sexta-feira, 18 de abril de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Asilo para peruana é injustificável

O Globo

Itamaraty não justificou por que Nadine Heredia sofreu perseguição política ao ser condenada por crime

Não há, até o momento, justificativa plausível para a decisão do governo brasileiro de conceder asilo diplomático a Nadine Heredia, mulher do ex-presidente peruano Ollanta Humala. Os dois foram condenados a 15 anos de prisão no Peru por lavagem de dinheiro, ao receber US$ 3 milhões da empreiteira Odebrecht para financiar a campanha eleitoral que levou Humala à Presidência em 2011. Nadine, influente durante o governo, foi cofundadora do Partido Nacionalista. Os detalhes foram revelados em 2016, durante as investigações da Operação Lava-Jato no Brasil.

Por aqui, processos por corrupção envolvendo a Odebrecht e outras empresas que confessaram crimes têm sido questionados com sucesso na Justiça, mas não sem controvérsia ou estranhamento da opinião pública. Independentes, os peruanos não têm nada a ver com isso — os fatos que levaram à condenação do casal foram examinados por juízes autônomos, de acordo com a lei do Peru. Em nome da relação estável entre os dois países, o governo brasileiro não deveria questionar as decisões do Judiciário peruano.

Em Lima, chamou a atenção a rapidez com que foram tomadas as decisões relativas ao asilo político. Nadine e seu filho chegaram à embaixada brasileira quando a sentença estava prestes a ser proferida. Em questão de horas, ela recebeu sinal verde da diplomacia brasileira. O salvo-conduto das autoridades locais não demorou, e logo os dois estavam num avião da FAB enviado especialmente para fazer o transporte ao Brasil. A deferência, além de incomum, é inexplicável do ponto de vista jurídico ou diplomático.

Hugo Motta ganha tempo - Vera Magalhães

O Globo

Presidente da Câmara quer passar imagem de democrata, mas adiar problemas pode ser visto como fraqueza política

O recesso branco da Câmara neste feriadão foi interrompido pela greve de fome do deputado Glauber Braga e pela precipitação do PL, que não esperou o coelho da Páscoa para protocolar o pedido de urgência ao projeto de anistia dos condenados do 8 de Janeiro. Nos dois casos, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), agiu com o mesmo expediente: à distância, procurou ganhar tempo e empurrar os pepinos para a frente.

Como se sabe que problemas adiados não deixam de existir, apenas se prolongam, a pauta da Casa presidida por Motta segue à mercê de fatos que passam ao largo daquilo que, ele prometeu, seria sua prioridade quando sucedeu a Arthur Lira: os grandes temas econômicos de interesse do Brasil, que não dissessem respeito apenas à polarização a cada ano acentuada entre PT e bolsonarismo.

A verdadeira urgência - Flávia Oliveira

O Globo

Uma menina morreu. Podia ser sua filha, neta, sobrinha, afilhada. Sarah Raíssa Pereira de Castro tinha 8 aninhos e a vida inteira pela frente. Não mais. Celular na mão, foi desafiada numa rede social a inalar desodorante aerossol. Sofreu uma parada cardiorrespiratória, e —apesar do esforço do avô, que a encontrou desacordada, e da equipe médica que tentou reanimá-la — sua morte cerebral foi constatada três dias depois da internação. A polícia do Distrito Federal abriu inquérito para apurar as circunstâncias do óbito e identificar os responsáveis pela viralização macabra. Em março, sem comoção, o Brasil já tinha perdido em situação semelhante Brenda Sophia Melo de Santana, de 11 anos, moradora de Bom Jardim, Agreste Pernambucano. A causa da morte foi “possível inalação, por via oral, de desodorante aerossol”. A família mencionou o desafio do desodorante, a que a pequena teve acesso também via internet.

O bispo que contestava – Bernardo Mello Franco

O Globo

Bispo irritou militares ao denunciar a tortura e apoiar movimentos por creches e moradia

Em novembro de 1978, a ditadura resolveu investigar um gibi. A repressão queria saber quem financiava “As Aventuras de Zé Marmita”. Distribuída na periferia de São Paulo, a revistinha narrava a rotina nas fábricas e incentivava os trabalhadores a lutarem por melhores condições de vida. Só podia ser coisa de dom Angélico, bispo tachado de subversivo e adversário do regime.

Na juventude, Angélico Sândalo Bernardino não sabia se queria ser padre ou jornalista. Resolveu o dilema ao unir as duas vocações, ajudando a Igreja a se comunicar com os fiéis. Antes de ser ordenado, ele já escrevia no Diário de Notícias, da diocese de Ribeirão Preto. Mais tarde comandaria as “rádios-cornetas”, com alto-falantes pendurados nos postes de favelas e ocupações.

Fábula sobre a prudência e riscos que rondam o governo - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Projeto de Diretrizes Orçamentárias para 2026 sinaliza frouxidão com as contas públicas e alimenta análises pessimistas em relação à inflação e ao equilíbrio fiscal após as eleições

Esopo nasceu provavelmente na Frígia (atual Turquia) entre o final do século VII a.C. e o início do século VI a.C. Pouco se sabe sobre sua vida, exceto que era um escravo que recorria às fábulas para traduzir sua sabedoria, muitas vezes com ironia, sem se expor em demasia aos senhores.

Sua obra chegou aos nossos dias porque foi exaltada pelos grandes filósofos gregos, entre os quais Heródoto, Platão e Aristóteles. Geralmente, Esopo recorria às características dos animais para traçar um paralelo com os bons e maus comportamentos humanos.

Os romanos Fedro (século I d.C.) e Bábrio (século II d.C.) traduziram Esopo para o latim, a partir do qual as narrativas foram retraduzidas e chegaram aos nossos dias. Ainda hoje suas fábulas são usadas na educação das crianças. A primeira edição impressa das Fábulas é de 1484, ou seja, quase 30 anos após a impressão da Bíblia de Gutemberg, de 1455.

Instrumentos - Laura Karpuska

O Estado de S. Paulo

No debate sobre o Orçamento, a pergunta que vale é: o que queremos da política pública?

Na economia, aprendemos que ter mais instrumentos melhora a capacidade de ação dos governos. Se há mais de um objetivo – estabilizar a economia, reduzir desigualdades, manter o equilíbrio fiscal –, então, faz sentido ter mais de uma ferramenta à disposição.

No Brasil, porém, há uma resistência curiosa a isso. Um exemplo é a vinculação do salário mínimo aos benefícios previdenciários. A regra, firmada nos governos Lula, tem peso simbólico, mas cria um problema prático: amarra dois instrumentos diferentes, que deveriam ser usados com autonomia.

O salário mínimo pode ser uma boa política de valorização do trabalho – especialmente em mercados onde empresas têm poder demais na fixação de salários. Em contextos assim, como o do Brasil, há evidências de que o aumento do salário mínimo ajudou a reduzir a desigualdade entre trabalhadores formais, sobretudo entre mulheres e trabalhadores menos qualificados. Um estudo do Ipea mostrou que, entre 2001 e 2011, a política teve impacto redistributivo importante, especialmente nas regiões Nordeste e Sul.

Prudência nunca é demais - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Presidente Lula e Alexandre de Moraes acertam no conteúdo e erram na forma de asilo e extradição

O Brasil debate sobre asilo e extradição, que envolvem política externa, mas tendem a ter grande repercussão na política doméstica, onde, nunca custa lembrar, a popularidade do presidente Lula não está nenhuma maravilha e o Supremo é alvo direto do bolsonarismo. Além de o governo mandar avião da FAB buscar no Peru uma ex-primeira-dama condenada por corrupção, o STF cobra reciprocidade e nega a extradição para a Espanha de um búlgaro acusado por tráfico de drogas no país.

Brasil e Peru são signatários da convenção de asilo diplomático da ONU, de 1954, que é justa, humanitária e bastante útil para acolher perseguidos políticos em regimes autoritários, que ameaçam até a vida de opositores. A questão é que Nadine Heredia e seu marido, o ex-presidente Ollanta Humala, já preso, não são alvo de perseguição política e sim condenados a 15 anos por corrupção.

Ora, o declínio da globalização... - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

O tarifaço do presidente Donald Trump, acompanhado das suas iniciativas isolacionistas, levou alguns analistas a concluir que o processo de globalização está em inexorável retração.

É uma afirmação apressada e temerária, até porque a pretensão do governo dos Estados Unidos não é acabar com a globalização, mas impor mudanças numa economia de abrangência global.

A globalização não começou ontem. Quando Alexandre, o Grande, conquistou o Oriente Médio e a Ásia, por volta do ano 320 a.C., toda essa região foi, de alguma forma, helenizada, e as relações econômicas e culturais passaram a ser compartilhadas entre aqueles povos. Em toda parte se falava grego, como hoje se fala inglês, e construíram-se teatros onde eram encenadas as tragédias de Eurípedes, Ésquilo e Sófocles.

A resposta somos nós - Eliana Lucena

Correio Braziliense

Povos indígenas defenderam, em Brasília, mais espaços nas discussões que envolvam não somente o seu futuro, mas o de toda a humanidade

Com grandes desafios pela frente, o país celebra neste sábado, dia 19, o Dia dos Povos Indígenas, após a realização do 21º Acampamento Terra Livre (ATL), em Brasília.  Durante a última semana, quem atravessou o portal que se abria para o acampamento com mais de 7 mil indígenas, representando 200 povos, sentiu o impacto da mobilização que reuniu desde líderes históricos, como Raoni Metuktire, a jovens que discutiram e levaram reivindicações aos representantes dos Três Poderes.

A caminhada dos indígenas até 2025 exigiu resistência para enfrentar grandes obstáculos. Durante a década de 1970, em pleno regime militar, para a realização de encontros, era preciso burlar a vigilância da Funai e dos órgãos de segurança do governo. Os primeiros de maior porte foram organizados pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em Diamantino, no Mato Grosso, e o segundo na Missão Cururu, no Pará, terra dos índios Munduruku.

Construção de um país mais justo exige reforma tributária progressiva - Maria Alice Setubal (Neca)

Folha de S. Paulo

Taxação mais elevada aos mais ricos não deve ser vista como punição, mas como passo essencial para um ambiente econômico mais equilibrado

Doutora em psicologia da educação (PUC-SP), é socióloga e presidente do Conselho da Fundação Tide Setubal

Tem sido crescente a minha preocupação com a concentração de riqueza e o combate às desigualdades no Brasil. Já me posicionei publicamente a favor da taxação progressiva dos chamados super-ricos por meio de uma reforma tributária que seja amplamente discutida com a sociedade.

Tenho atuado nessa causa articulando organizações sociais, pesquisadores acadêmicos e poder público. Nessa trajetória, estou convicta de que um dos caminhos eficazes para reduzir as disparidades estruturantes em nosso país é um sistema que atue como instrumento de equilíbrio, protegendo os que têm menos e fortalecendo a responsabilidade dos que mais podem contribuir —o oposto do que temos hoje.

Anistia como farsa – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

A ideia não é pacificar, mas fazer valer a versão de que agredir a democracia não é ato grave

anistia aos golpistas de variadas espécies é o tipo do assunto a respeito do qual é mais fácil falar do que realizar. Ainda assim, seus adeptos já foram além do aceitável: conseguiram pôr o tema em pauta e paralisar o Congresso em torno dele.

Brutalizados em 8 de janeiro de 2023, os três Poderes da República são agora instados a lidar com uma proposta de perdão dos crimes aos que propugnaram pelo fim do Estado de Direito em vigor no país há parcas quatro décadas.

Fala-se na produção de um acordo entre Executivo, Legislativo e Judiciário para se chegar a meios-termos entre condenações e impunidade.

Com ou sem tarifaço penal, anistia a 8/1 é descalabro - Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Pode-se discutir dosimetria do STF, mas gangsterismo para livrar a cara de golpistas e de Bolsonaro é inaceitável

Há um esforço de setores da ultradireita para fazer a sociedade brasileira engolir um projeto de lei que promova a anistia de envolvidos no ataque à democracia de 8 de janeiro e, por extensão, arrume um jeito —o verdadeiro objetivo— de permitir que Jair Bolsonaro concorra à eleição de 2026.

Entre cenas explícitas de desfaçatez e banditismo parlamentar, o PL, sigla do capitão, arregimenta apoios para abrir a porteira e deixar a boiada passar.

Toda a mistificação em torno da cabeleireira Débora Rodrigues, acusada de cinco crimes, presa preventivamente e ora em julgamento pelo STF, tem servido para maquiar a agressão golpista do 8/1. Teria sido um convescote de idosos desocupados e moças a fazer inocentes pichações em estátuas, usando um batom.

Julgando a Justiça - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Na mesma semana, Brasil dá asilo a condenada por corrupção no Peru e vê Espanha negar extradição de bolsonarista

A culpa é da Constituição. A contradição em potência dorme lá, no artigo 4º, que enumera os princípios pelos quais o Brasil se rege em suas relações internacionais. Os incisos III e IV mencionam a autodeterminação dos povos e a não intervenção, mas o X estampa a concessão de asilo político.

Inconsistências emergem porque a decisão de dar asilo envolve sempre um juízo qualitativo sobre as instituições do outro país, o que pode ser entendido como uma violação à sua soberania e uma interferência em seu sistema político-judicial.

Entrevista | Sidônio Palmeira: 'Faltou ao governo Lula comunicar a herança que encontrou'

Por Thiago Prado / O Globo

O homem responsável pela imagem do presidente Lula e do seu governo é o décimo entrevistado da série da newsletter com os mais importantes estrategistas políticos e donos de institutos de pesquisa do Brasil. O baiano Sidônio Palmeira foi o marqueteiro da campanha presidencial do petista, em 2022, contra Jair Bolsonaro, e, desde janeiro, comanda a Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República.

Sua chegada ao cargo ocorreu simultaneamente à divulgação de dados de pesquisas que mostraram a queda da aprovação popular do presidente. Sidônio é das figuras mais relevantes do Palácio do Planalto atualmente. Quase todo dia a agenda presidencial exibe um despacho matinal do ministro com Lula.

Na conversa que você, leitor, vai ler a seguir, o marqueteiro fala dos motivos que levaram o governo a ter piora nos índices de aprovação, detalha as iniciativas que podem fazer Lula virar o jogo da popularidade e responde a críticas dos colegas de profissão ouvidos por “Jogo Político” desde janeiro.

Abaixo os principais trechos do bate papo com o ministro.

Poesia | João Cabral de Melo Neto - Alguns toureiros

Música | Vanessa da Mata - Esperança

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