Folha de S. Paulo
Argumentos estatísticos, socio-científicos e
econômicos não convencem a maioria das pessoas
Por que nem todo mundo é um "liberal
essencial", como eu? Acabei de passar meia hora produtiva conversando com
um colega brilhante do Cato Institute, refletindo sobre o triste fato de que a
maioria das pessoas é socialista, fascista, racista, protecionista ou liberal
"social", imune ao que, para nós dois, parece ser a verdade óbvia do
liberalismo essencial.
Falamos sobre imigração. É um tema quente hoje nos EUA, e o principal apelo de Trump —que quer impedir a "invasão" de pessoas negras e pardas. Meu colega apontou que muitos conservadores defensores do livre mercado reagem muito mal à previsão de que a crescente diversidade da população norte-americana produzirá maiorias do Partido Democrata no futuro. Os conservadores estão muito dispostos a abandonar seus fracos compromissos com o livre comércio de capital, bens e trabalho quando imaginam os negros e pardos votando.
Negros e pardos não são eleitores permanentes
dos democratas. Na última eleição, alguns homens negros e pardos confiavelmente
democratas votaram pela segunda vez contra uma democrata. E há um ponto mais
profundo, embora mais racional, típico do lado esquerdo do cérebro, de que a
atual composição dos imigrantes não prevê sua distribuição futura.
Os imigrantes irlandeses, judeus e italianos
que chegaram aos EUA, ao Brasil ou à Austrália no
fim do século 19 eram na maioria analfabetos e, de todo modo, foram desprezados
por motivos étnicos pela população existente, descendente de senhores
britânicos ou portugueses. Em poucas gerações, esses três grupos, em
particular, tinham níveis educacionais muito superiores aos dos senhores.
Meu colega e eu, entretanto, concluímos que
tais argumentos estatísticos e socio-científicos, e especialmente econômicos,
não convencem a maioria das pessoas. Os argumentos racionais dos meus colegas
economistas são ótimos para colunas na Folha dirigidas a pessoas
inteligentes predispostas às minhas conclusões. Já falei aqui sobre algumas
delas.
Muito inteligente, Deirdre. Elas farão
excelentes artigos em periódicos acadêmicos, incluindo demonstrações
estatísticas de sua veracidade.
Mas não mudarão a opinião de ninguém. O que
muda a opinião das pessoas são novidades que envolvem o lado direito do
cérebro, mais intuitivo —histórias pessoais num filme a favor dos imigrantes,
por exemplo; ou uma metáfora alarmante contra eles, como a que Trump utilizou,
de uma "caravana" cheia de criminosos, exploradores do bem-estar
social e outros tipos ameaçadores de imigrantes centro-americanos, seguindo
para o norte pelo México.
Fotografias, por exemplo, podem ser
extremamente convincentes. Você pode ter visto, como todos os americanos, na
Guerra do Vietnã, a terrível foto de uma menina nua, queimada pela napalm
lançado por aviões dos EUA. A foto mudou a opinião de muitos americanos. Mais
recentemente, você pode ter visto a foto do garotinho sírio que apareceu na
praia, afogado quando tentava chegar à Grécia. Ela
mudou a opinião de muitos europeus.
Então, talvez eu devesse parar de usar nesta
coluna argumentos tirados do lado esquerdo do cérebro.
Talvez eu devesse simplesmente publicar fotos
de pessoas empobrecidas por políticas governamentais estúpidas.
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