Imagem de sintonia dos Brics se enfraquece quando cotejada com medidas adotadas entre eles
Embora seu nome não conste da declaração final da décima cúpula dosBrics, realizada nesta semana em Johanesburgo, Donald Trump era o destinatário primordial da mensagem em defesa do multilateralismo e do papel da OMC (Organização Mundial do Comércio) na solução de conflitos nessa seara.
Previsível, aliás, que se fizesse deste encontro uma oportunidade para marcar posição crítica ao presidente dos Estados Unidos.
Afinal, este tem se empenhado em impor restrições à entrada de produtos da China, o “C” do acrônimo em inglês que abrange as cinco nações emergentes do bloco, formado também por Brasil, Rússia, Índia e África do Sul.
Mesmo antes de o líder americano dar início ao que se prenuncia como uma guerra comercial contra Pequim, o dirigente chinês, Xi Jinping, já se apresentava à comunidade internacional como arauto de uma economia globalizada, aproveitando-se do pendor isolacionista do rival.
A imagem de sintonia dos países-membros dos Brics em favor do livre comércio, entretanto, se enfraquece quando cotejada com medidas adotadas entre os próprios integrantes.
Revelaram-se um exemplo bastante ilustrativo de tal descompasso as tratativas do governo brasileiro, em reuniões paralelas, para convencer a China a derrubar barreiras aplicadas sobre as exportações de soja e de carne de frango.
Desde o mês passado, frigoríficos daquele país que compram do Brasil são obrigados a depositar entre 18,8% e 34,4% do valor das importações, dependendo da empresa.
No caso do grão, o presidente Michel Temer (MDB) pediu a Xi que se crie uma cota de venda dos derivados, como óleo e farelo —hoje, os chineses só aceitam receber o produto in natura.
Convém lembrar que, no setor agropecuário, a Rússia também se notabiliza por estabelecer limitações a mercados mais competitivos, como o brasileiro, muitas vezes sob justificativas fitossanitárias.
Acrescente-se que os Brics não nasceram por afinidade política ou econômica —o bloco, a bem da verdade, se fez da ideia de um economista inglês, Jim O’Neill, que cunhou o termo ao colocar num mesmo grupo nações com aspirações maiores em instâncias globais.
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