Folha de S. Paulo
Congresso é ruim, mas foram os eleitores que
escolheram os deputados e senadores que aí estão
Como qualquer ser humano normal, acho que o
Congresso brasileiro é, em termos qualitativos, uma porcaria. E ainda acredito
na profecia atribuída a Ulysses Guimarães, segundo a qual quem considera ruim a
atual composição do Parlamento deve esperar pela próxima, porque ela será com
certeza ainda pior.
Isso posto, é preciso reconhecer que nenhum de nossos senadores e deputados é um produto extraviado de Marte que caiu em Brasília. Todos eles foram eleitos pela população. No caso da Câmara, por um método de votação que, embora não sem problemas, pode ser descrito como um dos mais democráticos do mundo.
Com efeito, o sistema proporcional de listas
abertas aqui adotado dá ao eleitor um poder de decisão raramente visto em
outras paragens. Seu voto não apenas define o número de cadeiras que cada
partido ocupará como também ordena as listas de candidatos das legendas, isto
é, determina, no âmbito de cada sigla, quais serão os deputados eleitos e quais
ficarão de fora.
"Melhor" é uma palavra ruim para
usar nesse contexto, mas parece seguro afirmar que a Câmara representa a
população brasileira com mais granularidade do que corpos eleitos em sistemas
majoritários, como o Senado e a
própria Presidência da República. É claro que, da granularidade à qualidade, a
distância é enorme.
Volto, assim, a um tema no qual tenho
insistido bastante neste espaço. A democracia é boa não porque favoreça a
eleição de lideranças competentes e nem mesmo porque facilite a implementação
de boas políticas públicas, mas mais simplesmente porque é um sistema que tende
a reduzir a violência política, ao assegurar que quem perde eleição saia do
poder de forma pacífica.
No caso específico do Legislativo, ao
distribuir poder de veto a múltiplos atores, o sistema funciona como um filtro,
impedindo governantes de executar propostas muito exuberantes. A contrapartida
é que também fica difícil implementar medidas lógicas e necessárias, se elas
contrariarem algum lobby poderoso.
É aí que nos encontramos.
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