sexta-feira, 7 de março de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Alcolumbre eleva preço do Congresso para contribuinte

O Globo

Benesses concedidas por presidente do Senado aumentam custo de um dos legislativos mais caros do mundo

Na sexta-feira anterior ao carnaval, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), apresentou um pacote repleto de benefícios para os funcionários da Casa. Os cargos mais graduados do Senado passaram a ter direito a um dia de folga para cada três trabalhados, até o limite de dez dias por mês. O vale-refeição dos servidores foi reajustado em 22,2%, para R$ 1.784,42. Também foi aumentado o número de servidores com direito a 100% de um bônus de gratificação. Para completar, Alcolumbre aumentou a cota parlamentar à disposição dos gabinetes dos senadores.

Logo surgiram pressões para que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), equiparasse os benefícios de lá aos pagos no edifício vizinho. O Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo (Sindilegis) trabalha para obter as mesmas benesses, a começar pelo aumento do vale-refeição, hoje de R$ 1.393,11 por mês (a equiparação equivaleria a um reajuste de 28%).

O dia de folga é um tipo de privilégio comum no Judiciário. Na prática, folgar um dia a cada três equivale a receber um aumento salarial de 33%, pois o valor acaba incorporado como “indenização” em dinheiro para quem não usufrui o descanso. No Senado, o benefício foi concedido a servidores em “função relevante singular”, “em virtude dos ônus e responsabilidades”. A classificação é arbitrária. Na prática, levaram o aumento os funcionários alocados na diretoria-geral, na secretaria geral da Mesa, na advocacia, no gabinete da presidência, na auditoria, nas consultorias legislativa e orçamentária e na secretaria de comunicação.

Trump enfim acorda a Europa? - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Com PIB estagnado e sob ameaça de Putin, novo governo alemão pensa em guinada econômica e militar

A inflação nos Estados Unidos vai aumentar por causa dos aumentos de impostos de importação de Donald Trump? A economia americana vai crescer menos por causa da balbúrdia de Trump?

São perguntas importantes. Mas são questões ainda quase apenas americanas, que dominam o noticiário e o debate mais corriqueiro, se por mais não fosse porque vemos o mundo com olhos e ouvidos americanos.

O que já se passa em países como, por exemplo, a Alemanha, a terceira maior economia do mundo?

Os alemães estão prestes a dar uma guinada na política econômica, a maior em mais de 30 anos, e de defesa, talvez a maior desde a Segunda Guerra. O novo comando do país pretende endividar o governo a fim de estimular a economia, refazer a infraestrutura e aparelhar suas forças armadas.

Trump destruirá o capitalismo? - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Presidente americano desfere golpes contra dois princípios fundamentais da economia de mercado

Minha geração cresceu aprendendo a identificar os norte-americanos, aos quais nos referíamos como "ianques", a agentes do "capitalismo". Não é, portanto, sem assombro que vemos agora Donald Trump, o líder ianque, desferindo facadas em dois dos mais fundamentais princípios do "capitalismo", que são a especialização do trabalho e a utilização de vantagens comparativas.

Ao impor tarifas a produtos estrangeiros, Trump desliga mecanismos que vêm historicamente permitindo a consumidores obter produtos cada vez melhores e mais baratos. Isso ocorre não só porque a tecnologia avança mas também porque as coisas são fabricadas de forma mais eficiente por quem consegue fazer mais gastando menos. Se os EUA "exportaram" alguns bons empregos para países com vantagens como salários menores, o troco veio pelo barateamento de vários itens, de comida e eletrodomésticos a peças de vestuário.

A velha opinião formada sobre tudo – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Hoje resistente a mudanças, Lula soube se reinventar para ganhar sua primeira eleição em 2002

É corrente a constatação de que o cidadão Luiz Inácio da Silva é um ser analógico que não se adaptou aos novos tempos e, por isso, o presidente amarga uma impopularidade com a qual não estava acostumado.

Também evidente é a dificuldade dele em lidar com a situação e sua resistência a mudanças. Nem sempre foi assim. O político Lula (PT) anos atrás invocou Raul Seixas para se autodenominar uma "metamorfose ambulante".

Na época, 2007, usou a expressão para explicar uma tentativa (fracassada) de ressuscitar a CPMF, o malfadado imposto do cheque. Antes disso, porém, já havia demonstrado que sabia se transformar se necessário.

A guinada de Lula - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Com a confirmação de que São Sidônio não faz milagre, o governo arregaçou as mangas para dar boas notícias e recuperar a popularidade do presidente Lula. Exemplo: medidas para conter os preços abusivos dos alimentos, decreto para evitar 6% de aumento nas contas de luz, liberação do FGTS de quem tinha optado pelo saque-aniversário e a ampliação do empréstimo consignado para o setor privado, enquanto dá prioridade à aprovação da isenção do IR até R$ 5.000 no Congresso.

Sendo ou não realmente necessárias, são medidas populistas, ou populares, e coincidem com um recuo de Fernando Haddad no palco, a entrada em cena de Gleisi Hoffmann, Lula se preservando e o vice e ministro Geraldo Alckmin assumindo a liderança nos dois principais temas do momento: além da inflação dos alimentos, as negociações com os EUA sobre a taxação de aço e alumínio.

A ‘guinada à esquerda’ de Lula veio para ficar? - Vera Magalhães

O Globo

Ameaças de debandada do Centrão por conta de reforma cheiram mais a tentativa dos partidos de explorar momento de baixa popularidade do presidente

Existe em Brasília certa perplexidade com as primeiras escolhas de Lula na ainda inacabada reforma ministerial. Desde que foi confirmada a nomeação de Gleisi Hoffmann para a articulação política do governo, a avaliação corrente é que o presidente optou por uma guinada à esquerda e que essa será a escolha do figurino para enfrentar as urnas em 2026 — com o próprio Lula como candidato ou com outro designado por ele.

Sim, porque a decisão de tornar o Palácio do Planalto ainda mais petista é, para muitos caciques de partidos que de alguma maneira integram hoje a base aliada, sinal de que Lula cogita pela primeira vez a possibilidade de não se candidatar a um novo mandato, encerrando sua carreira política com uma “volta às raízes”.

Craque do diálogo, Lula quase não conversa mais - Andrea Jubé

Valor Econômico

“Só faltou uma conversa”. A frase foi projetada num cartaz na Praça do Povo, no município de Canudos, na Bahia, na primeira semana de dezembro de 2002, durante um evento que celebrou os 100 anos da publicação de “Os Sertões”, de Euclides da Cunha. O episódio é citado pelo professor da Universidade de São Paulo (USP) Willi Bolle na obra “grandesertão.br”. A afirmação é atribuída ao morador João de Régis, falecido naquele ano, aos 95 anos. Ao longo da vida, ele ouviu relatos sobre a Guerra de Canudos, ocorrida entre novembro de 1896 e outubro de 1897: o conflito entre seguidores de Antonio Conselheiro e o exército da nova República, que resultou num saldo de mais de 20 mil mortos.

“Foi a falta de diálogo entre os representantes da então recente República brasileira e os rebeldes de Canudos que acabou levando àquela guerra fratricida”, analisou Bolle. “É a ausência de um verdadeiro diálogo entre os donos do poder e o povo que caracteriza também a nossa época”, acrescentou na mesma obra.

Décadas em semanas? - Armando Castelar Pinheiro

Valor Econômico

Primeiras semanas do segundo mandato de Donald Trump aceleraram bastante o processo de se criar uma nova ordem econômica global

Li em um relatório esta semana a citação a uma frase de Vladimir Lênin que não via há tempos: “Há décadas em que nada acontece e há semanas em que décadas acontecem”. O foco, claro, são as últimas sete semanas, as primeiras do segundo mandato de Donald Trump, quando se acelerou bastante o processo de se criar uma nova ordem econômica global. Muita coisa importante aconteceu em muito pouco tempo.

Chamam a atenção a dimensão e a abrangência das mudanças sendo implementadas pela nova administração americana. A forte alta das tarifas de importação, até aqui focada nas mercadorias oriundas de Canadá, China e México, é o destaque, revertendo uma longa tradição dos Estados Unidos de manter uma economia relativamente aberta.

A importância de ainda estar aqui - José de Souza Martins -

Valor Econômico

O acolhimento internacional ao filme de Walter Salles indica uma ação de difusão de consciência crítica contra a consciência bufa e a governação rastaquera

O Oscar de melhor filme internacional para “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, não é apenas o reconhecimento do excepcional talento e da competência do diretor e dos atores do filme e de todos que a ele, em diferentes campos, se dedicaram. A premiação se situa num conjunto de reconhecimentos pela concessão de vários outros prêmios de cinema, que ressaltam a enorme relevância da obra e o excepcional talento de Fernanda Torres no papel principal.

“Ainda Estou Aqui” tem dimensões ocultas que tocam em outras cordas da sensibilidade cultural das populações esclarecidas no mundo. A reação altamente positiva ao filme tem outras motivações além do apreço pela obra-prima da cinematografia brasileira. Inspirado num livro biográfico do filho da heroína do filme, Eunice Paiva, é desdobramento de uma narrativa testemunhal que pedia o complemento de uma modalidade de expressão que alargasse o alcance do texto original. São obras de criatividades diferentes que se completam, o livro de Marcelo Rubens Paiva e o filme de Walter Salles.

A polêmica tem nome – Flávia Oliveira

O Globo

carnaval chegou ao fim, tiremos a fantasia. Existe um nome para a polêmica sobre os desfiles das escolas de samba do Grupo Especial. Sete letras. Começa com “R”, termina com “ismo”, o sufixo que denota doutrinas, sistemas, ideologias e doenças. Racismo. A discriminação racial no Brasil se dá de muitas formas, várias camadas, como se diz hoje em dia. Uma delas é disfarçar o incômodo com o protagonismo preto, negro, afro-brasileiro, periférico, favelado com discursos relacionados à monotonia, chatice, irrelevância, falta de liberdade, cerceamento à liberdade de expressão e até incompreensão. Balela. O nome é racismo.

Começou com a entrevista do carnavalesco da Unidos de Vila Isabel, escola de samba da maior qualidade, vinculada pelo nome ao filho mais ilustre, mestre Martinho. O presidente de honra da Vila é um artista negro com imensa contribuição para a valorização da cultura e da identidade afros, bem como para a integração do Brasil com países do Atlântico Negro, Angola em particular. Paulo Barros, quatro troféus por desfiles no Grupo Especial do Rio de Janeiro, disse à Folha de S.Paulo: “A maioria dos enredos deste ano são afros, tudo que já foi visto e revisto, e posso te garantir que 90% de quem está assistindo ao desfile não vai entender nada”.

Eunice por Eunice - Bernardo Mello Franco

O Globo

Em documentário restaurado, Eunice Paiva fala de prisão e assassinato do marido na ditadura: 'Verdadeiro absurdo'

Homenageada pelo primeiro filme brasileiro a ganhar o Oscar, Eunice Paiva deve ressurgir em breve nos cinemas. Desta vez, sem o auxílio luxuoso da atriz Fernanda Torres.

Em 1978, a viúva de Rubens Paiva contou sua história ao documentarista Joatan Vilela Berbel. O depoimento está em “Eunice, Clarice, Thereza”, que acaba de ganhar versão digital em alta definição.

O filme dá voz às mulheres de três vítimas da ditadura: Eunice, viúva do engenheiro e ex-deputado Rubens Paiva; Clarice, viúva do jornalista Vladimir Herzog; e Thereza de Lourdes, viúva do operário Manoel Fiel Filho.

Eunice é a primeira a falar no curta-metragem. Descreve a rotina da família como “uma alegria total” até 20 de janeiro de 1971, quando militares bateram à porta para prender seu marido. “A empregada entra, muito assustada: ‘Doutor, tem uns homens na porta querendo falar com o senhor’. (...) Entraram seis homens com metralhadoras”, recorda.

Não haveria transição pacífica à democracia no Brasil sem anistia - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

As Forças Armadas nunca admitiram a existência de um sistema de tortura e desaparecimento, porém se comprometeram com o respeito à ordem democrática da Constituição de 1988

A conquista do Oscar de Melhor Filme Internacional por Ainda estou aqui, dirigido por Walter Salles Junior, tendo como protagonista Fernanda Torres no papel de Eunice, viúva do ex-deputado Rubens Paiva, assassinado nas dependências de um quartel do Exército no Rio de Janeiro, em 1971, suscitou um novo debate sobre a “anistia recíproca” concedida pelo presidente João Figueiredo em 1979.

Ao mesmo tempo em que eleva a autoestima nacional e a cultura brasileira, o filme também realimenta a tese de que os crimes cometidos em relação aos “desaparecidos” devem ser revistos e seus responsáveis, punidos. Na anistia de 1979, os presos políticos e exilados foram beneficiados pelo perdão, assim como os agentes dos órgãos de segurança responsáveis por sequestros, torturas e assassinatos.

A farra fiscal solapa a democracia - José Pastore *

Correio Braziliense

No passado, as democracias eram derrubadas por grupos armados. Hoje, elas são minadas por dentro pela força das desigualdades 

O Brasil é uma das sociedades mais desiguais. São várias causas. Uma está ligada às próprias leis, muitas das quais criam desigualdades insuperáveis. É o caso, por exemplo, do enorme diferencial de aposentadoria entre servidores públicos e trabalhadores do setor privado. Outra decorre das leis que sancionam os supersalários e penduricalhos de agentes públicos. São leis extrativistas que atendem o interesse de privilegiados, extraindo os recursos dos mais pobres. Há ainda o exemplo da régua única do seguro-desemprego, que atende com o mesmo valor um desempregado solteiro e um chefe de família com cinco filhos. 

Emendas remendadas - José Sarney

Correio Braziliense

É inacreditável o que ocorre agora no Congresso Nacional: predominantemente, só se fala em dinheiro, dinheiro das emendas

Quando fui presidente havia três orçamentos: o orçamento fiscal, o das estatais e o do Banco Central. Na verdade, dos três orçamentos, não tínhamos nenhum, pois cada um apresentava um quantitativo diferenciado, como ocorre hoje quando o ministro Flávio Dino procura o nome do parlamentar autor de emendas ao orçamento, o seu valor e destino e seus objetivos. Naquele tempo, tínhamos uma leitura mais simplificada e não sabíamos qual dos três orçamentos era o verdadeiro. Beaucoup de lois, pas de lois, dizia Montesquieu.

A ideia da existência do parlamento foi consolidada na Inglaterra quando, no século 12, alguns endinheirados desejaram participar das regras de tributação nos tempos do Rei João, o João Sem Terra, que proclamou os direitos civis na Grã-Bretanha, que não possui uma Constituição escrita, seguindo as regras consuetudinárias que permanecem válidas até hoje — e ninguém as contesta.

Para combater inflação, governo zera tarifa de importação de alimentos como carne e açúcar

Por Fabio MurakawaRafael WalendorffAnaïs Fernandes e Marta Watanabe / Valor Econômico

Pacote do Executivo também inclui iniciativas regulatórias e incentivos para a produção de itens da cesta básica no próximo Plano Safra

O governo anunciou ontem uma série de medidas para tentar combater a inflação de alimentos, com destaque para a redução a zero do Imposto de Importação sobre produtos como café, açúcar e carnes. O pacote inclui iniciativas regulatórias e incentivos para a produção de itens da cesta básica no próximo Plano Safra, num momento em que a alta de preços da comida afeta a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além disso, o Executivo vai pedir aos governos estaduais para que o ICMS seja eliminado na comercialização de produtos da alimentação básica.

O anúncio foi feito pelo vice-presidente, Geraldo Alckmin, após uma tarde de reuniões com ministros e representantes do setor privado no Palácio do Planalto. O governo ainda não tem cálculo do impacto na arrecadação tributária. Alckmin afirmou que serão zeradas as alíquotas de importação de carne (atualmente em 10,8%), café (9%), açúcar (14%), milho (7,2%), óleo de girassol (9%), azeite de oliva (9%), sardinha (32%), biscoitos (16,2%) e massas alimentícias (14,4%). No caso do milho, Alckmin disse que a isenção terá “grandes reflexos nos custos dos ovos e proteínas animais, as carnes”. Ele também anunciou a ampliação da cota para importação isenta de óleo de palma, de 65 mil para 150 mil toneladas. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que vai conceder a equivalência do Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sisbi) aos produtores de leite, ovos e mel fiscalizados pelo Sistema de Inspeção Municipal (SIM) por um ano. Com isso, esses produtos poderão ser comercializados em todo o país e não apenas na cidade em que são produzidos.

Poesia | João Cabral de Melo Neto - O Sertanejo Falando

 

Música | Vanessa da Mata canta 'Faltando um pedaço'