quarta-feira, 16 de abril de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Milei avança ao adotar novo regime cambial

O Globo

Respaldado por acordo robusto com o FMI, presidente argentino tenta sair da armadilha do peso forte

A decisão do presidente argentino, Javier Milei, de reformular a política cambial chegou em boa hora. Desde que assumiu, em dezembro de 2023, ele promoveu mudanças consideradas impensáveis. Reduziu o gasto público em 27% e fez a inflação mensal cair de 26% para cerca de 3%. Não sem razão seus apoiadores dizem que a Argentina precisou de um presidente fora do normal para dar mais normalidade a sua economia. Apesar de um primeiro ano promissor, desafios persistem. O recente acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) abriu o caminho para Milei tentar desatar o nó do câmbio. A chegada de dólares motivou o anúncio de um novo regime, com a implementação de uma banda de flutuação. O sucesso de todo o plano econômico depende de uma transição sem sobressaltos.

Quem defende a democracia? - Vera Magalhães

O Globo

Em 2022 e 2023 o Brasil se mostrou mais maduro e equipado que os Estados Unidos em 2020 e 2021 para lidar com as turbas

Estados Unidos e Brasil lidam neste momento com um dilema comum: como responder a diferentes graus de ameaça à democracia que aconteceram nos últimos anos e, por lá, se intensificam a cada dia no novo mandato de Donald Trump?

Enquanto aqui uma corrente política tenta convencer a sociedade de que o Judiciário exagera e persegue ao punir com rigor aquilo que a sua Corte mais alta, o Supremo Tribunal Federal, decidiu por ampla maioria ter sido uma tentativa de golpe de Estado, nos Estados Unidos as diferentes instituições começam a dar sinais de que perceberam quanto subestimaram a capacidade de destruição de todo o arcabouço democrático erigido nos últimos séculos por parte de uma oligarquia disposta a fazê-lo.

A ignorância nos EUA de Trump – Elio Gaspari

O Globo

Não se pode exigir que os presidentes dos Estados Unidos conheçam a América do Sul. Franklin D. Roosevelt (1933-1945) chamou Getúlio Vargas de general, e George W. Bush (2001-2009) perguntou a Fernando Henrique Cardoso se havia negros no Brasil. A ignorância pontual é uma condição do gênero humano. Afinal, ninguém é obrigado a saber tudo, mas o problema se agrava quando o sujeito recicla a própria ignorância e acredita ter conseguido sabedoria. Esse é o caso de Donald Trump e de sua turma.

O secretário de Defesa, Pete Hegseth, disse que “o governo Obama (...) permitiu que a China se infiltrasse em toda a América do Sul e Central com sua influência econômica e cultural”, e acrescentou:

— Estamos retomando o nosso quintal.

O doutor falava do Canal do Panamá, onde empresas chinesas se estabeleceram no vácuo deixado pelos interesses comerciais dos Estados Unidos.

A conexão El Salvador - Bernardo Mello Franco

O Globo

Em campanha para o governo do Rio, Eduardo Paes prepara um novo factoide. Quer ir a El Salvador conhecer a política de segurança de Nayib Bukele.

No poder desde 2019, o presidente salvadorenho é um populista de extrema direita que investe na imagem de xerife. A pretexto de combater o crime, transformou seu pequeno país num Estado policial. A receita inclui prisões arbitrárias, encarceramento em massa e restrição aos direitos civis.

Antes de completar um ano no cargo, Bukele invadiu o Congresso com soldados do Exército. Inconformado com o resultado de uma votação, chamou os parlamentares de “sem-vergonhas que não querem trabalhar para o povo”.

Para governar sem freios legais, ele também investiu contra o Ministério Público e o Judiciário. Numa só tacada, destituiu o procurador-geral da República e cinco juízes da Suprema Corte. Em sinal de gratidão, o tribunal o autorizou a disputar outro mandato, apesar de a Constituição salvadorenha proibir a reeleição. O autocrata venceu no primeiro turno com 84% dos votos.

Entrevista | Sarney: Brasil vive 'descoordenação entre os Poderes' e precisa de reforma política

César Felício / Valor Econômico

Perto de completar 95 anos, ex-presidente prepara livro sobre regime semipresidencialista e voto distrital misto

Perto de completar 95 anos de idade e quatro décadas depois de assumir efetivamente a Presidência da República, o ex-presidente José Sarney afirma que a falta de consolidação partidária no Brasil explica o desequilíbrio entre os Poderes, com o Congresso e o Judiciário extrapolando seu papel. Segundo Sarney, o avanço do Congresso sobre o Orçamento é decorrência da fraqueza partidária, e não o oposto.

Para Sarney, o Brasil vive hoje uma “descoordenação entre os Poderes”, com o Judiciário e o Legislativo extrapolando suas atribuições. Na raiz desse desequilíbrio, segundo o ex-presidente, está a debilidade dos partidos políticos. “A integração dos Poderes no sistema ‘check and balance’, com um controlando o outro, foi muito abalada”, diz.

Sarney pretende lançar em breve um livro sobre “o Brasil e seu labirinto” para tentar reavivar a proposta de voto distrital misto e semiparlamentarismo, pauta que circula por gabinetes em Brasília sem nunca engrenar.

Ao rememorar seu governo, Sarney relembra seu embate contra o MDB (à época PMDB) em torno da duração de seu mandato. Foi o momento de maior tensão entre os Poderes. Avançava no Congresso a proposta de se antecipar a eleição presidencial para 1988, e não 1989, como desejava o presidente. A Comissão de Sistematização, que preparou o anteprojeto da Constituição, aprovou a antecipação.

Sarney fez um pronunciamento à época afirmando que havia uma “inversão da ordem constitucional” em uma “ação contra democracia”. Nascia naquela época o “Centrão”, grupo de parlamentares conservadores que, em troca de favores do governo, brecou a pressão para encurtar o mandato presidencial. Sarney relata que evitou o confronto direto com Ulysses Guimarães, presidente da Câmara, da Constituinte e do PMDB, “porque significava um grande problema para o país o presidente da República brigar com presidente da Câmara”.

Sarney evita comentar diretamente os atos golpistas de 8 de janeiro, em relação aos quais o ex-presidente Jair Bolsonaro está sendo investigado, mas descarta que o país tenha estado perto de um golpe militar na ocasião. “Eu tenho a convicção de que quem quiser jogar com as Forças Armadas para fazer qualquer aventura política, pode saber que não contará com eles”, disse. O ex-presidente confirma que risco existiu no período da transição do regime militar para o civil.

A seguir os principais pontos da entrevista ao Valor:

Previsibilidade para a Defesa Nacional entra no radar – Fernando Exman

Valor Econômico

Proposta de emenda constitucional que tenta dar previsibilidade ao orçamento do Ministério da Defesa dá sinais de avanço

Cerca de um ano e meio depois de protocolada no Senado, a proposta de emenda constitucional que tenta dar previsibilidade ao orçamento do Ministério da Defesa dá sinais de avanço. É uma movimentação silenciosa e ainda sem prazo para ser concluída. Mas, diante de um cenário externo que se deteriora a cada dia, já está nos bastidores inclusive o debate para tentar aperfeiçoar o texto da PEC 55 de 2023.

Mudou o cenário observado desde o primeiro ano do atual mandato do presidente Lula, quando ocorreram os ataques do 8 de janeiro e interlocutores da cúpula militar deram por interditada a tramitação da proposta. Para essas fontes, sinal claro deste novo momento é a recente articulação para a indicação do senador Randolfe Rodrigues (PT-AP) como relator da matéria na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

Líder do governo no Congresso Nacional e representante do Amapá, avalia-se que Randolfe pode retirar da PEC o carimbo que seus críticos colaram nela de ser uma proposta da oposição. Afinal, quem a apresentou foi Carlos Portinho (PL-RJ), mas ela trata de uma questão de Estado. Adicionalmente, Randolfe conhece de perto a realidade da Amazônia e a necessidade de proteção da Margem Equatorial.

Concluída a análise da constitucionalidade da PEC, a ideia é avançar nas discussões sobre mérito e forma.

Economia global em marcha à ré forçada - Márcio Garcia

Valor Econômico

Ironicamente, as medidas econômicas ineptas do novo governo Trump podem até colocar em risco a hegemonia do dólar como moeda de reserva internacional

A incerteza que se disseminou pelos Estados Unidos e pela economia mundial após a posse do novo governo foi ampliada em grande medida no “dia da liberação”, 2 de abril. Naquela bela tarde primaveril do Hemisfério Norte, o presidente Donald Trump fez o anúncio das novas tarifas, sobraçando uma placa com uma lista de países com as tarifas que teriam sido aplicadas às importações de bens oriundas dos EUA em 2024, e com as novas “tarifas recíprocas” que passariam a ser aplicadas às exportações de cada país.

Quando pouco depois foi divulgada a fórmula utilizada no cálculo das supostas tarifas que seriam cobradas dos EUA, a reação foi quase unânime. Não me lembro de ter visto nenhum economista minimamente respeitável defendendo seja a concepção da exótica fórmula seja a forma muito peculiar de sua implementação.

Unctad: economia mundial ruma para a recessão; Brasil só cresce 2,2% - Assis Moreira

Valor Econômico

Agência da ONU vê situação difícil, mas também oportunidades no comércio do Sul Global

A economia mundial está em trajetória de recessão, empurrada pelo aumento das tensões comerciais e pela persistente incerteza, alerta a Agencia das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) em relatório publicado hoje.

Para a agência da ONU, a projeção é que o crescimento global desacelere para 2,3% em 2025 comparado a 2,8% no ano passado.

Para o Brasil, a estimativa é de desaceleração para 2,2% comparado a expansão estimada em 3,4% no ano passado.

A Unctad cita ameaças crescentes, incluindo choques na política comercial, volatilidade financeira e aumento na incerteza que correm o risco de descarrilar a perspectiva global.

Histórias de espionagem e a raposa que toma conta das atividades da Abin – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A PF intimou o diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, a prestar depoimento no âmbito da investigação sobre o suposto esquema de espionagem ilegal dentro do órgão

Desde a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, cada dia que passa, a política brasileira ganha ares de um romance policial noir, no estilo da trilogia de Joy Ellroy sobre a trama conspiratória que resultou no assassinato do presidente John Kennedy, em 22 de novembro de 1963, e nos acontecimentos posteriores da política dos Estados Unidos, inclusive os golpes de Estado que ocorreram no Brasil e em outros países latino-americanos.

Por pouco, segundo investigações da Polícia Federal (PF), não se consumou o assassinato do ministro Alexandre Moraes, relator do inquérito que investiga o golpe, numa operação abortada de última hora, cujo plano previa, também, os assassinatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice-presidente Geraldo Alckmin, para destituir um governo eleito pelo voto popular. É a impunidade dos responsáveis pelos acontecimentos de 8 de janeiro de 2023 que está em questão quando se discute uma anistia aos que participaram da tentativa de golpe.

As imortalidades de Mario - Cristovam Buarque

Correio Braziliense

Aos 89 anos, Mario Vargas Llosa concluiu seu tempo, mas não morreu, porque se fez imortal pelas letras, pela vida, pelas academias e pelo Nobel que o laureou

A primeira imortalidade de um escritor está na permanência dos seus personagens e nas histórias criadas por ele. A segunda imortalidade vem dele próprio, como personagem de seu tempo. A presença em uma academia também lhe confere imortalidade, e receber o Prêmio Nobel de Literatura é o coroamento maior. Mario Vargas Llosa conquistou esses quatro pilares da imortalidade.

Ao longo de sua carreira, o escritor peruano criou personagens e histórias inesquecíveis, como se tivesse sido o Balzac do realismo fantástico latino-americano. Nunca morrerão os personagens de Conversa na catedral, Pantaleão e as visitadoras, A guerra do fim do mundo, A casa verde e dezenas de outros livros e personagens que ficarão na lembrança de seus contemporâneos e das futuras gerações. O próprio Vargas Llosa, crítico literário, escreveu uma tese, Orgia perpétua, onde cita que Madame Bovary, criada por Gustave Flaubert, 100 anos antes, marcou mais seus sentimentos do que pessoas de carne e osso com as quais ele conviveu no mundo real. Nós vivemos até hoje com Dom Quixote e Sancho Pança, com Capitu, Riobaldo, Ana Karenina, tanto quanto com os personagens de Vargas Llosa. Flaubert conquistou imortalidade por sua personagem, mas Vargas Llosa obteve imortalidade também pela própria vida, sua presença de intelectual público e de político combatente, inclusive candidato à presidência do seu país.

Democracia ou autocracia? - Rodrigo Craveiro

Correio Braziliense

Trump tem indícios de uma autocracia. Sob o lema de "Tornar a América grande novamente", o magnata republicano parece não ter freios ou limites

Dê poder a um homem e você o conhecerá. Dê poder a ele duas vezes a ele e conhecerá sua verdadeira face. Não sei se esse ditado existe ou se o criei em meio à minha insônia. São 4h de uma terça-feira e a busca por um tema para este artigo contribui para afastar o sono. Penso na catástrofe humanitária em Darfur, na vitória do conservador Daniel Noboa no Equador, na guerra brutal de Israel e da Rússia em Gaza e na Ucrânia, na força do papa que esteve à beira da morte. Todos eles são bons temas de serem esmiuçados nessas poucas linhas. Escolhi falar sobre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Desde que retornou à Casa Branca, o republicano promoveu uma escalada autocrata no país mais poderoso do mundo — ou seria a China? Raciocínio típico dos xenófobos, rotulou os imigrantes não documentados de terroristas e criminosos, e ordenou a prisão dos estrangeiros ilegais nas escolas, igrejas, locais de trabalho e hospitais. 

Trump contra a universidades - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Governo americano quer intervir no ensino com chantagem financeira e guerra demagógica

Faz muitos anos, universidade deixou de ser discussão pública no Brasil, assunto de conversa daquilo que, no passado, se chamava de "formadores da opinião pública" (formavam a opinião uns dos outros. Atualmente nem isso). No máximo, falamos de ranking, o que dá audiência, ranking de qualquer coisa, de pizzaria a sex shop, de riqueza a felicidade. Nos EUA, é assunto de guerra cultural e política.

Universidade não é aqui assunto de política pública, de política econômica de médio prazo, que dirá de discussão eleitoral. Mesmo discussões sobre políticas de desenvolvimento mal mencionam universidades e centros de pesquisa —essas políticas vão dar com os burros n’água.

Planalto cobra deputados da base de Lula que assinaram urgência de projeto da anistia

Catia Seabra e Victoria Azevedo / Folha de S. Paulo

Não está descartada a revisão de indicações políticas de signatários do requerimento de partido de Bolsonaro

Com um mapa de indicações políticas em mãos, integrantes do governo Lula (PT) estão fazendo cobranças a integrantes da base aliada no Congresso que assinaram o pedido de urgência do projeto de lei que dá anistia aos condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro.

relatório do projeto prevê que todos os atos pretéritos e futuros relacionados aos ataques à sede dos três Poderes terão anistia, abrindo brecha para beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A ministra da SRI (Secretaria de Relações Institucionais), Gleisi Hoffmann, já tem um levantamento de todas as indicações de cargos federais feitas por políticos da base aliada e seu plano já era se debruçar sobre isso nos próximos dias. Mas a adesão de aliados à proposta de anistia precipitou essa abordagem.

À sombra do ocaso - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Já se fala com desenvoltura que 2026 pode ser a última eleição sob influência de Lula e Bolsonaro

Com alguma distância, a sombra do ocaso ronda os dois chefes das torcidas mais estridentes da cena política atual.

Luiz Inácio da Silva (PT), enroscado na baixa aprovação de seu governo, pode não concorrer ou até perder a reeleição. Jair Bolsonaro (PL), inelegível e réu no Supremo Tribunal Federal, ainda corre o risco de ser preso.

Entre a população, a situação tampouco é boa: 62% acham que o presidente não deveria concorrer à reeleição e 67% consideram que o antecessor deveria se recolher à inelegibilidade.

Anistia a golpistas é salto no precipício - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Perdão seria um convite a futuros usurpadores e ainda colocaria o país à beira de uma crise entre Poderes

Minha simpatia por teorias do direito penal mínimo faz com que eu não seja o maior fã de penas de prisão. Sou, contudo, um defensor ardoroso de condenações. Autores de crimes graves precisam ser condenados especificamente pelos delitos que cometeram (o tipo e o tamanho da sanção são uma outra discussão), ou os efeitos dissuasórios do direito penal não se materializam.

Gosto de citar uma frase do cardeal de Richelieu que captura a essência do problema: "Fazer uma lei e não a mandar executar é autorizar a coisa que se quer proibir". Se parlamentares tiverem sucesso em aprovar uma anistia para os golpistas de 2022-23, estarão convidando futuros usurpadores a agir sempre que desgostarem dos resultados das urnas. Caberá à Justiça Eleitoral só organizar a fila das intentonas, a fim de que não ocorram duas ao mesmo tempo.

O batom, a Biblia e a banalidade do mal - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Déboras se ofereceram, com Bíblia e batom, à engrenagem que faria o golpe parecer legítimo

Nos últimos meses, setores bolsonaristas têm tentado transformar os sediciosos do 8 de Janeiro em mártires da liberdade. O caso mais notório é o da cabeleireira Débora, condenada a 14 anos de prisão por participar da invasão da praça dos Três Poderes. "Ela só escreveu ‘Perdeu, mané’ com um batom", diz o deputado Nikolas Ferreira, que chegou a compará-la a Rosa Parks, a moça do Alabama que se recusou a ceder o lugar no ônibus por dignidade e virou símbolo da luta pelos direitos civis nos EUA.

A comparação, para além do insulto histórico, revela algo mais profundo: uma operação de limpeza moral que tenta apresentar os golpistas como "pessoas comuns" injustamente perseguidas por um Estado tirânico.

É aqui que a filósofa Hannah Arendt oferece uma chave precisa para pensar o mal na modernidade. Quando Adolf Eichmann, funcionário-padrão da burocracia nazista, foi capturado e julgado em Jerusalém, em 1961, Arendt cobriu o julgamento como enviada da The New Yorker e ficou impressionada: ele não parecia um monstro, nem um sádico, nem um fanático. Parecia apenas... um homem comum.

Por que líderes autoritários como Trump amam o passado – Regina Ribeiro*

O Povo

Harvard foi a primeira universidade de elite dos Estados Unidos a não aceitar as imposições do governo Trump e resistir à ameaça de perder fundos federais da ordem de US$ 2 bilhões

Há pouco mais de dois anos, escrevi aqui sobre um relatório que Harvard divulgou sobre seu papel no processo de escravização de pessoas nos Estados Unidos. Pediu perdão por ter contribuído de forma positiva para a escravidão, por ter aceito em seu campus pessoas escravizadas que serviam a seus alunos e professores, por ter incentivado ideias que propagavam e consolidavam a escravidão, e por ter sido lenta, muito lenta, - e em alguns momentos até dificultado - em aceitar alunos negros.

A instituição chegou a expulsar “três estudantes negros matriculados na Faculdade de Medicina, em 1850, por pressão de alunos brancos”. Mais de 100 anos depois, em 1960, Harvard reconheceu que havia apenas 9 homens negros entre os 1212 selecionados para estudar na universidade de elite americana. As desculpas e criação de um fundo de US$ 100 milhões, a fim de promover ações de reparação jamais haviam sido feitas durante um governo de Donald Trump, como estamos vendo agora.

Anistia e Constituição - Martônio Mont'Alverne*

O Povo

Sem dúvida que o assalto planejado ao Congresso Nacional e ao STF, e o plano de assassinato do Chefe do Poder Executivo e de integrante do STF atentam objetivamente contra a separação dos Poderes

O par. 4º do art. 60 da Constituição é claro. Não será objeto de discussão projeto de emenda sequer tendente a abolir a forma federativa; o voto direto, secreto, universal e periódico, a separação dos Poderes; e os direitos e garantias individuais expostos no art. 5º da mesma Constituição. São as nossas chamadas cláusulas pétreas ou eternas. No extenso rol do art. 5º estão elementos basilares da democracia: liberdade de manifestação de pensamento, liberdade de associação partidária, religiosa e profissional, ampla defesa etc.

Os golpistas do final do ano de 2022 e de 8 de janeiro de 2023 planejaram atentados contra a forma federativa, o voto, a separação de poderes e os direitos individuais. Sem dúvida que o assalto planejado ao Congresso Nacional e ao STF, e o plano de assassinato do Chefe do Poder Executivo e de integrante do STF atentam objetivamente contra a separação dos Poderes. Se ao legislador não é permitido relativizar estas cláusulas, impossível imaginar que criminosos que buscaram destruir estas cláusulas sejam beneficiados por eventual anistia.

Poesia | A Vida, de Mário Quintana

 

Música | Seu Jorge, Caetano Veloso - Desde que o samba é samba