Diante de quadros muito diversos, com rápido crescimento nos Estados Unidos e atividade muito lenta no Brasil, os bancos centrais dos dois países deverão anunciar no começo de agosto novas decisões sobre os juros. Um novo aperto na política monetária americana será ruim para a maioria dos emergentes, por seus efeitos no câmbio e nas condições internacionais de financiamento. Mas há esperança de uma trégua até setembro. Ontem, a aposta dominante nos mercados americano e brasileiro ainda era de manutenção das taxas em vigor, de 1,75% a 2% no primeiro caso e de 6,50% no segundo. Se essas previsões estiverem certas, governo e empresários terão mais algum tempo para tentar dinamizar os negócios no Brasil, tarefa complicada pela incerteza política interna e ameaçada por um cenário externo carregado de riscos financeiros e comerciais.
Que os juros americanos voltem a subir neste semestre parece fora de dúvida. O comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) poderá manter os juros básicos na reunião dos próximos dias, mas deverá elevá-los, mais uma vez, a partir de 26 de setembro. Esta expectativa foi indicada por analistas e operadores do mercado financeiro americano logo depois da divulgação, ontem, da primeira estimativa de crescimento econômico do segundo trimestre. Segundo o Departamento do Comércio, o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos cresceu entre abril e junho em ritmo equivalente a 4,10% ao ano, o mais intenso desde 2014.
O maior impulso partiu do consumo privado. O segundo mais importante foi proporcionado pelas exportações. O desempenho comercial foi parcialmente atribuído à antecipação de compras de produtos agrícolas por empresas chinesas. Teria sido uma ação preventiva, diante do risco de imposição de barreiras à soja americana como retaliação às medidas protecionistas do presidente Donald Trump.
O crescimento efetivo poderá ter sido até superior aos 4,10%. A estimativa ainda será revista. Revisões têm resultado, com frequência, em números superiores aos preliminares. De toda forma, analistas projetam uma redução de ritmo na segunda metade do ano, mas, ainda assim, o aperto (também chamado “normalização”) da política monetária deverá continuar, depois da possível trégua em agosto.
Confirmada a trégua, haverá alívio, por algum tempo, para os emergentes. Já se especula, nos mercados, sobre a próxima vítima da turbulência cambial. A Argentina, a primeira, já foi forçada a buscar auxílio financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A Turquia tem sido apontada, na bolsa dos desastres financeiros, como o segundo país a cair. A alta de juros nos Estados Unidos, embora moderada e gradual, tem alterado os fluxos de capital, atraídos para a rentabilidade e a segurança dos títulos do Tesouro e de outros papéis americanos. Essa movimentação se reflete no câmbio, com desvalorização de muitas moedas, principalmente dos países emergentes, e em problemas de financiamento.
O real tem sido uma das moedas mais afetadas pela instabilidade do câmbio, mas as contas externas do Brasil estão ajustadas e o País dispunha de US$ 379,5 bilhões de reservas cambiais em junho, um volume considerado seguro. Além disso, a dívida externa é moderada. Mas os desajustes internos são enormes. A dívida pública do governo geral já passou de 75% do PIB, é considerada muito grande para um país de renda média e continuará a crescer até 2022 ou 2023. Todo esforço para conter esse movimento poderá ser relevante para prevenir o pânico entre os financiadores do governo.
Se o Banco Central mantiver os juros em 6,50% neste ano, como prevê a maioria dos analistas consultados pela Agência Estado, a reativação será favorecida, assim como a arrecadação do Tesouro. Além disso, a contenção dos juros limitará o custo da dívida pública. Mas o País terá de enfrentar novas pressões derivadas da alta dos juros americanos. Essas pressões serão tanto maiores quanto maior a desconfiança em relação à política. Esse risco está além dos poderes do Banco Central.
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