segunda-feira, 14 de abril de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Combate à violência escolar exige maior engajamento

O Globo

De 1,8 milhão de professores, apenas 7.500 realizaram treinamento do MEC para lidar com o problema

Depois dos casos graves de violência nas escolas em 2023, o Ministério da Educação (MEC) criou um programa de treinamento à distância para professores. A intenção era prepará-los para enfrentar situações difíceis dentro e fora das salas de aula. Foram oferecidos cinco cursos a 1,8 milhão de docentes, mas apenas 7.581, menos de 0,5%, participaram do programa, de acordo com o Ambiente Virtual de Aprendizagem do MEC. Dois anos depois, o governo também encontra dificuldades para implementar outra promessa: um sistema de monitoramento e combate à violência escolar chamado Snave, com o objetivo de produzir estudos, mapear os casos e facilitar as medidas de prevenção e de enfrentamento do problema.

A realidade da rede de ensino do país deveria ser motivo suficiente para que as iniciativas fossem tratadas com mais urgência. Elas foram precipitadas por um dos casos de maior repercussão, ocorrido em São Paulo em março de 2023. Um ataque à faca matou uma professora e deixou quatro feridos. O agressor tinha 13 anos. Em novembro do ano anterior, um ex-aluno atacara a tiros duas escolas em Coqueiral de Aracruz, Litoral Norte do Espírito Santo, matando quatro pessoas, entre as quais três professoras, e ferindo 12. Em dezembro, um garoto de 10 anos fora agredido em Ibatiba, Espírito Santo. Hospitalizado com uma vértebra quebrada, terminou morrendo.

O declínio político no Brasil - Fernando Gabeira

O Globo

A sensação é que muitos esperam apenas a confirmação das próprias ideias e rejeitam tudo o que for contrário

Algumas vezes escrevo sobre temas antes de estar seguro sobre eles. Nesse caso, a escrita é apenas um esforço para começar a entender coisas que me intrigam no Brasil de hoje. Tenho pensado muito na atividade de comentarista político. A sensação é que muitas pessoas esperam apenas a confirmação de suas ideias e rejeitam tudo o que não for isso.

O método de analisar um fato político, como a anistia no Brasil de hoje, usando ferramentas clássicas como correlação de forças, táticas, acumulação, noção de tempo histórico... esse método parece muito frio para quem espera uma defesa da anistia ou uma condenação sumária. Todas as nuances são perigosas.

Na semana passada, deparei com o anúncio de um livro de uma neurocientista chamado “The ideological brain: the radical science of flexible thinking”. A autora, Leor Zmigrod, de certa maneira menciona isso na entrevista de lançamento. Há uma tendência humana a desprezar o que não confirma as próprias ideias.

Liberais e mercantilistas- Demétrio Magnoli

O Globo

‘Queima o que adoraste e adora o que queimaste.’ Com tal instrução, na inauguração da Catedral de Reims, em 496, o bispo São Remi batizou Clóvis, o rei dos francos, convertendo-o do paganismo ao catolicismo. Falta uma catedral, e o santo é um impostor, mas a instrução foi seguida: nos Estados Unidos, no Brasil e na Argentina, liberais convictos aderem ao protecionismo de Donald Trump. Ao curvar a espinha, tornam-se liberais-mercantilistas, um paradoxo teratológico.

Jair Bolsonaro celebrou a bomba nuclear tarifária de Trump sob a alegação de que “protege seu país de um vírus socialista”. O vírus, fica implícito, circularia não apenas na China ou no Brasil, mas também em países como SuíçaJapãoCoreia do Sul e Taiwan. Javier Milei, que se exibe como ultraliberal, não pronunciou qualquer crítica ao tarifaço, prometendo um “reajuste da regulamentação para que possamos cumprir os requisitos da proposta tarifária recíproca”.

Empresas que fazem aliança com a quebrada - Preto Zezé

O Globo

Marcas entenderam que não se trata de ‘inserção de produto’, mas de integração dialogada

Por muito tempo, as marcas olharam para os territórios populares e de maioria negra como cenário. O samba era pano de fundo; a favela, “exótica”; a diversidade, “tema de campanha”. Mas algo mudou. E mudou na prática — no chão da roda de samba, no som do tamborim, no calor do pagode e na força das vozes plurais que ecoam desses espaços.

Projetos como o Quintal dos Pretos e a Casa do Salgado são mais que eventos culturais — são salas de aula, que inspiraram este artigo. Territórios vivos de afeto, resistência, inclusão e protagonismo.

Lula amplia flerte com Centrão de olho na eleição de 2026

Fabio Murakawa e Murillo Camarotto / Valor Econômico

Presidente busca angariar apoio para sua tentativa de reeleição ou evitar a adesão de legendas a candidatura do campo bolsonarista

Após a indicação de Pedro Lucas Fernandes (União-MA) para o Ministério das Comunicações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá o desafio de ampliar o movimento de aproximação com os partidos do Centrão visando a governabilidade e também a eleição presidencial de 2026.

A expectativa, no entanto, varia de acordo com as legendas. No caso do União Brasil, integrantes do Planalto acreditam que seja possível atrair o partido para uma aliança com Lula no ano que vem. Na visão dessas fontes, além de ter conseguido trazer o líder da bancada na Câmara para a Esplanada, Lula conta com a simpatia do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP), que articulou pelo nome de Pedro Lucas e tem boa relação com o presidente da legenda, Antônio Rueda.

Entretanto, ratificar uma aliança com o União para a chapa presidencial ainda é tarefa difícil, uma vez que vários dos parlamentares e prefeitos do partido seguem alinhados à oposição, a depender da base eleitoral.

Ascensão e queda da república americana - Bruno Carazza

Valor Econômico

Instituições não estão se mostrando suficientes para barrar a deterioração das competências estatais nos Estados Unidos

O silêncio temeroso dos grandes bilionários americanos diante da escalada tarifária empreendida nas últimas semanas por Donald Trump foi rompido por ninguém mais, ninguém menos que Elon Musk, o homem mais rico do mundo e líder do recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês).

Em postagens na sua própria rede social, o X, Musk acusou o principal conselheiro de Trump em política comercial, Peter Navarro, de ser mais “idiota que um saco de tijolos”. Foi o primeiro sinal de descontentamento nos andares mais altos do mundo corporativo com uma política econômica que, em vez de fazer a América grande de novo, pode gerar inflação e recessão.

Trump torna ambiente externo incerto e hostil - Sergio Lamucci

Valor Econômico

A imposição de tarifas sem nenhum critério razoável fez o quadro internacional ficar altamente imprevisível; Brasil deve ser menos afetado

Com a escalada comercial promovida pelo governo de Donald Trump, a incerteza no cenário externo atingiu níveis elevadíssimos. A economia americana, que caminhava para um pouso suave, agora enfrenta o risco de uma recessão combinada ao aumento da inflação. A imposição de tarifas sem nenhum critério razoável tornou o ambiente internacional altamente imprevisível, um fator que tende a afetar em especial o investimento das empresas. O J.P. Morgan vê um risco de 60% de recessão global neste ano.

O que está em risco nos EUA é o liberalismo - Carlos Pereira

O Estado de S. Paulo

O que está em risco nos Estados Unidos não é (apenas) a democracia, é o liberalismo

Visões subjetivas sobre como o mundo funciona — ou deveria funcionar — compõem o sistema de crenças de um país. Nos Estados Unidos, essa estrutura sempre foi alicerçada no liberalismo, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, quando o país se consolidou como seu principal expoente no mundo ocidental e propagador desses valores no cenário global.

Liberdade individual, competição, livre mercado, governo limitado, igualdade perante a lei e democracia foram os pilares que moldaram a ordem institucional americana. Essa crença liberal ajudou a sustentar um ciclo virtuoso de desenvolvimento econômico e estabilidade política, traduzido na ideia do “sonho americano”: esforço individual, trabalho duro e meritocracia como caminhos legítimos para o sucesso e a prosperidade. Enquanto essa crença foi dominante, os EUA operaram quase em “piloto automático”, com ajustes de rota marginais.

O principal limite ao poder de tributar reside na vontade popular - Eliane Barbosa da Conceição

Correio Braziliense

Está passando da hora de a população participar ativa e diretamente (nos termos da Constituição) das decisões concernentes à atividade financeira do Estado, nomeadamente tributação, orçamento e dívida pública

No mês passado, o governo encaminhou ao Congresso Nacional proposta que prevê a isenção do Imposto de Renda das Pessoas Físicas para os 10 milhões de brasileiros que recebem até R$ 5 mil por mês. O projeto prevê também o alívio parcial da carga para os salários que, acima do limite apontado, chegam a R$ 7 mil ao mês. A iniciativa cumpre uma promessa de campanha do presidente Lula e, embora muito ainda reste a ser feito, representa um importante passo em direção à justiça tributária no país.

Junto com o projeto de lei enviado ao Congresso, o Ministério da Fazenda lançou cartilha destinada à população brasileira. Nela explica, de modo bem acessível, as mudanças propostas no referido projeto. Aqui, não quero discutir a intenção da Esplanada ao disponibilizar a cartilha. Alguns atribuem o movimento aos resultados das últimas pesquisas de avaliação do governo, mas isso não vem ao caso aqui. O que me importa é o movimento em si: partilhar com o povo esse tipo de informação, apresentando em linguagem do dia a dia as questões implicadas na política proposta.

Barrado em Dallas – Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Um suspiro contra Trump em qualquer birosca do planeta irá no ato para uma nuvem ao alcance de seu governo

Há duas semanas, um cientista francês a caminho de um congresso no Texas foi barrado no aeroporto de Dallas. Teve seu celular investigado e foi chutado de volta para Paris sem mais aquela. O cientista, não identificado, viajava pelo Centro Nacional de Pesquisa Científica, instituição séria, financiada por seu governo.

O pretexto para impedi-lo de entrar nos EUA foram comentários que ele teria feito sobre a selvagem política de Trump contra a universidade americana, cortando verbas para a pesquisa e sangrando a vida acadêmica. Segundo os agentes do aeroporto, os comentários teriam caráter "terrorista".

‘Nunca vi um pobre’ - Ana Cristina Rosa

Folha de S. Paulo

Fiquei estarrecida com o relato sobre a euforia e empolgação de um jovem da elite paulistana diante da miséria

Quando penso que já vi e ouvi de tudo um pouco, a vida insiste em surpreender. Fiquei estarrecida com o relato sobre a euforia e empolgação de um jovem da elite paulistana diante da miséria. "Nunca vi um pobre", disse o estudante de uma renomada instituição privada de ensino superior ao participar de uma ação institucional voltada a prestar serviços públicos à população carente e em situação de rua em São Paulo.

Tamanha falta de discernimento e compreensão da realidade brasileira me deixou chocada. Como pode um universitário "bem-nascido, bem-criado, de boa família" e que vive na maior cidade de um dos países mais desiguais do mundo nunca ter visto um pobre?

O decisionismo trumpista - Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

A singularidade do presidente dos Estados Unidos na centralização da tomada de decisões em uma democracia

Trump é um caso singular de centralização da tomada de decisões em uma democracia. Ele personifica seu gabinete. Atua como titular das pastas da Fazenda, Relações Exteriores e Justiça —para dizer o mínimo. Suas decisões são divulgadas em sua própria rede social ao longo do dia. Ocorre que o sistema político norte-americano é, ao contrário dos sistemas parlamentaristas unipartidários, precisamente o tipo de arranjo institucional em que a centralização do poder decisório não deveria ser possível, como discuti aqui na coluna.

O sistema foi desenhado para dificultar a concentração de autoridade e garantir freios e contrapesos robustos: combina um Judiciário independente com forte capacidade de revisão judicial, um Legislativo bicameral cujos mandatos são defasados no tempo, uma Presidência institucionalmente limitada, um federalismo robusto e eleições legislativas de meio de mandato que ampliam a responsividade do sistema à opinião pública e ao desempenho do Executivo.

Prefácio à crítica da economia política de 1859 - Karl Marx

Examino pela ordem seguinte o sistema da economia burguesa: capital, propriedade fundiária, trabalho assalariado; Estado, comércio externo, mercado mundial. Nas três primeiras rubricas, estudo as condições económicas de existência das três grandes classes em que se divide a sociedade burguesa moderna; a ligação das três restantes é evidente. A primeira secção do livro primeiro, que trata do capital, subdivide-se nos seguintes capítulos: 1.º a mercadoria; 2.º a moeda ou a circulação simples; 3.º o capital em geral. Os dois primeiros capítulos formam o conteúdo do presente volume. Parto de um conjunto de documentação sob a forma de monografias escritas com longos intervalos para meu próprio esclarecimento, não para impressão, e cuja elaboração sistemática, segundo o plano indicado, dependerá das circunstâncias.

Suprimo uma introdução geral que esbocei em tempos porque, pensando bem, pareceu-me que antecipar conclusões que é preciso demonstrar em primeiro lugar é pouco correto, e o leitor que quiser seguir-me deverá decidir-se a passar do particular ao geral. Por outro lado, incluí algumas indicações sobre a sequência dos meus próprios estudos da economia política, por me parecerem aqui pertinentes.

Poesia | A velhice pede desculpas, de Cecília Meireles

 

Música | Orquestra Juvenil da Bahia - Tico Tico no Fubá