Orçamento de 2026 reflete incúria fiscal
O Globo
Em vez de rever indexações ao salário mínimo,
governo insiste em projetar receita inflada para equilibrar contas
A proposta da Lei de Diretrizes Orçamentárias
de 2026 enviada pelo Executivo ao Congresso traz, pela primeira vez no terceiro
mandato do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, um compromisso de superávit: R$ 38,2 bilhões. O porém — um grande porém
— é que, para alcançar a meta, será preciso que o governo arrecade mais R$ 118
bilhões, projeção para lá de otimista. Incapaz de promover ajuste nas despesas,
mais uma vez o governo insiste em apresentar um plano prevendo aumento nas
receitas — variável dependente do ritmo de crescimento da economia e fora de
seu controle. Não há notícia de medidas capazes de equilibrar o Orçamento de
forma duradoura, embora elas sejam conhecidas faz tempo.
Um dos maiores entraves à saúde orçamentária é a regra de atualização do salário mínimo adotada em 2023. Além da correção pela inflação, o valor passou a aumentar levando em conta o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos dois anos anteriores. Por lei, reajustes do mínimo têm impacto imediato em todos os benefícios da Previdência, em especial aposentadorias e programas sociais, como seguro-desemprego, abono salarial e Benefício de Prestação Continuada (BPC). Não fosse o aumento desses benefícios nos últimos anos, o país gastaria R$ 35 bilhões a menos com tais despesas, quase a meta de superávit.