domingo, 6 de abril de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Rejeição de Lula para de subir, mas não dissipa incerteza

Folha de S. Paulo

Presidente fica na frente em intenções de voto, mas sem a larga vantagem de antes; eleição será plebiscito sobre mandato

Foi estancada a queda da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que havia sido detectada pelo Datafolha no início de fevereiro. Mas, de acordo com a pesquisa do instituto que foi a campo nesta primeira semana de abril, não há motivo para comemoração nas hostes situacionistas.

A cada 100 entrevistados, 38 consideram que Lula faz um governo ruim ou péssimo (ante 41 na rodada anterior), 29 avaliam como ótima ou boa a sua administração (24 em fevereiro) e os mesmos 32 entendem que o seu desempenho é regular. O quadro pouco variou, considerada a margem de dois pontos de erro.

Questionados diretamente sobre se aprovam ou desaprovam a gestão petista, os brasileiros se dividem em duas metades iguais. A expectativa em relação ao restante do mandato presidencial é menos otimista e mais pessimista do que há um ano.

Lula venceria Bolsonaro e demais nomes da direita se eleição fosse hoje

Bruno Ribeiro / Folha de S. Paulo / Datafolha

Petista lidera cenários para 2026 e tem menor folga se disputa fosse contra ex-presidente, que está inelegível

Com sinais de freio na queda de popularidade e diante da indefinição de seus adversários, o presidente Lula (PT) venceria todos os nomes apoiados por Jair Bolsonaro (PL) se as eleições de 2026 fossem hoje, indica pesquisa Datafolha divulgada neste sábado (5).

O levantamento mostra que, mesmo se Bolsonaro recuperasse seus direitos políticos e entrasse na disputa, também seria derrotado pelo petista. O ex-presidente está inelegível até 2030 por decisão da Justiça Eleitoral e é réu sob a acusação de liderar uma trama golpista em 2022.

Faltando 18 meses para a eleição, o Datafolha testou cinco cenários de primeiro turno com o atual presidente. No confronto direto contra Bolsonaro, Lula tem 36% das intenções de voto, e Bolsonaro, 30%.

O instituto ouviu 3.054 pessoas com 16 anos ou mais em 172 municípios de terça (1º) até quinta-feira (3). A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Trump aposta no “efeito elefante” para manter hegemonia dos EUA - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O tarifaço levou o banco JP Morgan Chase a elevar de 40% para 60% a probabilidade de recessão nos EUA e, por consequência, na economia mundial

Os mercados globais encerraram a semana com previsões de nova recessão mundial, devido ao tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ao adotar a reciprocidade tarifária, a reação da China à sobretaxa, que começou a valer para 185 países, fez as bolsas desabarem e o preço das commodities caíram. O cenário global lembra a teoria do caos, um ramo da matemática e da física que estuda sistemas dinâmicos que são extremamente sensíveis às condições iniciais.

Essa sensibilidade significa que pequenas variações no ponto de partida podem levar a resultados drasticamente diferentes. É daí que vem a ideia do “efeito borboleta” – o conceito de que o bater de asas de uma borboleta em um lugar pode, eventualmente, causar um furacão do outro lado do mundo. Entretanto, estamos diante de uma espécie de “efeito elefante”, desculpe-me a analogia com o símbolo dos republicanos, mas tem tudo a ver com Trump na Casa Branca.

Destruição - Merval Pereira

O Globo

A base da atuação do presidente Donald Trump é a mesma que regeu o governo de Jair Bolsonaro: desmontar o sistema em vigor, e fundar um outro, supostamente mais vantajoso para seus objetivos

A base da atuação do presidente Donald Trump no governo dos Estados Unidos é a mesma que regeu o governo de Jair Bolsonaro: desmontar o sistema em vigor, e fundar um outro, supostamente mais vantajoso para seus objetivos. Das palavras às ações, Trump quer eliminar todas as influências que considera malignas sobre a sociedade americana: globalismo, como chamam ironicamente a globalização; política identitária, que nasceu na esquerda americana e se espalhou pelo mundo; e assim por diante.

Bolsonaro dizia que precisava destruir antes de reconstruir, e os alvos eram os mesmos de Trump: universidades, grupos de think-tanks, corporações influentes, como a advocacia e o Judiciário, jornalismo, toda e qualquer atividade que possa contestar suas determinações. No Brasil, Bolsonaro foi atrás também da classe cultural, com as mesmas alegações que Trump usa para cassar o financiamento de universidades: são dominadas pela esquerda, disseminando pensamentos divergentes nocivos à sociedade.

Aposta na vassalagem - Bernardo Mello Franco

O Globo

Ao vestir boné do MAGA, Tarcísio se associou a políticas que causarão prejuízo a SP

Em 20 de janeiro, Donald Trump tomou posse como 47º presidente dos Estados Unidos. No estado mais rico do Brasil, o governador vestiu o boné vermelho do republicano e festejou ao som do Village People: “Grande dia!”.

Tarcísio de Freitas não foi o único político brasileiro a comemorar a volta do bilionário à Casa Branca. Em Santa Catarina, o governador Jorginho Mello celebrou o retorno de Trump como “um alento para o mundo democrático”, que traria “novos horizontes para a economia global”. No Rio, Cláudio Castro trombeteou o início de uma gestão épica, “inspirada pelos princípios de liberdade, progresso e prosperidade”.

Os três imitavam Jair Bolsonaro, que vibrou com um convite para a posse dizendo que se sentia “criança de novo”. “Estou animado. Não vou nem tomar mais Viagra”, acrescentou o capitão. A excitação não comoveu o Supremo, que manteve seu passaporte retido para evitar uma tentativa de fuga.

A muralha americana - Míriam Leitão

O Globo

O extremismo protecionista de Donald Trump destrói a arquitetura do comércio global construída desde o fim da Segunda Guerra

Os países construíram desde o fim da Segunda Guerra, por décadas, um mundo em que foram sendo derrubados muros tarifários, desfeitas barreiras não tarifárias, unificados critérios, construídos acordos, cooperação e integração econômica. Várias rodadas de negociações comerciais multilaterais foram permitindo concessões de todos os países para aumentar o comércio global. Houve acordos regionais e a consagração de princípios e regras universais que nos trouxeram a um tempo de comércio exuberante. O presidente Donald Trump bombardeou esse edifício com armas de destruição em massa. A China reagiu aumentando as tarifas. A União Europeia promete responder na mesma moeda. O passado de fortalezas fechadas voltou.

O pesadelo do banco Master- Elio Gaspari

O Globo

Astuciosa engenharia da compra pelo BRB tirará a instituição do colo do fundo dos banqueiros, levando-o para o colo da Viúva, já que ele é estatal

Depois da crise bancária do final do século passado, o Brasil pareceu ter dado um salto na direção da racionalidade do capitalismo financeiro. Pedro Malan, Gustavo Franco e Armínio Fraga arrumaram o Banco Central e, sob o comando de Fernando Henrique Cardoso, limparam boa parte do mercado. Foram à garra bancos de ex-ministros (Econômico e Bamerindus) e até mesmo o Nacional, pertencente à família da nora de FH.

Em 1995 criou-se o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), uma entidade privada que garantiria investimentos financeiros. Hoje, o FGC garante papéis até o valor de R$ 250 mil.

Passou o tempo e o pesadelo voltou. Com jeito de quem não queria nada, anunciou-se numa sexta-feira que o Banco Regional de Brasília, BRB, instituição do governo do Distrito Federal, comprará por R$ 2 bilhões uma fatia do Master. O controlador do Master, Daniel Vorcaro, continuará na cadeira e presidirá o conselho de administração da nova instituição.

Protocolo Mosquito – Dorrit Harazim


 Globo

Se o local estiver minado, o ‘escudo’ civil explode primeiro. Caso contrário, ele tem a promessa de ser libertado uma vez cumprida a missão

Na semana passada, mais que em qualquer momento anterior, nosso planeta viu-se forçado a mudar de órbita e girar em torno de Donald Trump, autoproclamado rei-sol do desvario tarifário em curso. Consequências e reverberações da medida têm sido dissecadas em todos os quadrantes, exceto na estreita faixa de terra, sangue e história chamada Gaza. Ali não há o que taxar. Ali uma vida humana vale menos que a de um cachorro.

A maré montante da autocracia - Sergio Fausto

O Estado de S. Paulo

A ruptura interna e externa dos Estados Unidos com a chamada ordem liberal se dá num momento em que ela já se encontrava gravemente enfraquecida

A prisão em 19 de março do prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, principal líder da oposição e candidato à presidência da Turquia, mostra que o regime de Recep Tayyip Erdogan dá mais um passo no sentido de se tornar uma autocracia plena. Membro fundador da Otan, a Turquia tem papel importante na geopolítica global, pela região em que se situa e pelo papel ambivalente que joga entre as grandes potências.

A decisão de Erdogan de dar um passo decisivo na direção da autocracia é parte do novo contexto global que se vai delineando com rapidez desde a posse de Donald Trump. Mais um sinal claro de que as transformações das políticas interna e externa dos Estados Unidos terão graves consequências para a democracia no plano internacional. A erosão deliberada dos pilares da democracia norte-americana caminha de mãos dadas com o completo abandono pelos Estados Unidos da ordem liberal cuja construção o país liderou após a Segunda Guerra Mundial.

Exemplos de boa política – Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

STF dribla Lula e fortalece pacote da Segurança; Congresso dribla Bolsonaro e enfraquece anistia

Enquanto Donald Trump desmorona o sistema internacional de comércio e implode os princípios e interesses mais basilares dos Estados Unidos, aqui no Brasil o Supremo mais uma vez preenche lacunas dos dois outros Poderes e o Congresso confirma que, apesar de todos os gritantes pesares, não ultrapassa limites em questões cruciais. Nos dois casos, por decisões solidamente debatidas.

Ao aprovar a chamada “ADPF das favelas”, o STF modulou o voto do relator Edson Fachin e fez o que o seu ex-presidente Ricardo Lewandowski, agora ministro da Justiça, tenta e é barrado tanto por governadores de oposição quanto pelo presidente Lula e seus “personal influencers”: atribuiu à Polícia Federal investigações de crimes de repercussão interestadual e internacional cometidos no Rio.

Tarifas reforçarão o autoritarismo - Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Políticos competirão entre si para provar quem protege melhor seu povo de um mundo hostil

A guerra comercial lançada por Donald Trump empobrecerá os EUA e o restante do mundo. Ela cria oportunidades para a China e o Brasil. Mas será um incentivo ao nacionalismo, populismo e autoritarismo. As tarifas são o instrumento para Trump concentrar poder. A sobrevivência das empresas depende agora do poder imperial de Trump, que pode cobrar o que quiser delas para restaurar sua viabilidade.

A imposição das tarifas a mais de 60 países parte de premissas e parâmetros falsos. Ao anunciá-las, Trump disse que “os EUA foram proporcionalmente mais ricos do que em qualquer outra época” entre 1789 e 1913, quando as tarifas eram mais altas e não havia imposto de renda. Em valores ajustados pela inflação, o PIB americano é hoje 23 vezes maior do que em 1913 e a renda per capita se multiplicou por 6.

Brasil e China na guerra de Trump - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Ascensão chinesa mudou política e economia por aqui; guerra trumpiana será outro choque

Desde 2023, a China tem 26,4% do total da corrente de comércio de bens do Brasil, na média. Corrente de comércio: a soma da exportações e importações. O comércio com os Estados Unidos equivale a 13,4% do total. Com a União Europeia, 15,9%. Somados, EUA e UE são 29,3%, pois. América do Sul, 11,9%.

Depois da guerra econômica de Donald Trump, pode ser que China venha a ter mais peso no comércio do Brasil do que americanos e europeus. E daí?

A ascensão da economia e do comércio da China no século 21 contribuiu para mudanças na produção, em contas econômicas fundamentais, na política e nas relações exteriores do Brasil. Basta pensar no mais óbvio. Na estagnação ou na decadência da indústria ao menos desde 2011. Na entrada de recursos que ajudou a dar cabo das crises de endividamento externo, tormento de dois séculos. Na ascensão econômica, política e cultural do agro. No enfraquecimento das relações com Mercosul e EUA.

Trump estabelece nova forma de governo: a extorsocracia - Cláudio Couto

Folha de S. Paulo

Valendo-se da capacidade coercitiva e do poderio financeiro, acrescenta outra dimensão aos processos de erosão democrática promovidos por populistas

Cientista político, professor da FGV-Eaesp, pesquisador do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp-FGV) e bolsista de produtividade do CNPq

O segundo governo de Donald Trump trata de forma peculiar atores políticos e sociais, como governos locais, universidades e escritórios de advocacia: submete-os à extorsão sistemática.

Se não se curvarem a seus caprichos e diretrizes, pune-os severamente, abusando dos poderes presidenciais, algo certamente inconstitucional. Porém, a estratégia de não ceder à extorsão, enfrentando o presidente nas cortes, é demasiado custosa. Leva muito tempo, com prejuízos imediatos irrecuperáveis e ameaças à própria sobrevivência.

No Trump day - Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Os economistas não têm a menor ideia de onde o presidente dos Estados Unidos tirou a fórmula de seu tarifaço

O Reino Unido tem muito o que comemorar. Afinal, desde que Donald Trump anunciou seu tarifaço na quarta-feira (2), o brexit deixou de ser o suicídio geopolítico mais idiota de um país rico nas últimas décadas.

Trump falou segurando uma tabela de boteco que listava, em uma coluna, o quanto cada país cobrava de tarifas dos produtos americanos; na outra, que tarifas os Estados Unidos, de agora em diante, passariam a cobrar deles.

Logo ficou claro que os números na tabela de Trump não haviam sido calculados por economistas, mas sim extraídos por proctologistas.

Os números não eram as tarifas que cada país cobrava, mas o resultado de uma fórmula matemática que não está em livros de economia pelo mesmo motivo que a frase "Blagabuuuu!" não está em "Hamlet": é uma conta que não faz sentido. É só uma sobreposição aleatória de números relacionados a comércio internacional sem qualquer sentido econômico.

Uma economia para o Antropoceno - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Livro sustenta que o impacto de atividades humanas sobre a biosfera entre nas contas dos economistas

José Eli da Veiga é um economista que gosta e entende de ciências —as de verdade (desculpem-me não resisti à provocação). É também um dos sujeitos mais eruditos que conheço. Quando Zé Eli se dispõe a escrever sobre um assunto, já leu quase tudo de relevante que foi publicado sobre a matéria. E ele é metódico ao explicitar suas fontes.

Daí que seus livros são sempre um ótimo mapa do caminho para quem quer assenhorar-se de um tema. Quem quiser se aprofundar pode ir às obras citadas; quem não quiser pode fiar-se em seu resumo do panorama das discussões. "O Antropoceno e o Pensamento Econômico", terceiro livro de sua trilogia sobre o impacto da humanidade na biosfera, não foge a esse padrão.

O vicioso círculo do espelho no celular - Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

O aparelho banaliza a imagem por sua instantaneidade, de maneira irresistível para a maioria, jovens em especial

Muitos anos atrás, uma pesquisa sobre televisão indagava a adolescentes cariocas o que mais gostariam de ver na telinha. "Eu", respondeu um deles. Na mesma época, parecia divertida a anedota da mãe zelosa que, passeando no parque com o bebê, escuta de uma outra o elogio: "que lindo, o seu filho". E ela responde: "Você ainda não viu a foto".

Um paliativo para ansiedade que cerca Lula - Catia Seabra

Folha de S. Paulo

Números apontam freio na queda da popularidade, mas resultado não é suficiente para aplacar inquietação de aliados do presidente

Datafolha mitigou angústias que rondam o Palácio do Planalto. Os números coincidem com pesquisas do governo que já apontavam para um freio na queda na popularidade do presidente Lula.

Embora encarado como uma tendência de recuperação, esse paliativo não tem sido suficiente para aplacar certa inquietação entre aliados de Lula, especialmente com sinais contraditórios emitidos pelo presidente.

Poesia O analfabeto político, de Bertolt Brecht

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Música | Carlos Lyra - Marcha da quarta-feira de cinzas