Muito gradualmente - alguns diriam de forma insuportavelmente lenta - o Brasil começa a corrigir as profundas distorções no tratamento desigual dado a homens e mulheres no campo do trabalho e a minorias na vida em sociedade. As distorções continuam gigantescas, mas existem indícios de que mais dirigentes de empresas e de governos, em suas várias instâncias, começam a prestar atenção na importância da valorização da diversidade. Essa preocupação tende a crescer conforme são divulgadas análises que comprovam que quanto mais diversificada é a equipe de uma organização, mais competitiva ela é.
Um estudo divulgado em agosto no ano passado pelo IBGE pode ser tomado como retrato fiel do que ainda acontece com os salários de homens e mulheres. De acordo com esse levantamento, a diferença salarial média entre homens e mulheres nas empresas diminuiu nesta década. Em 2015, os homens receberam, em média, R$ 2.708,22 e as mulheres, R$ 2.191,59, o que representa uma diferença de 23,6%. Em 2014, em valores da época, os homens receberam, em média, R$ 2.521,07, e as mulheres, R$ 2.016,63, uma diferença de 25%. Os pesquisadores do IBGE também notaram que, desde 2010, a participação da mulher entre os trabalhadores de empresas cresce. Naquele ano, as mulheres eram responsáveis por 42,1% do pessoal assalariado no país; em 2015, essa proporção passou a ser de 44%. Nas empresas de maior porte, a participação feminina é maior. Nas companhias com mais de 150 trabalhadores, 46,4% dos empregados eram mulheres. Esse percentual é de 38,2% nas empresas de 50 a 249 empregados e de 41,6%, naquelas de porte entre 10 e 49 empregados.
A falta de diversidade de gênero e cultural nas empresas e organizações de forma geral não é, obviamente, uma exclusividade brasileira. Ao contrário. Na América Latina, os problemas talvez sejam ainda maiores do que no Brasil. Em dezembro, o Valor publicou levantamento da consultoria Mercer informando que a participação feminina no mercado de trabalho latino-americano está estagnada e é muito pequena nos cargos mais altos das empresas.
Com a participação de 202 empresas da região, o estudo apurou que, apesar de as mulheres representarem 39% dos funcionários em nível operacional, essa participação cai para 31% nos cargos gerenciais, e apenas 25% dos gestores seniores são do sexo feminino. Em cargos ainda mais altos a participação das mulheres fica em apenas 16%. O estudo destacou algumas razões para a estagnação da presença feminina nas empresas.
Mais mulheres do que homens frequentam a universidade na América Latina, mas eles continuam dominando as áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, que são os campos em que surgem mais oportunidades de trabalho e que mais vão crescer nos próximos anos em termos de oferta para funcionários. As mulheres, por sua vez, continuam sendo as principais responsáveis pelos cuidados de pais idosos e de crianças.
Várias iniciativas - tanto na esfera governamental como no mundo corporativo - tentam diminuir essas diferenças e ampliar o escopo de diversidade dos trabalhadores. Estudo recentemente divulgado pela consultoria McKinsey reforça que existe uma clara vinculação entre diversidade e a performance financeira das companhias, sugerindo como organizações podem adotar estratégias de inclusão para obter maior competitividade.
O trabalho - que define diversidade como uma maior proporção de mulheres e uma composição mais heterogênea étnica e cultural na cúpula das empresas - analisou dados de mais de mil companhias de 12 países, medindo não apenas lucratividade (em termos de ganhos antes do pagamento de juros e de impostos) mas também criação de valor a longo prazo.
A mesma pesquisa tinha sido feita pela McKinsey em 2014. Naquela época, constatou-se que companhias nas quais o grau de diversidade de gênero as colocava entre as 25% melhores nesse item eram 15% mais propensas a serem mais lucrativas do que a média. No levantamento conduzido no ano passado esse indicador passou a 21%.
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