sábado, 31 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Ultimato de Motta abre oportunidade ao Congresso

O Globo

Mais que apenas rever alta do IOF, parlamentares devem adotar agenda para recobrar saúde fiscal do Estado

O ultimato do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), ao governo para encontrar alternativas ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) oferece ao Congresso a oportunidade de se tornar protagonista de uma ampla reforma das contas públicas. Mantida a situação atual, a dívida não parará de subir, e a economia continuará presa à armadilha de baixo crescimento e juros altos. Derrubar a alta do IOF dará o recado necessário a um governo sempre disposto a aumentar a pesada carga tributária para cobrir despesas extravagantes. Mas é evidente que a saúde fiscal do Estado não será recobrada apenas com tal medida.

Um país sem elites - Marco Aurélio Nogueira*

O Estado de S. Paulo

O Brasil não reconhece mais a si próprio, não consegue compreender a profundidade das mudanças em curso e não faz escolhas inteligentes

Nenhuma sociedade pode ser indiferente à sua história. Ela transmite características que condicionam o modo como as sociedades vão se forjando. Pode até mesmo fornecer certas “vantagens”. É preciso, portanto, avaliar com rigor o “peso do passado”.

No imaginário brasileiro, porém, o passado seria uma maldição. Fomos nos acostumando a selecionar aspectos particularmente nefastos de nossa história – a escravidão, as ditaduras, as desigualdades reproduzidas ao longo do tempo – para, então, concluir que estamos avançando com bolas de chumbo presas aos pés, levando-nos a buscar modelos externos (países europeus ou os Estados Unidos) para nos inspirar. Com isso, deixamos de lado o que houve de virtuoso e “vantajoso” antes.

Sobre Marina Silva e mais além - Paulo Fábio Dantas Neto*

A jornalista Dora Kramer é uma articulista que me acostumei a ler com regularidade. Frequentemente, a leitura de sua coluna na FSP suscita-me o reverente e ao mesmo tempo presunçoso comentário privado de que "assinaria embaixo". Foi o caso, por exemplo, do artigo da última quinta-feira, 29.05 ("A culpa não é da reeleição"). Nele, a colunista comenta falácias que prosperam, amiúde, quanto a supostos males republicanos da regra da reeleição para cargos majoritários e a supostos benefícios democráticos (e orçamentários) de haver menos, e não mais, eleições.

Veio-me um pensamento distinto ao ler o artigo de Kramer na mesma coluna da FSP, nesta sexta-feira, 30, intitulado "Marina como troféu na prateleira".  Dialogar com um texto de tão aguda e experiente articulista é o pretexto que escolhi para reinaugurar esta coluna, que não publicava há três meses.

Acompanho inteiramente a colunista quando ela aponta a impaciência que a visão da ministra Marina Silva sobre o "manejo das questões ambientais" causa ao governo que integra e ao próprio presidente. Também acompanho as suas avaliações de que a ministra tem perdido todas as batalhas internas e externas que tem travado. E a de que daí resulta um sinal de desprestígio da ministra, do qual senadores, oposicionistas e governistas, adversários de suas teses, tiram proveito para desacatá-la.

Nesse sentido, é feliz a definição de Kramer sobre os fatos ocorridos esta semana no Senado como uma "afronta suprapartidária". Do mesmo modo, é fiel aos fatos apontar o contraste entre a fragilidade da ministra, comunicada pela falta de apoio do próprio governo (é fato que o líder do governo na Casa evitou se envolver na querela) e a força e firmeza de Marina na discussão ocorrida, culminando com sua digna e altiva retirada do recinto. É fato também que, apesar de ter se saído bem, é provável que continue a acumular derrotas fáticas, não só em face da maioria adversária no Congresso, como pela inclinação do presidente da República a temer o poder do presidente do Senado. Por fim, é arguta a percepção da colunista de que Marina seguirá sendo exibida pelo governo como troféu para o mundo ver, enquanto objetivamente o próprio governo ajuda a "passar a boiada" que sua ministra tenta conter.

À margem dos nossos cinco séculos - Bolívar Lamounier

O Estado de S. Paulo

Nosso triste percurso culminou no chamado Centrão, e não podemos descartar a hipótese de um partido dos ‘leiloeiros’

Escrevo esta crônica duas vezes por mês na vã esperança de prestar algum serviço intelectual ao Brasil e, principalmente, como reconhecimento pela honra que este grande jornal me proporciona.

Não sendo propriamente um guerreiro, devo confessar que às vezes me vejo abatido pela dificuldade de encontrar um fio condutor e tendo a atribuir esse fato à montanha de deficiências que acumulamos em nossos 525 anos de história. Que a situação em que nos encontramos tem muito pouco de alvissareiro é óbvio. Com algum esforço e aproveitando alguns bons momentos, poderíamos cogitar um futuro com mais chances de sorrir do que de chorar. O problema é que mal sabemos quem somos.

Riscos do populismo judicial - Oscar Vilhena Vieira

Folha de S. Paulo

Judiciário compromissado com a Constituição é essencial para o funcionamento da democracia

Neste domingo (1°), os mexicanos irão às urnas para eleger cerca de 900 juízes federais, 1.800 estaduais e locais, além dos nove membros da Suprema Corte. Essa é a primeira fase de um processo que busca substituir todos os atuais magistrados mexicanos por juízes eleitos.

Esse experimento inusitado é decorrência de uma ampla reforma constitucional promovida pelo então presidente López Obrador, sob o argumento de que o Judiciário mexicano era elitista, corrupto, inoperante e cercado de privilégios, sendo necessário democratizá-lo.

Onde o tempo não passou - André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

Políticos de todos os quilates e ideologias carecem de uma atualização de seus conceitos políticos. Precisam ser contemporâneos de seu tempo

O debate da ministra Marina Silva com os senadores, antes e além das questões pessoais ou eventuais grosserias, demonstrou algumas verdades. O governo não se mobilizou para defender sua ministra do Meio Ambiente. Ela foi jogada às feras e ficou só. Os senadores não conseguiram conduzir um questionamento coerente, do que derivaram os ataques pessoais. Por último, a ministra perdeu a oportunidade para expor os motivos pelos quais até hoje não autorizou o asfaltamento da BR-319, a rodovia que liga Manaus a Porto Velho e, por consequência, ao resto do país. Uma boa oportunidade perdida por todos, inclusive pelo governo Lula, que vive na corda bamba. Não consegue defender a ministra nem avançar nas questões ambientais. Fica estacionado no discurso de boas intenções. 

O que não entendo nos conservadores – Pablo Ortellado

O Globo

Não consigo entender a condescendência com o golpismo e com os golpistas

Nos últimos dez anos, tenho tentado entender a polarização política e um de seus polos: os conservadores. Não é curiosidade, é dever profissional. Entendi algumas coisas — e o que aprendi me ajudou a respeitá-los. Mas pelo menos uma coisa não consigo entender. Não sei se não entendo porque olho de fora, porque não sou conservador. O cientista político Cas Mudde chama a atenção para o fato de a direita ser o único grupo político que não é estudado por simpatizantes, mas por adversários. Isso certamente deve criar uma barreira ao entendimento.

Compreendo bem a importância que os conservadores dão ao combate à corrupção. Corrupção é roubo do patrimônio público, é um tipo especialmente abjeto de roubo. Entendo também a indignação desse campo contra a esquerda, porque o PT não fez a autocrítica que deveria sobre seus malfeitos — uma parte dos simpatizantes do partido tergiversa e outra menospreza os roubos na Petrobras. Quando olho para isso, também sinto raiva do PT.

Como vai você, geração 80? - Eduardo Affonso

O Globo

Somos um grupo que não poderá dizer que seus heróis morreram de overdose (ainda que os inimigos estejam no poder)

Quando nasci, minha avó era uma velhinha de 60 anos. Cabelos brancos, presos com uma travessa, chinelos baixos, vestido desenxabido, de florzinhas miúdas (que, no interior de Minas, se chamava maria-mijona). Varizes, muitas. Rugas, incontáveis. Olhos cansados, frequentemente em busca dos óculos que estavam bem ali, na ponta do nariz. Suas netas — hoje com bem mais de 60 e também já avós — vão à academia, andam de salto alto, fazem uso de tecnologias inimagináveis naquele passado longínquo, que foi ontem.

O imortal Austregésilo de Athayde — que parecia ter mesmo o dom da imortalidade — chegou aos 90 anos quase como símbolo de uma era extinta. Aos 92, o ator Othon Bastos vive o auge da carreira — lotando teatros, aplaudido de pé — com a peça que diz, já no título, a que veio: “Não me entrego, não”.

O ‘lenga-lenga’ e a política ambiental – Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Está claro que a atual legislação e seus processos precisam de reforma para se tornar mais ágeis e eficientes

A ministra Marina Silva diz que o Projeto de Lei aprovado no Senado desmonta totalmente o sistema de licenciamento ambiental vigente no Brasil. Para ela, o atual regime é robusto e tem produzido bons resultados. Por isso, pede a ação do governo a que pertence para combater aquele projeto. O problema imediato está na base do governo. Partidos que a integram — e têm ministérios — votaram pelo projeto que, de fato, muda radicalmente as regras ambientais.

Mas há outro obstáculo, maior e mais difícil. Esse sistema que a ministra considera robusto é aquele mesmo que o presidente Lula, em pessoa e há pouco tempo, chamou de “lenga-lenga”. Lembram? O presidente estava reclamando que o Ibama — órgão subordinado ao ministério de Marina — atrasava, talvez até de propósito, a autorização para a Petrobras procurar petróleo na Margem Equatorial.

A contradição é total. Aquilo que a ministra considera fases técnicas de um processo de licenciamento, o presidente chamou de “lenga-lenga”. Logo, cabe a pergunta: qual é a posição efetiva do governo, a de Lula ou a da ministra?

Cada país tem o Congresso que merece - Nelson Motta

O Globo

Repórteres e cronistas de política deveriam receber um adicional de insalubridade em seus salários. O nível nunca esteve tão baixo entre as bancadas de interesses

“Não reclamem do atual Congresso, o próximo será sempre pior.” É o axioma de Ulysses Guimarães, um dos maiores e melhores congressistas de nossa História, que tem sido robustamente comprovado pelos fatos nas últimas décadas. A prova é que nunca tivemos um Congresso tão ruim como o atual, pior até que a sinistra leva que o antecedeu, quando o Congresso foi invadido por bárbaros a serviço de si mesmos, por personagens bizarros, das mais bizarras crenças e causas e interesses. São eles que mandam, o Congresso tem cada vez mais poder e dinheiro, e paradoxalmente, ou não, nunca foi tão poderoso, e tão ruim. No amplo espectro partidário, com raras exceções. Claro que eles estão lá porque foram escolhidos livremente em eleições democráticas. Teoricamente seriam representantes do povo que os elegeu, mas na prática representam eles mesmos e seus interesses, cada vez mais rasteiros e danosos ao povo, que vota cada vez pior. Um círculo viciado e sem perspectivas de melhoras. Os melhores e mais experientes jornalistas de política são testemunhas de acusação. Cada país tem o Congresso que merece.

Resultado do PIB 1º trimestre reforça viés de alta para projeções de 2025 – Míriam Leitão

Por Ana Carolina Diniz / O Globo

O PIB cresceu 1,4% no primeiro trimestre de 2025 em relação ao quarto trimestre de 2024, segundo dados divulgados pelo IBGE. Na comparação anual, a economia avançou 2,9%, resultado que, embora abaixo da expectativa de 1,5%.

Com o resultado, as projeções para o PIB de 2025 passaram a ter um viés de alta, mas com expectativa de desaceleração gradual nos próximos trimestres. Luis Otávio Leal, sócio e economista-chefe da G5 Partner, por exemplo, manteve a previsão de crescimento de 2,3% neste ano, mas é possível adicionar um viés de alta para a estimativa do ano.

Para Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, o "carrego" estatístico deixado pelo resultado — estimado em 2,2% — deve levar a revisões altistas no consenso de mercado, aproximando-se da projeção da casa, de 2,5% para o ano.

- O cheiro inicial é que deve levar a revisões altistas do consenso em direção aos nossos 2,5%. No entanto, o PIB faz com que nossa visão sobre o balanço de riscos da nossa projeção fique mais equilibrada.

Trump contra a Europa - Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo

A narrativa do presidente americano sobre a União Europeia escorre de uma lagoa de ódio

50%. A tarifa brandida por Trump contra a União Europeia (UE) representaria um embargo comercial. A ameaça surge junto com a trégua tarifária firmada com a China. O presidente dos EUA devota genuíno ódio à UE –e tem seus motivos para isso.

"A União Europeia foi formada com a finalidade de tirar vantagem dos EUA. É este o seu propósito –e eles fizeram um bom trabalho nessa direção." A UE existiria para extrair benefícios unilaterais do comércio com os EUA e, ainda, para terceirizar os custos de sua segurança militar. O diagnóstico de Trump sintetiza uma visão de mundo.

Legalizar sem estimular - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Projeto do Senado que limita publicidade de bets é um avanço, mas versão inicial que bania a propaganda era melhor

Tudo é relativo. O projeto de lei aprovado pelo Senado que restringe a publicidade de bets é preferível à situação atual, em que reclames correm soltos em TVs, rádios e internet, mas eu ainda acho que a versão inicial da proposta, que bania qualquer forma de propaganda, incluindo patrocínios, era melhor.

Não digo isso por moralismo. Defendo há décadas a legalização e a regulamentação do jogo, assim como a de drogas para uso recreativo. E é justamente desse paralelismo que extraio meu argumento antipublicidade.

Eduardo Bolsonaro transfere gabinete do golpe para os EUA - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Campanha para que governo Trump aplique sanções é parte do plano para salvar o capitão

O plano de ação estava delineado desde o início do ano. O objetivo: "proteger o líder", como descreveu um aliado de Bolsonaro, criando um ambiente que impeça uma ordem de prisão e possa torná-lo apto às eleições de 2026.

Daí o empenho na aprovação do projeto de anistia aos presos do 8/1, tão abrangente que alcançaria quem tivesse participado de atos passados e futuros. Cogitou-se alterar a Lei da Ficha Limpa, reduzindo o tempo de condenação. A agenda corporativista foi utilizada para pedir a suspensão da ação penal contra o deputado Ramagem, adrede trancando o processo da trama golpista.

Entrevista | João Campos: ‘Mundo ideal é puxar centro para perto e não jogá-lo para direita’

Marianna Holannda / Folha de S. Paulo

Brasília - Prefeito do Recife e novo presidente nacional do PSBJoão Campos defende que o ideal para a eleição em 2026 é trazer o centro para perto e não jogá-lo para a direita.

O jovem de 31 anos foi reeleito com 78% dos votos ano passado numa ampla coalizão e defende que Lula (PT) reedite a frente ampla, com Geraldo Alckmin (PSB) na vice. Mas, para isso, é preciso atrair não apenas os partidos de centro, mas segmentos da sociedade não polarizados em torno de uma agenda comum.

João defende uma aproximação maior da igreja, do agronegócio, de autônomos —todos setores com os quais o governo tem dificuldade de relacionamento.

Em convenção nesta sexta-feira (30), o PSB oficializará o prefeito como presidente nacional do partido, cargo que já foi ocupado por seu bisavô, Miguel Arraes (1916-2005), e por seu pai, Eduardo Campos (1965-2014).

Viva o Cinema Brasileiro! - Marcus Pestana

O cinema brasileiro vive um momento excepcional. O cinema condensa a vitalidade cultural de um povo, de um país. Por um motivo simples: nele reside o espaço de convergência de todas as outras formas de arte. Literatura, música, teatro, arquitetura, artes plásticas, escultura e dança se encontram no cinema.

Assistir a um bom filme na sala escura transforma consciências e atitudes, desperta emoções inimagináveis, alimenta fantasias. Apesar do cinema brasileiro carregar o nosso DNA, refletindo nossa originalidade e identidade nacional, é também universal pelos sentimentos humanos que reflete e desperta.

A nova geração de professores - Cristovam Buarque

Revista Veja

Qual é o papel do Estado ao atrair os jovens para o magistério?

Faz anos ouvi da então senadora Heloísa Helena: “Se o Brasil adotasse uma geração de brasileiros desde o nascimento, quando adultos eles adotariam o Brasil”. Semana passada, em um seminário promovido pelo Instituto Brasileiro Pró-­Cidadania, no Recife, o professor Cesar Callegari ampliou o raciocínio: “Para fazer a educação que o Brasil precisa, é necessário formar uma nova geração de professores”. Essas duas frases se complementam e deveriam inspirar a preparação do novo Plano Nacional de Educação (PNE), para que ele não seja a repetição dos dois anteriores: burocráticos, sem ambição, sem indicação da responsabilidade por sua execução e presos à lógica de prometer mais recursos, não de definir a estratégia para darmos o necessário salto no ensino dos brasileiros, na qualidade e na equidade.

Poesia | Mãos Dadas, de Carlos Drummond de Andrade, com Georgette Fadel

 

Música | Duda do Recife - Suíte Nordestina (Duda do Recife) - Arranjadores