quinta-feira, 5 de junho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Corte em emendas é fundamental nas medidas fiscais

O Globo

Além de caras, são injustas — 15 dos 20 municípios com pior IDH não receberam um centavo desde 2024

Em democracias, o gasto público é disciplinado por um mecanismo sensato: o Legislativo elabora o Orçamento, e o Executivo controla sua execução. Tal arranjo incentiva a eficiência do gasto. Por tal parâmetro, o Brasil se tornou uma aberração. Aqui, deputados e senadores decidem o destino de 21% — ou R$ 50,4 bilhões — das despesas livres do governo. Como a lógica das emendas parlamentares é paroquial e de curto prazo, as cidades onde se concentram as bases de eleitores recebem mais. Outras ficam sem nada. No momento em que Congresso e governo discutem medidas para equilibrar as contas públicas, as hipertrofiadas emendas parlamentares precisam estar no topo da pauta.

Detalhes fazem diferença – Merval Pereira

O Globo

Pesquisa dá sinais de que benefícios sociais já não são suficientes para levar o voto dos mais necessitados

A pesquisa Quaest divulgada ontem, além do resultado geral que mostra o aumento na desaprovação de Lula para 57% — maior índice do mandato —, traz detalhes importantes que ratificam a tendência de queda na popularidade do presidente. Dos não petistas que votaram em Lula em 2022 para derrotar Bolsonaro, 24% hoje reprovam seu governo. Isso demonstra que quem fez a diferença na recente eleição a favor do presidente pode não estar disposto a repetir o voto em 2026.

Dificilmente a maioria desses eleitores votará numa chapa que tenha um(a) Bolsonaro, mas poderia votar numa direita mais civilizada, representada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ou por outros governadores colocados na largada, como Romeu Zema, de Minas, Ronaldo Caiado, de Goiás, ou Ratinho Jr., do Paraná. Se não houver consenso na direita em torno de um candidato, os votos se dispersarão, ajudando a esquerda. Num segundo turno, porém, esse eleitorado tende a se unir em torno de um nome.

Sem Jair, quase 50% dos bolsonaristas prefere Michelle a Tarcísio e Eduardo – Malu Gaspar

O Globo

Além de apontar a tendência do eleitor para a disputa presidencial de 2026, a pesquisa divulgada pela Genial/Quaest nesta quinta-feira (5) revela que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro tem a liderança absoluta na preferência do eleitor bolsonarista em um cenário sem Jair Bolsonaro, que está inelegível até 2030.

Segundo a Quaest, a preferência por Michelle entre os que dizem ser bolsonaristas é maior do que a soma do percentual daqueles que optariam pelo filho 03 do ex-presidente, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e pelo governador de São PauloTarcísio de Freitas (Republicanos).

Para 44% dos que se declararam seguidores de Bolsonaro, Michelle deve ser apoiada pelo ex-presidente caso ele não viabilize sua candidatura no próximo ano. É quase o triplo da preferência por Tarcísio (17%) e quase cinco vezes a de Eduardo (10%), que na semana passada declarou à revista Veja sua intenção de concorrer ao Palácio do Planalto caso seja convocado pelo pai.

fraudes do INSS afetam a popularidade de Lula na sua base histórica – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Para 56% dos brasileiros, o governo atual está pior do que os dois primeiros mandatos de Lula. Esse número, em janeiro, era de 45%

A pesquisa mais recente do instituto Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (4/6), revela que a desaprovação ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atingiu 57%, enquanto a aprovação está em 40%. É o pior resultado da série histórica desde o início do terceiro mandato de Lula. Realizada entre 29 de maio e 1º de junho, com 2.004 entrevistados em todo o país, tem margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e nível de confiança de 95%.

O caso do INSS, com suas denúncias de fraudes e desvios de recursos, aparece como catalisador dessa erosão de confiança. Para 82% dos brasileiros, a crise foi sentida. E 31% responsabilizam diretamente o governo federal. As fraudes do INSS atingem em cheio a principal base de Lula, as camadas mais pobres da população. Já o aumento do IOF, que pode ser derrubado pela Câmara, amplia o desgaste do governo junto à classe média, ainda mais porque o aumento foi anunciado na última semana de prazo para declarar o Imposto de Renda.

Lula empata com Bolsonaro, Tarcísio, Michelle, Ratinho Jr e Leite em eventual 2º turno, diz Genial/Quaest

Lillian Ventunrini e Cristiane Agostine / Valor Econômico

Dois terços dos entrevistados avaliam que nem Lula nem Bolsonaro deveriam ser candidatos em 2026

Com recorde de desaprovação de seu governo, de 57%, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viu sua vantagem eleitoral diminuir em relação aos adversários em um eventual segundo turno das eleições de 2026, segundo pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quinta-feira (5). O presidente e pré-candidato à reeleição aparece empatado, dentro da margem de erro do levantamento, com outros cinco pré-candidatos: o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD) e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD).

Dos oito cenários de eventual segundo turno testados na pesquisa, Lula está na liderança, fora da margem de erro, em relação ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), ao governador de Minas, Romeu Zema (Novo), e do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União).

Congresso Nacional subjuga o Executivo - Maria Clara R. M. do Prado

Valor Econômico

A dependência do Executivo ao Legislativo não tende a diminuir, pelo contrário, sabendo-se que isso nada tem a ver com o governo A, B ou C que estiver alojado no Palácio do Planalto

Assistiu-se na última terça-feira uma demonstração cabal da significativa ascensão do Poder Legislativo no cenário político do país. O forte presidencialismo que dominou a República brasileira desde os primórdios já vinha perdendo poder, mas, se alguma dúvida existia, tornou-se patente nesta semana o enfraquecimento do Poder Executivo. Teve de capitular sem resistência às exigências e determinações do Congresso.

Diante da oposição de deputados e senadores ao decreto do aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e face à urgência de encontrar meios para equilibrar receitas e despesas do orçamento deste ano, restou ao Executivo a submissão. Viu-se obrigado a negociar com os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados as bases de medidas alternativas para o ajuste das contas públicas na ausência da ampliação do IOF ou, pelo menos, de parte dele.

A ‘terceira via’ proposta por Macron e o Mercosul - Assis Moreira

Valor Econômico

Se Macron fizesse um périplo pela América do Sul, as agendas econômica, comercial e ambiental seriam centrais para equilibrar o jogo da UE com EUA e China na região, mas a França não topa o acordo com o Mercosul

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visita hoje a França logo depois de o presidente Emmanuel Macron ter proposto uma “terceira via” entre a China e os EUA com Donald Trump.

Em meio às enormes turbulências geopolíticas, essa “terceira via” foi destacada por Macron durante sua movimentada turnê pelo Sudeste da Ásia na semana passada. Tem ecos da conferência de Bandung há 70 anos, quando sobretudo países asiáticos e africanos começaram a constituir o Movimento de Países Não Alinhados, e de um discurso do general De Gaulle no Camboja em 1966.

Nem sem nem com - William Waack

O Estado de S. Paulo

Lula passa por um momento crucial para as eleições de 2026

Se ainda há estrategistas no que sobrou do antigo Estado-Maior do PT, o dilema é monumental. Não dá para encarar as próximas eleições sem Lula. E se avolumam evidências de que também não dá para encarar com ele.

A questão principal não são números de economia que possam se transformar em índices de popularidade. Ou consigam compensar o efeito negativo de escândalos de corrupção acompanhados de aumento de impostos.

A figura de Lula é a desse dilema provavelmente sem solução. Ele está sendo alcançado pelo que é inexorável na condição humana, visível para eleitores que tomam decisões muito mais a partir de percepções subjetivas diretas do que por “números”.

Proposta para Fernando Haddad - Felipe Salto e Josué Pellegrini

O Estado de S. Paulo

O ministro tem uma oportunidade única de avançar com um programa de ajuste fiscal capaz de propiciar ao País um horizonte menos opaco

O atual governo optou por uma política fiscal do tipo “feijão com arroz”, como temos chamado. De modo geral, essa tendência deve persistir até as eleições presidenciais.

Mas a necessidade de cobrir a reversão total ou parcial das recentes elevações do IOF pode ensejar um debate sobre medidas estruturais, deixado de lado após a decepção com o pacote de dezembro.

É assim que propomos um programa realista, caso não haja disposição para algo mais ousado. Seria um expressivo avanço em relação à política atual do “feijão com arroz”, que já mostra claros sinais de esgotamento.

Pelo lado da despesa, sugerimos seis medidas para o período 2027-2030, a saber:

Alta taxa do PIB no 1º tri, mas menores à frente – Roberto Macedo

O Estado de S. Paulo

A classe política, em particular o presidente, seu partido e o Congresso, não discutem o problema do crescimento, embora esteja na raiz das decisões que levaram aos menores investimentos públicos

O Produto Interno Bruto (PIB) da economia brasileira subiu 1,4% no primeiro trimestre deste ano, relativamente ao 4.º trimestre de 2024, segundo o último relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o assunto, divulgado na manhã de sexta-feira passada, dia 30/5. Esse resultado foi muito influenciado pelo crescimento do setor agropecuário, a uma taxa trimestral bem alta, de 12,2%. A soja já representa 50% da produção de grãos. Os serviços de informação e comunicação cresceram 3% e a indústria extrativa, 2,1%. Os serviços de transporte, armazenagem e correio, o setor de construção e a indústria de transformação caíram -0,6%, -0,8% e -1,0%, respectivamente. E oito setores não listados cresceram entre 2,5% e 0,1%, a maioria (cinco) com taxas abaixo de 1%.

‘É rombo estrutural’, diz o ministro - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Eis que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, começa a admitir que não dá mais para enxugar gelo, “o problema fiscal exige ajustes estruturantes”.

Governos de esquerda têm dificuldade em admitir a existência de problemas fiscais, especialmente quando têm a ver com falha estrutural da economia. Tendem a entender que qualquer ênfase num diagnóstico desse tipo é coisa de neoliberais ou de monetaristas ortodoxos.

Em 2002, o então candidato à Presidência da República, Lula da Silva, admitiu na sua Carta ao Povo Brasileiro que era preciso atacar o rombo. Mas essa foi mais uma atitude eleitoral do que resultado de mudança de convicção. Tanto assim que, dois anos depois, destituído o ministro da Fazenda Antonio Palocci, o governo Lula caiu na gastança.

Revolta do IOF e o futuro de Lula - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Surgiu oportunidade de fazer um remendão melhor nas contas públicas e de reduzir riscos em 2026

Há males que vêm para um mal menor, deve estar pensando Fernando Haddad. Se tiverem noção do perigo e algum senso de realidade político-econômica, assim deveriam estar pensando o restante do governo Lula e o PT, que faz uns dois anos se dedicam a fritar o ministro da Fazenda e seus planos moderados de consertar as contas públicas.

A revolta contra o IOF ofereceu a oportunidade de o governo fazer remendão mais duradouro no déficit. Se der certo, o governo poderia empurrar com a barriga um tumulto fiscal ou também político até 2027, quando a pindaíba será certa.

O que ainda está por vir - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Agenda ambiental precisa resolver papel do petróleo na transição energética e mineração

meio ambiente não faz parte das prioridades do governo neste meio de mandato com sabor de fim de festa. E isso apesar da presidência da COP30; da queda do desmate —fruto do trabalho do ministério conduzido por Marina Silva para recuperar capacidades estatais destruídas pelo governo Bolsonaro; e do ambicioso Plano de Transição Ecológica lançado em 2024 por Fernando Haddad.

Apoiado numa coalizão de partidos tão extensa quanto frágil e enfrentando um Congresso insubmisso e de maioria conservadora, o presidente Lula parece apostar as fichas que lhe restam em projetos com potencial para render apoio imediato do público e retorno eleitoral no ano que vem. A política ambiental não lhe garante nem uma coisa nem outra. Ainda assim, é de suma importância.

Zambelli cidadania italiana e branquitude - Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Nem sua linhagem europeia a protegerá de ser responsabilizada por tentativa de golpe de Estado

É digna de nota (de repúdio, diga-se) a forma com a qual a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) vê a sua dupla nacionalidade como escudo para esquivar-se da Justiça. "Como cidadã italiana, eu sou intocável na Itália, não há o que ele possa fazer para me extraditar de um país onde eu sou cidadã", afirmou Zambelli à CNN Brasil, mostrando que, além de mentir sobre como funciona o sistema eleitoral, mente sobre como opera a lei.

Lá vêm os grileiros do orçamento - Conrado Hübner Mendes


Folha de S. Paulo

Extrativistas de dinheiro público não abrem mão de supersalário

Fosse apenas autoritária, autocrática e autárquica, a magistocracia não atiçaria tantas emoções primárias. Se só chancelasse violação de direitos de vulneráveis, reprimisse independência judicial e rejeitasse controle, chamaria menos atenção. Mas quis se dedicar também a extrativismo ilegal do orçamento público, espécie de grilagem. Sua face rentista consegue incomodar até nossa sensibilidade pouco republicana.

Magistocratas não são os únicos grileiros no Estado brasileiro. Parlamentares, partidos e setores empresariais adotam técnicas de grilagem orçamentária. A magistocracia só o faz de modo juridicamente mais rocambolesco. Pratica corrupção institucional com polimento moral. Sem dispensar o acabamento legalista.

Não aprendemos nada com a história? - Cláudio Carraly*

O mundo de hoje caminha perigosamente por trilhas já percorridas na primeira metade do século XX. Ainda que a história não se repita de forma idêntica, ela rima, e os versos atuais carregam uma métrica sinistra. A ascensão de lideranças autoritárias, o colapso do centro político, o descrédito nas instituições democráticas, a desigualdade estrutural, a crise de refugiados e a falência do multilateralismo internacional configuram um cenário que, para quem conhece a história do entreguerras, soa tragicamente familiar.

O ressentimento social volta a ser capitalizado por discursos de ódio, por soluções fáceis para problemas complexos, por um nacionalismo excludente que aponta inimigos internos e externos a serem eliminados. A democracia liberal, cansada e desacreditada, assiste à sua própria erosão sem força para reagir, enquanto o mundo desliza, sorrateiro, rumo a um novo precipício histórico.

Nas décadas de 1920 e 1930, o mundo viu emergir líderes como Benito Mussolini, Adolf Hitler, Antonio de Oliveira Salazar, Francisco Franco e outros que se aproveitaram do medo coletivo, das crises econômicas profundas e de um ressentimento nacionalista exacerbado. Hoje, assistimos a fenômenos muito similares com Viktor Orbán na Hungria, Recep Tayyip Erdoğan na Turquia, Narendra Modi na Índia, Javier Milei na Argentina, Benjamin Netanyahu em Israel, Donald Trump nos EUA e Jair Bolsonaro no Brasil, entre outros.

Poesia | Procura da poesia, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Marisa Monte e ‪Gilberto Gil‬ - A Paz