O Globo
Seria fácil para ele apresentar a idade
avançada ou questões de saúde como impedimentos para se candidatar
Voz do mundo político de quem todos esperam previsões certeiras, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, tem compartilhado com interlocutores a seguinte análise: o presidente Lula só será candidato em 2026 se tiver certeza da vitória; caso contrário, encontrará alguma maneira de tirar o nome da urna. A crença na desistência estimulou dois movimentos nas últimas semanas: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), começou a admitir aos mais próximos que quer, sim, ser candidato ao Planalto; Kassab, antes refratário à ideia, já reconhece que não poderá impedir o aliado se o “cavalo selado” da Presidência passar.
Resta convencer o ex-presidente Jair
Bolsonaro, que continua com o discurso de que tentará derrubar sua
inegibilidade no Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
em meados do ano que vem — calendário incompatível com a necessidade de
Tarcísio deixar o governo de São Paulo em 31 de março de 2026 se realmente
desejar o Planalto. No início do mês, um encontro secreto de Kassab e
Bolsonaro, inicialmente dedicado ao debate sobre a anistia aos acusados do 8 de
Janeiro, pode ter sido o primeiro passo para o presidente do PSD convencer seu
desafeto a recuar da insistente candidatura ficha-suja.
Na sexta-feira, no mesmo dia em que o
Datafolha mostrou o tombo de 11 pontos percentuais na popularidade do
presidente, uma frase de Lula para a rádio Clube do Pará pôs em dúvida os
planos do PT. “Eu
tenho 79 anos, tenho que ter consciência comigo mesmo, não posso mentir para
ninguém, muito menos para mim, sabe?”, disse, no mesmo espírito de outras
declarações recentes sobre uma possível desistência de concorrer à reeleição.
Uma eleição sem Lula é exceção no Brasil
pós-redemocratização. De 9 disputas desde 1989, ele foi candidato em seis (além
da primeira disputa no pós-ditadura, participou das campanhas de 1994, 1998,
2002, 2006 e 2022). “Fora o fato de ele ter sido o grande coadjuvante em outras
três — 2010, 2014 e 2018 — com as candidaturas de Dilma Rousseff e Fernando
Haddad. Não há nada parecido no mundo, acho bastante plausível ele não
querer ir para a 10ª disputa”, afirma Antonio Lavareda, do Ipespe. Ele imagina
ser fácil para Lula apresentar a questão da saúde como impedimento para se
candidatar.
Embora as lideranças do PT não admitam a
hipótese, o debate sobre a desistência começou a ganhar corpo desde o fim do
ano passado, quando a Quaest começou
a aferir que mais da metade dos seus entrevistados consideravam que o
presidente deveria encerrar a carreira ao fim deste mandato. “Lula cada vez
mais se parece com presidentes que perdem eleições (Jair Bolsonaro), que não
fazem o sucessor (FHC) ou que preferem não se candidatar (Michel Temer).
A sorte dele é que a rejeição a seu governo ainda não foi capitalizada por
nenhum dos nomes da oposição”, afirma Felipe Nunes, fundador da Quaest. Mas ele
não vê plano B para o PT. “O governo começou com quatro ex-presidenciáveis na
Esplanada, e a verdade é que ninguém se viabilizou para um cenário sem
Lula: Geraldo
Alckmin, Simone Tebet, Marina Silva e
Fernando Haddad.”
Nome mais natural do PT para substituir Lula,
por já ter sido candidato, Haddad aparece com 56% de rejeição na última
pesquisa Quaest de fevereiro, número proibitivo para uma disputa majoritária.
*Thiago Prado é editor de Política e Brasil
do GLOBO
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