sexta-feira, 30 de maio de 2025

Opinião do dia – Theodor W. Adorno* (Radicalismo de direita)

“Bom, minhas senhoras e meus senhores, eu repito que estou consciente de que o radicalismo de direita não é um problema psicológico e ideológico, mas um problema muitíssimo real e político. Mas aquilo que é objetivamente falso, não verdadeiro de sua própria substância, o força a operar com meios ideológicos, isto é, nesse caso, com meios propagandísticos.  E por isso, além da luta política e dos meios puramente políticos, ele deve ser enfrentado no seu próprio terreno. Mas não se trata de colocar mentira contra mentira, de tentar ser tão esperto quanto eles, mas de realmente contrapor-se a eles com uma força decisiva da razão, com a verdade realmente não ideológica.

Talvez alguns entre os senhores me perguntarão ou me perguntariam o que penso sob o futuro do radicalismo de direita. Penso que essa pergunta é falsa, pois ela é demasiado contemplativa. Nessa forma de pensar, que vê de antemão essas coisas como catástrofes naturais, sobre as quais se fazem previsões assim como sobre furacões ou sobre desastres meteorológicos, há já uma espécie de resignação na qual as pessoas desligam-se enquanto sujeitos políticos, há aí uma má relação de espectador com a realidade. Como essas coisas vão evoluir e a responsabilidade sobre como elas vão evoluir – isso depende, em última instância, de nós. Agradeço pela atenção.

*Theodor W. Adorno (11/9/1903-6/8/1969), filósofo, sociólogo, musicólogo e compositor alemão. É um dos expoentes da chamada Escola de Frankfurt, juntamente com Max Horkheimer, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Jürgen Habermas, entre outros. Conferência realizada no dia 6 de abril de 1967, a convite da União dos Estudantes Socialista da Áustria. “Aspectos do novo radicalismo de direita”, p.76. Editora Unesp, 2020.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Itamaraty agiu bem ante novo visto americano

O Globo

Até agora, não houve medida concreta contra autoridades brasileiras, e não interessa ao país inflamar os ânimos

Tem sido positiva a postura do Itamaraty em relação à nova política de vistos anunciada pelos Estados Unidos. Na quarta-feira, o secretário de Estado, Marco Rubio, declarou que restringirá a entrada no país de autoridades estrangeiras “cúmplices na censura a americanos”, citando América Latina e Europa. Em depoimento a parlamentares americanos, ele antes mencionara a possibilidade de impor sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Apesar de ser uma medida sem cabimento, a reação da diplomacia brasileira foi serena e cautelosa, e é essencial que se mantenha assim. Por enquanto, não houve nenhuma medida concreta contra autoridades brasileiras, e o país tem outros interesses a defender na relação bilateral com os americanos, em particular no campo das tarifas. Não interessa ao Brasil inflamar os ânimos.

Bloqueios da democracia - José de Souza Martins*

Valor Econômico

O Brasil está se confirmando como um país atrasado. Sem autenticidade em campos decisivos da sociedade moderna, mas autênticos na sociabilidade conflitiva fundada no ódio

Nestes dias em que tem andamento o exame das denúncias de tentativa de golpe de Estado em eventos relacionados com a eleição presidencial de 2022 e suas decorrências em 2023, as revelações dizem que fomos transformados em subcidadãos de um país-fantasma.

O Brasil está se confirmando como um país atrasado. Somos um país pós-moderno sem termos sido antes um país moderno. Consumidos pelo equívoco de que somos competentes porque imitadores e copistas. Sem autenticidade em campos decisivos da sociedade moderna: na economia, na política, nas religiões. Mas autênticos na sociabilidade conflitiva fundada no ódio. Somos inimigos de nós mesmos.

Mesmo se der errado, vai dar certo, diz Lula - Andrea Jubé

Valor Econômico

Sensação no Palácio é que com Lula está difícil, mas sem ele a derrota é certa

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus aliados vivem um turbilhão de emoções. Com a popularidade ainda ao rés do chão, Lula segue reafirmando-se um “otimista”, enquanto os petistas não escondem a apreensão com o cenário adverso, o governo fora dos trilhos e a falta de estratégia para 2026.

Uma percepção é de que Lula está cada vez mais “autossuficiente”, avesso a críticas e conselhos. “Ele [Lula] tem um plano na cabeça, mas não contou pra ninguém qual será”, comentou um petista. A situação agrava-se diante da constatação unânime entre aliados de que têm uma única carta na mão para 2026, que é Lula. “Se com ele será difícil, sem ele, vamos perder”, afirmou um aliado.

Da fraqueza à força – Flávia Oliveira

O Globo

Numa democracia, argumentos da ministra não só podem, como devem ser debatidos civilizada e respeitosamente

Se do caos florescer um mínimo de boa política, o Brasil terá — de novo — produzido o que a juventude gosta de chamar de plot twist no roteiro sempre novelesco da História nacional. A ministra do Meio Ambiente foi acolhida, acarinhada e ouvida, como poucas vezes fora, depois da emboscada de que foi vítima em audiência na Comissão de Infraestrutura do Senado. Das entrevistas e posts em rede social, emergiu o discurso político corajoso e assertivo que Marina Silva andava sem espaço para exibir. Lembrou muito a candidata a presidente de outras eleições.

Não ficaremos sabendo da reação do eleitorado, porque os institutos de pesquisa não incluem mulheres nas consultas sobre a corrida presidencial de 2026 — a exceção é a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL). Nem Simone Tebet (MDB-MS), hoje ministra do Planejamento, nem Soraya Thronicke (Podemos-MS), ambas candidatas em 2022, presenças constantes nos debates, são consideradas. É mais uma dimensão da violência política de gênero — nesse caso, pela via da invisibilidade —, que se desnudou em misoginia escancarada contra Marina no Senado.

Repercussão nas redes houve. A Quaest acompanhou as reações à aprovação pelos senadores da Lei Geral do Licenciamento Ambiental, apelidado pelos apoiadores de PL Destrava Brasil; pelos críticos, de PL da Devastação. De 15 a 27 de maio, o instituto identificou pouco mais de 48 mil menções ao tema, com impacto em 52 milhões de internautas. Metade (49%) das referências eram negativas; 12%, favoráveis.

Haddad sem munição - Vera Magalhães

O Globo

Falta de plano B ao decreto do IOF reforça percepção de que o arcabouço fiscal proposto pelo ministro é frágil

Não se trata só de teimosia a insistência de Fernando Haddad em manter o decreto de aumento do IOF sobre várias operações. O ministro da Fazenda está sem munição para manter de pé o arcabouço fiscal aprovado há menos de dois anos. A constatação de que não há plano B viável para cumprir a meta fiscal deste ano ficou patente para todos os que conversaram com ele nos últimos dias, em encontros sempre envoltos em tensão e tentativas vãs de convencer os interlocutores de que as medidas foram justas.

Haddad na fogueira - Bernardo Mello Franco

O Globo

Parlamentares cobram cortes do governo, mas não abrem mão de R$ 50 bi em emendas

Em visita a um assentamento no interior do Paraná, Fernando Haddad se queixou ontem das críticas e do “sofrimento” da vida de ministro em Brasília. O amargor tende a aumentar nos próximos dias, a julgar pelo clima na capital.

Desde que assumiu o cargo, o titular da Fazenda é alvo de fogo amigo no Planalto e no PT. Agora a artilharia também parte do Congresso, que exige a revogação da alta do IOF.

Na quarta-feira, o ministro tentou dobrar os presidentes do Senado e da Câmara com um cenário apocalíptico: sem o aumento de imposto, faltaria dinheiro para fechar as contas, e a máquina pública entraria em colapso.

Tributando mal - Laura Karpuska

O Estado de S. Paulo

Na discussão de política tributária, é essencial combater desigualdades sem ampliar as distorções

O tamanho do Estado não determina, por si só, a eficiência econômica de um país. Há exemplos de governos grandes que funcionam bem – e outros que não funcionam. O mesmo vale para Estados mais enxutos. Países bem-sucedidos não seguem uma fórmula única. É a qualidade das instituições e a forma como usam, com maior ou menor eficiência, os recursos públicos que determinam o bem-estar em um país.

Essa qualidade institucional se expressa de várias formas. Um sistema de impostos claro, progressivo e previsível reduz incertezas, melhora a arrecadação e distribui com mais justiça o ônus da máquina pública. Também importa ter uma agenda de governo coerente e transparente, com prioridades bem definidas e metas realistas. Não se trata apenas de gastar ou arrecadar mais ou menos, mas de fazê-lo com propósito e clareza.

O admirável mundo novo de Trump – Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Trump, que persegue críticos nos EUA, está mesmo preocupado com liberdade de expressão no Brasil?

A última das preocupações de Donald Trump, ao ameaçar sanções a Alexandre de Moraes, ao Brasil ou genericamente a autoridades da América Latina e da Europa, é com liberdade de expressão. Trump, que persegue universidades, professores e alunos que condenem o genocídio em Gaza ou pensem diferente dele, não está nem aí para censura, liberdade de expressão, direitos, tudo bobagem.

Ele só pensa em poder, dinheiro e em impor crenças pessoais e vontades, logo, quando ele destaca o secretário de Estado Marco Rubio para jogar ameaças no ar, está só defendendo interesses, lucros e a liberdade para divulgar fake news e ódio das big techs, que financiam suas campanhas, apoiam seu governo e sabem como tirar boas vantagens disso.

O tarifaço de Trump nos tribunais – Celso Ming

O Estado de S. Paulo

O tarifaço do presidente Donald Trump sofreu, na última quarta-feira, seu maior golpe, quando o Tribunal de Comércio Internacional dos Estados Unidos julgou inválidas as decisões que envolvem o pacote. Pode ser o começo da reversão da política de Trump, mas, nem por isso, ficam neutralizadas as incertezas que pairam sobre a economia mundial. Ao contrário, as incertezas aumentam.

O argumento de fundo do Tribunal é o de que, por disposição constitucional, comércio exterior é exclusivamente atribuição do Congresso dos Estados Unidos, e não do Executivo.

Notícias de novo cessar-fogo entre judeus e palestinos na Faixa de Gaza – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Netanyahu aceitou uma proposta de Trump para interromper o massacre na Faixa de Gaza e libertar os reféns israelenses. O Hamas analisa os termos do acordo

O falecido historiador britânico-judeu Tony Judt, num artigo intitulado O que fazer?, em 2009, vaticinou que a opção de deixar "mediocridades incompetentes" à frente de Israel e da Autoridade Palestina teria consequências catastróficas. "Graças ao tratamento abusivo dos palestinos pelo 'Estado judeu', o imbróglio israelense-palestino é o motivo mais iminente para o ressurgimento do antissemitismo em todo o mundo. É o fator mais eficiente no recrutamento de agentes para os movimentos islâmicos radicais. E priva de um sentido as políticas externas dos Estados Unidos e da União Europeia para uma das regiões mais delicadas e instáveis do mundo. Algo diferente precisa ser feito."

Afinal, vivemos numa democracia? - Orlando Thomé Cordeiro*

Correio Braziliense

Essa indagação merece uma reflexão para além da simples marcação de posição, de um lado ou de outro da polarização política presente

Essa indagação tem sido cada vez mais comum nas redes sociais e merece uma reflexão para além da simples marcação de posição, de um lado ou de outro da polarização política presente. 

Para tanto, vale a pena recorrer a uma afirmação de Rui Barbosa: "A pior democracia é preferível à melhor das ditaduras". Essa deve ser a premissa a balizar qualquer a análise que se faça sobre o atual cenário brasileiro, mas reconhecendo o que afirmou Winston Churchill: "Muitas formas de governo foram tentadas, e serão testadas neste mundo de pecado e aflição. Ninguém finge que a democracia é perfeita ou onisciente. De fato, diz-se que a democracia é a pior forma de governo exceto todas as outras formas que foram testadas de tempos em tempos".

Quanto vale um deputado? – José Sarney*

Correio Braziliense

É hora de acabarmos com o ódio e marchamos para uma convivência civilizada em que os nossos juízes, deputados e senadores, tão atacados, se unam no interesse público

Como reagir ao saber da notícia de que, em Mato Grosso, a Polícia Federal chegou ao fim de uma investigação para saber quem tinha assassinado o advogado Roberto Zampieri, que estava permanentemente lutando contra a corrupção na Justiça naquele Estado, e, quando concluiu o trabalho, o que a polícia encontrou, para o estarrecimento de todos e vergonha para o país? Uma empresa estruturada com uma tabela de preços para a prática de crimes hediondos, chegando ao maior deles: o homicídio.

Na tabela, os criminosos precificaram um deputado: vale cem mil reais. A revelação desses fatos nos levou à indignação, sentimento que chegou também a toda a sociedade. É, sem dúvida nenhuma, a perspectiva ou certeza de impunidade. Só essa hipótese pode explicar tanta ousadia. Não uso "coragem" porque essa é uma palavra que não pode ser aplicada para bandidos, para o mundo do crime.

Congresso deve ao menos R$ 41 bilhões para o ajuste fiscal - Bráulio Borges*

Folha de S. Paulo

Responsabilidade com o equilíbrio das contas públicas não deve caber só à União

O Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do segundo bimestre, divulgado na semana passada, apontou uma revisão para baixo, comparativamente à Lei Orçamentária Anual (LOA), de quase R$ 32 bilhões das receitas fiscais do Governo Federal.

Boa parte disso refletiu uma postura mais realista quanto à expectativa de ingressos extraordinários associados às transações tributárias. Descontando o aumento esperado das transferências para estados e municípios, a receita que sobra para a União recuou em quase R$ 42 bilhões ante aquela que consta da LOA.

Por outro lado, também em relação à LOA, houve uma revisão para cima das despesas obrigatórias, de pouco mais de R$ 36 bilhões –explicada sobretudo por reavaliações para cima dos gastos com benefícios previdenciários (aumento de quase R$ 17 bilhões) e com equalização de juros do Plano Safra (R$ 5,3 bilhões).

O déficit e a hipocrisia da elite - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Parlamentares posam de responsáveis, mas têm culpa no cartório da dívida e ajudam amigos

Lideranças do Congresso falam de modo solene, santarrão, oportunista ou hipócrita sobre o conserto das contas do governo. Dizem que Lula 3 tem de cortar gastos em vez de aumentar impostos, como o IOF.

O governo quer mais R$ 20 bilhões neste ano a fim de cumprir as metas relaxadas de déficit do arcabouço fiscal. Diz que o Congresso não faz sua parte, que prorroga ou cria reduções de impostos para empresas —verdade. Grandes empresas e profissionais de alta renda reclamam de impostos e gastos, mas muitos se beneficiam do esquemão.

Trump sabe que Eduardo Bolsonaro é um idiota – Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Mas sabe também que ele é útil no seu programa de fazer do mundo um grande McDonald's

Há anos, quando teve seu nome cogitado para embaixador do Brasil em Washington, Eduardo Bolsonaro não quis apresentar seus créditos em relações internacionais, política econômica e domínio da história. Justificou seus méritos para o cargo alegando já ter "fritado hamburguer nos EUA". O Itamaraty tremeu. Que outro representante brasileiro junto ao governo americano, em 200 anos de história entre os dois países, já teria feito isso? Joaquim Nabuco? Oswaldo Aranha? Carlos Martins? Walther Moreira Salles? Vasco Leitão da Cunha?

Marina como troféu na prateleira – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Lula exibe a ministra como ícone ambiental enquanto avaliza derrotas em série impostas a ela

Não há dúvida de que a visão da ministra Marina Silva (Rede) sobre o manejo das questões ambientais está longe contar com a simpatia de boa parte do governo, a começar pelo presidente da República, cuja impaciência com certos entraves normativos da área ele nunca escondeu.

Até aí, nada de muito excepcional. Não há unanimidades na Esplanada, como bem podem atestar ministros sob a permanente mira dos fogos amigo e inimigo. Fernando Haddad, por exemplo, nessa lide tem se destacado.

Baixaria também é informação - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Ataques de senadores a Marina Silva são degradantes, mas revelam coisas importantes sobre os parlamentares

Assustado com o nível de baixaria nos ataques de senadores a Marina Silva? Eu também, mas admito que sou um pouco ambivalente em relação a espetáculos deste jaez. Eles são moralmente degradantes, mas etnograficamente valiosos. Revelam informações importantes sobre atores que deveríamos conhecer.

O senador Omar Aziz (PSD-AM), por exemplo, me enganou por um tempo. Sua atuação em geral correta na CPI da Covid fez com que eu o visse como um político diferenciado para o lado do bem. Seu destempero contra a ministra, porém, me leva a reclassificá-lo. Agora acho que ele não se distingue tanto da massa de parlamentares que coloca interesses paroquiais à frente de todos os outros valores. Para atacar Marina, ele não hesitou em atropelar o cavalheirismo, o decoro e até os fatos.

Poesia | Poema da Necessidade, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Clara Nunes - Minha Missão (João Nogueira)

p>