quarta-feira, 4 de junho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

É essencial rever efeito do mínimo na Previdência

O Globo

Sem alterar mecanismo que leva à explosão de gastos, qualquer plano de ajuste fiscal será insuficiente

Em reunião de líderes do Executivo e do Legislativo, ficou acertado ontem o anúncio no domingo de “medidas estruturantes” para equilibrar as contas públicas. Desta vez, espera-se que não haja improviso, mas propostas capazes de extirpar a raiz do desequilíbrio fiscal: o crescimento inexorável de despesas obrigatórias acima da inflação, determinado por leis populistas que, apesar de bem-intencionadas, não encontram espaço no Orçamento.

A mais notável é a política de aumento real do salário mínimo, que acarreta automaticamente aumento em todas as despesas indexadas ao mínimo — é o caso de benefícios previdenciários como aposentadorias, Benefício de Prestação Continuada, abono salarial e seguro-desemprego. Outra fonte de pressão é a vinculação obrigatória das despesas com saúde e educação à arrecadação. Quando há crescimento da economia e maior recolhimento de impostos, o gasto com as duas áreas cresce, em detrimento das demais rubricas orçamentárias.

País vive sob o espectro de um Executivo impotente - Carlos Melo

O Globo

São os parlamentares que controlam a bola, o campo e, a despeito do STF, a prerrogativa de mudar as regras

A impotência do Poder Executivo federal é um espectro que assombra o país. Não está circunscrita ao governo do presidente Lula, que, sim, tem variadas e inegáveis fragilidades. Antes, refere-se a um processo político de mudanças estruturais que alteraram e agravaram as relações entre os Poderes no Brasil.

Regimes multipartidários exigem articulações custosas; questões programáticas são negociadas; a concessão de espaços no governo dá ao Legislativo poder e influência na elaboração e na gestão de políticas públicas. No Congresso, os votos da maioria expressam um pacto político. As tensões tendem ao equilíbrio.

A cultura patriarcal brasileira fortalece a figura do presidente da República, que, ao distribuir cargos e recursos, atrai partidos e forma maiorias. Essa arquitetura levou o Legislativo a aprovar leis alinhadas aos governos. O presidente implementava sua agenda e, disso, se fez quase tudo: do Plano Real à reeleição e ao Bolsa Família.

Os combos indigestos de Haddad – Elio Gaspari

O Globo

O ministro Fernando Haddad e os çábios que o circundam tiveram uma ideia. Nas suas palavras:

— Nós fizemos pela oportunidade de fazer um combo, prevendo receita, bloqueio, contingenciamento, mas essas medidas estão sendo analisadas há mais de um ano.

Traduzindo, o “combo”, refinada versão do velho truque de dar uma martelada no cravo e outra na ferradura, queria prometer redução de gastos (em tese) e aumento de um imposto (de fato). Deu no que deu. O Congresso sinalizou que não digere o sanduíche, o Banco Central reclamou porque não foi ouvido, e a encrenca pousou na falta de coordenação política do governo.

Haddad conhece a velha lição, segundo a qual fazer de novo uma experiência esperando que venha um resultado diferente é sinal de que alguém está com um parafuso solto.

Sobrevivência da escravidão no Senado - Roberto DaMatta

O Globo

Rituais de inferiorização social são um resto abominável de uma sociedade escravocrata, aristocrática e patrimonialista

Acabamos legalmente com a escravidão em 1888, mas a escravidão não nos deixou. Ela sobrevive nos costumes e no comportamento dos reacionários que abominam a vertente igualitária legitimadora das divergências constitucionais nas democracias.

A escravidão foi abolida, mas não abolimos essas expressões coléricas, reveladoras de quem se pensa senhorialmente e, assim, se arroga a distribuir inferioridade aos adversários, numa clara aversão à equidade.

São rotineiras as manifestações anti-igualitárias no nosso mundo de pessoas “livres”, mas que não são consideradas iguais entre si, como comprova a vergonhosa emboscada que alguns senadores armaram para a ministra Marina Silva.

Missão de Eduardo e Zambelli nos EUA é acirrar tensões do STF com Trump - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Fomentar os conflitos entre um governo brasileiro e os Estados Unidos não é novidade na política brasileira. Essa foi a estratégia adotada na preparação do golpe militar de 1964

A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu a prisão preventiva e a inclusão na lista da Interpol da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Condenada a 10 anos de prisão, por invadir a rede de internet do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a parlamentar deixou o Brasil e anunciou que está nos Estados Unidos, mas deve se deslocar para a Europa. Soma-se ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se licenciou do cargo e se exilou nos Estados Unidos, onde atua fortemente contra o governo Lula e, principalmente, contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Alerta de fuga - Bernardo Mello Franco

O Globo

Condenada a dez anos, deputada deixou claro que saiu do país para não ser presa

Condenada pelo Supremo a dez anos de prisão, Carla Zambelli fugiu do Brasil para escapar da cadeia. “Eu poderia esperar um tempo, continuar no meu país e depois me entregar para a Justiça. Mas que Justiça?”, ironizou, em entrevista a uma rádio bolsonarista.

A deputada foi condenada por ordenar a invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça. Ela recrutou um hacker para publicar um falso mandado de prisão contra Alexandre de Moraes. Em outra ação, os ministros formaram maioria para mandar prendê-la pela perseguição armada a um eleitor do PT na véspera da eleição de 2022.

Os casos ainda não têm sentença definitiva, mas a ré resolveu se adiantar. Guardou o passaporte italiano na bolsa e se mandou para escapar do alcance da lei.

Pesquisa Genial/Quaest - Felipe Nunes

1/ Pesquisa Genial/Quaest mostra que a desaprovação do Governo Lula segue alta e chega a 57% em maio/25. A aprovação está em 40%, o menor nível da série histórica.

2/ Apesar da estabilidade nos números, muita coisa mudou no país nos últimos dois meses. O governo anunciou ou iniciou a implementação de um conjunto de propostas amplamente aprovadas pela sociedade - em média, 79% entre os que conhecem as medidas. No entanto, o desconhecimento

3/ A percepção sobre a economia também começou a dar sinais de melhora. Pela primeira vez em muitos meses, houve uma queda expressiva na fatia da população que avalia que a economia piorou: 56% em março, contra 48% em maio de 2025.

4/ A percepção de desaceleração da inflação de alimentos também contribuiu para uma avaliação mais favorável da economia. Em março de 2025, 88% diziam que os preços dos alimentos haviam subido nos mercados; em maio, esse número caiu para 79%.

No mercado, ‘trade’ eleitoral já começou e tende a se intensificar

Gabriel Roca e Victor Resende / Valor Econômico

Embora ambiente externo domine ativos no curto prazo, sensação de que sucessão eleitoral já começa a entrar nos preços não pode mais ser ignorada

divulgação da pesquisa Quaest desta quarta-feira era esperada por inúmeros profissionais de mercado silenciosamente. Não à toa. Nos últimos meses, toda e qualquer reunião com gestores, diretores de investimento ou tesoureiros de instituições financeiras começa com um parecer certeiro ao se falar sobre o cenário doméstico: ainda falta muito para as eleições de 2026 e o mercado está se antecipando ao falar sobre o assunto agora. No entanto, o decorrer da conversa, que, outrora, seria preenchido por previsões para a atividade econômica, política monetária e “valuation” dos ativos, acaba sendo fatalmente atravessado por cenários eleitorais, pesquisas de intenção de votos, popularidade do governo e medidas em curso que podem afetar as chances de cada candidato em 2026 - ainda que ninguém possa cravar quais são eles.

Brasil tenta dar tração à regulação da IA - Fernando Exman

Valor Econômico

Embaixador Marcos Azambuja, recentemente falecido, alertou para a magnitude potencial do desenvolvimento da Inteligência Artificial sem nenhuma moderação

Certa vez, ao fim de uma entrevista em que analisava os primeiros cem dias do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o experiente embaixador Marcos Azambuja chamou a atenção deste repórter para uma notícia recente que, na sua opinião, deveria ser lida como um marco de grandes proporções. Dias antes, centenas de especialistas haviam assinado uma carta apelando para uma pausa de pelo menos seis meses na pesquisa sobre inteligências artificiais (IAs) mais potentes, alertando para os “profundos riscos para a humanidade”.

Ajuste estrutural ressurge das cinzas - Lu Aiko Otta

Valor Econômico

A situação das contas públicas é tão grave que não foi possível empurrar o ajuste para 2027, e medidas impopulares estão sobre a mesa

Eis que a equipe econômica conseguiu empatar uma partida que parecia perdida.

Das cinzas onde estavam mergulhadas desde o fim do ano passado, ressurgiram as discussões para promover ajustes estruturais nas contas públicas. O estopim foi o desejo do Congresso de derrubar o decreto que elevou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Se for concretizado, será preciso encontrar formas de repor os R$ 20,5 bilhões que seriam arrecadados com a nova taxação neste ano e contornar a perda de R$ 41 bilhões prevista para 2026.

Assim, estão sobre a mesa medidas de caráter mais imediato para 2025 e outras, de caráter mais estrutural, para 2026. As opções foram discutidas ontem em almoço oferecido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Não foram detalhadas ao público, o que significa que especulações correrão soltas até o anúncio oficial, que pode ocorrer no domingo, após serem ouvidos os líderes partidários.

Assegurar a aplicação da lei penal - Marcelo Godoy

O Estado de S. Paulo

Decretar a prisão da deputada é obrigação da Corte, que não pode tolerar o escárnio da ré

A deputada Carla Zambelli foi condenada pelo STF a dez anos de prisão por invadir dispositivo informático e falsidade ideológica. Mas recebeu o benefício de aguardar o trânsito em julgado da pena em liberdade, apesar da gravidade do caso – falsificar documentos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Ela alega sofrer perseguição da Justiça. Trata-se de tema que a deputada conhece bem. De pistola em punho, caçou um eleitor petista pelas ruas de São Paulo, na véspera da eleição de 2022. Fazia-se acompanhar de brutamontes, um dos quais fez um disparo durante o cerco ao alvo.

A próxima tempestade - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

Projeto orçamentário de Trump, com corte de impostos e alta de gastos, vai chacoalhar o mercado

Em meio às reviravoltas dos anúncios sobre as tarifas de importação dos Estados Unidos, levando os mercados globais a uma vertiginosa montanha-russa, mais uma turbulência deve chacoalhar os investidores ao longo das próximas semanas, quando tramita pelo Senado americano o projeto orçamentário do presidente Donald Trump com a proposta de cortes de impostos e aumento de gastos.

O projeto, apelidado por Trump de “big beautiful bill”, passou pela Câmara dos Deputados por um único voto de diferença. Do jeito que o texto saiu de lá, as projeções são de que o projeto vai elevar o déficit fiscal dos EUA em quase US$ 3 trilhões ao longo da próxima década e aumentar em quase US$ 4 trilhões a dívida do governo federal, atualmente ao redor de US$ 36 trilhões.

Aumento no IOF é melhor que nada - Bernardo Guimarães*

Folha de S. Paulo

Há alternativas melhores ao IOF; e há, também, eleição daqui a 16 meses e inúmeras restrições políticas

Economistas gostam de dizer que uma proposta de aumento dos gastos públicos deveria vir sempre acompanhada de uma proposta de aumento nos impostos para financiar as despesas. Afinal, é sempre bom anunciar um novo programa de subsídios ou projetos sociais, mas nunca é legal anunciar o aumento na tributação correspondente. E não há gastos sem impostos.

A recente discussão sobre o IOF me traz à mente uma ideia análoga: em um momento em que precisamos ajustar as contas públicas, um veto a uma proposta de aumento de impostos ou de corte de gastos deveria vir acompanhado de uma proposta alternativa, viável, que geraria o mesmo impacto orçamentário.

O perde e ganha para tapar o rombo fiscal - Vinicius Torres Freire


Folha de S. Paulo

Para baixar déficit, seria preciso comprar brigas que Executivo e Legislativo evitam

Depois do rolo do IOF, Fernando Haddad voltou a dizer de modo enfático e frequente que é preciso adotar "medidas estruturantes" a fim de reduzir o déficit do governo de modo duradouro. Até o comando do Congresso passou a falar de "medidas estruturantes". Hum.

No domingo saberíamos oficialmente o que é "estruturante". Em novembro de 2024, houve promessa de "plano estruturante". Não rolou. Deu rolo. Vai rolar agora, com campanha começando em um ano?

De "estruturante", ao menos para economistas-padrão, há: 1) reforma da Previdência ou reajuste menor do mínimo. Relevante, mas bem menor, seria a revisão de distorções em benefícios como BPC ou seguro-defeso, para supostos pescadores; 2) fim da obrigação de reajustar a despesa com saúde e educação no ritmo do aumento da receita; reduzir os repasses do governo para o Fundeb; 3) opção preferencial agora: redução do valor das isenções de impostos, com criação de sistema de aprovação e gestão desses incentivos.

No caso das isenções classificadas como "gasto tributário", a Receita diz que se deixa de arrecadar R$ 544 bilhões neste ano (a despesa anual do governo, afora juros, é de R$ 2,4 trilhões).

Direita inquieta Bolsonaro - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Liderança do ex-presidente é contestada na prática por direitistas que tocam a vida política sem ele

Jair Bolsonaro (PL) está com medo da direita. Daquela que se movimenta, mas não o faz na direção do extremo. Disso dá notícia a irritação dele com a falta de defesa veemente da anistia por parte dos governadores que vê como subordinados.

O receio de perder o comando do bonde se manifesta também na quantidade de declarações sobre candidaturas dos que lhe carregam o sobrenome.

Como selecionar juízes? - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

México trocou nomeações por eleições; método de recrutamento afeta sentenças emitidas

México decidiu mudar seu sistema de recrutamento de magistrados e fez uma megaeleição para juízes, que envolveu mais de 2.600 cargos, incluindo os nove membros da Suprema Corte. O pleito despertou pouco interesse da população e a maior parte dos analistas diz que o corpo de juízes eleitos terá forte influência do partido governista e de cartéis.

Isso tem mais a ver com o contexto sociopolítico mexicano do que com o método de seleção em si. Ainda é lícito perguntar se é preferível que magistrados sejam nomeados ou eleitos.

A guera de Trump conta Harvard– Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

A revanche trumpista ameaça liberdades em nome da luta contra o império do politicamente correto

No confronto entre Donald Trump e Harvard não há escolha difícil para quem leva a sério os valores da democracia liberal. Fora os trumpistas e a extrema direita mundial —que já é gente à beça—, qualquer pessoa esclarecida reconhece que a investida atinge em cheio a liberdade de expressão, o pluralismo político e ideológico, o pensamento crítico e a autolimitação do poder, inclusive moral.

No entanto, a leitura "a barbárie ataca, o esclarecimento se defende" é simplória demais. A operação em curso não é apenas mais um episódio da série "a elite contra-ataca". Trata-se, antes, do ensaio de algo que, se ou quando a extrema direita voltar ao poder no Brasil, acontecerá aqui com método, apoio popular e espírito de revanche.

As taxas de juros estão normais, o mundo não está - Martin Wolf

Valor Econômico

Dada a fragilidade global, choques recessivos ou inflacionários ou até mesmo os dois juntos são possíveis

A taxa de juros, real e nominal, sobre ativos seguros de longo prazo é talvez o preço mais importante em uma economia capitalista. Ela revela a confiança nos governos e na economia. Nos últimos anos, esses preços se normalizaram. A era das taxas de juros ultrabaixas que começou em 2007-09, com as crises financeiras, parece ter acabado. Uma era de normalidade parecia estar retornando. Viva! Mas o mundo não parece realmente muito "normal". Deveríamos estar esperando por grandes novos choques, em vez disso?

Programa Diálogos com Marco Aurélio Nogueira - Brasil, que País é este? Com Rubem Barboza Filho

 

Poesia | Mauro Mota - Circuito da Poesia do Recife

 

Música | Chico Buarque - Iolanda - (Pablo Milanés)