Asilo para peruana é injustificável
O Globo
Itamaraty não justificou por que Nadine
Heredia sofreu perseguição política ao ser condenada por crime
Não há, até o momento, justificativa
plausível para a decisão do governo brasileiro de conceder asilo diplomático a
Nadine Heredia, mulher do ex-presidente peruano Ollanta Humala. Os dois foram
condenados a 15 anos de prisão no Peru por lavagem
de dinheiro, ao receber US$ 3 milhões da empreiteira Odebrecht para financiar a
campanha eleitoral que levou Humala à Presidência em 2011. Nadine, influente
durante o governo, foi cofundadora do Partido Nacionalista. Os detalhes foram
revelados em 2016, durante as investigações da Operação Lava-Jato no Brasil.
Por aqui, processos por corrupção envolvendo
a Odebrecht e outras empresas que confessaram crimes têm sido questionados com
sucesso na Justiça, mas não sem controvérsia ou estranhamento da opinião
pública. Independentes, os peruanos não têm nada a ver com isso — os fatos que
levaram à condenação do casal foram examinados por juízes autônomos, de acordo
com a lei do Peru. Em nome da relação estável entre os dois países, o governo
brasileiro não deveria questionar as decisões do Judiciário peruano.
Em Lima, chamou a atenção a rapidez com que foram tomadas as decisões relativas ao asilo político. Nadine e seu filho chegaram à embaixada brasileira quando a sentença estava prestes a ser proferida. Em questão de horas, ela recebeu sinal verde da diplomacia brasileira. O salvo-conduto das autoridades locais não demorou, e logo os dois estavam num avião da FAB enviado especialmente para fazer o transporte ao Brasil. A deferência, além de incomum, é inexplicável do ponto de vista jurídico ou diplomático.