PGR expõe ridículo do pleito por anistia de Bolsonaro
O Globo
Sem ceder à chantagem, Justiça deve julgá-lo
e condená-lo pelos crimes contra a democracia que cometeu
As alegações finais apresentadas nesta semana
pela Procuradoria-Geral da República (PGR)
contra o ex-presidente Jair
Bolsonaro e mais sete acusados por tentativa de golpe de Estado são
uma demonstração oportuna e necessária da independência do Judiciário e das
instituições brasileiras diante da pressão que sofrem do governo dos Estados
Unidos — descabida, sem nexo e sem nenhum amparo nos fatos. Ante os inúmeros
indícios e evidências colhidos desde a fase de investigação pela Polícia
Federal, relatados exaustivamente ao longo de mais de 500 páginas, a PGR tomou
a única decisão cabível: pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF)
a condenação dos réus.
O documento da PGR expõe de modo eloquente a
desfaçatez do pleito de Bolsonaro por anistia e a irresponsabilidade da manobra
movida por seus familiares e aliados junto ao presidente americano, Donald
Trump. O próprio Bolsonaro admitiu ao STF ter procurado comandantes das Forças
Armadas para questionar o resultado das urnas e ter conversado com seus
auxiliares sobre medidas de exceção, como o Estado de Sítio. É ridículo
argumentar que essas iniciativas estavam, como ele insiste, “dentro das quatro
linhas” da Constituição.
Do mesmo modo, foi constrangedora a manifestação de Bolsonaro sobre a chantagem de Trump (impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros se não houver anistia aos golpistas). “A solução está nas mãos das autoridades brasileiras. Em havendo harmonia e independência entre os Poderes, nasce o perdão entre irmãos e, com a anistia, também a paz para a economia”, escreveu Bolsonaro. Ora, para ele, o Brasil deveria salvar sua pele cerceando a independência da Justiça — ou então pagar o preço altíssimo das tarifas impostas por Trump. Nada poderia refletir melhor seu desdém pela democracia, pela soberania nacional e pelas instituições republicanas do que esse recurso desavergonhado à chantagem.