sexta-feira, 11 de abril de 2025

Tarcísio entre ser um 'líder' ou um 'episódio' - Andrea Jubé

Valor Econômico

Em meio às especulações sobre seu destino, governador de São Paulo avança tentando conciliar imagem de herdeiro do bolsonarismo com a de político moderado

“Quantos Napoleões a França teve?”, questionou o interlocutor, em conversa com a coluna, a propósito de um dos possíveis cenários para a eleição presidencial de 2026.

O mote era a estratégia pela qual o nome “Bolsonaro” poderia despontar na urna eletrônica na sucessão presidencial, mesmo com o ex-presidente inelegível. Para a hipótese se consumar, Jair Bolsonaro (PL) teria de reverter a inelegibilidade junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Nos bastidores, ele tem afirmado a aliados que considera factível uma vitória na Justiça Eleitoral, mas reconhece a possibilidade de derrota no STF. Ele se tornou inelegível até 2030 por decisão do TSE, por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação por ter realizado uma reunião no Palácio da Alvorada, com embaixadores, quando atacou o sistema eleitoral, em ato transmitido pela TV Brasil.

Outro caminho para Bolsonaro viabilizar a candidatura seria a aprovação, nas duas Casas legislativas, do projeto de lei (PL) que concede anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. O ex-presidente é réu na ação penal, em tramitação no STF, que visa à punição dos responsáveis pela tentativa de golpe contra o Estado Democrático de Direito em 2022. Mesmo se o PL for aprovado, pode ter a constitucionalidade questionada no Supremo.

Se nenhuma dessas alternativas prosperar, Bolsonaro, segundo interlocutores, cogita repetir a estratégia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no pleito de 2018. Mesmo preso em Curitiba (PR), e inelegível, o petista lançou a candidatura, e liderou as pesquisas até o fim de agosto, quando o TSE revogou o registro. Com isso, ele indicou Fernando Haddad para substituí-lo nas urnas.

A percepção de aliados do ex-presidente é de que a vantagem dele em relação a Lula é que uma de suas armas é o sobrenomeEle poderia indicar um dos filhos, Flávio ou Eduardo, ou a ex-primeira-dama Michelle, e em qualquer dessas alternativas, o nome que iria para a urna seria o mesmo: “Bolsonaro”.

A se materializar a estratégia, não haveria ineditismo. Como lembrou o interlocutor da coluna, no século XIX, a França teve três “Bonapartes”: Napoleão I, II e III.

Em um salto para a história mais recente, e para a política nacional, em 2010, a eleição para governador do Distrito Federal não ficou sem o sobrenome “Roriz” na urna. Declarado inelegível pela Justiça Eleitoral, o ex-governador Joaquim Roriz (morto em 2018) indicou a esposa, Weslian, para substituí-lo na disputa para o governo a uma semana do pleito. Pela inexperiência da escolhida, a troca rendeu fatos pitorescos. Durante um debate, ela declarou, com ênfase: “Quero defender toda aquela corrupção!”

Em meio à inesgotável discussão de cenários para 2026, um desenho descartado desde o início seria o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), figurar como vice em chapa encabeçada por Bolsonaro, para adiante substituí-lo. Em contrapartida, um cenário desejado por todos os caciques do Centrão seria Tarcísio emergir como candidato único da direita à Presidência da República, com apoio de Bolsonaro.

Essa hipótese, contudo, esbarra em inúmeros empecilhos, a começar pela desorganização da direita, que, até agora, não deu sinais de que poderá se unir em torno de um único candidato para enfrentar Lula. O segundo obstáculo é Bolsonaro e sua obsessão para viabilizar a própria candidatura em 2026.

Em paralelo, registre-se que o projeto pessoal de Tarcísio, segundo pessoas próximas dele, é concorrer à reeleição. “Tarcísio é cerebral”, definiu à coluna um político experiente, que transita no entorno do governador. “Se ele pode chegar em 2030 como um líder político, duas vezes governador de São Paulo, por que aceitaria ser um episódio do bolsonarismo em 2026?”, questionou.

Uma pesquisa Datafolha divulgada nessa quinta-feira (10) revelou que Tarcísio sairia vitorioso de uma campanha à reeleição se a disputa fosse hoje em todos os cenários testados pelo instituto, com vantagem ampla sobre os adversários. Porém, o levantamento também mostrou que o governador não pode se descuidar do seu quintal: 22% avaliam sua gestão como ruim ou péssima, índice que dobrou em dois anos.

Em meio às especulações sobre seu destino, Tarcísio avança, tentando conciliar a imagem de herdeiro do bolsonarismo com a de político moderado. No domingo (6), no palanque ao lado de Bolsonaro, desfiou críticas ao governo federal. “Por que a inflação está tão cara, por que vocês estão pagando caro no ovo, e se está tudo caro, volta Bolsonaro”, exortou.

Meses antes, em fevereiro, Tarcísio subiu em outro palanque, daquela vez, ao lado de Lula, no lançamento do edital para construção do túnel Santos-Guarujá. “Tem gente do lado do Tarcísio que não gosta de vê-lo do meu lado, e tem gente do meu lado que não gosta de me ver do teu lado", provocou Lula. Por sua vez, Tarcísio exaltou o diálogo. “É o dia que a gente mostra e dá um exemplo de que é possível sentar na mesa, que é possível construir”, afirmou. “Diferenças têm que ser deixadas de lado para que a gente chegue num consenso, pra que a gente possa atender a população, é o dia de pensar no futuro", completou. Atualmente, é só o que move o mundo político: pensar no futuro.

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