O Globo
Um criminalista que já viu de tudo leu a ata
da acareação do tenente-coronel Mauro Cid com
o general Braga Netto e achou que o ministro Alexandre
de Moraes pegou leve com os dois militares. Com Mauro Cid ele já
conseguiu um acordo de colaboração e com Braga Netto as provas podem se revelar
ralas.
Como o Alexandre bonzinho não existe, é
possível que ele esteja mandando sinais de fumaça para o outro lado da
montanha. Lá está, preso desde novembro passado, o general da reserva Mario
Fernandes. Em novembro de 2022 ele era o secretário-executivo da Secretaria-Geral
da Presidência e imprimiu no Palácio do Planalto o mirabolante projeto do
Punhal Verde-Amarelo. Ele previa o assassinato de Alexandre de Moraes, de
“Jeca” (Lula,
presidente eleito), “Joca” (Geraldo Alckmin, seu vice) e “Juca”, provavelmente
o ex-ministro José Dirceu.
O relatório das investigações da Polícia Federal e a denúncia da Procuradoria-Geral da República deram ao Punhal Verde-Amarelo o devido crédito, mas podem ter exagerado encurtando a distância entre querer e fazer.
A História de Pindorama registra um só
atentado (mal-sucedido) contra um presidente da República. Ele aconteceu em
1897 e Prudente de Moraes escapou ileso. Planos, houve vários, uns três só
contra João Goulart.
Saindo-se de Pindorama e do século XXI,
matanças semelhantes foram raras. A maior delas foi o assassinato do presidente
Abraham Lincoln, em 1865. Pelo plano, morreriam também seu vice e o ssecretário
da Guerra. O vice atracou-se com o matador e assumiu a Presidência. O assassino
designado para o secretário da Guerra tomou um porre e faltou.
O Punhal Verde-Amarelo enumerou o armamento
necessário para os atentados, incluindo pistolas, metralhadora e granada. (O
único equipamento obtido por integrantes da trama golpista foi um iPhone 12,
comprado por R$ 2.500 em espécie pelo oficial Rafael de Oliveira).
O general Mario Fernandes foi um ativo
colaborador dos acampamentos que pediam o golpe. No final de 2022 ele esperava
que Bolsonaro assinasse o decreto instituindo estado de defesa ou mesmo o
estado de sítio e escreveu:
“Meu amigo, estamos em uma luta ferrenha para
que esse bendito Decreto seja assinado!”. (...) “Esperamos que isso ocorra
ainda nesta semana”.
(Como é sabido, Bolsonaro não assinou decreto
algum.)
No dia 7 de novembro, Fernandes escreveu ao
general Freire Gomes, comandante do Exército, falando de um “evento disparador,
como no passado”: “É agora ou nunca mais, comandante, temos que agir.”
No dia 9, o general imprimiu o plano Punhal
Verde-Amarelo.
O general Mario Fernandes foi preso no
primeiro arrastão do ministro Alexandre de Moraes e comemorou seu 61º
aniversário preso num quartel. Até agora não deu sinais de que pretenda
colaborar. Contudo, a mão pesada do Supremo Tribunal pode aplicar-lhe, no
barato, uma condenação a 24 anos de cadeia. (Dona Débora do Batom pegou 14).
Nesse caso, ele só teria direito a uma progressão da pena que lhe permitisse
cumpri-la em casa a partir de 2028, quando teria completado 64 anos. Poderia
trabalhar fora do cárcere, mas terias que dormir nele. Prisão domiciliar, só
depois.
A turma do golpe torce por uma derrota do PT
na eleição do ano que vem, provavelmente seguida por algum tipo de indulto. É
uma alternativa esperançosa para quem está solto. Para um oficial do Exército
que comandou os Kids Pretos e chegou à patente de general palaciano,
aproximar-se dos 70 anos trancado em casa é um sofrido entardecer.
O poder corrompe, mas sua falta é pior
Saiu nos Estados Unidos um bom livro. É
“Zbig: The life of Zbigniew Brzezimski, America’s great power prophet” (Zbig: A
vida de Zbigniew Brzezinski, o profeta do poder dos Estados Unidos). Nele, o
jornalista inglês Edward Luce conta a vida do aristocrata polonês que se tornou
assessor para assuntos de segurança nacional do presidente Jimmy Carter
(1977-1981) e quebrou a espinha dorsal da diplomacia da União Soviética com sua
política de defesa dos direitos humanos.
Brzezinski (1928-2017) teve a falta de sorte
de suceder no cargo ao professor Henry Kissinger, um personagem pop, ambicioso
como Lúcifer e inseguro como um adolescente. Isso acabou colocando-o num
patamar secundário, porém injusto. Os dois tiveram trajetórias semelhantes.
Europeus, emigraram para a América nos anos 30 do século 20. Ambos foram para
Harvard e ambos enfiaram-se na elite da diplomacia de Washington.
Vidas parecidas não podiam produzir
personagens mais diferentes. Kissinger amava os holofotes e Zbig evitava-os.
Kissinger cultivava a costura e Zbig detestava a União Soviética, confiando na
força moral dos Estados Unidos. Um gostava de mel, o outro, desde criança,
comia abelhas. Basta dizer que em dezembro de 1939, aos 11 anos, desterrado,
escreveu uma dissertação intitulada “O cerco de Berlim - 19??”. A Polônia não
existia mais, porém Brzezinski, investindo-se no comando das tropas imaginárias
que combatiam os alemães escreveu:
“Depois de dez dias de bombardeios eles
queriam falar comigo. Eu recusei, pois queria arrasar Berlim”. Rendidos os
alemães, “nossos soldados enforcaram Hitler”.
Os anos e a História levaram Brzezinski a
tornar-se um especialista em assuntos soviéticos. Desde os anos 50 ele
sustentava que a questão dos nacionalismos era o “calcanhar de Aquiles” do
gigante russo. Não deu outra.
Sempre se aprende alguma coisa em livros como
“Zbig”, mas Luce achou uma joia. Fora do poder, Kissinger foi um feroz
adversário de Brzezinski, levando a refrasear uma famosa observação de Lord
Acton. Em 1885, Acton disse que “o poder tende a corromper e o poder absoluto
corrompe absolutamente”.
Em 1979, debaixo de chumbo, Zbig escreveu:
“Cheguei à conclusão de que, embora o poder
corrompa, a ausência de poder corrompe completamente”.
A frase de Lord Acton é uma carapuça para
tiranos e tiranetes. A de Brzezinski serve para milhares de ex-poderosos. Vale
tanto para a elite diplomática de Washington quanto para as tramas políticas da
Baixada Fluminense.
Haddad na fritura
A trombada do governo com o Congresso que
resultou na revogação do aumento do IOF trincou o cristal de Fernando
Haddad como ministro da Fazenda.
Ele acreditou na mágica dos combos montados
por sua ekipekonomika, atropelou colegas que poderiam vir a ser seus aliados,
levou água para a banda que o detesta e jogou o governo num desastre
parlamentar que estava agendado para o ano que vem.
Juscelino Kubitschek dizia que Deus poupara-o
do sentimento do medo. O Padre Eterno não deu a Lula a graça da gratidão. Mesmo
tendo sido um ministro da Fazenda leal e correto, depois do desastre do IOF, o
companheiro Haddad não será mais o mesmo.
Eremildo não entende Lewandowski
O entorno do ministro Ricardo
Lewandowski não se aquieta. Tentaram criar uma poderosa Polícia
Ostensiva Federal a partir da Polícia Rodoviária e envenenaram um projeto de
fortalecimento do aparelho de segurança pública.
Batidos, saíram-se com outra e tentam uma
Agência para combater o crime organizado. Eremildo é um idiota e até hoje não
entendeu por que o ministro e sua turma querem criar novas repartições, quando
o Ministério da Justiça tem no seu organograma a Polícia Federal, uma das
poucas coisas que funcionam direito em Pindorama.
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