- O Estado de S.Paulo
Os esperados outsiders não vingaram. Preferiram ficar longe da política
As convenções partidárias mal começaram, o candidato favorito está preso e inelegível, a novela da definição dos vices encontra-se em sua fase mais aguda. Mas, diante do quadro que se apresenta neste instante na política brasileira, pode-se dizer que a tendência da disputa presidencial é um repeteco da final PT versus PSDB.
Arriscar a previsão com base em quê? Em pelo menos três dados atuais. O primeiro deles é que Geraldo Alckmin conseguiu reunir em torno de si o conjunto partidário dos sonhos de qualquer candidato que pense em ganhar competitividade. Os partidos que compõem o Centrão juntaram-se a PSD, PTB, PV, PPS e ao PSDB de Alckmin. Juntos, eles vão garantir cerca de 42,5% do tempo de propaganda na TV para o tucano.
Pelo tempo de propaganda que Alckmin terá, é possível dizer – com risco de erro, é claro, pois nem a política nem a cabeça do eleitor são ciência exata – que o candidato tucano tem certa vantagem sobre os concorrentes. De acordo com projeção do Estadão Dados, Alckmin terá nos 35 dias de propaganda nada menos do que 318 inserções de 30 segundos cada, ou 9 por dia, na programação normal das emissoras abertas; o candidato do PT contará com 122, 3,5 por dia; Ciro Gomes, 40, 1,1 por dia; Marina Silva (Rede), 20, 0,6 por dia; Alvaro Dias (Podemos), 18, 0,5 por dia; e Jair Bolsonaro (PSL), 14, 0,4 por dia, para ficar nos candidatos mais bem situados nas pesquisas. As inserções são muito mais importantes do que o horário eleitoral propriamente dito. Elas entram durante a programação normal. No horário eleitoral às vezes o eleitor vai fazer um lanche.
Pesquisa do Ibope identificou a TV como fonte de informação de cerca de 70% dos brasileiros. Não há como negar a importância dela na campanha. Leve-se em conta ainda que o Brasil tem cerca de 206 milhões de habitantes. Destes, 130 milhões (63% da população, segundo a última Pnad) pertencem às classes C, D e E, em que também está o maior acesso à TV aberta. É um público gigantesco e decisivo.
O segundo dado a ser destacado é que todas as pesquisas feitas nos últimos meses mostram Lula na frente. No Nordeste, em quase todos os Estados, o petista alcança mais do que 50% dos votos. Como o PT conseguiu êxito em sua estratégia de manter o nome de Lula vivo, e identificado ao partido, se ele não puder ser candidato, o que é quase certo, não há dúvidas de que transferirá muitos votos para o herdeiro. Não se pode esquecer ainda que o PT terá 3,5 inserções por dia na TV, mesmo que não faça aliança com nenhum outro partido, e que a militância petista costuma arrastar votos atrás de si, principalmente na reta final da campanha.
O terceiro ponto que chama a atenção é que Jair Bolsonaro, que aparece na frente nos cenários sem Lula, está no mesmo patamar, em torno de 20% das intenções de voto, desde o início do ano. Sem tempo de TV, com um mote de campanha que parece já ter conquistado o eleitor que deveria conquistar, não há nenhum indicativo hoje de que o candidato do PSL possa mudar esse quadro.
Deve ser observado ainda que, mesmo com o País virado de cabeça para baixo com o impeachment de Dilma Rousseff e por operações como a Lava Jato, que levaram políticos e empresários poderosos para a cadeia – um deles, Lula –, nenhum novo apareceu na política brasileira. Os esperados candidatos outsiders não vingaram. Os que apareceram – Luciano Huck, Joaquim Barbosa, Roberto Justus – preferiram ouvir o conselho de suas famílias e evitar a política.
Desse modo, a eleição de 2018 está sendo feita com o que se tinha, o antigo. Então, só para lembrar que neste ano teve Copa do Mundo, a decisão poderá ser de novo o velho Fla x Flu da política.
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