quinta-feira, 26 de junho de 2025

Opinião do dia – Antonio Gramsci*

I. Alguns pontos preliminares de referência

Nota IV. Criar uma nova cultura não significa apenas fazer individualmente descobertas “originais”; significa também, e sobretudo, difundir criticamente verdades já descobertas, “socializá-las” por assim dizer; e, portanto, transformá-las em base de ações vitais, em elemento de coordenação e de ordem intelectual e moral. O fato de que uma multidão de homens seja conduzida a pensar coerentemente e de maneira unitária a realidade presente é um fato “filosófico” bem mais importante e “original” do que a descoberta, por parte de um “gênio” filosófico, de uma nova verdade que permaneça como patrimônio de pequenos grupos intelectuais.

*Antonio Gramsci (1891-1937), Cadernos do Cárcere, v. 1, p.95-6. 5ª edição – Civilização Brasileira, 2011.

O que a mídia pensa | Editorials / Opiniões

Apagão fiscal está mais próximo do que se imagina

O Globo

Sem medidas estruturais de controle de gastos, IFI prevê dificuldade para governo funcionar já em 2026

Com um governo que só quer saber de gastar e um Congresso que só defende a austeridade da boca para fora, não poderia ser diferente. A irresponsabilidade crônica cobrará um preço alto. O apagão fiscal está mais próximo do que se costuma imaginar. O risco de colapso da capacidade administrativa do governo é iminente, de acordo com os cálculos da Instituição Fiscal Independente (IFI). A persistirem as regras atuais de indexação de gastos, o contingenciamento necessário para cumprir a meta do arcabouço fiscal aumentará a ponto de, já no ano que vem, tornar inviáveis as despesas do governo com custeio da máquina pública e investimentos.

Como se formam os golpistas? - Eugênio Bucci

O Estado de S. Paulo

O enredo que nos trouxe até aqui, misturando degradação institucional, escárnio escrachado e realismo fantástico, tem se mostrado imprevisível

Pela primeira vez na História do Brasil, militares de alta patente, acompanhados de um ex-presidente da República, tomam assento no banco dos réus. Eles são acusados de organização criminosa armada e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, entre outros crimes. A notícia é tão inusitada que parece boa, mas, na verdade, é apenas um começo.

Por certo, o processo que corre no Supremo Tribunal Federal (STF) reluz pelo ineditismo. Diferentemente do que se via no passado, o Brasil não deixa mais por isso mesmo. Agora, há um esforço para responsabilizar os que atentaram contra a normalidade democrática. As coisas avançam semana a semana. Os integrantes do “núcleo crucial” da trama, conforme o nomeou a Procuradoria-Geral da República, tiveram de comparecer aos interrogatórios. Agora, houve uma acareação momentosa entre o tenente-coronel Mauro Cid e o general Walter Braga Netto.

A verdadeira representatividade - Merval Pereira

O Globo

Qualquer eleição pode ser influenciada por diversos fatores que desvirtuam a vontade real da maioria

Já escrevi diversas vezes que não considero correta a tese de que a composição do Congresso represente o povo brasileiro. Equivaleria a dizer que críticas a decisões dos parlamentares seriam críticas aos cidadãos que os colocaram lá. Como se não houvesse manipulação na lista apresentada pelos partidos aos eleitores, ou se os votos de cabresto não existissem mais.

A cada indício de que as máquinas governamentais são usadas na captura de votos; a cada indicação de que milícias ou facções criminosas aumentam seus interesses nas decisões políticas, escolhendo candidatos; sempre que o aumento da influência das religiões na política se evidencia; quando os lobbies econômicos interferem nas votações — tudo isso deixa claro que o resultado da composição da Câmara dos Deputados, do Senado, das Assembleias Legislativas e das Câmaras dos Vereadores tem mais a ver com interferências externas do que com a representação da sociedade.

A perversidade do juro alto para o desenvolvimento - José Serra

O Estado de S. Paulo

Passar um ano com taxa real de 9% é crer que a violência do instrumento é um fim em si mesmo, não contra a inflação, mas contra a própria economia

O País foi brindado com um novo aumento da taxa de juros básica da economia, na semana passada. O Copom alterou a taxa Selic, base das operações financeiras da economia, de 14,75% para 15% ao ano. Lógico que há uma inflexão ante aumentos que foram de 1% e de 0,5% nos momentos mais duros do ciclo de elevação da taxa, vividos a partir de setembro de 2024.

Vale compreender o que isso significa. Como a política monetária persegue uma meta de inflação, medida pelo IPCA, de 3% ao ano, com uma banda que pode atingir 4,5%, a inflação anual medida até maio de 2025, de 5,32% ao ano, é excessiva. Essa diferença expressa a tão falada e pouco demonstrada desancoragem das expectativas.

Perguntar sobre a eficácia da Selic no ancoramento da inflação contém seus riscos. Segundo a mediana das expectativas dos analistas econômicos, capturadas e expressas no Relatório Focus (do Banco Central), acredita-se que a inflação, medida pelo IPCA, terminará 2025 em 5,24%, portanto ainda acima do teto da meta de inflação (4,5% ao ano).

A mesma fonte de impressões dos analistas de mercado aponta que a inflação de 2026 finalmente trará uma convergência para o limite superior da meta de inflação, em 4,5%. Portanto, um movimento discreto de convergência das expectativas terá sido conseguido por meio de uma violenta restrição monetária.

O Congresso impede ajuste - Míriam Leitão

O Globo

O governo tenta cortar gastos e aumentar a arrecadação, mas esbarra em um Congresso que sabota medidas de ajuste fiscal

O Congresso atual criou despesas e derrubou propostas de redução de gastos. No caso específico do IOF, o Projeto de Decreto Legislativo aprovado ontem é inconstitucional, porque só cabe um PDL se o governo tivesse extrapolado de suas competências. Mas a alíquota de IOF é decisão do Executivo. O governo pode entrar no STF, porém teme o custo político. No mesmo dia, o Senado aprovou o projeto vergonhoso de aumento do número de deputados. Isso depois de uma revoltante coleção de jabutis para atender lobbies que eles dependuraram no projeto das eólicas no mar.

Derrotas do governo na Câmara e no Senado refletem desaprovação de Lula - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O presidente foi emparedado pela oposição, que conseguiu atrair as bancadas do Centrão. São dois grupos: um quer inviabilizar o governo e o outro faz chantagens

A escritora cearense Rachel de Queiroz (1910-2003), natural de Quixadá, foi uma grande jornalista, tradutora e dramaturga, sendo a primeira mulher a receber o “Prêmio Camões” (1993) e a ocupar uma vaga na Academia Brasileira de Letras, em 1977. Com 20 anos, em 1930, publicou seu primeiro romance, “O Quinze”, no qual retrata a seca de 1915 no Nordeste do país e a realidade dos retirantes nordestinos. Foi o primeiro de uma vasta obra literária, na qual se destacam “As Três Marias” (1939), “Dora Doralina” (1975) e “Memorial de Maria Moura” (1992).

Em 2002, Raquel de Queiroz publicou a coletânea infantil Meninos, eu conto (Record), no qual se destaca a fábula sobre a maternidade Bezerro sem mãe, que transcrevo a seguir:

Congresso acua o Executivo - William Waack

O Estado de S. Paulo

Derrotas são sinal de clara deterioração política do Lula 3

Há requintes de maldade na maneira como o Congresso partiu para cima do Executivo ao reverter o aumento do IOF. Parece até um caso de etarismo, pois se trata de ataque a um governo velho, que promove ideias velhas abraçado a táticas políticas idem.

O uso pelo Executivo de velhas ferramentas na relação com o Congresso traduz enorme senilidade política, além da incompetência geral dos quadros encarregados da “articulação”. Chega a ser fascinante observar como o Planalto ignora a profunda alteração da relação de força entre os poderes.

Os rojões desgovernados de Motta e Alcolumbre - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Governo é atingido no momento em que buscava recompor forças

Mal o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia terminado sua entrevista à Record TV na noite de terça-feira, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), publicou nas suas redes a pauta da Casa na manhã seguinte.

Como a Casa está em recesso branco, em função das festas juninas, não se esperavam votações importantes, mas o deputado mostrou que voltara a Brasília com seus rojões ainda acesos e apontados na direção do Palácio do Planalto. Pautou e aprovou por placar acachapante (383 x 98) e em sessão híbrida porque ninguém é de ferro, a derrubada do aumento do IOF.

O rojão arrisca cair em cima do Minha Casa Minha Vida. A alternativa proposta para compensar a receita perdida é a dos leilões dos excedentes de óleo e gás dos contratos de partilha, prevista na MP do Fundo Social do pré-sal aprovada ontem na Câmara.

Tarifas levarão comércio dos EUA a redução brutal, diz Krugman

Marcos de Moura e Souza / Valor Econômico

O economista americano e prêmio Nobel Paul Krugman afirmou ontem que os EUA ainda não começaram a sentir para valer os impactos da alta repentina das tarifas a produtos importados, mas que se nada mudar nas novas regras, a maior economia do mundo vai assistir a uma redução brutal em seu comércio com o mundo.

“Saímos de uma tarifa de menos de 3% em média para uma alíquota próxima de 17% em média hoje, é a tarifa mais alta nos EUA desde 1936. Ou seja, revertemos 90 anos de liberalização do comércio com uma canetada do presidente”, disse Krugman, em São Paulo. Ele foi principal orador do evento realizado pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o Anbima Summit 2025.

O presidente americano, Donald Trump, anunciou novas tarifas no início de abril. Depois, adiou a entrada em vigor de algumas delas. Enquanto isso, as tarifas médias seguem muito mais altas do que eram até então. “É um choque imenso para o sistema e se continuarmos com as tarifas atuais”, disse Krugman, “o comércio americano com o um todo vai cair 50%”. “É uma reversão de toda a globalização que os EUA promoveram desde os anos 80.”

Um abismo entre os trabalhadores por conta própria - João Saboia*

Valor Econômico

As políticas públicas voltadas para os trabalhadores por conta própria devem levar em consideração essas diferenças

Há décadas a análise do mercado de trabalho no Brasil tem sido desenvolvida separando os segmentos formal e informal. Em geral, a produtividade e as condições de trabalho são muito melhores no primeiro que no segundo. Além disso há a ideia de que o segmento informal funciona como uma espécie de esponja, absorvendo as pessoas que perdem seus empregos formais em momentos de crise e as devolvem quando a conjuntura melhora.

Trata-se de uma descrição muito simplificada do comportamento da economia que tem sido testada nos últimos anos mostrando resultados ambíguos. Na crise da covid, por exemplo, os trabalhadores informais foram muito mais atingidos do que os formais, tendo sido necessária a criação do auxílio emergencial para que pudessem sobreviver naquele período. Em outras crises, efetivamente, o setor informal cresceu e, de certa forma, absorveu parte daqueles expelidos do setor formal da economia.

Congresso espanca, Lula 3 - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

No mundo encantado de Brasília, se falava de 'surpresa', uma fofoca sobre assunto grave

Foi um dia típico do mundo encantado de Brasília. Um dia depois do São João, nas férias juninas, causou sensação que o presidente da Câmara, Hugo Mota, tenha botado para quebrar. O aumento do IOF caiu com 75% dos votos do total dos deputados (80% dos presentes). O Senado enterrou o cadáver.

Houve conversinha sobre governo e deputados terem sido pegos de "surpresa". E daí? Isso é espuma ou sintoma de coisa pior e sabida. É fofoca, "bastidor", sobre interesses da política politiqueira, de escassa relação com problemas reais do país.

A redução de despesa e os superávits fiscais a partir de 2027, que constam do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2026, são um cenário "fictício", diz a Instituição Fiscal Independente (IFI, ligada ao Senado, mas autônoma, responsável por analisar as contas públicas).

Por que o Congresso não gosta de pobres? - Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Porque eles próprios não são pobres e medidas antirricos os afetam pessoalmente

Deveria chocar toda a população, porque obscena, a ofensiva do Congresso contra qualquer discussão séria sobre tributar os mais ricos, ao mesmo tempo em que se lambuza com a liberação das emendas, que dobrou em apenas um dia —chegou a R$ 1,72 bilhão na terça-feira (24).

Faz sentido olhar como parlamentares antipobres têm buscado reverter a narrativa: fala-se em aumento da tributação, apelando para o senso comum de que se tributa muito no país.

As ideias do eleitor não alinhado - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

É um erro dizer que empreendedores são pobres precarizados sem consciência de sua situação

As próximas eleições presidenciais serão decididas por cerca de 10% dos eleitores, que não se identificam com o campo político lulista ou bolsonarista. Metade desse contingente de não comprometidos é composta pelos chamados microempreendedores.

Em 2022, votaram no candidato petista 52% deles. Agora, aprovam seu governo não mais de 45%. Os dados são do pesquisador Felipe Nunes, diretor da Quaest e professor da Fundação Getúlio Vargas. Se outros motivos não houvessem, bastaria esse a demandar que se entenda o que move tal grupo de trabalhadores, ocupantes de pouco menos da metade do mercado informal, estimado em 2023 pelo IBGE em 38,7% da força de trabalho.

Andar de cima x andar de baixo – Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Fim de privilégios à renda mais alta é necessário para a saúde das contas públicas

A decisão do presidente Hugo Motta (Câmara) de surpreender e pautar o projeto de derrubada do decreto de alta do IOF tem por trás um componente de revolta com a estratégia do governo Lula de apostar na polarização econômica entre o andar de cima versus o andar de baixo da população brasileira nas discussões das medidas de ajuste fiscal.

Entre as lideranças, inclusive aliados de primeira hora de Lula nas eleições de 2022, a percepção é que o presidente e seus ministros esticam a corda do conflito aberto após a rejeição do Congresso à alta de impostos e cobranças por corte de despesas.

Brasil precisa de um novo Plano Real para as contas públicas, diz presidente da Fiesp

Adriana Fernandes / Folha de S. Paulo

Filho de José Alencar, vice de Lula de 2003 a 2010, Josué Gomes afirma que petista precisa dialogar mais

presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), Josué Gomes da Silva, diz à Folha que o Brasil precisa de um novo Plano Real para resolver a expansão das despesas do Orçamento, cortar incentivos corporativos e permitir a redução das taxa de juros para um patamar civilizado.

"O que frustra é ver um debate eleitoral antecipado. Não digo que é um lado só. O pior é que vemos, a portas fechadas, muitas vezes as pessoas se recusando a debater, porque querem só resolver o problema de 2025 e 2026 para ver o que acontece a partir de 2027", afirma.

Filho de José Alencar, vice-presidente nos governos Lula 1 e 2, o empresário dono do grupo têxtil Coteminas diz que o chefe do Executivo precisa fazer o que sabe: dialogar mais.

Citado em eleições passadas como vice dos sonhos e convidado para ser o ministro da Indústria no início do terceiro mandato de Lula, o empresário nega planos políticos e diz que deixa o comando da entidade neste ano com perfil ultraliberal. Ele defende isonomia de condições para todas as empresas e setores e vê necessidade de repensar as regras da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).

'Hoje, não vejo o Brasil à beira de um precipício fiscal', diz Giannetti

Julia Moura / Folha de S. Paulo

Em debate, economistas defendem desindexação de gastos para melhorar contas públicas

Para o economista e filósofo Eduardo Giannetti, o Brasil ainda tem tempo hábil de fazer um ajuste fiscal, antes que uma crise econômica seja desencadeada.

"Não vejo o Brasil hoje à beira de um precipício fiscal. Estamos no momento de entender, antecipar e agir. É melhor agir antes que as coisas piorem muito. Assim como no caso de uma doença, o diagnóstico antecipado é melhor", afirmou o autor de livros como "Vícios privados, benefícios públicos?" durante o Anbima Summit, nesta quarta-feira (25).

Segundo projeção da IFI (Instituição Fiscal Independente), do Senado Federal, as contas públicas do Brasil terão um déficit primário de R$ 83,1 bilhões ao fim de 2025. Ainda assim, elas ficarão dentro da meta prevista no arcabouço fiscal, definida pelo atual governo.

Esse ajuste, porém, poderia vir apenas no início do próximo mandato presidencial em 2027, de acordo com Giannetti.

Poesia | Li hoje quase duas páginas, de Fernando Pessoa

 

Música | Zé Renato e Cristovão Bastos - Mascarada (Zé Keti e Elton Medeiros)