segunda-feira, 12 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Queda da miséria e da desigualdade precisa ser contínua

O Globo

Sem equilibrar contas públicas, governo petista corre risco de outro retrocesso nas conquistas sociais

Nos últimos dois anos, cerca de 6 milhões de brasileiros saíram da pobreza extrema. Pelas estatísticas oficiais, os miseráveis eram 8,3% da população em 2023 e passaram a ser 6,8% em 2024. Em todo o país, um contingente equivalente à população do Rio ultrapassou a linha de R$ 333 mensais de rendimento domiciliar per capita. Principalmente para os mais pobres entre os pobres, ter mais dinheiro no bolso é transformador. Abre a possibilidade de acesso a mais comida, moradia melhor, uma vida mais digna. Outra boa notícia divulgada pelo IBGE na semana passada diz respeito à desigualdade de renda. O índice mais usado para medi-la, o Gini, caiu em 2024 para o nível mais baixo registrado desde 2012. Fora da África, o Brasil é o segundo país mais desigual, em situação melhor apenas que a Colômbia. O lugar nesse vergonhoso ranking segue inalterado, mas a queda abre uma oportunidade única.

Um golpe contra a esperança – Fernando Gabeira

O Globo

Meio profeticamente, antes das eleições, previ que nos livraríamos do horror e cairíamos na mediocridade

O Brasil de hoje me entristece. Macunaíma sentiria apenas preguiça. Os grandes escândalos de corrupção se sucedem. É triste ver os velhos roubados por entidades-fantasmas, com descontos em sua aposentadoria, roubados nos empréstimos consignados, cartão de crédito e quase roubados com a promessa de devolução rápida do dinheiro roubado.

Viramos o paraíso do estelionato. Neste momento, recebo ligações com a voz da assistente digital do banco, falando de uma absurda compra numa loja de construção. Disque 1 para confirmar, dois para rejeitar. Disco coisa nenhuma porque sei que é golpe. Nas cadeias e nas ruas, centenas de golpistas inventam formas de lesar. Tenho amigos que perderam suas economias. Os bancos são implacáveis, não devolvem 1 centavo.

Harvard versus Trump - Demétrio Magnoli

O Globo

Harvard não pode combater Trump sem resgatar os valores abandonados do pluralismo de ideias e do debate aberto

‘Ele tem um longo histórico de críticas às elites das quais, desesperadamente, deseja aceitação.’ Timothy O’Brien, biógrafo de Trump, usa as lentes da psicologia para interpretar o ressentimento que o presidente nutre pelas universidades da Ivy League. Trump estudou numa delas, que nunca lhe ofereceu um título honorífico. Seu vice, J.D. Vance, graduado pela Escola de Direito de Yale, esclareceu que a hostilidade ultrapassa a esfera pessoal. Em discurso à Conferência Nacional do Conservadorismo, em 2021, intitulado As Universidades são o Inimigo, conclamou o movimento a “atacar agressivamente as universidades neste país”.

Aécio critica ida Leite para PSD e minimiza pré-candidatura presidencial

Cristiane Agostine / Valor Econômico

Ex-presidente do PSDB, deputado diz que governador trocou de legenda por um 'projeto regional'

Ex-presidente nacional do PSDB e atual integrante da Executiva tucana, o deputado federal Aécio Neves (MG) criticou a saída do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, do partido para se filiar ao PSD. Aécio disse que Leite trocou de legenda por um “projeto regional” e minimizou a pré-candidatura presidencial do ex-tucano.

“Vejo nessa decisão do governador, na verdade, a opção por um projeto regional, já que o partido ao qual ele se filia, como todos sabem, provavelmente terá outras opções na disputa presidencial”, disse Aécio em nota divulgada à imprensa.

Decisão sobre Ramagem abala relação entre STF e Câmara

Por Andrea JubéMurillo CamarottoGabriel ShinoharaMarcelo Ribeiro / Valor Econômico

Semana começa com a expectativa de reação de Hugo Motta contra anular, parcialmente, a resolução da Casa que havia suspendido a ação envolvendo Ramagem

A semana começa com a expectativa de reação do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), à decisão unânime da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) para anular, parcialmente, a resolução da Casa que havia suspendido a ação penal sobre a trama golpista contra o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).

A decisão do STF, embora amparada pela Constituição Federal, deve estremecer as relações entre os dois Poderes, e reacender a crise entre apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a Corte.

No sábado (10), a Primeira Turma do STF alcançou a unanimidade no julgamento com o voto da ministra Cármen Lúcia no plenário virtual. O colegiado seguiu o voto do relator, ministro Alexandre de Moraes, no sentido de que a suspensão da ação penal, imposta pelo plenário da Câmara, se aplica apenas para crimes cometidos após a diplomação de Ramagem, conforme dispõe a norma constitucional.

De Jorgina ao Careca do INSS, pouco se recupera

Bruno Carazza  / Valor Econômico

Sistema judiciário brasileiro é incapaz de apurar conexões políticas e de reaver valores desviados, o que proporciona a recorrência de fraudes

A primeira vez que o nome de Jorgina Maria de Freitas Fernandes apareceu na grande imprensa associado ao termo INSS foi há quase 34 anos, no dia 22 de maio de 1991, em reportagens de “O Globo” e do extinto “Jornal do Brasil”.

As notícias davam conta do pedido de abertura de processo contra um juiz (Nestor José do Nascimento), dois procuradores do INSS (Hélio Ribeiro de Souza e Marcílio Gomes Silva), um perito judicial (Carlos Alberto Mello dos Santos) e 16 advogados por um esquema que forjava e superfaturava indenizações por acidente de trabalho para beneficiários da previdência pública. Jorgina era uma das advogadas e tornou-se o rosto e o símbolo da fraude bilionária que indignou o país.

Do relatório da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito aberta para apurar as denúncias, percebe-se o quanto esse tipo de crime já era recorrente na história brasileira: “A CPMI para ‘Apurar Fraudes na Previdência Social’, que ora apresenta o relatório final dos trabalhos desenvolvidos, é a 19ª já instituída para esse mesmo fim”.

Segundo aliados, Bolsonaro hesita entre Michelle e Tarcísio

Andrea Jubé e Fernando Exman / Valor Econômico

Inelegível, ex-presidente é pressionado a sinalizar preferência para eleição presidencial em 2026 ainda este ano

Em reuniões após a alta médica, em sua residência, em Brasília, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) admitiu a aliados que está dividido entre lançar a candidatura da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) à Presidência da República em 2026 ou apoiar o nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), para a sucessão presidencial. Ao mesmo tempo, está empenhado em eleger o maior número de senadores, a fim de elevar a pressão sobre o Supremo Tribunal Federal (STF), em uma estratégia que tem como uma das apostas a candidatura do vereador Carlos Bolsonaro (PL).

De acordo com um interlocutor que o visitou nos últimos dias, aumentou a pressão de aliados para que o ex-presidente se posicione ainda neste ano sobre quem apoiará na corrida ao Palácio do Planalto, já que está inelegível. Em público, o ex-presidente continuará afirmando que será candidato no pleito de 2026. Em conversas privadas, entretanto, reconhece que terá de apoiar um aliado na disputa contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em provável reedição da polarização do pleito de 2022. Nesse contexto, seus interlocutores têm argumentado que Tarcísio teria que ser ao menos comunicado com antecedência para poder se preparar para a campanha, ainda que de forma sigilosa, e organizar sua sucessão.

Corrupção federal, corrupção municipal - Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

Disseminou-se a ideia equivocada que a corrupção se concentra em transferências a localidades interioranas do Brasil arcaico onde os controles são débeis

Constituição de 1946 determinou que, pela primeira vez, 10% do Imposto de Renda fosse distribuído aos municípios, exceto os das capitais. Foi a primeira versão do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

O pai da proposta, o deputado pernambucano Barros Carvalho, criticou aqueles que afirmavam que "os prefeitos iriam enfiar aquela verba no próprio bolso". Argumentou: "É possível que alguns bandidos e aventureiros se apossem também do dinheiro da quota federal. Será um mal, mas um mal menor do que o abandono em que União deixa o interior do país. (...) Se roubarem hoje a quota federal, ainda assim o dinheiro vai fazer uma redistribuição regional da renda, vai ficar na região, o prefeito ladrão acaba sempre montando uma descaroçadeira de algodão ou uma olaria, e construindo uma estrada ou um açude para sua fazenda".

O 13 de maio é dia de festa? - Ana Cristina Rosa

Folha de S. Paulo

Estado garantiu a exclusão do negro com medidas como a proibição da aquisição de terras e de acesso à educação

13 de maio de 1888 foi um dia de festa para milhares de pessoas à época mantidas sob o jugo da escravização no Brasil, mas o dia seguinte à promulgação da Lei Áurea (com seus apenas dois artigos) institucionalizou o abismo étnico-racial entre negros e não negros no país. Não é preciso ser negro para saber (ou ao menos intuir) os motivos que levaram à substituição da comemoração da abolição pela reflexão atual sobre o impacto pernicioso dos termos da libertação.

Mães querem melhores condições de trabalho - Camila Rocha

Folha de S. Paulo

Brasileiras ganham 19,4% a menos que os homens, e estigma da maternidade também aparece nos cargos de liderança

Uma das coisas que mais une mães do Brasil inteiro, independente de religião, classe e orientação ideológica, é a indignação contra as desigualdades do mercado de trabalho.

De acordo com dados do 1º Relatório Nacional de Transparência Salarial e de Critérios Remuneratórios, publicado há um ano pelos ministérios do Trabalho e Emprego e das Mulheres, as brasileiras ganham 19,4% a menos que os homens.

O relatório aponta que os principais critérios adotados pelas empresas para o avanço da carreira prejudicam justamente as mulheres que são mães. Afinal, horas extras, disponibilidade para o trabalho, metas de produção, entre outras formas de avaliação, são atingidas mais pelos homens, que, em geral, não têm interrupção no tempo de trabalho devido à carga associada à maternidade.

Governo poupará R$ 128 bi caso siga decisão do STF em emendas

Lavínia Kaucz e Cícero Cotrim / O Estado de S. Paulo

Economia ocorreria até 2029 se limites forem respeitados

O governo federal poderá economizar R$ 128,3 bilhões até 2029 se adotar as regras estabelecidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para controlar o crescimento das emendas parlamentares. De acordo com decisões do ministro Flávio Dino, referendadas pela Corte, as emendas totais – incluindo as de gasto impositivo e não impositivo – não podem crescer mais do que o menor de três critérios: a variação das despesas discricionárias (não obrigatórias) do Executivo, o limite de crescimento do arcabouço fiscal (0,6% a 2,5% acima da inflação) ou a variação da Receita Corrente Líquida (RCL). O cálculo da potencial economia foi feito pelo Estadão/Broadcast e comparado com estimativas do Executivo no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026, que não seguiram os critérios mais rígidos estabelecidos do STF.

Ideologia mora na urna presidencial - Carlos Pereira

O Estado de S. Paulo

Onde há ambição pela Presidência, há maior coerência ideológica dos partidos

Partidos políticos brasileiros sempre foram criticados por sua baixa definição ideológica e fraca aderência programática. Suas campanhas, marcadas pelo personalismo, tendem a privilegiar conexões diretas entre candidatos e eleitores, em detrimento de vínculos partidários duradouros.

No entanto, tem-se observado uma inflexão: partidos de direita vêm assumindo identidades ideológicas mais claras e plataformas programáticas mais consistentes. Vêm se posicionando com mais nitidez no espectro conservador e, cada vez mais, demonstram menor disposição de negociar cargos e recursos em troca da diluição de seus princípios em coalizões heterogêneas. O que explica essa mudança? A chave está na decisão estratégica de disputar ou não a Presidência.

No presidencialismo multipartidário brasileiro, partidos que optam por lançar candidatura própria ao Planalto tendem a desenvolver um perfil ideológico mais definido. Ao buscar projeção nacional, são compelidos a oferecer programas de governo e a se diferenciar de seus concorrentes.

Poesia | Tempo, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Mônica Salmaso - Bom tempo (Chico Buarque e João Bosco)