sexta-feira, 2 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Trump já colhe resultado do caos que semeou

O Globo

Com as tarifas, PIB americano encolhe, Bolsas desabam, empresas registram menos vendas e mais custos

Em meros cem dias de seu segundo mandato, Donald Trump semeou o caos com barreiras comerciais e decisões erráticas. Não demorou a colher o resultado. O Produto Interno Bruto (PIB) americano sofreu contração de 0,3% no primeiro trimestre. A confiança dos consumidores atingiu em abril o menor nível em cinco anos. A rede de lanchonetes McDonald’s sofreu a maior queda nas vendas desde os piores tempos da Covid-19. A General Motors prevê redução nos lucros de 2025 entre US$ 4 bilhões e US$ 5 bilhões em consequência das tarifas. Desde a posse de Trump, mais de US$ 6,5 trilhões viraram pó nas Bolsas de Valores — pior desempenho dos mercados para um início de mandato desde 1974, quando Gerald Ford assumiu após a renúncia de Richard Nixon. Trump não tem ninguém mais a culpar por tudo isso além de si mesmo.

Como se trata da maior economia mundial, as decisões da Casa Branca reverberam mundo afora. O Banco Central do Japão reduziu sua previsão de crescimento para 2025 a menos da metade — a expectativa de 1,1% deu lugar a magro 0,5%. Nas próximas semanas, é provável que mais países façam o mesmo. Em abril, o Fundo Monetário Internacional reduziu a estimativa para o PIB de todos os integrantes do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) e das principais economias emergentes: África do Sul, Brasil, China e Índia.

Trump e o colapso do sistema monetário - Rogerio Studart*

Valor Econômico

Guerra comercial dos EUA terminou por, inadvertidamente, empurrar o sistema de volta para um padrão-ouro - se não para um caos

Vale a pena ler o discurso de Scott Bessent, secretário do Tesouro dos Estados Unidos, nas reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI). Nele, o secretário expôs uma estratégia pouco discutida por trás do tarifaço de Donald Trump: a guerra comercial seria uma tentativa de forçar uma reforma profunda no sistema monetário global. Segundo ele, o sistema está disfuncional e incapaz de garantir a estabilidade econômica global (www.bit.ly/3RAYkgP). Essa é uma visão que não é totalmente errada, mas a forma de enfrentá-la proposta por seu governo é, no mínimo, temerária.

A Conferência de Bretton Woods, realizada em 1944, enquanto a Segunda Guerra Mundial ainda acontecia, foi um esforço monumental para criar um sistema monetário internacional estável. Sabidamente por razões geopolíticas que discutimos abaixo, o dólar, vinculado ao ouro a US$ 35 por onça, tornou-se o centro desse sistema, proporcionando estabilidade financeira no pós-guerra. No entanto, com o aumento dos déficits comerciais e fiscais dos EUA, especialmente após a Guerra do Vietnã, a base de reservas de ouro foi diminuindo, até que, em 1971, o presidente Richard Nixon abandonou o padrão-ouro, dando início à era dos câmbios flutuantes e ao domínio absoluto do dólar como moeda de reserva mundial.

‘O Pai’, uma tragédia brasileira - José de Souza Martins

Valor Econômico

Dirce de Assis Cavalcanti não teve que inventar nada, simplesmente relatou sua história. Passou a vida decifrando indícios de si mesma para saber quem era

Faleceu em março a escritora Dirce de Assis Cavalcanti, uma pessoa extraordinária que já nasceu, ela mesma, como triste obra literária, como tragédia. Não teve que inventar nada, simplesmente relatar sua história, a de um ser humano indicial que passou a vida decifrando indícios de si mesma para saber quem era.

Os pais pouco conversavam entre si. Pai militar e ausente, designado pelo Exército para diferentes unidades, em distintos e distantes lugares do país, nem sempre deslocava a mulher e a filha para morarem consigo.

Dirce teve, em boa parte do tempo, uma vida de relacionamento epistolar com o pai. Quando escrevia para ele, a mãe lhe recomendava: diga tal coisa a seu pai, diga isto, diga aquilo. E ele, em suas cartas, dizia-lhe: diga para sua mãe tal coisa ou tal outra coisa. Eles aparentemente não existiam um para o outro. Fizeram da filha, que tinha dificuldade para compreender essa modalidade de relacionamento, sua porta-voz.

Após INSS, Pé-de-Meia entra na mira da CGU - Andrea Jubé

Valor Econômico

Escândalo de corrupção no INSS mostra como a história se repete como tragédia

O aniversário de 25 anos do Valor Econômico é um convite a reavivar a memória, refletir sobre as voltas que o mundo dá, e como os acontecimentos se repetem. Foi Hegel, citado por Karl Marx, quem disse que os fatos e personagens importantes na história ocorrem duas vezes: a primeira como tragédia, a segunda como farsa.

O exemplo da vez é o esquema de corrupção no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que tem como vítimas aposentados e pensionistas, lesados em até R$ 6,3 bilhões. Os desvios foram revelados pela Controladoria-Geral da União (CGU), um ministério que tem quase a mesma idade do jornal.

O Livro não morrerá - José Sarney*

Correio Braziliense

O livro vencerá. É a mais nova tecnologia. Cai e não quebra. Tem todos os programas de computador. Não precisa de energia. Pode ser levado e lido (em) a qualquer lugar

Na semana passada, comemoramos o Dia Mundial do Livro (23 de abril), com letra maiúscula, pois o Livro é o meu maior amigo, que Deus me deu no meu nascimento e me acompanhará até o fim. Acredito que vinte por cento da minha vida tenho passado o tempo em sua companhia.

Um dia, em São Paulo, ao almoçar com Elio Gaspari, ele me tranquilizou dizendo que duas coisas não iam acabar com a ameaça dos avanços da internet e do livro digital e concluiu: o jornal e o livro não acabarão nunca. Concordei e fui sedimentando essa convicção.

Para ficar na Previdência, só falta Lupi falar "Lula, eu te amo" – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Lupi virou um zumbi na Esplanada, porém, assombra o governo e põe em risco a reeleição de Lula

Não é a primeira vez que o ministro da Previdência, Carlos Lupi, protagoniza um impasse político em decorrência de escândalo de corrupção em pasta sob seu comando. Quando era ministro do Trabalho no governo Dilma Rousseff, também resistiu muito a deixar o cargo, chegando a afirmar que só sairia do ministério "abatido à bala". Convocado a prestar esclarecimentos na Câmara, em novembro de 2011, na tentativa de permanecer no ministério, Lupi pediu desculpas: "Eu gosto de fazer o debate, às vezes exagero. Peço desculpas públicas. Presidente Dilma, me desculpe, eu te amo", disse.

Àquela ocasião, durante audiência pública na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle (CFFC), Lupi negou que seu chefe de gabinete, Marcelo Panella, estivesse envolvido em irregularidades na pasta. Disse que não existe "título mais importante que a lealdade" e saiu em defesa do seu braço direito, que coincidentemente é o seu atual chefe de gabinete no Ministério da Previdência.: "Não tem possibilidade de o Marcelo estar envolvido em irregularidades", afirmou.

Esquerda diz pouco sobre salário e mundo do trabalho - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Ganhos recentes nos anos Lula não bastaram para compensar anos de desastre e inflações

Escrevo estas linhas ainda no 1º de Maio, um Dia do Trabalho esvaziado simbólica e politicamente, para não dizer quase morto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não foi às ruas, esvaziadas de esquerda faz muito tempo. Fez um pronunciamento, na véspera. Falou entre outras coisas dos bons números de emprego e salário. Era tudo verdade, mas nem toda.

Não se trata de dizer de modo algum que era enganação. Mas de lembrar outra vez que a vida anda apertada, que a melhoria do último biênio ou triênio não bastaram para compensar os anos de desastre e de inflações. Que talvez esse seja um dos motivos do mau humor político-econômico, evidenciados na baixa popularidade do governo. Trata-se de lembrar também que a esquerda pouco fala de salários, para nem dizer de outras muitas precariedades do mundo do trabalho e social.

Estancar a anistia - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Ainda que soe heterodoxo, é positivo que o STF contribua para evitar a aprovação de um perdão generalizado à tentativa de golpe

É sempre meio estranho ver o STF envolvido em negociações políticas com os outros Poderes. A primeira imagem que me vem à cabeça é a de Romero Jucá falando num "acordão, com Supremo e com tudo" para "estancar a sangria" da Lava Jato. Exceto pelo Collor, é difícil hoje afirmar que a profecia de Jucá não se materializou.

Nas versões mais idealizadas do Direito, o juiz é visto como um ser meio etéreo, imune a paixões, inclusive as políticas, e que julga seus casos levando em conta unicamente as provas produzidas e as leis previamente aprovadas. "Fiat iustitia, et pereat mundus" (faça-se justiça, mesmo que o mundo pereça), bradava Kant. Mas, se formos honestos, reconheceremos que deixar o mundo perecer não é uma boa ideia.

Tem falha (grave) na direção – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Lula errou na escolha de Lupi e agora erra no timing da reação ao descalabro na Previdência Social

O escândalo das fraudes bilionárias no INSS está só começando, mas já deu dois recados claros ao presidente da República.

Um deles fala sobre o risco de se nomear um ministro da Previdência com histórico de demissão da pasta do Trabalho por causa de convênios suspeitos com organizações não governamentais. Soa familiar.

O outro aviso diz respeito à ideia de que o problema estaria na comunicação. Não está. No horror que se desenha, vemos a evidência de falha grave na gestão, que no caso atinge área sensível sob todos os aspectos; social, criminal e politicamente falando.

Sobre laços invisíveis e meritocracia* - Laura Karpuska

O Estado de S. Paulo

Construir um mercado mais justo exige ação consciente, e a mudança começa com sair da bolha

Brasiliense, Rodrigo chegou ao mercado de trabalho acreditando na promessa da meritocracia. Fugiu dos pistolões da sua terra natal, convencido de que, em São Paulo, bastaria esforço.

Com o tempo, percebeu a ironia. As empresas, muitas vezes, preferem contratar por indicação. E não é por má-fé: funcionários indicados costumam ficar mais tempo, custam menos no processo seletivo e, em média, são mais produtivos.

Esse dilema – entre mérito e acesso – virou pergunta de pesquisa. O resultado foi uma dissertação de mestrado premiada no Insper, com base em dados coletados ao longo de oito meses em todo o País. O autor analisou 1.356 brasileiros, de 430 cidades, incluindo trabalhadores atendidos pelo Sine e pelo Poupatempo em São Paulo.

A hipótese central era simples: será que a homofilia – a tendência de nos conectarmos a quem se parece conosco – afeta as chances de contratação por indicação? A resposta é sim. E o impacto é desigual.

O desmonte da ordem global – Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Não é um Zé-qualquer quem afirma que a ordem econômica mundial mudou com a posse de Donald Trump. Foi a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, quem expôs esse diagnóstico, no início de seu discurso de abertura da reunião de primavera do FMI.

É afirmação que impõe duas perguntas importantes: qual é a ordem econômica que sucede à que acabou? O dólar será substituído por outra moeda global de pagamentos e de reserva?

A estrutura vigente até agora, que se supõe revogada, começou em 1944, com a Conferência de Bretton Woods. A Grande Depressão dos anos 30 e a Segunda Guerra Mundial deixaram grande parte dos países impossibilitados de pagar suas contas. A solução encontrada em Bretton Woods, cidade no Estado de New Hampshire, Estados Unidos, que reuniu dirigentes de 44 países aliados, teve três pilares: atrelar o dólar ao ouro, à proporção de 35 dólares por onça-troy (31,1035 gramas de ouro) e, assim, garantir a estabilidade do sistema financeiro global; a criação do FMI que forneceria recursos quando um país sócio quebrasse; e a criação do Banco Mundial para financiar projetos em países em desenvolvimento.

Lula, de derrota em derrota - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Anistia para 8/1 e CPI do INSS andam juntas, a favor de Bolsonaro e contra Lula

Os ventos no Congresso sopram contra o presidente Lula e a favor, não exatamente de Jair Bolsonaro, mas do bolsonarismo, que atrai o poderoso Centrão e impõe derrotas ardidas para o governo. Dois exemplos: anistia de 8 de janeiro, para livrar o próprio Bolsonaro, e CPI do INSS, que mira um roubo de bilhões de reais de aposentados e pensionistas, numa combinação devastadora. Os dois projetos já têm assinaturas suficientes para deslancharem.

Anistia e CPI andam juntas, e com fôlego, pressionando Hugo Motta e Davi Alcolumbre, desafiando Lula e preocupando o Supremo. A anistia foi feita sob encomenda para Bolsonaro e a CPI é um torpedo voltado para Lula. CPIs são contra governos, imobilizam Câmara e Senado e travam pautas como os atuais pacotes do IR e da Segurança. E mais: ao expor a corrupção no INSS, a CPI, se for criada, vai dividir holofotes (da mídia, das redes e da sociedade) com o julgamento de Bolsonaro no STF.

Primeiro de Maio: do massacre de Chicago ao desencanto atual - Roberto Amaral*

“E um fato novo se viu / Que a todos admirava: /
                      O que o operário dizia / Outro operário escutava. / E foi assim que o operário / Do edifício em construção / 
Que sempre dizia sim / Começou a dizer não.” 

(Vinícius de Moraes, O operário em construção)

 
As esvaziadas festas de hoje, com as quais, graças ao feriado, comemoramos o 1º de Maio, nada guardam de familiar com suas dramáticas origens, que remontam ao massacre da Praça Haymarket (Chicago, 1886). O Dia Internacional do Trabalho e da Solidariedade Proletária nasceu como uma marcha de lutas, protestos, greves e reivindicações de direitos. O que poderiam os trabalhadores comemorar, naquela altura, submetidos que eram a jornadas de 12, 14 e até 16 horas de trabalho diárias que, com variações, atingiam homens, mulheres e crianças, tanto no velho continente que sediara a Revolução Industrial quanto nos emergentes EUA? Haveria de ser um dia de luta da classe trabalhadora, então animada por socialistas e anarquistas, confiando no internacionalismo proletário — hoje reduzido a relíquia histórica.

O “Dia do Trabalho” nasceu como mobilização eminentemente política, revelando, em seus primeiros tempos, tinturas revolucionárias que, aos poucos, foram se esmaecendo até alcançarem a palidez de hoje. Era claro seu escopo pedagógico, ao pretender lembrar e ensinar à categoria que os direitos são conquistados com luta (“O que cai do céu é chuva; o resto se conquista”), tanto quanto são perdidos quando ela enfraquece. E, assim, talvez se explique a contemporânea perda de direitos dos trabalhadores — o outro lado do remanso da luta popular e da crise política do sindicalismo.

Lula perdeu a maioria dos trabalhadores? - Vera Magalhães

O Globo

O 1º de Maio, pelo segundo ano, escancarou o afastamento entre o presidente que se forjou nas lutas sindicais e o novo trabalhador

Uma das maiores dificuldades de Lula e de seu terceiro governo é justamente entender e se aproximar do novo mundo do trabalho. O 1º de Maio, pelo segundo ano consecutivo, escancarou o afastamento entre o presidente que se forjou nas lutas sindicais e este novo trabalhador que ele não consegue compreender.

A dificuldade começa porque, com as mudanças tecnológicas, culturais e sociais dos últimos anos, se torna difícil até enquadrar todos aqueles que estão em idade produtiva no selo “trabalhadores”. Muitos, principalmente os mais jovens, preferem ser qualificados como empreendedores, mesmo quando vai aí uma boa dose de desinformação a respeito dos direitos sociais de que abrem mão quando rechaçam a ideia de trabalhar com “carteira assinada”.

1° de Maio – Flávia Oliveira

O Globo

Mercado de trabalho combina mazelas seculares aos males da modernidade

É emblemático que, 139 anos depois da repressão violenta à manifestação por redução de jornada em Chicago, nos Estados Unidos, origem do Dia do Trabalhador, brasileiros tenham ido às ruas no 1º de Maio contra o cotidiano de seis dias de labuta, um de folga. Os protestos contra a escala 6 por 1 marcaram o feriado em diferentes cidades, de São Paulo e Rio de Janeiro a Salvador e Belo Horizonte, de Fortaleza e Florianópolis a Recife e Porto Alegre. Não é trivial, ainda que sem o tamanho dos atos de outrora. O movimento Vida Além do Trabalho emergiu do desabafo em rede social de um jovem balconista de farmácia (o hoje vereador Rick Azevedo, PSOL-RJ), tomou forma num grupo de mensagens instantâneas, transbordou para o mundo real, a ponto de uma deputada (Erika Hilton, PSOL-SP) apresentar uma PEC no Congresso Nacional e o presidente da República tratar do assunto no pronunciamento em cadeia nacional.

Ausência estratégica - Bernardo Mello Franco

O Globo

Pela primeira vez desde que voltou ao poder, Lula faltou aos atos do Dia do Trabalhador. O presidente despontou como líder operário, ajudou a fundar a CUT e comanda o maior partido de esquerda do país. Ontem preferiu fugir do palanque do 1º de Maio.

Foi uma ausência estratégica. O petista temia repetir o fiasco de 2024, quando discursou para menos de 2 mil pessoas. Irritado, ele repreendeu o ministro Márcio Macêdo e disse que o ato teria sido “mal convocado”. Pode ser, mas isso não explica tudo.

O sindicalismo vive uma crise estrutural, que reflete as mudanças no mundo do trabalho. As fábricas se esvaziaram por causa da automação e da concorrência com a China. Os trabalhadores se espalharam e perderam a fé nas lutas coletivas.

E nem precisou dos comunistas! Trump está afundando os EUA sozinho - Cláudio Carraly

Em um discurso incisivo que ecoou como um alerta sobre os rumos da política econômica dos Estados Unidos, Jeffrey Sachs, renomado economista liberal e diretor do Centro para o Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Columbia, desmontou as justificativas por trás das tarifas comerciais impostas pelo governo Trump, classificando-as como "falaciosas", "infantis" e potencialmente catastróficas para os padrões de vida dos estadunidenses e para o conjunto da economia global.

Em uma análise detalhada, Sachs argumentou que a narrativa de "roubo" por parte de outros países, repetida com insistência por Donald Trump e sua camarilha, máscara um problema estrutural muito mais profundo: A irresponsabilidade fiscal crônica de Washington. Essa, segundo ele, é alimentada por gastos militares descontrolados por décadas a fio, a falta de lógica nos contumazes cortes de impostos para os mais ricos e uma cultura política que ele define, sem rodeios, como "gangsterismo corrupto e plutocrático".

Sachs inicia sua crítica desconstruindo o déficit em conta corrente dos EUA, que atingiu valores superiores a 1 trilhão de dólares em 2023. Para ele, a ideia de que esse déficit resulta da explicação simplista de que "países que roubam os EUA", como uma retórica central de Trump, não apenas é falsa, como revela uma incompreensão fundamental dos princípios mais básicos da macroeconomia, outros economistas coadunam essas críticas e ainda falam em falta de conhecimento histórico, dissociação cognitiva, quando não a simples e total idiotice mesmo.

Educação e desenvolvimento* - Luiz Gonzaga Belluzzo

CartaCapital

A bandeira é indiscutível, mas é preciso considerar o assalto à cidadania pelos sistemas do dinheiro e do poder

“Domingo, 27 de abril de 2025, o jornal O Estado de S. Paulo ofereceu aos seus leitores uma matéria encabeçada por um título desafiador.  “Aí vai: como ir além do ‘voo de galinha’? O que o Brasil precisa fazer para ter uma economia forte?”

O conhecido e reconhecido economista Eduardo Gianetti da Fonseca apresentou suas razões aos felizardos leitores do Estadão:

“As nações que conseguiram enriquecer foram aquelas que construíram economias mais produtivas. Elas concentram seus esforços na formação de capital humano, têm instituições sólidas, são integradas às cadeias globais e fazem uma alocação eficiente de recursos. São donas, portanto, de uma mão de obra qualificada e de um bom ambiente de negócios. Tudo isso resulta em uma população altamente educada, com acesso a empregos de qualidade e, consequentemente, mais rica”.

O papa estadista - Aldo Fornazieri

CartaCapital

Sempre ao lado dos aflitos, Francisco tornou-se o maior líder deste século

papa Francisco foi o maior líder do século XXI, nessas três primeiras décadas. Se projetarmos um olhar para a frente, não se vislumbra no médio prazo alguém que possa suplantá-lo. Francisco foi o maior líder político, religioso e moral. Era, de fato, uma figura multifuncional.

Ele foi o maior líder religioso não porque era o papa, mas pela forma como exerceu seu pontificado. No âmbito da Igreja Católica, despertou os fiéis adormecidos e os colocou em movimento, principalmente os mais jovens. Fez sacudir o mofo e o pó das paróquias, obrigando-as a se abrirem para os dilemas sociais e os problemas do mundo.

A volta da Arena - Cláudio Couto

CartaCapital

O PP e o União Brasil, agora unidos em uma federação partidária, descendem da antiga agremiação que deu sustentação à ditadura

Pouco mais de um mês após o Progressistas aprovar a constituição de federação partidária com o União Brasil, foi a vez deste confirmar a junção, criando uma nova formação política. Ou, na realidade, nem tão nova, pois reunifica, 40 anos depois, um mesmo campo político. Vemos – em outro contexto e com novos personagens – o renascimento da Aliança Renovadora Nacional (Arena), agremiação de sustentação da ditadura (1964–1985). Ou seja, um peculiar retorno às origens.

Tanto o PP quanto o União descendem da antiga Arena, fundada em 1966, logo após a ditadura extinguir o sistema multipartidário vigente entre 1946 e 1964. Em 1980, com o fim do bipartidarismo forçado pelos militares e a obrigatoriedade de que as novas agremiações adotassem novas denominações (sempre precedidas do termo “Partido”), a Arena tornou-se Partido Democrático Social (PDS). Era a mesma entidade com nova marca, embora alguns quadros tenham saído para formar o também novo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que, apesar do mesmo nome da organização de Getúlio Vargas e ­Jango, era uma versão fajuta e direitista do original, roubando a sigla de Leonel Brizola, seu legítimo herdeiro, e obrigando-o a recriar o velho PTB como Partido Democrático Trabalhista (PDT).

O equilibrista - André Barrocal

CartaCapital

Sob pressão dos bolsonaristas pela anistia, Hugo Motta desfila sobre o muro com desenvoltura e cálculo político

Hugo Motta, de 35 anos, não é só o mais jovem presidente da história da Câmara dos Deputados. É também um equilibrista naquela cadeira. Ou melhor, desde um pouco antes de sentar nela. Elegeu-se apoiado pelo PT de Lula e o PL de Bolsonaro, proeza explicada por expectativas e por emendas parlamentares, um fantasma para Motta e o pai prefeito na Paraíba. Tem se dado bem com o presidente da República, mas frequenta a Avenida Faria Lima, reduto antipetista, e declara aos quatro ventos que a Casa Legislativa vai alterar as duas principais propostas do governo no ano. Senta-se com o ex-presidente, mas segura a votação de anistia a golpistas, uma lei inaceitável pelo Supremo Tribunal Federal. Ao mesmo tempo, reclama que o Judiciário se mete em tudo. Incomoda-se, nos bastidores, com a sombra de Arthur Lira, seu antecessor, mas entregou-lhe o destino de uma das prioridades do governo. Liderou a cassação de Chiquinho ­Brazão, acusado de mandar matar Marielle Franco, mas com benesse embutida.

A segunda camisa - Guto Rodrigues

Em 1964, o Brasil era violentado por uma ditadura, calando o estado de direito e derrubando o presidente João Goulart, com o auxilio dos USA. Neste mesmo ano surgia a parceria comercial do Atleta Phil Night e seu técnico William Bowerman, nos estados Unidos, fundando a blue Ribbon Sport, vendendo tennis importados do Japão, que prospera, eles tem a ideia de fabricar o próprio tênis, inspirados no modelo japonês e mudam o nome da empresa para Nike, o nome da deusa da Vitória.

Poesia | Anos atrás, de Bertolt Brecht

 

Música | Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto - La Belle De Jour - Girassol