. Ao ouvir as primeiras palavras, arregalou os olhos.

“Fiquei alguns segundos paralisado, quase não acreditava no que meu interlocutor dizia ao telefone. Era uma notícia que eu nunca teria imaginado ouvir na minha vida”, lembrou, tempos depois.

Bento XVI havia renunciado, e era preciso marcar um conclave para escolher o novo Papa. Pela primeira vez em 600 anos, a Igreja viveria uma sucessão sem funeral.

Mundo caótico - Merval Pereira

O Globo

Apoiar a Rússia sem uma visão crítica na guerra contra a Ucrânia nos coloca em divergência com o Ocidente

A aguardada chegada, pelos bolsonaristas, de um enviado especial do governo Trump para supostamente tratar, entre outras coisas, de recados do governo americano ao Supremo Tribunal Federal (STF) e um apoio explícito ao ex-presidente Bolsonaro, tem toda cara de fake news. O enviado seria o Coordenador para Sanções David Gamble, que viria para ouvir políticos brasileiros sobre ações do ministro Alexandre de Moraes e do Procurador-Geral da República Paulo Gonet contra a oposição brasileira, para caracterizar se estaríamos vivendo sob um regime antidemocrático que tolhe a liberdade de expressão no país.

Seria risível, a começar pelo título do cargo, mas como o presidente dos Estados Unidos é capaz de publicar na rede oficial da Casa Branca uma foto sua forjada por inteligência artificial como se fosse um Papa da Igreja Católica, tudo é possível nesse mundo da pós-verdade. Até mesmo ser verdade que o presidente francês Emmanuel Macron está fazendo campanha em Roma a favor de um Cardeal progressista para suceder ao Papa Francisco.

Sobressaltos – Dorrit Harazim

O Globo

Segundo dados de 191 pesquisas sobre popularidade, 119 apontam crescimento de quase dois dígitos na desaprovação — a média de aprovação caiu para 44% segundo o levantamento, feito pelo New York Times

Final de julho de 1980, Aeroporto Internacional Sheremetyevo, em Moscou. O empresário Roberto Civita, editor das revistas da Editora Abril, estava entre os milhares de estrangeiros atraídos pela oportunidade de cruzar a Cortina de Ferro e assistir aos Jogos Olímpicos na União Soviética. Além de gostar de esportes, Civita queria observar como o colosso comunista lidaria com o evento. Desembarcou despreocupado com meia dúzia de exemplares da revista Veja na bagagem. Era uma edição sobre os Jogos, fresquinha da gráfica, que trazia a imagem do líder soviético Leonid Brejnev na capa. Estava orgulhoso e pretendia mostrá-la aos jornalistas que faziam a cobertura olímpica em Moscou.

Péssima ideia. As revistas estampavam a caricatura de Brejnev com feições de urso feroz, e o tempo fechou com os agentes da imigração. Não só confiscaram o material e mais alguns extras, como retiveram o viajante para explicações. Segunda ideia péssima de Civita: argumentou não ser mero leitor, mas representante do maior grupo editorial brasileiro que publicava aquelas revistas. Para ouvidos soviéticos, um capitalista incontrito. O não diálogo foi bastante tenso, contaria depois.

A solução para a crise do INSS - Míriam Leitão

O Globo

Já há no governo uma alternativa capaz de pôr fim – ou, ao menos, reduzir de forma significativa – as fraudes contra a União e os aposentados

A crise do INSS não estancará com a demissão do ex-ministro Carlos Lupi. Esse escândalo é mais real para a população porque a atinge diretamente. É o aposentado e o pensionista que foi roubado em seu parco recebimento mensal. Diferentemente de outros casos como o petrolão, que tirou dinheiro de uma estatal, ou o das joias, que era uma venda de bens da União, este fala diretamente ao bolso. Poderia ter sido evitado. A Polícia Federal estudou durante três anos o assunto e, há mais de um ano, apresentou ao governo a solução que evitaria entre 60% e 70% das fraudes. Implantar um sistema biométrico unificado no país.

Seis por meia dúzia – Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Com a troca de Lupi por seu braço direito, só falta Lula errar na devolução da grana aos aposentados

Mais uma decisão incompreensível do presidente Lula. Substituir Carlos Lupi por Wolney Queiroz no Ministério da Previdência foi automaticamente percebido pela opinião pública como trocar seis por meia dúzia. Lula se desgastou ao nomear Lupi, ao demorar a demiti-lo e, por fim, ao pôr no lugar justamente o braço direito dele.

E o que Lula ganhou em troca? Primeiro, o que já tinha: o apoio do PDT, que é satélite histórico do PT e não tem alternativa senão ficar com o governo. Depois, um escândalo de bom tamanho, na pior hora: o roubo de mais de R$ 6 bilhões do INSS.

Lupi foi informado em 2023, Queiroz era o número 2 do ministério e soube junto com ele. Nenhum dos dois fez nada.

O dólar pode ser substituído? - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Ainda não está claro o que Donald Trump revogou nestes 100 dias de mandato, a ponto de acabar com a ordem econômica global vigente e impor uma nova. Os recuos feitos são suficientes para levantar dúvidas sobre a capacidade do governo dos Estados Unidos de revogar tudo.

Trump deu um cavalo de pau nos efeitos menos importantes da perda de hegemonia dos Estados Unidos. Pretendeu restabelecer a força do Cinturão da Ferrugem (siderurgia) e acabar com o esvaziamento da indústria manufatureira, como a das montadoras.

Para isso, acabou com o livre comércio e instituiu um protecionismo draconiano por meio dos tarifaços, o que iniciou uma guerra comercial, principalmente com a China – embora os chineses tenham se mostrado dispostos a negociar. Enfraqueceu as instituições multilaterais, em especial a Organização Mundial do Comércio. Bloqueou os fluxos migratórios. Ameaçou intervir no Fed, o banco central americano, e na política de juros. Começou a destituir titulares do Poder Judiciário. Insiste em querer anexar o Canadá e a Groenlândia aos EUA. E até determinou a mudança do nome do Golfo do México.

As ameaças ditadas pela geografia - Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

A agressividade das potências terrestres pode provocar reações defensivas em potências marítimas

A ascensão do iliberalismo nos EUA é uma tendência para além do fenômeno Trump? O componente fixo de um país é sua geografia. A geopolítica clássica indica que potências marítimas de clima temperado, como EUA, Reino Unido, Canadá, países nórdicos, França, Holanda, Japão, Austrália e Nova Zelândia, tendem a ser liberais e prósperas porque ancoram suas economias no comércio e na inovação, livres de invasores terrestres.

Massas continentais terrestres, como Rússia e China, que têm grande parte dos territórios longe do mar, tornam-se potências inseguras, agressivas e autoritárias, por causa das recorrentes invasões de que foram alvo. A Alemanha é um caso híbrido, e daí sua oscilação entre liberalismo e nacionalismo.

Conversa com Alessandro Vieira- Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Projeto do senador Alessandro Vieira deve esclarecimentos a dezenas de milhões de brasileiros

Caro Senador Alessandro Vieira,

Respeito muito sua atuação parlamentar. Exatamente por isso, solicito os seguintes esclarecimentos, todos referentes ao seu projeto que reduz a pena dos criminosos do 8 de janeiro.

Seu projeto altera o Código Penal para reduzir as penas dos acusados de "tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais" (artigo 359-L) e "tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído" (artigo 359-M) em casos em que o réu não participou da organização do crime e cometeu seus crimes "sob a influência de multidão em tumulto".

Casuísmo ao jeitinho brasileiro - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Acerto em torno da anistia é o retrato do viés disfuncional na relação entre os três Poderes

As coisas andam de tal maneira disfuncionais em nossa paisagem institucional que é visto como normal um acerto para mudança de leis de interesse geral, no atendimento a circunstâncias específicas. E com o jogo em andamento.

O nome disso é casuísmo. Particularmente anômalo se acrescentarmos à cena o olhar complacente do Supremo Tribunal Federal. O conjunto dos ministros se mantém discreto, mas o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, já deu entrevista dizendo ver como naturais as tratativas.

O crime no fundo das redes - Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

Hoje, a internet é uma espécie de terceira natureza, que conduz mentes vulneráveis por veredas sinistras

Em intervenção exemplar, a polícia carioca antecipou-se a um crime, prendendo três jovens maiores de idade que planejavam matar um morador de rua no domingo de Páscoa. A execução seria transmitida online a um público pagante, expectadores habituais de suas exibições de maus tratos a animais e pregações contra mulheres, negros e homossexuais. Apurou-se que é largo o espectro de adolescentes atraídos por essa iniciação à barbárie.

O cérebro ideológico - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Livro de neurocientista política mostra que indivíduos capturados por ideologias passam por transformações neurológicas

Uma boa pedida para quem quer entender melhor os tempos estranhos em que vivemos é "The Ideological Brain", da neurocientista política Leor Zmigrod.

Gostamos de imaginar que aqueles que abraçam ideologias com as quais não concordamos são pessoas rasas, que nem se dão ao trabalho de pensar direito sobre as questões em relação às quais se posicionam. Zmigrod mostra que não é bem assim.

Um governo que não pensa em mudança - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Lula 3 é inerte na Previdência, no setor elétrico, na Saúde, na Autoridade Climática etc.

caso da roubança no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) é um exemplo de que o governo não governa em extensas partes da administração federal, que está de algum modo largada ou inerte, sem reformas fundamentais ou que, ao menos, permitam que o sistema funcione sem fraudes e inoperâncias críticas.

Além do caso da Previdência, temos problemas tanto essenciais quanto urgentes no setor elétrico. No SUS (Sistema Único de Saúde), sem reforma fundamental faz décadas, mesmo que agora tenha mais recursos, pois houve aumento brutal de financiamento do Ministério da Saúde. Onde está a Autoridade Climática prometida por Lula? Etc.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demitiu o presidente do INSS apenas quando a Polícia Federal deu uma batida na instituição. Titubeou, mas demitiu. O então ministro da Previdência, Carlos Lupi, não se prontificou a sacar o comando daquilo que é quase toda a função do ministério.

Mais preocupado com política e imagem, o governo tergiversou, enrolou e quase não tirou Lupi da cadeira. Em seguida, colocou o vice de Lupi no ministério.

Enrola de novo. Em vez de trocar seis por meia dúzia mais um, o governo poderia enfim aproveitar a oportunidade para fazer limpa maior e começar uma reforma do INSS. Para começar, é preciso ter um Ministério da Previdência? Segundo, por que havia e há tanta fraude?

Poesia | Não desistas, de Mario Benedetti

Música | Gal Costa - Festa do Interior