sexta-feira, 4 de julho de 2025

Opinião do dia – Tavares Bastos*

“A miséria moral, como a pobreza material, não a compramos com a independência: herdamo-las. Colônia alguma recebeu de um povo europeu mais rico legado. Seja embora! As heranças veneram-se. Nós veneramos os nossos prejuízos. Nossa miséria histórica é a nossa riqueza.

O passado instalou-se no presente, acompanha-o, excede-o, esconde-o, cobre-o, ele, uma sombra!

O passado é a ideia inata dos governos e o critério da população. Aquele não ousa feri-lo de frente. Esta afere tudo pela medida das máximas consagradas.”

*Aureliano Cândido Tavares Bastos (1839-1875) foi um deputado, escritor e jornalista brasileiro. É considerado um precursor do federalismo, por sua luta contra a centralização administrativa durante o Segundo Reinado. 'Prefácio das Cartas do Solitário', p. 21, edição eletrônica da UFRJ.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Ataques ao Congresso são inaceitáveis

O Globo

Parlamento não é imune a críticas, mas ele tem legitimidade e papel essencial na solução dos problemas

Não é possível ficar inerte ante os ataques ao Congresso que partem de hostes governistas. Depois que os parlamentares derrubaram a alta no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o governo entrou em modo de combate. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recorreu ao Supremo e chamou a decisão de “absurda”. O PT ampliou a propaganda em prol da taxação dos “super-ricos”. Tomaram conta das redes sociais de inclinação petista vídeos alvejando o Parlamento, em particular o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Num deles, Motta é exibido como defensor de menos imposto para ricos e de “congelar” o salário mínimo. Noutro, mais agressivo, o Congresso é tachado de “inimigo do povo”.

Nem todos os vídeos foram endossados pelo governo ou pelo PT. A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, desautorizou ataques a Motta: “Não é assim que vamos construir saídas para o Brasil, dentre as quais se destaca a justiça tributária”. Apesar da tentativa de apaziguar ânimos, militantes atenderam ao apelo pela radicalização ocupando um banco na Avenida Faria Lima, em São Paulo. Depois do primeiro vídeo, e antes dos demais, a oposição reagiu com uma paródia. Ninguém deve cair na armadilha de ser arrastado a uma batalha em que o país só perde. O “nós contra eles” aponta um caminho perturbador.

Imigração é necessária para o mundo - Fernando Abrucio*

Valor Econômico

A ideia de que o mundo europeu e norte-americano, ao se livrar dos incômodos imigrantes, terá mais empregos e prosperidade aos locais é um engodo

O nacionalismo é a base do mundo contemporâneo. Ser um país com instituições, identidade cultural e um projeto de desenvolvimento tem sido objetivo de todos os povos que se organizam politicamente. Mas a maioria das nações só se desenvolveu graças ao contato com o exterior e pelo fluxo migratório, enviando ou recebendo pessoas. A despeito disso, os imigrantes se tornaram um dos grandes bodes expiatórios da política atual, especialmente por meio do discurso da extrema direita, que ganha votos assim e encurrala a maioria dos adversários, hoje perdidos nesse debate. O que se vê como risco, no entanto, é a melhor solução civilizatória para o século XXI.

Preconceitos contra o estrangeiro, pessoas de outras culturas ou cor sempre estiveram presentes na humanidade. Guerras foram geradas por esse sentimento, bem como a separação entre as sociedades. Só que o contato entre os povos tem se tornado mais global. Primeiro, a partir do projeto colonista europeu, depois com as independências nas Américas, que receberam milhões de imigrantes, particularmente da Europa e da Ásia, e continuou ainda no pós-guerra até os dias atuais, agora com um fluxo imigratório preponderantemente dos países mais pobres aos mais ricos.

O número dos deputados federais - José de Souza Martins*

Valor Econômico

Se Lula for o político hábil que sempre foi, vetará o aumento. Se for esperto, talvez não arruíne sua relação com o Legislativo. Estamos em face do efeito bumerangue na política

A elevação do número de deputados federais de 513 para 532 a partir das eleições de 2026, por decisão das duas casas do Congresso Nacional, surpreendeu muitos brasileiros que consideram que o número de membros da Câmara já é excessivo. Parece mais um episódio em que os políticos brasileiros decidem em causa própria.

Os que votaram o projeto exibem um comportamento revelador de consciência pouco política a respeito de si mesmos, geralmente oportunista. Em que fica claro que sabem que o que decidem a respeito de seus próprios interesses, mesmo em face da repulsa pública, é para fazer com que o malfeito pareça legal e não expressão de reprováveis interesses corporativos. E, desse modo, pareça que a “culpa” é da lei e das instituições.

Quanto Lula quer crescer nas pesquisas até o fim do ano - Andrea Jubé

Valor Econômico

O objetivo é que ele alcance 40% de ótimo e bom

Aprendi uma palavra nova, não com a inteligência artificial, mas com o poeta Manoel de Barros (1916-2014), uma quase terapia nesses tempos de muito embate e intolerância, instabilidade e reveses. “Arúspices”: palavrinha estranha e feia, mas que dialoga com o ambiente político. Ela me fez pensar no presidente Luiz Inácio Lula da Silva em confronto com o Congresso, e sob alta pressão dos aliados porque 2026 chegou mais cedo, a campanha está nas ruas, nas redes digitais e sua popularidade estacionou abaixo da margem de segurança.

Traduzo. A palavra apareceu num poema em que Manoel de Barros conta a história de “Mário-pega-sapo” que, de noite, entretinha-se em abrir os anfíbios que capturava de dia em riachos, barrancos e terrenos baldios. “Abria um por um de canivete os sapos para ler nas entranhas deles o seu futuro. Eu pensava que aquele Mário-pega-sapo fosse um descendente dos arúspices, sacerdotes romanos que adivinhavam o futuro remexendo no altar as entranhas de seus inimigos”.

Campanha calça popularidade, leva conflito à rua e divide governo - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Congresso usou reação empresarial para arrancar demandas do governo, mas foi surpreendido pela reação das redes e recuou

As pesquisas diárias que o Palácio do Planalto faz para mensurar a avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva mostraram uma elevação de cinco pontos percentuais na sua popularidade desde o início da ofensiva do governo para caracterizar o embate em torno das medidas fiscais como uma batalha entre ricos e pobres.

Gabinetes da Avenida Faria Lima, centro financeiro de São Paulo, já estavam de posse do resultado desses “trackings” quando aconteceu a ocupação, por manifestantes da Frente Povo Sem Medo, do saguão do prédio que abriga o Itaú BBA na avenida Faria Lima, em São Paulo. Levavam as faixas com as mesmas palavras de ordem da campanha governista: “O povo não vai pagar a conta”, “Chega de mamata”, “Taxação dos super ricos já”. Os manifestantes permaneceram duas horas e depois deixaram o prédio.

Economia vai bem, obrigado, mas disputa eleitoral precoce atrapalha - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Quem olha para o cenário político tem razões para ser pessimista, porque o impasse entre o Palácio do Planalto e o Congresso transbordou para a virulência nas redes sociais

O Ibovespa bateu novo recorde ontem, em meio a uma crise política protagonizada pelo Palácio do Planalto e o Congresso, em razão da antecipação da disputa eleitoral de 2026, tanto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto pela oposição, que é liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. A Bolsa avançou 1,35% e encerrou o dia aos 140.928 pontos, atingindo um novo recorde. Até então, o maior nível havia sido registrado em 20 de maio, quando bateu 140.110 pontos. O dólar continua em queda, cotado a R$ 5,4049, o menor nível desde junho de 2024 (R$ 5,3605).

Como explicar uma situação como essa, num momento em que as análises são as mais catastrofistas em relação ao desempenho da economia por parte dos analistas do mercado financeiro e dos políticos de oposição? Ainda mais num momento de impasse em relação ao ajuste fiscal, no qual o governo quer aumentar a arrecadação e não cortar os gastos sociais, enquanto a oposição e o mercado pregam exatamente o contrário.

'Nós contra eles' é tiro no alvo ou no pé? - Vera Magalhães

O Globo

Ao partir para o contra-ataque, governo e PT ao menos deram um argumento a seus militantes, que andavam meio desnorteados

O limiar que separa um tiro em direção ao alvo e um que acerta o próprio pé na política é bem mais tênue que noutros momentos da vida, literais ou metafóricos. No caso da efetividade da nova versão do discurso do “nós contra eles” adotada pelo governo Lula, o sucesso ou o fracasso da estratégia mora em detalhes que não são descartáveis nem parecem fáceis de calibrar diante da profunda cizânia entre o Executivo e o Congresso.

O primeiro fator essencial que poderia levar a que se desse um tiro n’água foi notado pelos responsáveis por colocar a campanha na rua: não adiantava o “nós” serem apenas os pobres beneficiários de políticas sociais, e “eles” serem todo o resto da sociedade. Por uma questão de matemática básica, Lula perderia o embate ao dividir a sociedade assim.

Daí por que a classe média, fatia maior e mais heterogênea do bolo demográfico (e eleitoral), foi rapidamente colocada do lado de Lula no cabo de guerra, tradução escolhida por uma das muitas peças publicitárias lançadas para martelar a ideia.

Centrão agora quer limitar ações no STF contra abusos do Congresso - Bernardo Mello Franco

O Globo

Alcolumbre e Lira defendem impedir partidos pequenos de recorrerem à Justiça

Davi Alcolumbre quer limitar o direito de partidos políticos recorrerem à Justiça contra decisões do Congresso. O presidente do Senado reclamou que hoje “todo mundo” pode propor ações ao Supremo, o que precisaria ser alterado “com urgência”. “Esse é um problema seriíssimo”, sentenciou.

A ideia de Alcolumbre não é boa nem nova. Já havia sido defendida pelo deputado Arthur Lira. Ontem o ex-chefão da Câmara disse que é preciso “subir o sarrafo” dos partidos aptos a questionar o Supremo. Ele participa do chamado “Gilmarpalooza”, evento em que políticos e magistrados brasileiros discutem temas brasileiros em Lisboa.

A ofensiva do Centrão tem endereço certo. O bloco que manda no Congresso quer impedir que partidos pequenos, como PSOL, Rede e Novo, entrem com ações no Supremo. De quebra, quer restringir os poderes da Corte para invalidar leis aprovadas pelos parlamentares, mesmo que elas violem a Constituição.

Governo ganha embate nas redes sociais pela primeira vez – Flávia Oliveira

O Globo

O comportamento de deputados e senadores catalisou uma reação negativa que aproximou eleitores e opositores de Lula

O governo foi às cordas; reagiu com tática, até então, exclusiva da oposição; voltou ao ringue. Tomara a freada de arrumação empurre o país para o tão necessário quanto urgente debate sobre equilíbrio fiscal e justiça tributária. Faz um par de semanas, um Congresso Nacional, ao mesmo tempo empoderado e hostil ao presidente da República, tramou o enfrentamento que ameaçava minar, na avaliação do Planalto, o espaço que ainda resta a Lula para governar o país. Além de impor a aplicação de mais de R$ 50 bilhões do Orçamento via emendas parlamentares, deputados e senadores avançaram contra um decreto presidencial, prerrogativa do Executivo. De quebra, alinharam-se a medidas que vão de encontro aos interesses do eleitorado.

Um colapso anunciado - Fernando Gabeira

O Estado de S. Paulo

Executivo, Parlamento e Judiciário caminham celeremente para o colapso não porque escolhem essa saída, mas porque são incapazes de mudar seu comportamento

Num ano em que o Brasil recebe a COP-30 e, certamente, falará de seu imenso potencial, estamos às voltas com uma situação difícil, que aponta para um colapso financeiro em 2027.

Será que isso acontecerá como alguns economistas preveem? E se acontecer, corremos o risco de repetição de algo como a crise grega de 2010? O que vimos acontecer na Grécia é suficiente para um grande esforço para evitar o colapso, mesmo que tenha proporções menores. De qualquer forma, será um sofrimento desnecessário.

Executivo, Parlamento e Judiciário caminham celeremente para o colapso não porque escolham essa saída, mas porque são incapazes de mudar seu comportamento, porque foram contaminados pelo poder num país em que fazem e desfazem diante de uma certa passividade social.

Mais um BBB caiu nas redes – Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Marketing de Lula mira o Congresso com o BBB da moda: Bancos, Bets e Bilionários

Não se trata do show de televisão, da nota das agências de rating, nem mesmo das famosas bancadas do Boi, da Bala e da Bíblia, o novo BBB que está na moda é outro, Bancos, Bets e Bilionários, criado pela varinha mágica do marketing político para tentar resgatar a popularidade perdida do presidente Lula e a aprovação, que não anda nada boa, do seu governo.

Fórmula populista que tem tudo a ver com o PT e o próprio Lula, o novo BBB joga a luta de classes no terreno da atual polarização política, que já passou pelo “nós contra eles” e desaba agora no “pobres contra ricos”, com o governo obrigando o PT a pegar em armas na internet. Parece criativo, engenhoso, nesse complexo mundo do marketing, mais e mais alavancado pelas redes, mas tem riscos.

Nós, quem? Contra eles, quem? - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Houve um tempo em que o presidente Lula anunciava que governava para o interesse de todos os brasileiros, inclusive dos que votaram contra ele.

Hoje, vai sendo imposto o mantra do “nós contra eles”, sem que fique claro quem sejam esses “nós” e quem sejam esses “eles”. Nós, os pobres? Nós, os proletários? Nós, os do Partido? Nós, os democratas? Contra quem? Contra a direita? Contra a Faria Lima? Contra os mandachuva de sempre? Seja o que – e quem – for, é o discurso da polarização, que pretende antecipar o debate eleitoral.

No momento, serve para defender o renitente aumento de impostos, em detrimento de um mínimo de objetividade: como é que o aumento do IOF, que deveria servir apenas para fins regulatórios – e não arrecadatórios –, beneficiaria o “andar de baixo” e não os lobbies favorecidos pelo Congresso, se atinge em cheio as pequenas e médias empresas, os microempreendedores individuais (MEIs) e o comércio que pratica o crédito denominado “risco sacado”?

Presidentes que confrontaram Legislativo perderam - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Discurso em favor de justiça tributária energiza eleitores do PT, mas talvez não traga novos apoios

As próximas movimentações dirão se a escalada retórica de Lula é só uma tentativa de se reposicionar para negociar melhor com o Congresso ou se o petista vai mesmo para o tudo ou nada com o Legislativo.

Acredito mais na primeira hipótese. Todos os presidentes que partiram para o confronto direto se deram mal. Collor e Dilma sofreram impeachment e Bolsonaro, que ameaçara governar diretamente com o povo, acabou se entregando gostosamente ao centrão, que foi agraciado com o orçamento secreto. Lula assistiu a tudo isso da primeira fila. Custa-me crer que não tenha assimilado a lição.

Taxação BBB leva luta de classes ao reality da crise - Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Defesa da taxação a bancos, bets e bilionários se apoia em iniquidade tributária, mas por si não é solução para os impasses em cena

A crise entre Executivo e Congresso, em torno da derrubada do decreto do Executivo que aumenta o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), acabou por reforçar a estratégia do governo Lula de se reapresentar como defensor dos pobres contra os abastados.

Nesse reality show da política que tenta antecipar o paredão de 2026, surge nas redes lulistas a "taxação BBB", que reivindica justiça tributária com aumento de impostos sobre bancos, bets e bilionários. A ideia, discutível como estratégia, é colocar uma pitada de luta de classes no debate e colar no Congresso a pecha de defensor de privilégios.

Guerra de extermínio antes da hora - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Governo e Congresso não têm nada a ganhar com uma ruptura em tempo ainda de indefinição eleitoral

A fotografia do momento é de confronto sem solução boa à vista. Ocorre, porém, que há muito filme a ser rodado e por isso os personagens desse enredo eleitoral não devem ir agora ao tudo ou nada. Ainda não é hora.

Não interessa à direita nem à esquerda partir para um embate cujo desfecho depende de muitas variáveis. Luiz Inácio lula da Silva (PT) não tem certeza se vale a pena tentar a reeleição e Jair Bolsonaro (PL) precisa decidir o que fará quando e se vier a provável condenação por tentativa de golpe de Estado.

Invertebrados e acoelhados – Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Em vez de lutar por suas ideias, golpistas estão descobrindo que não vale a pena pagar por Bolsonaro

Na invasão do STF em Brasília no 8/1, o mecânico Fábio de Oliveira foi filmado aboletando-se na poltrona do ministro Alexandre de Moraes. "Cadeira do Xandão, aqui, ó! Aqui, ó, vagabundo! Aqui é o povo que manda!", zurrou. Ouve-se a voz de seu irmão Erlon, que gravava o vídeo: "Cadeira do Xandão agora é do meu irmão Fábio! Nós tomou a cadeira do Xandão, aí, ó!". Diante da pena de 17 anos de prisão a que o voto de Moraes há dias o condenou, Fábio balbuciou: "Era uma brincadeira. A gente não sabia que seria transmitido ao vivo".

Poesia | A espantosa realidade das coisas, de Fernando Pessoa

 

Música | Sebastião Junior canta "Vermelho"