Valor Econômico
Questão do IOF precisa ser resolvida antes do dia 15, quando STF promove audiência de conciliação
A perspectiva de assinatura, no final deste
ano, do acordo Mercosul-União Europeia fez chegar ao gabinete da ministra do
Planejamento, Simone Tebet, a preocupação de países vizinhos como Chile, Peru,
Colômbia, Paraguai e Bolívia em estabelecer um caminho logístico até os portos
do Nordeste brasileiro, geograficamente mais próximos do velho continente.
A ministra lidera o programa Rotas de Integração Sul-Americana, iniciado em 2023, a partir da constatação que o agronegócio se expande para o Oeste do país. O objetivo original do programa é interligar as áreas produtoras do país aos portos do Pacífico, de onde o trajeto até o principal mercado consumidor, a China, é mais curto. São cinco rotas que buscam viabilizar o acesso do Brasil aos portos de Chile e Peru, entre outros.
O acordo com os europeus, no entanto, forçou
um olhar para a costa Atlântica. “As Rotas chegarem ao restante do território
brasileiro faz sentido para o Brasil e faz sentido para os nossos vizinhos
sul-americanos”, disse à coluna o secretário de Articulação Institucional do
Ministério do Planejamento, João Villaverde.
Assim, as Rotas ganharam um complemento, com
trajetos que passam por todos os Estados brasileiros, inclusive os não
fronteiriços. Esse acréscimo estará detalhado no terceiro relatório do
programa, a ser divulgado nos próximos dias.
Na maior parte, são rodovias, hidrovias e
trajetos de cabotagem que já existem.
“Ao incorporarmos todos os Estados
brasileiros, promoveremos ligações bioceânicas”, disse Tebet à coluna. “É o
Brasil chegando no Pacífico mais rápido e competitivo.”
O terceiro relatório das Rotas detalha o
impacto do programa em cada unidade da Federação. São Paulo, por exemplo, tem
uma relação comercial intensa na região. Se fosse um só país, a América do Sul
seria o maior parceiro comercial do Estado, à frente da China. Com um detalhe:
as vendas para o continente têm maior valor agregado. São US$ 3 mil por
tonelada, enquanto para os demais destinos o valor médio é de US$ 1 mil por
tonelada.
São Paulo não demanda obras. O principal
pedido é mais facilitação de comércio, contou Villaverde.
Já os Estados do Nordeste vislumbram a
possibilidade de facilitar vendas de seus produtos, como frutas, para o
interior do Brasil e para os países vizinhos, sentido Oeste. Querem também
atrair mais turistas.
Hoje, disse Tebet, 15% do comércio exterior
brasileiro ocorre na região. Em comparação, as trocas de mercadorias dentro da
América do Norte são de 40%, na Ásia chegam a 58% e, na Europa, a 62%. “Por que
somos justamente nós, os sul-americanos, a destoar?”, questionou. Ela considera
uma “missão histórica” atuar pela intensificação do comércio com países
vizinhos.
Isso pode ser buscado, no horizonte de um par
de anos, com a conclusão de obras do PAC em rodovias e hidrovias.
Antes da COP-30, marcada para novembro, Lula
deverá inaugurar o lado brasileiro da Rota Amazônica, toda de navegação. Falta
concluir a dragagem de dois trechos do rio Solimões e instalar um posto da
aduana na fronteira com a Colômbia. Ambos deverão ser concluídos em agosto,
informou o secretário.
A mera perspectiva de haver aduana
funcionando todos os dias na fronteira amazônica, coisa que hoje não há, já fez
aumentar a troca de mercadorias, disse Villaverde. Pelo posto de Tabatinga
(AM), do lado brasileiro da fronteira, as exportações realizadas em 2024
equivalem à soma dos sete anos anteriores. “O número absoluto é pequeno, mas
quando você olha nessa perspectiva, vê que as coisas estão se mexendo.”
Em 2026, deverá ser inaugurada a Rota de
Capricórnio. Será a primeira a ser concluída em todos os países. Por ela, os
portos de Santos (SP), Paranaguá (PR), São Francisco do Sul (SC) e Imbituba
(SC) estarão ligados aos portos de Iquique, Mejillones e Antofagasta, no Chile.
Do lado brasileiro, os desafios são a ponte binacional Brasil-Paraguai e a alça
de acesso a ela.
As Rotas não trazem “dinheiro novo”, mas
empacotam com o olhar da integração regional a infraestrutura que já existe no
Brasil e obras do PAC. Dessa forma, se tornaram uma agenda do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva com os países vizinhos, pelo dinamismo que pode trazer.
Segundo Villaverde, a Comissão Econômica para
América Latina e Caribe (Cepal) iniciou um estudo, a ser concluído em 2026,
sobre os impactos econômicos do Rotas.
Se antes a integração regional era algo que
existia mais no discurso do que na prática, hoje a crescente produção
agropecuária na fronteira Oeste do Brasil a torna uma imposição. O acordo
Mercosul-União Europeia empurra na mesma direção.
IOF
Amigos em comum entraram no circuito para
viabilizar o diálogo entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o
presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), contou o ministro. O ideal
é encontrar alguma solução para a novela do Imposto sobre Operações Financeiras
(IOF) antes do dia 15, quando haverá a audiência de conciliação no Supremo
Tribunal Federal. Um ponto de convergência é o corte de gastos tributários. O
ponto de divergência são as eleições. A ver o que pesa mais.
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