domingo, 11 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Supremo acerta ao derrubar provocação penal da Câmara

Folha de S. Paulo

Manobra juvenil tentou sustar ações contra acusados de golpe; Congresso poderia discutir pena maior para cabeças do 8/1

A desfaçatez, o corporativismo e a irresponsabilidade deram as mãos na Câmara dos Deputados na quarta-feira (7). Numa manobra que não deixa nada a dever para as estudantadas, 315 deputados federais pretenderam derrubar, numa só tacada, toda a ação penal que acusa o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais sete pessoas de conspirarem contra a democracia.

O pretexto foi a avaliação do caso do ex-diretor da Agência Brasileira de InteligênciaAlexandre Ramagem, um dos réus nesse processo que corre no Supremo Tribunal Federal. Como Ramagem foi eleito deputado federal no final de 2022, a Constituição faculta ao plenário da Câmara, provocado pelo partido do acusado, suspender a ação penal.

Não é preciso ter estudado direito para concluir que o comando constitucional se aplica tão somente ao parlamentar, não se estendendo aos outros sete réus da ação desprovidos de mandato legislativo. O texto da Carta também é claro ao limitar a proteção ao período que se inicia após a diplomação do candidato eleito, que ocorreu em dezembro.

Marxistas e católicos. Da mão estendida ao único caminho - Luiz Ignácio Maranhão Filho*

*Luiz Ignácio Maranhão Filho (1921-1974) é um dos onze membros do Comitê Central do PCB a figurar na lista dos desaparecidos políticos e mortos pela ditadura de 1964. Advogado, jornalista, professor do Atheneu Norte-rio-grandense, fundador da Faculdade de Filosofia e Letras do Rio Grande do Norte e ex-deputado estadual, Luiz Maranhão foi preso em São Paulo em 1974 e recolhido ao DOPS, lugar em que foi torturado até a morte.

Publicado na Revista Paz e Terra, ano II, n. 6, abr. 1968.

Nesta segunda metade do século, a convergência de posições entre marxismo e cristianismo surge como um dos fenômenos mais impressionantes da nossa época, surpreendendo a muitos que não se detiveram no exame de um longo processo, iniciado em alguns países europeus nos difíceis dias da ocupação nazista, desdobrando-se, depois, até o Concílio Ecumênico Vaticano II. Processo que remonta, também, ao que talvez possamos chamar nova teologia, expressa através do pensamento de Teilhard de Chardin, cujo itinerário de perseguições impostas pela velha estrutura assinala bem o seu lugar entre os portadores de ideias novas.

Grande teria de ser, como vem sendo, a repercussão no Brasil daquele fenômeno sociopolítico de algumas ações unitárias entre marxistas e católicos, principalmente porque, a esta altura dos acontecimentos, tais atitudes já são adotadas não apenas por setores isolados, nos escalões intermediários, mas pelas próprias cúpulas internacionais. O Brasil é o país de maior população católica do mundo, e essa condição haveria de exigir uma atenção especial para esses assuntos, tanto da parte dos marxistas como dos cristãos. Mas acreditamos que eles tenham interessado principalmente aos últimos e com muita razão. Sendo um país em desenvolvimento, com extensão continental e possuindo tão importantes recursos naturais, o Brasil se destina a ocupar posição entre as grandes potências. Já não se trata do velho "ufanismo" do "país do futuro", mas de uma realidade que se evidencia ao aproximar-se o limiar do ano 2000.

Quando a esquerda vai voltar a ter pautas próprias? - Daniel Medeiros*

O Globo

É preciso entender que conflito é da natureza da democracia e, por isso, criticar e ser criticado faz parte do jogo

Agora é essa conversa da camisa da seleção. Minhas redes sociais, cheias de amigos e conhecidos progressistas (dos lulistas aos marinistas, dos saudosistas aos pós-modernos), todos ulularam de satisfação: “Agora eu compro!”; “Vamos pra rua de camisa vermelha da seleção!”; “Quero ver a cara dos patriotas!”.

Gente, que pobreza de ideias é essa? Sou do tempo em que a gente comprava a camisa vermelha na barraquinha da Rua XV, com o broche do Henfil mostrando a graúna indignando-se com alguma coisa. Na hora da Copa, era a amarelinha ou a azul do manto de Nossa Senhora, a padroeira, porque futebol é crença e também é sofrimento. Quem pautou essa bizarrice de transformar a sagrada camisa do penta em símbolo de passeata política foram os caras do “mito”. Uma tristeza, uma apropriação indébita, uma profanação cultural com o símbolo máximo do nosso futebol, envergada com galhardia por Pelé, Garrincha, Gérson, Rivelino, Tostão, Sócrates, Falcão, Júnior, Zico, ah, tantos nomes gloriosos e inesquecíveis.

A esquerda fica empolgada com essa peraltice da CBF porque perdeu o rumo de sua própria narrativa e vive hoje como a cacatua de uma tia minha, que só sabe repetir as palavras que ela ensina. Muito malandra, minha tia ensina frases para desconcertar as visitas, como “Já não está tarde, comadre?” ou “Ai, que tá na hora da minha novela!”. Essa última, minha tia jura que ela repete, mas nunca ouvi. De qualquer forma, achei genial. Para uma cacatua, não para as forças progressistas do país.

Excesso de ousadia - Merval Pereira

O Globo

A manobra para livrar o ex-presidente Bolsonaro e seus comparsas não deu certo, mas criará uma crise institucional que poderia ser evitada se não existisse por parte da maioria da Câmara uma vontade de confrontar o Supremo em defesa do ex-presidente

A Câmara não perde uma chance de se desmoralizar diante dos cidadãos, de onde vem sua legitimidade e cujos direitos deveria representar. Em dias recentes, tomou duas decisões avessas aos interesses da cidadania, mas favoráveis aos próprios deputados e seus apaniguados, as duas envolvendo decisões do Supremo Tribunal Federal. No primeiro caso, o STF mandou que a Câmara recalculasse o número de deputados, com base na representatividade dos Estados de acordo com o Censo de 2022. O estudo oficial tiraria sete vagas de Estados que tiveram perda de habitantes, e criaria outras sete vagas em Estados que ganharam população, ficando tudo igual.

Gaza está sozinha no mundo – Dorrit Harazim

O Globo

Os Estados Unidos apoiam a erradicação da vida civil em Gaza, enquanto Reino Unido e França desviam o olhar para não parecer cúmplices. Dos 'países-irmãos' árabes muçulmanos, pouco a esperar

Poucos meses atrás, o poeta palestino Mosab Abu Toha se declarou dilacerado. Preso e libertado pelas forças israelenses na sua Gaza natal em 2023, obteve salvo-conduto para sair do enclave. Bons tempos aqueles em que salvo-condutos ainda eram fornecidos. Do Egito, ele migrou para os Estados Unidos. E foi dessa terra estrangeira que refletiu sobre seu estado d’alma em entrevista ao canal Al-Jazeera. O salto entre o “ontem” e o “agora”, disse, fora brutal. “Imagine estar num abrigo em Gaza com seus pais, irmãos, filhos, sem conseguir proteger nenhum deles. Você é incapaz de prover comida, água, medicamentos, nada. E agora você se vê nos Estados Unidos, justamente o país que financia o genocídio. É desesperador”, resumiu ele.

Que papa será Robert Prevost? - Míriam Leitão

O Globo

A Igreja Católica sempre muda e permanece. Avança para depois recuar, mas agora o movimento parece o de consolidar avanços

A Igreja Católica sabe permanecer, quando desafiada, e tem usado a estratégia de avançar e, em seguida, recuar. Às vezes, o recuo é retrocesso mesmo, outras é para consolidar terreno e aparar as arestas entre as correntes políticas internas. Foi assim na passagem entre João XXIII e Paulo VI. O Concílio Vaticano II abriu tantas portas e fez uma atualização tão forte, e necessária, que Paulo VI trabalhou para organizar o chão revolvido. Francisco foi inovador em várias áreas, até em reduzir a distância entre o Papa e as pessoas. Papa Leão XIV não parece ter o carisma do antecessor, mas tem algumas das ideias essenciais, como na questão ambiental, um dos maiores legados de Francisco, reunido na Laudato Si’.

Paradoxo: certezas que geram incertezas - Pedro Malan

O Estado de S. Paulo

O papel de lideranças políticas responsáveis é o de contribuir para reduzir, e não aumentar, os graus de incertezas sobre o futuro

Ouvido pela imprensa logo após a divulgação do resultado da eleição, o irmão mais velho do agora papa Leão XIV contou que havia perguntado ao então cardeal Robert Prevost se assistira ao filme Conclave – para “saber como se comportar” num conclave verdadeiro. No filme, o cardeal encarregado de organizar o escrutínio secreto faz memorável discurso, no qual afirma: “Para trabalharmos juntos e crescermos juntos, precisamos ser tolerantes. Nenhuma pessoa ou facção deve buscar dominar outra. (...) É a variedade, a diversidade de pessoas e opiniões, que nos dá força. (...) Há um pecado que passei a temer acima de todos os outros: a certeza. A certeza é o grande inimigo da unidade. A certeza é o inimigo mortal da tolerância. (...) Nossa fé é algo vivo, justamente porque caminha de mãos dadas com a dúvida. Se houvesse apenas certeza e nenhuma dúvida, não haveria mistério e, portanto, não haveria necessidade de fé”.

Inflação recua, mas incertezas mantêm risco - Rolf Kuntz

O Estado de S. Paulo

O impulso inflacionário poderia ser menor, se o governo freasse os gastos federais e aceitasse um desempenho econômico mais contido

A primeira missa do novo papa foi seguida, para os brasileiros, pela divulgação dos novos números da inflação: 0,43% em abril; 2,48% neste ano; e 5,53% em 12 meses, taxa bem superior ao teto da meta (4,50%) e muito acima do centro do alvo (3%). Em viagem à Rússia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva celebrou os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, distanciando-se, por um momento, da guerra diária de seus conterrâneos contra o aumento de preços nos supermercados, nas lojas e nos serviços essenciais.

Para os otimistas, a notícia mais importante pode ser o declínio da inflação mensal. A taxa recuou de 1,31% em fevereiro para 0,56% e 0,43% nos dois meses seguintes. Mas a alta de preços acumulada em 12 meses foi 0,05 ponto superior à de março e ultrapassou todos os patamares alcançados desde o início do ano anterior.

Mera provocação – Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Como os vândalos do 8/1, o deputado Ramagem é só pretexto para salvar Bolsonaro do STF

A decisão relâmpago da Câmara de suspender o julgamento do atual deputado Alexandre Ramagem é a antessala da aprovação da anistia para os golpistas de antes, durante e depois do 8 de Janeiro e, mais uma vez, perigosamente, isola o Supremo na linha de frente na defesa das instituições e da democracia. Tanto no caso de Ramagem quanto na anistia, o objetivo é livrar a cara de Jair Bolsonaro.

Ao votarem contra o Supremo e a favor de Ramagem, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e o plenário da Câmara fizeram uma provocação ostensiva ao Poder Judiciário e abriram uma crise institucional, pois a Constituição é clara ao estabelecer que o Congresso pode sustar ações penais exclusivamente contra parlamentares e apenas por crimes cometidos durante o mandato.

Elo entre reformistas e tradicionalistas - Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Prevost se opôs a um plano peruano de introduzir aulas de gênero nas escolas

A eleição de Robert Prevost revela o desejo dos cardeais de reconciliar as alas reformista e tradicionalista da Igreja. O papa Leão XIV compartilha as preocupações de Francisco com os pobres e imigrantes. Mas é mais conservador do que ele sobre gênero e sexualidade. Na primeira campanha de Donald Trump, em 2015, o então bispo Prevost retuitou artigo do cardeal Timothy Dolan condenando a retórica anti-imigrantes.

Em 2018, Prevost compartilhou um post qualificando de “moralmente indefensável” e “vergonhosa” a separação de crianças dos pais imigrantes, adotada por Trump.

Mercator, Rio Branco e a inutilidade do Mapa Múndi de Pochmann - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O novo mapa não consta do planejamento do IBGE. É um capricho pessoal, uma patriotada que expõe o Brasil ao ridículo, a pretexto de combater o eurocentrismo

Desde Ptolomeu (c. 100-170 d.C., Alexandria, Egito), a cartografia acompanha o processo civilizatório. Autor da monumental “Geographia”, o matemático e físico grego influenciou a cartografia europeia por séculos, ao introduzir as coordenadas de latitude e longitude, sobretudo o trabalho de Gerardus Mercator (1512–1594), matemático e geógrafo flamengo, cujo verdadeiro nome era Gerhard Kremer, que latinizou seu nome para Mercator (“comerciante”). Preso em 1544 por suspeita de heresia, por suas ideias luteranas, acabou libertado.

A Projeção de Mercator (1569) é cilíndrica e transforma a superfície curva da Terra em um mapa plano. Foi revolucionária para a navegação, porque permite traçar rotas com rumo constante (loxodromia) como linhas retas, embora distorça as áreas próximas aos polos, como a Groenlândia, por exemplo. Seu “Atlas sive cosmographicae meditationes” (1595) foi o primeiro a usar esse nome, em homenagem ao titã Atlas da mitologia grega. Essa projeção é utilizada até hoje em sistemas de navegação (como o GPS), ou seja, quando se pega um Uber ou se aluga um patinete.

O Brasil precisa lembrar-se do Rio Doce - Márcio Macêdo*

Correio Braziliense

O novo acordo do Rio Doce, homologado pelo STF, pretende que famílias atingidas pelo rompimento da barragem Fundão, em Mariana, tenham garantias concretas de reparação individual e medidas compensatórias coletivas

Às vezes, os fatos se distanciam no tempo e a sociedade se desconecta deles, mesmo numa tragédia como o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, maior desastre ambiental do país. Atingiu Minas Gerais e Espírito Santo e também todas as pessoas que sonham com um mundo sustentável, que respeite os limites do nosso planeta.

O governo do presidente Lula, numa ação coordenada pela Secretaria-Geral da Presidência da República — que lidero — com o apoio de mais 13 ministérios, além de autarquias, empresas, bancos públicos federais e a defensoria pública, fez a primeira Caravana Interministerial depois da homologação do novo acordo do Rio Doce, pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Os objetivos foram levar informações precisas sobre o novo acordo e também ouvir. Ouvir e entender a dor de milhares de famílias que, quase 10 anos depois da tragédia, ainda não recuperaram as fontes de onde tiravam o sustento, especialmente agropecuária e pesca; não recuperaram a saúde física e mental que tinham antes do desastre pelo qual respondem as mineradoras Samarco, Vale e BHP Billiton Brasil.

Avacalhação tramita bem no Congresso - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Ano não começou após Carnaval, Páscoa, e logo tem festa junina, mas avacalhação tramita bem

Passou o Carnaval, passou a Páscoa, passou o feriadão do Trabalho e o ano no Congresso não começa. Logo virão as folgas das festas juninas e, para o descanso da fuzarca, férias em julho. O governo viaja.

Mas os parlamentares estiveram ocupados. Primeiro, em reaver dinheiros maiores, aqueles R$ 50 bilhões em emendas. Segundo, ao menos no caso de centrões e direitões, a sovar a massa podre da pizza de anistias.

É o caso da anistia para Jair Bolsonaro e outros golpistas. Experimentam livrar deputados acusados de golpe, como na tentativa de sustar o processo contra Alexandre Ramagem (PL-RJ), mas não apenas. Essa resolução, votada na semana passada pela Câmara, parece um laboratório de arranjos para salvar parlamentares acusados de roubanças, como no caso de emendas. Serve também para ameaçar o STF.

O conclave do capeta - Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Congresso desenhava pentagramas para fugir da cadeia, enquanto católicos acompanhavam escolha de novo papa

Enquanto os católicos esperavam que o Espírito Santo se manifestasse em Roma, no Congresso Brasileiro Jair e a ladroagem do Congresso desenhavam seus pentagramas para fugir da cadeia e trazer o golpe de volta do inferno.

Foi o conclave do capeta.

Na última quarta-feira, a Câmara dos Deputados aprovou uma sacanagem para interromper a ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), acusado (e obviamente culpado) no inquérito do golpe. O plano era aproveitar para interromper o julgamento dos outros réus no mesmo inquérito, como Bolsonaro e Braga Netto.

Ilegal, e daí? – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

O Congresso afronta a Constituição em movimento de evidente provocação ao Supremo

Como não está de brincadeira, o Congresso só pode estar de provocação com essa história da Câmara de aprovar a suspensão da ação contra os golpistas e a ideia do Senado de patrocinar a revisão de penas dos já condenados.

À luz da legislação vigente, fazem isso ao arrepio da Constituição e do Código Penal. Neste caso, a despeito do casuísmo, ao menos os congressistas exercem sua prerrogativa de mudar leis. Naquele, o da anulação de ato do Supremo Tribunal Federal a partir da condição de um deputado, invadem competência do Judiciário. E sabem perfeitamente disso.

Ansiolítico para a politização da vida - Vinicius Mota

Folha de S. Paulo

Dicas para atravessar a tempestade que reduz tudo a uma batalha de vida ou morte

democracia deveria ser chata. O tédio indica que as coisas funcionam bem, políticos e partidos circulam pelas posições de poder quase aleatoriamente e sem solavancos, juízes de que não se sabe o nome fazem o seu trabalho com tranquilidade, e os demais serviços públicos acontecem como o dia sucede a noite. As pessoas tocam a vida sem se ocupar muito do que ocorre nos palácios e nas assembleias.

Há mais de dez anos esse padrão se alterou num punhado de países democráticos. Simulacros de batalhas de vida ou morte impregnaram o cotidiano. Tornou-se hábito denunciar as agendas ideológicas de cientistas, artistas, professores, magistrados, empresários, sacerdotes, esportistas, diplomatas, jornalistas e inseri-las no grande jogo da política. Ganhar eleição virou credencial para bagunçar o coreto institucional e sabotar contratos sociais profundos e longevos.

Como a autoajuda ainda não saiu de moda, arrisco algumas sugestões para atravessar esse período tempestuoso minimizando, quem sabe, as avarias no casco mental.

Quando o diabo faz política - Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

Espanto diante dos comportamentos exibidos a olhos públicos decorre de quem tenta buscar racionalidade

"Para obter o seu objetivo, o diabo é capaz até de citar as Escrituras" (Shakespeare em "O Mercador de Veneza"). Um filme a que se pode assistir como paráfrase desse pensamento é "O Diabo de Cada Dia" (2020), de Antonio Campos, sobre uma corrente do mal perpetuada em pequena cidade de Ohio (EUA). Vê-se como a religião molda trajetórias de vida, desenhando personagens com linhas distorcidas, desvirtuando o que se entende por fé. A ignorância total da realidade é aprofundada pela interpretação enviesada da Bíblia a cargo de um duvidoso pastor.

Entrevista | Peter Burke: 'A ignorância dos poderosos é perigosa'

Ruan de Sousa Gabriel / O Globo

Em passagem pelo Brasil, historiador inglês defende o combate à desinformação e define o papel do intelectual hoje: 'chocar com ideias novas'

Por mais de duas décadas, o historiador britânico Peter Burke, de 87 anos, investigou a origem do conhecimento e escreveu livros incontornáveis sobre o assunto, como “O polímata: uma história cultural de Leonardo da Vinci a Susan Sontag”. Até que enveredou pela agnotologia — neologismo que descreve o estudo da ignorância.

Em 2023, lançou “Ignorância”, no qual analisa os impactos da “ausência de conhecimento” nos mais diversos campos: da política à ciência, da religião aos negócios. Como epígrafe, o professor da Universidade de Cambridge escolheu uma frase do político brasileiro Leonel Brizola (1922-2004): “A educação não é cara. Cara mesmo é a ignorância.” E há vários exemplos de ignorância brasileira no livro: da destruição das florestas para plantar soja a políticos que não sabem o preço do pão. Sobre Jair Bolsonaro, o inglês escreve: “Sofre de ignorância em sua forma aguda, a de nem mesmo saber que ele nada sabe.”

Poesia | Para sempre, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Toquinho e Camilla Faustino - Mamãe

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