segunda-feira, 2 de junho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Supremo tem dever de impor a lei às redes sociais

O Globo

Artigo do Marco Civil que as exime de qualquer responsabilidade é flagrantemente inconstitucional

É notório que as plataformas digitais têm dado abrigo a toda sorte de aberração. Têm sido frequentes casos de crianças e adolescentes incentivados a participar de “desafios” letais; estímulos à automutilação e suicídio; articulação para violência em escolas ou contra moradores de rua; apologia a maus-tratos de animais; leniência com discursos de ódio e preconceito, celebração de ataques à democracia e às instituições. Não é possível ficar apenas assistindo a esse descalabro. Nesta semana, mais uma vez o Supremo Tribunal Federal (STF) terá oportunidade de pôr alguma ordem nessa terra sem lei. Na próxima quarta-feira, a Corte deverá retomar o julgamento de processos que discutem a responsabilidade civil das plataformas digitais.

STF superestima Eduardo Bolsonaro – Fernando Gabeira

O Globo

É muito difícil a relação com um governo instável como o de Trump, mas esse desafio amadureceu as reações de México e Canadá

Os Estados Unidos anunciaram sua política de restrição de vistos para autoridades estrangeiras que reprimem a livre expressão de americanos, quando estão fisicamente dentro do país. Isso aconteceu quando eu havia terminado um artigo, afirmando que era preciso tirar Eduardo Bolsonaro do caminho para entender o que se passa.

Não queria me indispor com os dois polos, apenas alargar um pouco o espectro da discussão. Creio que, ao processar Eduardo Bolsonaro, o Supremo deu a ele mais importância do que tem, atribuindo-lhe o poder de coagir os ministros. Esse movimento acaba encobrindo alguns fatos importantes. O primeiro é que o Departamento de Estado tem um setor que estuda e discute a América Latina, apesar da estreiteza de Donald Trump.

O pós-Janja nas especulações para 2026 - Miguel de Almeida

O Globo

Com as datas ainda em aberto, os peões já se movimentam no tabuleiro

Depois da convocação feita pelo ex-ministro José Dirceu por uma revolução social — a ser empreendida pelo PT! —, mais o aconselhamento buscado por Janja da Silva junto a Xi Jinping para banir a extrema direita do TikTok, começaram de imediato a ser discutidas as possibilidades políticas e humorísticas do pós-Lula. Com as datas ainda em aberto, os peões já se movimentam no tabuleiro. Daí que se fala também num hipotético cenário pós-Janja.

Antes dos nomes, as especulações ocorrem em torno dos temas de campanha, as tais propostas nunca cumpridas em caso de vitória, e das cláusulas consideradas pétreas na administração — no caso, a ocupação desesperada de cargos por militantes sem currículo ou expertise.

À boca grande já se avalia ser o caso de repetir o módulo instagramável de ministério que subiu a rampa em 2023. Com vagas ocupadas por identidades, e não por qualidades. Haja vista o deficitário resultado, discute-se a razão de por que a coisa deu ruim. Há divergências. Nos bastidores, os adversários cantam uma trova existencial: a identidade estragou a qualidade ou a qualidade estragou a identidade? Num ato de fé e penitência, buscam rememorar as performances de Anielle Franco e Daniela do Waguinho, espécies de anátemas do Lula 3. Para ganhar um caráter doutrinário, carecem ainda de resolução a ser votada no próximo congresso do partido. O identitarismo indígena, no modelo turístico adotado por Sonia Guajajara, sob a chave do pensamento mágico de produtividade, deve experienciar vivências e troca de energias em água corrente.

Junto às teses a merecer foco pelo partido, está a desconfiança das ministras Simone Tebet e Marina Silva vis-à-vis as emolduradas como cotistas. Há significativa distância de produtividade e empenho administrativo. Só nestes dias, com pontos ganhos na avaliação de eficiência, percebe-se como Tebet não tem digitais na barafunda (mais uma) da dupla Haddad/Durigan, e Marina já diminuiu desmatamento e queimadas na Amazônia. E ainda deu sova nos senadores com nome de dupla caipira — Plínio Valério e Marcos Rogério.

O futuro do trabalho para jovens - Ricardo Henriques

O Globo

O principal mantra da educação moderna é desenvolver a capacidade de aprender a aprender

A edição deste ano do relatório “O Futuro dos Empregos” estimou que 22% das ocupações seriam impactadas até 2030 por tecnologias e mudanças demográficas, climáticas, econômicas e geopolíticas. A pesquisa mostrou ainda que 40% das competências exigidas devem mudar e que 63% dos empregadores citam a lacuna dessas habilidades como o principal problema que enfrentarão. Mudanças no mundo do trabalho são comuns, mas hoje vivenciamos um período de transformações aceleradas, que afetarão em especial os jovens.

Reflexos disso foram identificados em outra pesquisa (The State of the Global Teenager Career Preparation), divulgada há duas semanas pela OCDE. Com base no Pisa (exame internacional com jovens de 15 anos), o estudo revelou que, de 2000 a 2023, a incerteza dos estudantes sobre as carreiras que pretendem seguir mais que dobrou, chegando a 39% na média da OCDE. Jovens de maior vulnerabilidade socioeconômica, justamente os que mais necessitariam de orientação profissional, são os que menos relatam receber apoio.

A solidão de Haddad e o silêncio sobre Marina - Bruno Carazza

Valor Econômico

Análise de dados da agenda pública dos ministros da Fazenda e do Meio Ambiente revela pouca atenção de Lula para essas áreas centrais de seu governo

Quem deu a senha para que eu corresse atrás dos dados que fundamentam esta coluna foi Thomas Traumann. Jornalista dos mais completos, ele é o cara a ser ouvido quando se trata de embates entre a equipe econômica e a classe política. Além de ter escrito o livro “O Pior Emprego do Mundo”, em que relata as agruras de todos os ministros da Fazenda vivos à época da publicação, Traumann também chefiou a Comunicação do governo Dilma. Ou seja, conhece tudo da psicologia de quem conduz a economia nacional e das disputas por poder na cozinha do petismo.

Em texto publicado na sua newsletter, Traumann relata o passo a passo que levou à edição do decreto que aumentou o IOF e precipitou o governo Lula em uma nova crise de natureza política e fiscal. Logo na introdução, uma informação chamou minha atenção: o primeiro encontro privado entre Haddad e Lula havia sido às vésperas da publicação da norma.

BC coloca a comunicação como pilar central na sua estratégia - Alex Ribeiro

Valor Econômico

Galípolo elegeu o aperfeiçoamento da comunicação como uma das prioridades de seu mandato

Agora que o Banco Central faz a calibragem final da taxa de juros, a comunicação passa a assumir um papel fundamental para garantir que o aperto monetário se prolongue pelo tempo necessário para cumprir a meta de inflação.

Desde que assumiu o cargo, em janeiro, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, elegeu o aperfeiçoamento da comunicação como uma das prioridades de seu mandato. No caso da política monetária, isso envolve, de um lado, a comunicação com os especialistas, que é essencial para que os juros façam efeito com menos custo, e, de outro lado, a comunicação com a sociedade, para manter o apoio à autonomia do BC num período em que os juros altos fazem o trabalho de esfriar a economia para baixar a inflação até a meta.

Os pronunciamentos recentes dos membros do Comitê de Política Monetária (Copom) têm não apenas comunicado o caminho mais provável para a taxa de juros no futuro, mas também feito digressões e discussões sobre qual é a melhor forma de os banqueiros centrais se comunicarem, em especial num período de grande incerteza, como o atual.

A culpabilidade de Haddad – Diogo Schelp

O Estado de S. Paulo

Na crise do IOF, o ministro da Fazenda é um saco de pancadas útil para o presidente Lula

Você sabe que a situação está feia para um ministro da Fazenda quando até as peças publicitárias de empresas privadas ajudam a espalhar a notícia de suas políticas impopulares. Os painéis digitais das avenidas de São Paulo e as redes sociais de bancos e fintechs estão cheios de anúncios prometendo soluções criativas para minimizar o impacto do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

“Mudou o IOF?”, ironiza uma das propagandas, que promete manter a taxa antiga, de 1,1%, sobre compras internacionais no cartão de crédito. “O governo brasileiro acabou de fazer uma mudança muito séria que vai impactar no seu bolso”, começa outra, sem rodeios. “Aqui ainda é 21 de maio”, provoca uma terceira, em referência ao dia anterior ao anúncio que acabou com o IOF reduzido para contas em dólar. Para compensar o aumento do imposto e reter os correntistas, as instituições financeiras estão oferecendo spread zero, cashback e descontos nos custos das transações, entre outras promoções. A mensagem que fica é: o governo está tirando mais dinheiro de você, mas nós vamos salvá-lo.

O antiocidentalismo - Denis L. Rosenfield

O Estado de S. Paulo

São autocratas ou totalitários, conforme as circunstâncias, mas exibem sempre um disfarce ‘ocidental’, como o de representarem valores ‘decoloniais’

As duas guerras atuais, a decorrente da invasão russa à Ucrânia e a do massacre do 7 de Outubro, perpetrado pelo Hamas em Israel, levaram a enfrentamentos armados, cujas consequências vão muito além do que os dois atacantes haviam previsto. A Rússia pensou ser possível capturar toda a Ucrânia via uma operação relâmpago com tropas aerotransportadas e utilização maciça de tanques, tendo, neste sentido, fracassado. A aparência militar da Rússia, tão alardeada, não correspondeu à sua ação efetiva. A Ucrânia soube enfrentar a invasão, reagindo com força, graças ao forte apoio dos EUA e da União Europeia, além da determinação de seu povo.

O preço da ruptura entre China e EUA - Oliver Stuenkel

O Estado de S. Paulo

Países como Brasil precisarão se adaptar a um mundo mais volátil

Por décadas, milhões de pais chineses sonharam em ver seus filhos estudando nos EUA – um passaporte para o sucesso profissional, a mobilidade social e uma vida globalizada. Em 2019, antes da pandemia de covid, mais de 370 mil chineses estavam matriculados em universidades americanas, formando a maior comunidade internacional no ensino superior dos EUA, até serem superados pelos indianos em 2023. Isso inclui numerosos filhos da elite política e econômica chinesa. Foi um fenômeno sem precedentes: duas potências rivais construindo pontes nos campos da educação, da ciência e da inovação, facilitando o diálogo entre os dois países. Apesar de estarem em número menor, os estudantes americanos na China também ajudaram a ampliar a compreensão mútua.

Minha Casa, Minha Vida: o Brasil que se constrói com dignidade - Renato Correia*

Correio Braziliense

Ao promover o acesso à moradia digna, o programa eleva o padrão de vida da população, amplia a distribuição de renda e gera oportunidades concretas de emprego e renda

O sonho da casa própria é, há décadas, um símbolo de conquista, estabilidade e dignidade para milhões de brasileiros. Mais do que um teto, trata-se da construção de um futuro — de pertencimento, segurança e acesso pleno à cidade. Foi com essa missão que nasceu, em 2009, o Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), uma iniciativa que marcou o renascimento da política habitacional no Brasil e da qual a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) se orgulha de ter participado desde sua formulação.

Ao longo desses anos, o programa consolidou-se como uma das mais relevantes políticas públicas do país. Em sua essência, o Minha Casa, Minha Vida vai muito além da entrega de unidades habitacionais: ele impulsiona a economia, fortalece a indústria da construção civil, promove inclusão social, gera empregos e reduz o deficit habitacional. Para muitas famílias, representa a primeira oportunidade de formar patrimônio — um marco que transforma realidades e rompe ciclos de vulnerabilidade.

Um exemplo que não deveria ser do Senado - José Natal

Correio Braziliense

O que se viu no Senado foi uma peça teatral de mau gosto e um desfile indisciplinado de uma série de pessoas que deveriam dar exemplo de boas maneiras e postura ética respeitável

Muita gente viu pela TV ou acompanhou pela mídia. No último dia 26, na Comissão de Infraestrutura do Senado Federal, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, foi submetida a cenas de constrangimento explícito, discriminada como mulher e desconsiderada como a maior autoridade do setor no país e uma das mais respeitadas em todo o mundo. Convidada pela comissão para um debate sobre um tema que domina com propriedade, Marina se viu acuada por três senadores radicais da Região Norte, inclusive ouvindo de um deles que "o melhor seria que ela se recolhesse a seu lugar". Quem sentenciou a ministra a essa postura foi o senador Marcos Rogério, que preside a comissão. Para os próprios colegas de bancada, a colocação causou constrangimento. Errou a mão, exagerou na expressão.

Espelho meu - Ana Cristina Rosa

Folha de S. Paulo

Fortalecer na TV a representatividade da maioria da população, que é negra, beneficia o país como um todo

Já parou para pensar na importância do audiovisual como instrumento de promoção da cidadania? O tema foi debatido num festival realizado em Brasília pela maior emissora de TV do Brasil. A iniciativa é da maior importância num país racista (machistamisógino homofóbico também) como é o nosso.

Não é segredo nem novidade que o que se passa nas telas da televisão brasileira e (mais recentemente) nas transmissões por streaming impacta a percepção da realidade. Por conta disso, influencia o comportamento social.

Historicamente, nossa produção audiovisual serviu para reforçar estereótipos e estigmas sobre o "lugar reservado" ao negro. É nesse contexto que o crescimento da quantidade de atrizes e atores pretos e pardos encarnando papéis de destaque e que extrapolam o estereótipo de serviçal, marginal ou "brinquedo" sexual é um indício de que estamos vivendo um momento de quebra de paradigma.

Direita democrata deve rechaçar bolsonarismo - Lygia Maria

Folha de S. Paulo

A defesa da liberdade de expressão é princípio fundamental do campo democrático, não de determinada ideologia política

Tornou-se comum dizer que a direita se apropriou da liberdade de expressão, como se ela fosse exclusividade da esquerda. Mas não é nem de uma, nem de outra. O respeito à liberdade de expressão é princípio fundamental do campo democrata, independentemente da ideologia política.

Há esquerda autoritária e direita iliberal, e a polarização nos mantêm presos entre as duas.

A ala antidemocrática da esquerda se afastou da liberdade há muito tempo. O filósofo francês Jean-Paul Sartre cortou relações com Albert Camus porque o argelino criticou os abusos da URSS, que eram relevados por parte considerável da intelectualidade global na Guerra Fria. Em seu livro "O Homem Revoltado" (1951), Camus deixa claro como um projeto de sociedade melhor é sempre o álibi dos tiranos.

Lula 3 e o orçamento sob tutela - Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

O impasse fiscal e a perda de poder orçamentário do Executivo

"Que o exemplo do IOF, dado pelo governo federal, seja o último entre aqueles em que o Executivo tenta usurpar atribuições do Legislativo", afirmou recentemente o presidente do SenadoDavi Alcolumbre. Já o presidente da Câmara, Hugo Motta, ameaçou aprovar um decreto legislativo para suspender o aumento de imposto proposto pelo Executivo. É mais um capítulo das tensas relações entre os Poderes durante o terceiro mandato de Lula.

O episódio remete à derrota da PEC da CPMF, em 2007, no auge do padrão de hegemonia do Executivo, em Lula 2. A proposta de prorrogar a CPMF por mais quatro anos, após duas décadas de vigência, foi rejeitada no Senado, resultando em uma perda de arrecadação estimada em R$ 70 bilhões.

De Auschwitz a Gaza - Roberto Amaral

Gaza foi transformada no maior campo de concentração a céu aberto jamais conhecido pela humanidade. Um inimaginável “corredor da morte” onde o povo palestino, mais da metade crianças, aguarda a condenação sem sursis ditada pelo inimigo luciferino assustadoramente belicoso e perverso. E, na mesma medida, covarde. O governo sionista de Israel promove, há meses, sob as vistas cegas da comunidade internacional, cínica, uma declarada limpeza étnica. Nesse verdadeiro “campo de concentração e extermínio” os desgraçados não caminham com seus próprios pés para as câmaras de gás a que eram condenadas as vítimas do nazismo: são destroçados pelas bombas do moderníssimo exército do Estado de Israel, fundado em 1947 sob os auspícios da ONU exatamente para garantir um lar ao povo sobrevivente do holocausto. Como os judeus de ontem, os palestinos de hoje não têm condições de defesa; mas sobre eles (como se a fome, o vilipêndio e o roubo de suas terras não fossem suficientes) um poderoso exército – aviões supersônicos, drones, mísseis, tanques de guerra e toda sorte de artilharia –vomita bombas. Trata-se de um genocídio operado às claras e à sombra da iniquidade moral de uma comunidade internacional que a tudo assiste impassível. Ao contrário dos prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz, as vítimas de hoje não podem sonhar com a libertação do Exército Vermelho, que em janeiro de 1945 avançou sobre a Polônia a caminho de Berlim. Ninguém marcha em seu socorro. Estão abandonadas “à própria sorte”, que se tem revelado madrasta.

A força do mistério - Ivan Alves Filho*

Álvaro Moreyra, o meu cronista preferido, estava absolutamente certo: o verbo da vida é andar. Foi assim que o Homem ocupou a Terra inteira, viveu a aventura da vida – de pé. Mas contou com a ajuda de pelo menos três verbos complementares ou auxiliares: amar, lutar e criar. 

E quem fala nesses verbos também pensa em Arte, em Literatura. Pois por intermédio da criação o Homem se juntou aos seus semelhantes, dividindo sua beleza interior com o mundo. A Arte une. E, de quebra, recompõe o Homem com ele mesmo.

João Campos fala como novo presidente do PSB;

 

Lula discursa em cerimônia de posse de João Campos como presidente do PSB

 

Poesia | Ainda te necessito, de Pablo Neruda

 

Música | Roberta Sá - Se for pra mentir