quarta-feira, 2 de abril de 2025

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Erros no Pé-de-Meia expõem descontrole de programas sociais

O Globo

Em pelo menos três cidades havia mais alunos recebendo o benefício do que matriculados nas escolas

O governo Luiz Inácio Lula da Silva tem sido pródigo em criar programas sociais, seguindo a receita que funcionou em seus mandatos anteriores para conquistar popularidade. A despeito da relevância de várias iniciativas, é óbvio que, por mais bem-intencionadas que sejam, não prescindem de controle rigoroso. Os programas precisam ter foco, para que recursos públicos não sejam destinados a quem não precisa ou desviados. Não é o que se tem visto. Vira e mexe, surgem indícios de descontrole.

O exemplo mais recente é o Pé-de-Meia, lançado no ano passado para incentivar, por meio de poupança, a permanência de alunos do ensino médio em sala de aula — a evasão é um dos maiores problemas do segmento. Um levantamento realizado a partir de dados do programa mostrou que, em pelo menos três cidades de três estados (Bahia, Pará e Minas Gerais), o número de beneficiários era maior que o de matriculados na rede pública. Em 15 municípios de cinco unidades da Federação, o programa atende mais de 90% dos estudantes do ensino médio, percentual que chama a atenção. Em alguns casos, há indícios de que os contemplados têm renda acima da permitida.

Direita vive maré baixa, mas Lula não aproveita - Vera Magalhães

O Globo

Nem dificudades de Bolsonaro nem medidas pensadas para melhorar popularidade do presidente conseguem levar o governo a retomar o comando da agenda legislativa e política

Pela primeira vez em algum tempo, a direita e a extrema direita brasileiras parecem desorientadas diante do agravamento da situação judicial de Jair Bolsonaro e seu entorno. O surpreendente é que nem isso tem sido suficiente para que o governo Lula, que já navega sem bússola há mais tempo que seus opositores, encontre o rumo da retomada da agenda do país e da popularidade perdida.

O presidente foi à Ásia e voltou, se fez acompanhar de todos os responsáveis pelo andamento do Congresso e, ainda assim, não há garantia de que conseguirá de novo assumir o comando da agenda legislativa, algo que não tem desde o fim de 2023.

Lula tinha a faca e o queijo na mão para — depois de tanto tempo de conversas ao pé do ouvido com Hugo Motta, Davi Alcolumbre e seus antecessores, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco — voltar com a reforma ministerial resolvida e a pauta de votações acordada. Mas o que os viajantes encontraram foi uma pressão do PL pela votação da anistia para os condenados do 8 de Janeiro, que está longe de ser um clamor popular e interessa apenas a Bolsonaro e aos seus.

A rinha dos governadores - Bernardo Mello Franco

O Globo

Com Jair Bolsonaro mais perto da cadeia, a direita começa a viver um clima de prévias presidenciais. Quatro governadores sonham com o espólio do capitão em 2026. O mais ansioso é Ronaldo Caiado, de Goiás. Na sexta-feira, ele voará 1.200 quilômetros para lançar sua pré-candidatura em Salvador.

Caiado é uma velha novidade. Já concorreu ao Planalto em 1989, como porta-voz dos ruralistas. Sua campanha ficou marcada por lances pitorescos. Ele aparecia no horário eleitoral montado num cavalo branco, como se estivesse num filme de faroeste. Em debate na TV, escancarou o elitismo ao ostentar uma especialização médica na Europa. “Essas mãos foram adestradas em Paris”, jactou-se.

O goiano tentou se vender como antagonista do PT, mas foi atropelado pelo furacão Fernando Collor. Terminou em 10º lugar, com menos de 1% dos votos. Três décadas e meia depois, seu desafio é garantir legenda para ser candidato de oposição. Ele é filiado ao União Brasil, que controla três ministérios no governo Lula.

O MEC deve defender o Pé-de-Meia – Elio Gaspari

O Globo

Expandir a denúncia é o melhor remédio

O Pé-de-Meia é o melhor programa social do terceiro mandato de Lula. Ele busca incentivar jovens carentes a permanecer nas salas de aula do ensino médio, oferecendo-lhes bolsas de R$ 1.000 ao fim de cada ano letivo concluído. O repórter André Shalders mostrou que o programa está contaminado por fraudadores. Numa balbúrdia de estatísticas, há cidades onde o número de bolsistas é maior que o de estudantes. Riacho de Santana, na Bahia, teve 1.231 bolsistas. A direção do único colégio público da cidade informa que há só 1.024 matriculados no ensino médio. A Secretaria de Educação do estado diz que os alunos são 1.677. Para o MEC, seriam 1.860. Seja qual for o número certo, há gato na tuba.

Nos últimos tempos, o MEC teve dois programas ambiciosos: o ProUni e o Fies. O primeiro matriculou em faculdades privadas estudantes bem colocados no Enem. Sucesso, não custou um centavo, pois as bolsas compensavam isenções tributárias concedidas havia tempo. O Fies, em tese, financiava estudantes de faculdades privadas. Fracasso, emprestava sem fiador a jovens com desempenhos medíocres no Enem. Na vida real, repassaram-se para a Viúva as carteiras de inadimplência dos maganos do ensino superior privado. O Fies resultou num rombo estimado em R$ 20 bilhões.

Brasil não deve despertar velhos ressentimentos dos paraguaios – Luiz Carlos Azedo

Correio Brasiliense

Funcionário da Abin revela que a agência fez invasões de hacker a sistemas do Congresso, da Presidência e de autoridades do Paraguai envolvidas nas negociações de Itaipu

Segundo volume da coleção Plenos Pecados, da Editora Objetiva, Xadrez, Truco e Outras Guerras, do escritor José Roberto Torero, é inspirado na Guerra do Paraguai (1865-1870), o maior conflito armado em que o Brasil esteve envolvido no continente. Os demais livros, sem spoiler, são Mal Secreto, de Zuenir Ventura (Inveja); O Clube dos Anjos, de Luís Fernando Verissimo (Gula); A Casa dos Budas Ditosos, de João Ubaldo Ribeiro (Luxúria); Canoas e Marolas, de João Gilberto Noll (Preguiça); Terapia, de Ariel Dorfman (Avareza); e Voo da Rainha, de Tomás Eloy Martínez (Soberba).

O livro de Torero é uma sátira meio macabra envolvendo pessoas em conflitos durante a Guerra do Paraguai. Seu pecado capital é a ira. O livro narra de forma ficcional a implacável perseguição ao Mariscal (marechal) Francisco Solano López, o ditador do Paraguai, de mando do príncipe francês Gastão de Orléans, o Conde d'Eu, capitão de cavalaria na Guerra Hispano-Marroquina e comandante-chefe do exército imperial na Guerra do Paraguai, casado com a Princesa Isabel, a herdeira do trono brasileiro. O trauma dessa guerra até hoje alimenta ressentimentos dos paraguaios. Morreram 90% dos homens acima de 20 anos do Paraguai.

Golpe de 64: políticas de memória para a não repetição de ameaças à democracia -Ana Maria Oliveira ^

Correio Braziliense

Vivemos o julgamento de uma tentativa de golpe de Estado no Brasil, em pleno século 21. Nosso momento atual demonstra de forma cabal a necessidade de levarmos a sério a justiça de transição no nosso país

Na data em que relembramos os 61 anos do golpe de Estado de 1964, resultando em mais de duas décadas de ditadura militar e de terrorismo de Estado, o Conselho da Comissão de Anistia reafirma o papel fundamental das políticas de memória, verdade, reparação, justiça e reformas estruturais para a defesa da democracia e a produção de garantias de não repetição.

A Comissão de Anistia, nos dois últimos anos do governo Lula, retomou a apreciação de requerimentos de perseguidos políticos entre 1946 a 1988 que, no governo anterior, foram alvo de negacionismo histórico, com novas perseguições e revitimização de pessoas que, em vez de serem reparadas, como manda o Art.8º do ADCT da Constituição de 1988, foram constrangidas a ouvir que as torturas, arbitrariedades, cerceamento de direitos e liberdades fundamentais que sofreram não passaram do exercício de dever público e que não teríamos vivido uma ditadura entre 1964 e 1988, mas, sim, uma democracia. 

Tarifaço pode ajudar líderes com baixa popularidade - Fernando Exman

Valor Econômico

Nem mesmo adversários conseguem agora se alinhar totalmente a Trump

Um fenômeno tem sido observado, nas Américas e na Europa, e sua chegada ao Brasil não deve ser descartada a partir desta quarta-feira (2), quando o presidente Donald Trump anunciar o prometido choque tarifário sobre produtos importados pelos Estados Unidos. Líderes que adotaram uma postura de contraposição inteligente em relação ao americano estão mais populares dentro de casa.

A ameaça de Trump não é desprezível. A alta tarifária pode chegar a 20% ou 25% contra produtos de praticamente todos os parceiros comerciais dos Estados Unidos, e seus impactos econômicos são ainda incertos.

Por enquanto, o Brasil tem se beneficiado com a desvalorização do dólar em relação ao real. E a maior exposição do México às erráticas políticas da Casa Branca favorece o mercado brasileiro, diante da possibilidade de os investidores globais repensarem a alocação de seus recursos.

De novo, socorro financeiro a Estados ¬- Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Uma solução estrutural de médio prazo para o problema dos avais não honrados deverá ser incluída em um decreto que regulamentará o Programa de Pleno Pagamento da Dívida dos Estados

Em janeiro de 1999, o então recém-empossado governador de Minas Gerais, Itamar Franco, provocou tumulto nos mercados e volatilidade no câmbio ao anunciar uma moratória de 90 dias nas dívidas de seu Estado com a União e com organismos internacionais de crédito.

Do ponto de vista político, o furdunço puxou uma onda de pressões dos Estados para renegociar as dívidas com o Tesouro Nacional, o que de fato acabou se concretizando em 2001.

Do ponto de vista financeiro, a suspensão dos pagamentos à União teve pouco efeito, pois as parcelas da dívida mineira estavam em “débito automático”. Por contrato, podiam ser deduzidas do Fundo de Participação dos Estados (FPE) ou da própria arrecadação do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Já a suspensão da dívida externa obrigou o governo federal a honrar as parcelas, pois a União é avalista nessas operações.

Centrais entregarão a Lula e presidentes de Poderes carta com reivindicações

Painel / Folha de S. Paulo

Entidades farão caminhada em Brasília como parte da programação do Dia do Trabalhador

Dirigente das principais centrais sindicais do país entregarão ao presidente Lula e aos chefes dos demais Poderes um documento com suas principais reivindicações, após uma caminhada em Brasília no dia 29 de abril.

Os encontros integram a programação das entidades em comemoração ao Dia do Trabalhador, que culminará em um ato no dia 1º de maio na praça Campo de Bagatelle, na zona norte de São Paulo.

O texto contendo as pautas prioritárias da classe trabalhadora será entregue a Lula e aos presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), do STF, Luís Roberto Barroso, e do TST (Tribunal Superior do Trabalho), Aloysio Corrêa da Veiga.

Entre os temas principais da pauta estão redução da jornada de trabalho sem redução salarial, fim da carestia, isenção do Imposto de Renda até R$ 5.000, menos juros e mais empregos, além da igualdade salarial entre homens e mulheres.

Também haverá programação a partir do dia 9 de abril, com a realização de debates, seminários e atividades culturais promovidos por sindicatos, federações e confederações.

A ação unificada, batizada de "Por um Brasil mais justo: Solidário, Democrático, Soberano e Sustentável", tem apoio de CUT, Força Sindical, UGT, CTB, CSB, Nova Central, Pública e Intersindical.

 

A antidemocracia não pode compensar - Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

É hora de aplicar aos golpistas o mesmo punitivismo que o bolsonarismo sempre exigiu contra qualquer criminoso comum

Uma das características mais marcantes da extrema direita é a clareza com que defende que a punição severa e exemplar de qualquer comportamento desviante ou ilícito é o modo mais eficaz de manter a sociedade na linha. Um bom punitivista desdenha de quem busca compreender as causas sociais do comportamento e desconfia de garantias legais, como o devido processo, a presunção de inocência e o direito de defesa. Tudo isso —dirá— é parte da cultura de complacência progressista que mantém alta a criminalidade, a desordem e o desrespeito à lei no país.

Não tenho dúvida de que a abordagem punitivista do crime —muito mais próxima da percepção e do desejo da maioria dos brasileiros do que a exaurida perspectiva da esquerda— é uma das razões do sucesso popular do bolsonarismo.

Trump e EUA reclamam até da rua de 25 de Março - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Alvos americanos são variados, mostra relatório do Representante de Comércio dos Estados Unidos

O Brasil quase não tem o que fazer na hipótese de levar pauladas comerciais dos Estados Unidos. Para piorar, os ataques podem ir além de retaliações no comércio. É importante lembrar também que a discussão vai muito além de impostos de importação, "tarifas", apesar da simplificação midiática que se lê e ouve sobre o assunto, as "tarifas recíprocas".

Seja lá o tiro, a pancada e a bomba que venham de Donald Trump nesta quarta, responder com aumento de importação sobre algum produto americano seria providência burra. Apenas aumentaria custos de matérias-primas, partes, peças, máquinas, encarecendo a produção nacional e até exportações brasileiras de bens complexos, como aviões.

Le Pen, lawfare ou justiça? - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Decisão que impôs inelegibilidade à líder da extrema direita francesa não parece caso de instrumentalização do Judiciário para objetivos políticos

Há duas maneiras de interpretar a inelegibilidade imposta a Marine Le Pen por uma corte francesa.

Na visão da extrema direita, o establishment encontrou uma forma de "roubar" previamente a eleição presidencial de 2027, para a qual a líder da Reunião Nacional (RN) já despontava como favorita nas pesquisas.

O que está por trás do projeto da anistia - Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Em mais um capítulo da queda de braço entre o Congresso e o STF, os alvos são Moraes e Dino

Engana-se quem pensa que somente o PL de Jair Bolsonaro pressiona o presidente da Câmara, Hugo Motta, para pôr em votação o projeto de lei que concede anistia aos envolvidos na trama golpista de 8 de janeiro de 2023.

Nos bastidores, partidos que compõem a base aliada do governo e controlam ministérios também iniciaram uma ofensiva para emplacar a pauta. A estratégia tem potencial para prejudicar votações de interesse do Palácio do Planalto em um momento de queda de popularidade do presidente Lula.

O apoio ao projeto em bancadas que vão do MDB ao núcleo duro do Centrão não é apenas para salvar Bolsonaro, que virou réu sob acusação de tentativa de golpe, ou mesmo para perdoar quem promoveu atos contra a democracia, o que já seria grave.

Na prática, trata-se de mais um capítulo da queda de braço do Congresso com o Supremo Tribunal Federal (STF). E os dois alvos são Alexandre de Moraes, relator do inquérito sobre a trama golpista, e Flávio Dino, magistrado que tenta fechar o duto do dinheiro público desviado por emendas parlamentares.

O Flâneur napolitano - Vagner Gomes*

Para Frida Pimentel Gomes de Souza, minha primeira leitora mais crítica.

O que estou pensando? Confesso que uma infinidade de “ruídos” estimulados após assistir a película “Parthenope: Os Amores de Nápoles” uma vez que sua mensagem ao contrário de “arrepiar” seria de “depilar” nas mais íntimas considerações. Confesso que não é um filme para ser assistido por “principiantes” do universo do cinema italiano. Aqueles que se emocionaram com “Ainda estou Aqui” poderiam se escandalizar com algumas mensagens, porém ainda está aqui, nesse filme italiano, o importante diálogo dos efeitos da ausência de uma maternidade.

O filme é um balanço de uma juventude que viveu a liberdade sexual nos anos 60 num mundo católico, mas com fortes bases culturais na história das ideias. Particularmente o pensamento republicano neorromano da liberdade individual que nasce na liberdade de uma cidade. Então, temos a personagem Parthenope nascendo nas águas napolitanas como se fosse envolta num mistério que a vincula ao corpo da cultura política de Nápoles. Imaginaria a reação de Quentin Skinner em seus 84 anos assistindo a essa película. O que ele estaria a pensar?

Russificação ou putinização - Aylê-Salassie Filgueiras Quintão*

Tem louco pra tudo. Vladimir Putim acaba de anunciar , num encontro  chamado de International Artic Forum, o domínio russo sobre o   território da Groelândia, que, legitimamente,  pertence a Dinamarca. Em sua fala, ele anexava praticamente  a Groelândia, a maior ilha do mundo (2,1 milhões de quilômetros quadrados) à Federação Russa, numa clara respostas às intenções de Donald  Trump, dos Estados Unidos,  de também ocupar o território. Putim tem um projeto chamado de  Rota do Ártico, similar á tal Rota da Seda, dos chineses, que, segundo ele, já está sendo executado, e que dá volta à terra atravessando o Polo Ártico.

Sai de  Murmansk, no extremo norte da Rússia, divisa com a Finlândia (eles está preocupados),  passa pelo  estreito de Bhering, ao lado do Alasca, e chega a Vladivostok, maior porto da Rússia no Oceano Pacífico, onde vai encontrar-se com  a ferrovia Transiberiana (7,6 mil quilômetros de extensão). Por  meio dela a tal Rota do Ártico atinge Moscou e São Petersburgo. Dizendo-se preocupado - talvez para não assustar - , com o meio ambiente   na majestosa ilha do Ártico, ele parece visualizar um grande negócio no derretimento do gelo no polo Ártico. 

Poesia :: Tempo vivo - Marcelo Mário de Melo

Abrindo abril

pulsam lembranças

molhadas de sangue

e cicatrizes

impressas no corpo

calcando a mente.

 

Tempo 

de terror e treva 

tensão 

tortura 

e mantos mortuários 

percorrendo os cárceres 

e a prisão domiciliar 

de todo o povo.

 

Tempo

de canteiros clandestinos

e vaga-lumes insurgentes

em rodas de ciranda 

 multiplicando as mãos 

na dança.

 

Tempo

de restos insepultos 

que advertem

na travessia 

dos abris de agora.