domingo, 25 de maio de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Regras para praias devem respeitar o bom senso

O Globo

Elas são o espaço mais democrático do país — e, como toda democracia, precisam de normas para funcionar

Costuma-se dizer que as praias são o espaço mais democrático do país. E com razão. Qualquer um, independentemente de posição social ou aparência, pode chegar e ocupar seu lugar ao sol. Não tem de mostrar identidade, CPF ou carteira de vacinação. Tampouco pagar ingresso — é verdade que, dependendo do local, o banhista será compelido a alugar cadeira, guarda-sol e a consumir os produtos do ambulante “dono” do pedaço. Mas a areia é vasta. É justamente por ser o lugar de todos que regras mínimas de convivência se impõem. Ou o lazer se transforma em pandemônio.

A música a todo volume na caixa de som pode agradar ao dono do aparelho — mas desagrada a outros tantos, que preferem o barulho do mar à playlist de gosto incerto. O esporte à beira d’água é diversão para a confraria, mas incomoda quem não quer levar boladas. O churrasquinho do ambulante mata a fome, mas precisa ser fiscalizado para não causar danos à saúde. Em calçadões e ciclovias, o frenético vaivém de banhistas, corredores, skatistas, ciclistas, bicicletas elétricas e patinetes se traduz não apenas em desordem, mas também em risco de acidentes.

O Brasil no espelho do mundo - Luiz Sérgio Henriques*

O Estado de S. Paulo

O descompasso entre o mundo amplo da economia e o âmbito estritamente nacional da política terminou por produzir seus frutos daninhos na forma de uma imensa crise da globalização

Não importam muito nossa condição de Ocidente periférico, de “outro Ocidente” ou, ainda, a ideia mais forte de que metabolizamos, com expressividade, o barroco ibérico e terminamos por produzir, com ameríndios e negros, uma modernidade alternativa – o fato é que, seja como for, temos sido assediados por perguntas estrategicamente decisivas sobre a nova estrutura do mundo ainda em formação e, nela, a posição do Brasil.

O século 21, tudo indica, não será mais predominantemente norte-americano e menos ainda europeu. Com velocidade surpreendente, envelheceu a ideia de uma modernidade baseada na expansão contínua da mercantilização de todas as coisas e de todas as relações humanas. Já podemos dizer com certeza que a modernidade dita neoliberal, que se disseminou com o colapso do socialismo de Estado, pecou por déficit crescentemente intolerável de imaginação política. A interdependência entre os sistemas econômicos deu muitíssimos passos à frente, com a circulação instantânea do dinheiro, a mundialização das cadeias de valor, a mobilidade intensa de mercadorias e pessoas. E uma vasta classe média global, apesar das desigualdades, apareceu no cenário.

Haddad é refém da cultura petista do rechaço e da economia do afeto - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O ajuste é de R$ 52 bilhões, mesmo assim, o déficit das contas públicas deve chegar a R$ 76,6 bilhões ( 0,6% do PIB). O ministro da Fazenda apanha dos dois lado

No seu artigo publicado na Carta Capital n° 1363 (datada de 28 de maio de 2025), intitulado “Absurdos da 'ciência' econômica, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo discorre sobre as limitações dos modelos macroeconômicos contemporâneos. Parte de uma definição de John Mayard Keynes – autor da Teoria geral do emprego, do juro e da moeda (Saraiva), de1836, sua obra prima – sobre o perfil ideal dos economistas.

Keynes virou do avesso a teoria clássica do emprego de “A riqueza das nações” (Nova Fronteira), de Adam Smith, obra publicada em 1776, ao analisar a Grande Depressão causada pelo crack da Bolsa de Nova York de 1929. O consenso da época era de que a economia chegaria espontaneamente e naturalmente ao equilíbrio. E quem quisesse trabalhar encontraria emprego, bastava aceitar salários mais baixos. Keynes inverteu esse modelo clássico de causa e efeito.

Para a teoria clássica, o desemprego era uma escolha causada pelo alcoolismo e/ou pelo jogo. Devido à prolongada recessão, Keynes concluiu que o desemprego era involuntário, porque a ausência de demanda aprisionava empresas e trabalhadores num círculo vicioso de subprodução e desemprego. A solução, segundo ele, era os governos gastarem mais, para investir na economia, de modo que a procura global dos produtos crescesse. Isso estimularia as empresas a admitirem mais trabalhadores.

Contradições - Merval Pereira

O Globo

O aumento do IOF afetará a classe média, que pretendia viajar para o exterior e terá seus custos aumentados. Uma classe que o governo petista precisa reconquistar para viabilizar sua reeleição

As contradições do governo Lula se acumulam à medida que os objetivos imediatos de recuperar a popularidade para garantir a reeleição se chocam com as promessas de campanha que não podem ser cumpridas sem criar obstáculos ao objetivo maior, que é manter o poder. Lula venceu a eleição de 2022 no pressuposto de que faria um governo de união nacional, reunindo em torno de si uma aliança suprapartidária. Na prática, temos o PT dominando as principais áreas do governo, e os representantes das demais forças políticas de centro-esquerda relegados a um segundo plano.

A barafunda criada pelo aumento do IOF é exemplar desse paradoxo. A necessidade de aumentar a arrecadação para tentar equilibrar as finanças nacionais, sem que os cortes necessários sejam feitos, faz com que o país contradiga sua intenção de entrar para a OCDE, a reunião dos países mais desenvolvidos do mundo. Ou revela que o governo Lula não tem como prioridade essa participação.

Direita avança com pauta conservadora em legislativos do país

Por Camila Turtelli e Dimitrius Dantas / O Globo

Direita fortalece pautas estratégicas do bolsonarismo em assembleias e câmaras municipais para vencer em 2026

Projetos de escolas cívico-militares, leitura da Bíblia em colégios, projeto anti-Oruam e homenagens a Bolsonaro ganham força no país

Fora do governo federal desde 2022, representantes da direita têm encontrado um novo campo de articulação política longe dos holofotes de Brasília. A estratégia envolve emplacar projetos e iniciativas que envolvem bandeiras ligadas ao bolsonarismo em câmaras municipais, assembleias legislativas e governos estaduais, para que sirvam de base para um movimento que visa a pavimentar o caminho para retomar o poder em 2026. Essas proposições são inspiradas no trinômio “Deus, pátria e família”, o que reforça o vínculo de integrantes da vertente política com grupos religiosos.

Um dos principais itens desse movimento de base é a expansão das escolas cívico-militares. Embora o programa federal lançado no governo de Jair Bolsonaro tenha sido encerrado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, houve uma ampliação do modelo pelo país. A iniciativa consiste na gestão compartilhada das instituições de ensino entre educadores e militares, categoria que forma uma das bases do bolsonarismo.

O fenômeno Tony Rueda - Bernardo Mello Franco

O Globo

Antonio Rueda é um fenômeno. Sem nunca ter disputado uma eleição, entrou para o clube das figuras mais poderosas da política nacional. O advogado pernambucano despontou como faz-tudo de Luciano Bivar. Após um rompimento que virou caso de polícia, tomou o lugar do chefe no comando do União Brasil.

Resultado da fusão dos antigos DEM e PSL, a legenda não tem ideias, só interesses. Ao mesmo tempo que controla três ministérios do governo Lula, flerta com o bolsonarismo e ensaia lançar um candidato de oposição em 2026.

Na quarta-feira, Rueda deu uma longa entrevista ao GLOBO. A conversa ajuda a entender a natureza de seu partido e a debilidade do que se convencionou chamar de base do governo.

Apesar dos cargos que controla na máquina federal, o mandachuva do União fez discurso de opositor. Disse que o governo “não consegue fazer entregas” e “se enfraquece dia a dia”. “Logo no começo do mandato, o governo surfou politicamente na onda do 8 de Janeiro. Hoje essa página é passado”, sentenciou.

Amazônia como última mensagem - Míriam Leitão

O Globo

O recado final de quem fez da Amazônia seu último projeto e que nos alertou para o privilégio de ter esta floresta

Sebastião Salgado permanecerá porque sua obra seguirá mostrando as dores agudas ou a exuberante beleza do planeta. Extremos de vida. Para ele, a vida era em preto e branco e nunca em meios-tons. Ficará de pé também o pedaço que replantou da outrora dominante Mata Atlântica, hoje recolhida a alguns recantos, como o que ele e Lélia construíram. Nesta semana, o contraste entre a mensagem que ele quis deixar e o que temos feito será mais gritante. A Câmara pretende votar em regime de urgência o PL da devastação nos próximos dias.

É truque dos apoiadores do projeto. Depois desta, virá a semana do Meio Ambiente. No dia 5 de junho, uma quinta-feira, será o Dia do Meio Ambiente. Os defensores do projeto acham que não cairá bem aprová-lo nessa data e, por isso, querem correr.

Os horrores impostos à população palestina- Dorrit Harazim

O Globo

De uma hora para outra, começou-se a denunciar o uso da fome como ferramenta de subjugação

Foi a contragosto que o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu anunciou, nesta semana, a decisão de entreabrir uma fresta nas inenarráveis condições impostas à Gaza hermeticamente bloqueada desde março. Era preciso estancar a incômoda “campanha global contra alegações de fome extrema no território e aliviar as pressões de nossos aliados na Europa e Estados Unidos”. Por uma questão de relações públicas, decidira que não lhe restava outra opção — as imagens de crianças famélicas em feroz disputa por um punhado de farinha exigiam correção de curso. Era preciso dar um respiro àquele chão ainda chamado de seu por 2,2 milhões de palestinos.

As tarefas que a realidade nos impõe - Claudio de Oliveira*

O que está posto? Penso que:
1) Ascensão da extrema-direita;
2) Reglobalização;
3) nova geopolítica;
4) Nova revolução tecnológica com a IA;
5) Crise do Clima.

Que fazer?
1) Frente ampla democrática nos planos nacional e internacional para isolar a extrema-direita;
2) Política externa não-alinhada e sem retórica anti-Ocidente;
3) Trabalhar contra uma nova Guerra Fria, pelo multilateralismo, pelo fortalecimento e criação de órgãos de governança global, pela negociação dos conflitos internacionais e pela cooperação econômica;
4) Incorporar o Brasil nos grande centros dinâmicos do capitalismo;
5) Modernizar o capitalismo brasileiro para abrir um novo ciclo de expansão de modo a criar riqueza e renda;
6) Diante do Estado deficitário, atrair investimentos privados nacionais e estrangeiros para um novo ciclo de desenvolvimento;
7) Investir pesadamente em pesquisa, ciência e tecnologia, buscando os diferenciais do Brasil principalmente na biotecnologia (não conseguiremos concorrer com a China na produção em larga escala de fogão e geladeira, mas poderemos concorrer com produção de vacinas, remédios, por exemplo), em tecnologias de fontes renováveis de energia, etc;
8-Reformar o Estado e a tributação para garantir o financiamento sustentável do Estado do Bem-Estar Social (a distribuição da riqueza não deve estar focada em transferência de rendas pelo Estado, por seus limites evidentes, mas no aumento da produtividade na economia privada e uma boa tributação).

O acerto de Netanyahu com a Justiça – Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Até Trump já desistiu da ideia de desterrar palestinos defendida agora por Netanyahu

O premiê Binyamin Netanyahu admitiu em público pela primeira vez que pretende “colocar em prática o plano do presidente Donald Trump”, referindo-se a expulsar os palestinos da Faixa de Gaza. O próprio Trump já abandonou a ideia, ao constatar que nenhum país árabe aceitaria o desterro dos palestinos.

Em reunião fechada do gabinete, Netanyahu admitiu que a destruição das casas dos palestinos de Gaza é proposital, para tornar inviável sua permanência, segundo o jornal The Times of Israel. O bloqueio da entrada de ajuda humanitária e os bombardeios são parte da mesma estratégia.

Os ministros das Finanças, da Segurança Nacional e das Relações Exteriores defendem a expulsão dos palestinos e a anexação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, onde vivem desde a expansão árabe do século 7.

Viver não é aprender? - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Pix, INSS e IOF: governo tropeça em siglas, posts e versões, oposição faz a festa

Vivendo e aprendendo, mas o governo parece não aprender nunca. Depois da crise do Pix, tão recente, a do IOF também começa com ministros batendo cabeça, evolui com o desprezo aos setores atingidos, explode com um anúncio mal planejado e executado e acaba num recuo vexaminoso, com a oposição soltando fogos, rojões e disparos certeiros nas redes sociais. O Congresso, claro, entra na festa.

Sem planos, o gasto avança sem rumo - Rolf Kuntz

O Estado de S. Paulo

Para ampliar com segurança o investimento governamental, as autoridades precisam reordenar seus gastos e economizar no custeio

Faz tempo, muito tempo, havia no Brasil uma prática muito difundida, há quase um século, entre engenheiros, economistas e até em alguns meios políticos. Construído entre 1965 e 1978, o Complexo de Urubupungá, formado pelas hidrelétricas de Ilha Solteira, Jupiá e Três Irmãos, é um produto dessa prática. A produção de energia elétrica na Bacia do Rio Paraná era uma ideia bem definida mais de dez anos antes, na primeira metade dos anos 50, quando o engenheiro Lucas Nogueira Garcez governava o Estado de São Paulo. Essa história é um exemplo daquela prática, batizada como planejamento.

Outras derrapadas do governo Lula - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

As lambanças do da equipe econômica na edição do pacote tributário destinado a reduzir o rombo fiscal não se limitaram à imposição do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre investimentos em fundos no exterior, rapidamente revertida pela equipe econômica, tão logo percebeu que caracterizava controle do fluxo de capitais. Elas se estenderam para outras decisões que integraram o cardápio do dia.

É o caso da imposição de um IOF de 5% sobre aportes mensais acima de R$ 50 mil em planos de previdência privada denominados Vida Gerador de Beneficio Livre (VGBL). O governo não diz como se cobrará esse imposto se o aplicador fizer vários investimentos pouco abaixo de R$ 50 mil por mês em várias instituições financeiras, dado que uma desconhece o que acontece na outra. Vai que o sujeito aplica, no mesmo dia, R$ 49 mil no Bradesco, outros R$ 49 mil no Safra e outros R$ 49 mil no Icatu. Não há mecanismo que compartilhe informações instantâneas entre instituições. Se a decisão for montá-lo a partir de agora, então a medida provisória não pode entrar em vigor na data da publicação, como pretendido.

O IOF encrenca nossa vida - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Bagunça e tretas escondem o fato de que o gasto cresceu e que IOF é droga ruim

A revisão bimestral das contas do governo foi uma bagunça. Fez a alegria de quem trata desse assunto chato e enrolado sem se ocupar de substância e efeitos econômicos, deitando e rolando na treta e na fofoca, em "bastidores".

Sim, quem não gosta de Fernando Haddad no governo —um monte de gente— aproveitou a ocasião para fritar ainda mais o ministro. Sim, política de corredor de palácio tem certa relevância, mas a maior parte é espuma e não depende de fofoca, mas de problemas reais. O problema de fundo é que Luiz Inácio Lula da Silva não comprou nem o plano moderado de Haddad de fazer funilaria e pintura nas contas do governo, que precisam de troca de motor e de freio.

Além da fofoca e da rendição no IOF sobre fundos que aplicam no exterior, quase se esqueceu do seguinte e essencial:

Centrão fecha cerco a Tarcísio - Catia Seabra

Folha de S. Paulo

No momento em que petistas e bolsonaristas lutam para sobreviver aos estilhaços do escândalo do INSS, Tarcísio é o preferido da vez

O governador Tarcísio de Freitas bem que tentou escapar de mais um palco montado pelo centrão para projeção de seu nome à Presidência da República.

No início de maio, ele alegou agenda cheia para justificar ausência na filiação do secretário da Segurança Pública de São PauloGuilherme Derrite, ao PP. Se a intenção era mesmo escapulir, como dizem seus aliados, não funcionou. Para garantir a presença de Tarcísio, o evento foi adiado por duas semanas.

Na festa desta quinta (22), enquanto índices de criminalidade batem recorde em São Paulo, o chefe da segurança pública foi aclamado como candidato ao Senado ou até herdeiro de Tarcísio.

Trump contra Harvard - Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

A guerra contra universidades é mais uma prova de que o americano pretende destruir a democracia

Na última semana, Trump proibiu a Universidade Harvard, a melhor do mundo, de receber estudantes estrangeiros. A decisão foi uma escalada dramática da guerra trumpista contra as universidades americanas, que já tinha atingido outras grandes escolas, como Columbia.

A decisão veio após Harvard se recusar a aceitar uma lista de demandas contida em uma carta do governo Trump de 11 de abril. Trata-se de um documento histórico importante para a análise do trumpismo.

Tempo paroxístico de monstros - Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

Cabe remontar ao sentido da palavra ‘monstrum’ para ponderar as evidências de formas voltadas para a destruição

Num dos episódios da série distópica "Black Mirror", soldados são programados por um chip cerebral para alterar a apreensão da realidade: olhando para pessoas comuns, supostamente inimigas, enxergam monstros. Ou seja, seres anômalos, fora dos parâmetros normais. "Monstrum", na Antiguidade, era o sinal dado aos homens pelos deuses de que uma coisa terrível estava para acontecer.

A palavra latina tem a mesma origem de "mostrar", mas acabou desviando-se da ideia de tornar algo visível para designar disformidades reais ou imaginárias, como Drácula e Frankenstein. Em termos de comportamento, costuma-se atribuir monstruosidade a figuras como HitlerStalin, Pol Pot, Bokassa, Pinochet e uma esteira de bárbaros nessa linha.

Imortalidades - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Novo livro de Eduardo Giannetti da Fonseca esmiúça as possibilidades seculares e religiosas de transcender a morte

"Imortalidades", o mais recente livro de Eduardo Giannetti da Fonseca, é muito bom. Trata do que possivelmente é o tema mais relevante que existe —a vida como a experimentamos é tudo o que há ou podemos transcendê-la?— e o faz com erudição, rigor e arte.

Antes de continuar, o alerta que costumo lançar quando o autor do livro que resenho é meu amigo. Sempre tento ser objetivo, mas a própria definição de amizade já embute uma boa dose de benevolência. Ciente disso, cabe ao leitor aplicar os descontos que julgar necessários.

"Imortalidades" consiste de 235 microensaios —forma a que Giannetti parece ter aderido definitivamente— que podem ser lidos de modo mais livre do que um texto corrido. Neles, o autor traça uma radiografia panorâmica das várias imortalidades que podemos conceber e as destrincha, recorrendo à ciência, à filosofia e à literatura.

Igualdade - Edilberto Pontes Lima:

O Povo (CE)

A desigualdade não é apenas uma estatística incômoda: é uma ameaça concreta à coesão social, à democracia e à esperança. Vivemos tempo em que poucos acumulam cifras incompreensíveis e muitos lutam por dignidade básica

Li recentemente o livro Igualdade, que é basicamente a reprodução de um instigante diálogo entre o economista francês Thomas Piketty e o filósofo americano Michael Sandel. O livro reconhece os avanços ao longo da história da humanidade, tanto na ampliação do acesso a bens e serviços, quanto nos direitos de participação política, mas aponta os imensos abismos ainda existentes. Ao longo da leitura, lembrei de uma reflexão cortante de Adam Smith, em A Riqueza das Nações: "Tudo só para nós e nada para outras pessoas parece ser, em qualquer época do mundo, a máxima vil dos que dominam a humanidade."

Não é uma frase de um panfleto revolucionário, mas de um pensador que fundou as bases do liberalismo econômico. E, no entanto, apesar dos progressos em várias áreas, a denúncia, como ressaltam Piketty e Sandel, ainda ecoa com força no mundo de hoje.

A nova elite política do estado do Rio de Janeiro: poder, território e disputa de hegemonia rumo a 2026 - Paulo Baía*

O Rio de Janeiro, esse território onde a beleza convive com a miséria, o esplendor urbano contrasta com a violência estrutural e a cultura vibrante se choca com os fantasmas do autoritarismo, segue sendo um dos principais laboratórios sociopolíticos do Brasil. Terra de contradições históricas, o estado fluminense abriga, em sua paisagem física e simbólica, a síntese das dinâmicas nacionais. E mais uma vez, às vésperas das eleições gerais de 2026, sua elite política se reorganiza, revelando os contornos de uma disputa que transcende partidos, ideologias e classes, assumindo contornos de luta civilizatória.

A elite política fluminense, como ensinam Wright Mills, Florestan Fernandes e Pierre Bourdieu, não se constrói apenas na esfera formal do jogo institucional. Ela é tecido vivo, bordado na intersecção de territórios, redes econômicas, grupos religiosos, oligarquias locais, movimentos sociais, estruturas empresariais, máquinas administrativas e, por vezes, zonas cinzentas onde o lícito e o ilícito se entrelaçam.

Poesia | CHICO ANYSIO diz poema de Ascenso Ferreira

 

Música | Folhas Secas - Luedji Luna (Sambabook Beth Carvalho)