DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Nas situações de estresse, os investidores buscam liquidez e promovem um cumulativo processo de queda de preços
O FASB (conselho encarregado de zelar pela observância das regras contábeis nos Estados Unidos) anuncia mudanças nos critérios de "precificação" dos ativos. Na última quinta-feira, os especialistas na matéria recomendavam os rigores da marcação a mercado: as negociações diárias deveriam estabelecer o valor dos ativos e das dívidas. Assim, o volume de transações e os preços de cada momento explicitariam o estado de expectativas que comanda os negócios e colocariam à prova a capacidade dos gestores de recursos em antecipar corretamente as tendências do mercado. No jogo da concorrência, o desempenho inferior à média é punido com a perda de clientes.
A acumulação de riqueza financeira, em tese, se distribui por uma variedade de títulos e valores, papéis com distintos graus esperados de liquidez e de rentabilidade. Cada detentor de riqueza financeira "escolhe" sua própria carteira de ativos na busca da combinação ótima entre esses dois fatores.
Em um modelo simplificado de dois ativos -moeda e títulos- essa condição pode ser retratada, como Keynes o fez, figurando a existência de dois grupos: os "baixistas", que antecipam o aumento da taxa de juros e a queda dos preços dos títulos, e os "altistas", os que preveem a queda da taxa de juros e a consequente elevação dos preços dos títulos. Para que os mercados funcionem de forma razoavelmente estável, é imprescindível a diversidade de opiniões. Essa divisão não precisa ser perfeitamente equilibrada, mas admite a predominância temporária de uma das facções e supõe que detentores de riqueza mudem de opinião, caso considerem os preços dos ativos e dívidas (e as taxas de juros) no seu limite convencional de baixa (ou de alta). A palavra convencional é escorregadia, mas incontornável.
Mercados profundos e líquidos ajudam no amortecimento das oscilações de preços. Em tais circunstâncias, é de esperar certo equilíbrio (instável) na divisão de opiniões entre baixistas e altistas. No mundo ideal da divisão equilibrada de opiniões, os mercados se comportariam de acordo com a Hipótese dos Mercados Eficientes: as transações formariam preços compatíveis com os valores fundamentais dos ativos.
A mudança nas regras contábeis busca aumentar a eficácia das sucessivas e maciças "injeções" de dinheiro nas instituições carregadas de ativos sem possibilidade de transações entre os agentes privados, seja qual for o preço. Na dura realidade da vida financeira de nosso tempo, isso significa simplesmente que o mercado para as transações com esses papéis desapareceu. Nas situações de estresse em que as opiniões se concentram em torno de expectativas baixistas, os investidores correm para a liquidez e, assim, promovem um processo cumulativo de queda de preços.
A diversificação do risco só existiu na fantasia dos insensatos. O risco espalhou-se como pandemia, com enorme poder de contaminação. Em tais ocasiões, desaparece o suposto que sustenta a inexistência de correlação entre os preços dos ativos. O irrealismo é chamado à triste realidade do desespero das ordens de venda dos ativos mais líquidos.
Luiz Gonzaga Belluzzo, 66, é professor titular de Economia da Universidade Estadual de Campinas. Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (governo Quércia).
Nas situações de estresse, os investidores buscam liquidez e promovem um cumulativo processo de queda de preços
O FASB (conselho encarregado de zelar pela observância das regras contábeis nos Estados Unidos) anuncia mudanças nos critérios de "precificação" dos ativos. Na última quinta-feira, os especialistas na matéria recomendavam os rigores da marcação a mercado: as negociações diárias deveriam estabelecer o valor dos ativos e das dívidas. Assim, o volume de transações e os preços de cada momento explicitariam o estado de expectativas que comanda os negócios e colocariam à prova a capacidade dos gestores de recursos em antecipar corretamente as tendências do mercado. No jogo da concorrência, o desempenho inferior à média é punido com a perda de clientes.
A acumulação de riqueza financeira, em tese, se distribui por uma variedade de títulos e valores, papéis com distintos graus esperados de liquidez e de rentabilidade. Cada detentor de riqueza financeira "escolhe" sua própria carteira de ativos na busca da combinação ótima entre esses dois fatores.
Em um modelo simplificado de dois ativos -moeda e títulos- essa condição pode ser retratada, como Keynes o fez, figurando a existência de dois grupos: os "baixistas", que antecipam o aumento da taxa de juros e a queda dos preços dos títulos, e os "altistas", os que preveem a queda da taxa de juros e a consequente elevação dos preços dos títulos. Para que os mercados funcionem de forma razoavelmente estável, é imprescindível a diversidade de opiniões. Essa divisão não precisa ser perfeitamente equilibrada, mas admite a predominância temporária de uma das facções e supõe que detentores de riqueza mudem de opinião, caso considerem os preços dos ativos e dívidas (e as taxas de juros) no seu limite convencional de baixa (ou de alta). A palavra convencional é escorregadia, mas incontornável.
Mercados profundos e líquidos ajudam no amortecimento das oscilações de preços. Em tais circunstâncias, é de esperar certo equilíbrio (instável) na divisão de opiniões entre baixistas e altistas. No mundo ideal da divisão equilibrada de opiniões, os mercados se comportariam de acordo com a Hipótese dos Mercados Eficientes: as transações formariam preços compatíveis com os valores fundamentais dos ativos.
A mudança nas regras contábeis busca aumentar a eficácia das sucessivas e maciças "injeções" de dinheiro nas instituições carregadas de ativos sem possibilidade de transações entre os agentes privados, seja qual for o preço. Na dura realidade da vida financeira de nosso tempo, isso significa simplesmente que o mercado para as transações com esses papéis desapareceu. Nas situações de estresse em que as opiniões se concentram em torno de expectativas baixistas, os investidores correm para a liquidez e, assim, promovem um processo cumulativo de queda de preços.
A diversificação do risco só existiu na fantasia dos insensatos. O risco espalhou-se como pandemia, com enorme poder de contaminação. Em tais ocasiões, desaparece o suposto que sustenta a inexistência de correlação entre os preços dos ativos. O irrealismo é chamado à triste realidade do desespero das ordens de venda dos ativos mais líquidos.
Luiz Gonzaga Belluzzo, 66, é professor titular de Economia da Universidade Estadual de Campinas. Foi chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos do Ministério da Fazenda (governo Sarney) e secretário de Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo (governo Quércia).
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