quinta-feira, 1 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Um 1º de maio com embaraços

Correio Braziliense

O governo do presidente Lula chega ao 1º de maio com a menor taxa de desemprego no primeiro trimestre desde 2012, mas longe de estar em clima de festa com a classe trabalhadora

O governo do presidente Lula chega ao 1º de maio com a menor taxa de desemprego no primeiro trimestre (de janeiro a março) desde o início da série histórica, em 2012, mas longe de estar em clima de festa com a classe trabalhadora. Há uma lista de reivindicações ainda não atendidas na terceira gestão do petista — algumas, inclusive, espinhosas do ponto de vista da governabilidade —, além do recente escândalo do desvio de dinheiro de aposentados e pensionistas. 

Entre as demandas, uma das mais polêmicas é a Proposta de Emenda Constitucional (PEC), de autoria da deputada Erika Hilton (PSol-SP), que reduz a carga horária de trabalho semanal de 44 horas, como previsto na Constituição de 1988, para 36 horas. Dessa forma, a escala de seis dias de trabalho e um de folga (6X1) seria substituída por uma jornada de quatro dias de trabalho e três de folga (4x3). De acordo com estudo da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), a mudança implicaria impacto de até 16% no Produto Interno Bruto (PIB). 

1º de Maio melancólico e de incertezas para os trabalhadores – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Lula decidiu ressarcir os aposentados e pensionistas que foram lesados, mas Haddad não sabe como. Aguarda uma indicação da CGU e da AGU para definir como isso será feito

Talvez esta quinta-feira seja o mais melancólico 1º de Maio para os sindicatos brasileiros desde século, embora um feriado de quinta-feira, para a maioria dos trabalhadores, seja motivo de regozijo; para muitos, esta sexta-feira será ponto facultativo ou dia de home office, em mais um feriadão. Não é melancólico por causa do esvaziamento das tradicionais manifestações de trabalhadores, que historicamente são uma montanha-russa, com momento de ascenso e descenso do movimento operário, mas por causa dos descontos não autorizados de aposentados e pensionistas por associações e sindicatos ligados às centrais sindicais, no montante de R$ 6,3 bilhões, o mais novo e maior dos escândalos da história do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

No ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou constrangimento por causa do esvaziamento das comemorações de 1º de Maio, no estacionamento da Neo Química Arena, em Itaquera, que reuniu menos de duas mil pessoas, um evento organizado pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), da qual é grande patrono. Neste ano, o constrangimento é muito maior: o bilionário escândalo envolve o Ministério da Previdência, ao qual o INSS está diretamente subordinado. O ministro titular da pasta, Carlos Lupi, que é presidente do PDT, se recusa a pedir demissão do cargo. Houve incompetência, omissão e prevaricação.

Visão informada sobre trabalho - Míriam Leitão

O Globo

O mercado de trabalho segue fortalecido, apesar dos altos juros, e sua complexidade exige novas leituras sobre informalidade e vínculo trabalhista

A taxa de desemprego de janeiro a março subiu ligeiramente em relação ao trimestre anterior, de 6,2% para 7%, mas ficou abaixo do mesmo trimestre do ano passado quando era de 7,9%. O mercado de trabalho segue robusto, mesmo com juros elevados. As questões do emprego no Brasil são bem mais sofisticadas e exigem de especialistas um olhar novo. A professora Luciana Ferreira, da Fundação Dom Cabral, diz que há um equívoco em dizer que a tendência dos jovens é não querer vínculo empregatício: “o que se busca é trabalho mais flexível e com propósito”. O economista Daniel Duque chama atenção para a pequena queda da informalidade apontada pela Pnad. Uma pesquisa do Sebrae mostra que aumentou em 25% o número de jovens tocando negócio próprio entre 2012 a 2024.

1º de Maio: o direito a ter direitos - Adenir Carruesco

O Globo

O caminho de sua afirmação é longo. Há pouco mais de um século, o trabalho escravo ainda era tolerado no Brasil

Uma anedota famosa entre juristas de Mato Grosso ilustra a importância de conhecer a realidade local ao aplicar o Direito. Durante uma audiência, um juiz perguntava a um réu da fronteira com o Paraguai se ele havia ingerido bebida alcoólica antes dos fatos em exame. O homem simples respondeu: “Tomei umas cinco ou seis cuias de tereré”. O magistrado, que não conhecia o costume local, ditou ao secretário que o réu estava completamente embriagado. Mas o tereré era apenas um chá, feito por infusão, próprio da região.

O Direito, distante da vida, não cumpre sua função. Ter direitos é uma expressão de cidadania. E, quando falamos em cidadania, aflora um sentido de pertencimento. Pertencer é exercer o pleno direito de ser parte e participar, dialogar, independentemente de classe, cor, gênero, ocupação ou opção religiosa. Nem sempre o que é dito é compreendido.

O “direito a ter direitos”, expressão de Hannah Arendt, sintetiza o legado dessa filósofa judia alemã, perseguida pelo nazismo. Sua história e luta pela cidadania plena ainda hoje inspiram e ecoam entre aqueles que buscam um Estado Democrático livre e justo socialmente.

Esquerda cercada - Merval Pereira

O Globo

As maiores bancadas do Congresso estão nas mãos da oposição: PL, PSD e agora a nova federação, que se transforma na maior força partidária, com 109 deputados, 14 senadores, 1.330 prefeitos e seis governadores

A federação criada pelos partidos União Brasil e PP explicita mais claramente a difícil situação do governo de Lula nesta sua terceira versão presidencial. As maiores bancadas do Congresso estão nas mãos da oposição: PL, PSD e agora a nova federação, que se transforma na maior força partidária, com 109 deputados, 14 senadores, 1.330 prefeitos e seis governadores. Mesmo sendo majoritariamente de oposição, esses partidos têm ministros na Esplanada. Como, então, o governo pode abrir mão do apoio do PDT do quase ex-ministro Carlos Lupi, diante de um quadro francamente minoritário no Congresso? Como pode prescindir do apoio informal do Supremo Tribunal Federal (STF), que de ator político relevante, às vezes à sua revelia, passou a ser fundamental para a manutenção da governabilidade?

Lupi sabe o que faz - Malu Gaspar

O Globo

Depois de uma semana fazendo malabarismo para aliviar a barra do presidente do INSS e fingir que não tinha nada a ver com o esquema que por anos roubou todo mês um pedacinho da aposentadoria de milhões de brasileiros, o ministro da Previdência, Carlos Lupi, surgiu na Câmara dos Deputados nesta semana tomado de súbita indignação e clarividência. “Quem fez errado que vá para a cadeia. Eu não estou aqui para acobertar o roubo de quem quer que seja.”

Era o mesmo Lupi que, diante de todas as evidências de que havia uma quadrilha instalada na cúpula do INSS, resistiu a demitir o presidente do instituto já afastado pela Justiça — e ainda o descreveu como “extremamente qualificado”.

A era da acomodação - William Waack

O Estado de S. Paulo

Não há muito o que Lula possa fazer a não ser se acomodar, e esse parece ser mesmo o caminho que ele está seguindo. Começa pela sua taxa pessoal de popularidade e aprovação, acomodada em patamar baixo e dando sinais de que não vai se mexer muito – sinal dos tempos, equivale a uma espécie de “vitória”.

Acomodou-se ao fato de que seu governo pouco controla em dois sentidos convergentes, o da corrupção e o da ineficiência. O escândalo de corrupção no INSS é um caso clássico de descontrole sobre os agentes políticos e públicos. Em outras palavras, nunca os corruptos se sentiram tão à vontade como agora (os fatores contribuintes são outra história).

Quem usurpa a liberdade de expressão? - Eugênio Bucci

O Estado de S. Paulo

É preciso cuidado. Muitas vezes, estes que falam muito em nome da liberdade de expressão só querem abafar as vozes discordantes

Essa pergunta precisa ser respondida com calma. Entre outras razões, porque a resposta enfurece. Vamos então à resposta, mas vamos com calma.

Na manhã de anteontem, o Congresso Nacional celebrou o sesquicentenário deste jornal numa sessão solene presidida pela senadora Mara Gabrilli (PSD-SP). A liberdade foi o tema dominante. À tarde, num hotel não muito distante da Praça dos Três Poderes, o Estadão apresentou um seminário totalmente dedicado à liberdade de expressão. Vi tudo de perto. Peguei um voo bem cedo em Congonhas, compareci aos dois eventos e voltei à noite para São Paulo. Valeu a viagem.

Valeu ter estado na homenagem do Poder Legislativo ao jornalismo independente, que anda tão ameaçado no Brasil, nos Estados Unidos e em tantos países. Depois, valeu participar de um colóquio sobre essa garantia fundamental tão maltratada, que tem sido usurpada, parasitada e sucateada por forças que não se cansam de sabotar a ordem democrática. O que acontece nos nossos dias é uma inversão absurda, impensável, que, no entanto, vai virando rotina, como se fosse um dado da mais pacata normalidade.

Mas, afinal, quem são os usurpadores, quem são os predadores? Chegaremos lá.

A vítima é toda a humanidade - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Se a ordem internacional liberal ruir, o regime de direitos humanos será o primeiro soterrado

Por volta das 15 horas de 16 de outubro de 1998, um fax de Madri chegou à sede da Scotland Yard em Londres. O documento assinado pelo juiz Baltasar Garzón pedia a prisão e a extradição para a Espanha do chileno Augusto Pinochet Ugarte. O general reformado, que chefiara a bestial ditadura de 17 anos (de 1973 a 1990), estava internado numa clínica londrina e se preparava para voltar no dia seguinte a seu país, onde desfrutava de imunidade garantida por uma anistia geral decretada em 1978.

Ao saber da notícia, o escritor chileno Roberto Bolaño reagiu de pronto: "Um terremoto!", explodiu. Não exagerou.

Pela primeira vez nos quatro cantos do mundo, recorria-se ao princípio da jurisdição universal que habilita a Justiça de outras nações a punir crimes contra a humanidade, genocídio, crimes de guerra e tortura praticados por chefes de Estado em um país, não obstante a existência de leis locais de anistia.

Sem Trump, economia dos EUA vai bem - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Se não fosse o efeito da trumponomics, economia americana estaria andando bem

"Talvez as crianças tenham duas bonecas em vez de trinta bonecas, sabe, e talvez as duas bonecas custem uns dólares a mais do que custariam normalmente", disse Donald Trump nesta quarta. As empresas de brinquedos parecem em pânico. Cerca de 77% dos brinquedos importados pelos Estados Unidos vêm da China.

Com impostos de importação de pelo menos 145%, não tem negócio. Se a encrenca não se resolver em 60 dias, dizem empresas, há risco de faltar produto no Natal. Trump, o Nero Laranja, pode ser também o Grinch.

O caso das bonecas é, claro, metáfora dos problemas que Trump pode ter com o americano comum. Por exemplo, carros, remédios e comida fresca mais caros a partir de maio. Alguns eletrônicos mais caros, pois Trump reduziu o tarifaço sobre esses produtos que vêm da China, como celulares e computadores, mas não acabou com o problema.

STF homenageia o trabalhador brasileiro - Conrado Hübner Mendes

Folha de S. Paulo

Uma lista de dez prêmios concedidos aos novos empresários

Nesse 1º de maio de 2025, trabalhador, o STF gostaria de lembrar o que fez por você nos últimos anos.

A Constituição de 1988 garantiu, no artigo 7º, direitos como salário mínimo, férias, décimo terceiro, licença-maternidade, proteção contra acidentes, proibição da discriminação. Decorrem da pedra fundamental do direito do trabalho: a relação de emprego, que supõe subordinação e continuidade.

Para esvaziar a Constituição sem mudar o texto da Constituição, o tribunal premiou você, trabalhador, com a eliminação gradual de garantias elementares da sua vida econômica. E incentiva fraudes ao conceito de "relação de emprego".

No seu dia, trabalhador, vale recordar dez prêmios que lhe foram concedidos:

Trabalhadores: ainda estamos aqui; e vamos continuar – Centrais Sindicais (nomes ao final do texto)

Folha de S. Paulo

Uma nação se constrói com solidariedade e soberania, além de direitos sociais e trabalhistas; somos o motor da produção, do consumo e da transformação

Ainda estamos aqui, apesar dos ataques sofridos por meio de reformas que impuseram uma ampla retirada de direitos trabalhistas. A referência ao premiado filme de Walter Salles não é casual. A história de Eunice e Rubens Paiva ilustra a necessidade de resistência que marca também o sindicalismo.

Seguimos conquistando avanços para a classe trabalhadora através de campanhas salariais, convenções coletivas, programas de PLR (Participação nos Lucros e Resultados) e da luta política.

Neste 1º de Maio, Dia do Trabalhador, lutamos por redução da jornada de trabalho sem redução salarial, pelo combate à carestia, pela isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5.000, por taxas de juros menores, empregos decentes e igualdade salarial entre homens e mulheres.

Promovemos uma série de atividades das quais destacamos a Plenária Nacional, a marcha em Brasília e o lançamento da Pauta da Classe Trabalhadora. Sob o lema "Por um Brasil mais justo: solidário, democrático, soberano e sustentável", essa jornada nacional culmina no dia 1º de Maio com manifestações em centenas de cidades e com a retomada do tradicional ato na praça Campo de Bagatelle, em São Paulo.

Lula faz pronunciamento sobre dia do trabalhador

 

Poesia | Quem se defende, de Bertolt Brecht

 

Manifesto do proletrariado - Marcelo Mario de Melo

"... na minha condição           

de pintor e operário.."

Van  Gogh

(Cartas a  Theo)

1 - Trabalhadores manuais e intelectuais e artistas das diversas áreas: somos todos proletários. 

2 – Na agricultura, na indústria, no comércio, nos serviços, nas finanças. Autônomo, formalizado, precarizado, subempregado, escravizado, excluído. Na ciência, na tecnologia, na filosofia, na comunicação, na arte. Na lavoura, na oficina, no balcão, no escritório, no consultório, no laboratório, na sala de aula, no guichê, no ateliê. 

3 - Cientista, filósofo, técnico, professor, escritor, jornalista, artista. Na empresa, no estado, na entidade civil. Somos proletários letrados. Proletrários. 

4 - Precisamos ter consciência de classe. Assumir na sociedade uma postura política coerente com a nossa condição de classe. 

5 – Vamos lançar fios aos outros proletrários. Unindo todo o leque do arco-íris. Estimulando a onda solidária. Segurando as mãos na ciranda proletária. Lavrando contra as teias mercantis. Lançando sementes de vida em abundância. Contribuindo para o povo trabalhador viver e conviver melhor. Somando sonhos, seivas, sanhas, na seara comum. 

6 – Ouvindo Josué de Castro: “... a sociologia comprometida com o processo social não deixa de ser científica, por este seu engajamento.” 

7 – Ouvindo Maiacovski: “a arte deve ligar-se estreitamente com a vida, como função intensiva desta. Fundir-se com ela ou perecer.” 

8 – Ouvindo Karl Marx: “os filósofos têm apenas interpretado o mundo de diferentes maneiras; o importante, porém, é transformá-lo.” 

9 - Ouvindo Paulo Freire: “somente com a supressão da situação opressora é possível restaurar o amor que nela estava proibido”. 

10 – Ouvindo Jesus Cristo: “vós sois o sal da terra, e se vós vos tornardes insípidos, com que a terra haverá de ser salgada?”. 

11 – Ouvindo David Capistrano Filho: “o único requisito indispensável é o compromisso. Compromisso com a vida e compromisso com os que sofrem”. 

12 - Ouvindo Castro Alves: “a lei sustenta o popular direito/nós sustentamos o direito em pé”. 

13 - Que as nossas equações, signos, protótipos, softwares, pesquisas, fantasias, pulsações, sombras, luzes, não ocultem e realcem a nossa identidade proletária. 

14 - Proletários de todo o mundo: uni-vos!

Música | Simone - Jura Secreta (Abel Silva e Sueli Costa)