domingo, 20 de julho de 2025

E a bandeira mudou de mãos - Míriam Leitão

O Globo

Semana em que o Brasil esteve sob ataque dos Estados Unidos teve um ineditismo: essa é pior crise da relação em 200 anos

A semana já estava lotada de eventos no Brasil, quando um carro da Polícia Federal parou na porta da casa de Jair Bolsonaro, em Brasília, pouco depois das 7h, prenunciando uma sexta-feira daquelas. No Brasil os acontecimentos transbordam os dias. O tempo não cabe nas horas do relógio. Na quarta, fomos dormir num Brasil com normas e leis ambientais ainda insuficientes, mas que haviam melhorado com os anos. Na quinta, acordamos diante dos destroços do licenciamento ambiental, demolição executada no Congresso à 1h52m da madrugada. Do primeiro ao último dia, ficamos sob cerrado bombardeio de Washington, que provocou temores na economia e reviravolta na política. Semana que merecia ser mês.

Os empresários erraram o alvo - Elio Gaspari

O Globo

Ao condenar as retaliações, tiram argumentos de negociadores brasileiros

Na terça-feira, o vice-presidente Geraldo Alckmin reuniu-se com um pedaço da elite do empresariado nacional em Brasília. Saindo da reunião, dois empresários condenaram as retaliações. Dias depois, o presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, foi claro:

“Pessoalmente, sou contra. Acho que tem que esgotar primeiro a parte negocial, e é exatamente isso que nosso governo está fazendo. Estou otimista que chegue a uma conclusão, então a gente não precisaria passar para essa outra etapa que, imagino, vai elevar ainda mais o nível de tensão e estresse na relação. A Embraer será uma das empresas afetadas pelas sanções, e o governo vem brandindo a ameaça de retaliações.”

Declarações como essas sinalizam que o empresariado brasileiro não quer que o Brasil vá à mesa de negociação com a arma das retaliações no coldre. Pena, porque se essa percepção se consolidar, daqui até o início de agosto, ou enquanto durarem as conversas, os negociadores brasileiros entrarão desarmados nas reuniões.

Tempo de Trump vai custar a passar – Dorrit Harazim

O Globo

Americanos começam a sentir o peso destrutivo do Estado policial que elegeram e prefeririam não ver

‘O tempo envelhece depressa’, ensinou o escritor italiano Antonio Tabucchi em belíssimo livro de contos publicado há anos. Quase já não conseguimos mais habitá-lo (o tempo), tamanho é nosso desassossego contemporâneo. Estamos cada vez mais aprisionados ao turbilhão do momento, à sensação de aceleração e fragilidade do mundo. Esquecemos quanto a História é apenas um rosário de momentos que o futuro se encarrega de trançar. A política, de modo geral, e os políticos medíocres, em particular, gostam pouco de elucubrações sobre o tempo — e ainda menos de ensinamentos da História. Vão atropelando para não ser atropelados por suas próprias fraquezas. Tome-se como exemplo o 45º presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Sanções de Trump ao Brasil miram a presença chinesa no continente – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Os Estados Unidos não têm condições de competir com a China em termos comerciais e de investimento, mas detêm o domínio do continente por meios financeiros, tecnológicos e militares

Há mais coisas entre o céu e a terra do que os aviões da Embraer e o Pix, diria Aparício Torelli, o Barão de Itararé, sobre a crise comercial e diplomática do Brasil com os Estados Unidos, que pode se tornar uma das maiores de nossa história. Teve como gatilho o julgamento do Jair Bolsonaro, mas é multifacetada e, por isso mesmo, pode escalar ainda mais, em razão das medidas cautelares impostas pelo ministro Alexandre de Moraes ao ex-presidente e referendadas pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Em resposta, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, revogou os vistos americanos de Alexandre de Moraes, "seus aliados e familiares imediatos".

Ortega – circunstância e perspectiva - Celso Lafer

O Estado de S. Paulo

Para Ortega, pensar não é apenas ver e analisar as circunstâncias e as perspectivas. É ação intelectual que se abre para o conviver

Ortega y Gasset (1883-1955) foi um pensador vigoroso e intrépido, com notável percepção do mundo em que estamos inseridos.

Recolocou com o poder irradiador da sua palavra o universo ibérico no campo do conhecimento filosófico.

É sua a conhecida formulação inaugural que enunciou em Meditações sobre o Quixote (1914): “Eu sou eu e as minhas circunstâncias, agregando que, se não as salvo, não me salvo”.

Terras raras são trunfo contra tarifaço - Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Uma das frentes em meio à guerra comercial promovida pelo presidente Donald Trump para tornar a América grande novamente tem sido mirar em países com potencial de fornecimento de terras raras para diminuir a dependência dos Estados Unidos em relação à matéria-prima chinesa.

Esses elementos estão no centro das negociações geopolíticas e representam uma das principais armas da China nas tratativas comerciais que se seguiram ao tarifaço. São minerais essenciais para a indústria tecnológica, bélica e para o novo setor da economia verde. Estão presentes em turbinas eólicas, baterias de carros elétricos, aparelhos médicos, painéis solares, sistemas de mísseis e radares.

Você decide - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

‘Make America great again’ ou ‘salve o Brasil de Trump e Bolsonaro’

A guerra pessoal e alucinada de Donald Trump contra o Brasil está indo longe demais e o lobista do caos, Eduardo Bolsonaro, avisa que vem mais por aí. O último drone foi a suspensão dos vistos do PGR Paulo Gonet, oito dos 11 ministros do STF e suas famílias, sob ameaça de fechamento do espaço aéreo americano para aeronaves brasileiras. Tudo isso porque um ex-presidente da República está sendo julgado e tende a ser preso por tentativa de golpe de Estado, num processo rigorosamente legal?

Tratado por Trump como uma ameaça maior do que seu amigão Netanyahu e seu vai e vem Putin, que desafiam o mundo e destroem Gaza e Ucrânia, Alexandre de Moraes dá de ombros. Entre seus colegas togados, avisa que não tem conta nos EUA, não tem negócios nos EUA e não tem planos de visitar o Mickey na Disney. Mas... cutucar loucos violentos é brincar com fogo.

Samuel Pessôa: EUA estão com reputação abalada e já são tratados como economia emergente

Luiz Guilherme Gerbelli / O Estado de S. Paulo

Na avaliação de do pesquisador do FGV/Ibre, o governo brasileiro dá sinais de que não deve retaliar os Estados Unidos

Pesquisador associado do Ibre/FGV, Samuel Pessôa avalia que as decisões econômicas adotadas pelo presidente norte-americano Donald Trump, com a escalada da guerra comercial, estão levando os Estados Unidos a serem tratados “como uma economia emergente”.

“Os Estados Unidos estão com a sua reputação muito abalada. Nesse choque, o dólar se desvalorizou e os juros de longo prazo da economia americana aumentaram”, afirma.

Na avaliação de Pessôa, o governo brasileiro dá sinais de que não deve retaliar os Estados Unidos. Se o País responder, avalia, pode haver uma piora da inflação brasileira.

“Na análise econômica, fica claro que o interesse do Brasil é não retaliar. E eu acho que também é do interesse do próprio presidente Lula, porque tem uma eleição à frente, e a inflação é um tema delicado.”

A seguir, trechos da entrevista concedida ao Estadão.

Trump, tarifas e oportunidade política – Juliana Diniz*

O Povo (CE)

Ao impor tarifas sancionatórias ao Brasil sob o pretexto de salvar Bolsonaro, Trump expôs didaticamente à nação uma constatação: Bolsonaro e filhos são uma ameaça à saúde política e econômica do País

O voluntarismo da política americana, personificado na figura de um presidente irracional e volúvel, tem sido tema desta coluna há algumas semanas. Nosso objetivo foi propor uma reflexão sobre a incompatibilidade entre Estado de Direito e incerteza quanto ao futuro: a democracia exige previsibilidade legal. Precisamos reconhecer, contudo, que esse voluntarismo, em geral maléfico para qualquer gestão, acabou por oferecer uma chance única de recuperação ao presidente Lula e ao seu governo.

Trump contra o Pix - Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Quando Bolsonaro chamou uma superpotência para intervir no Brasil, topou esses riscos todos

A família Bolsonaro sempre teve uma relação complicada com o Pix. No dia em que o Pix foi lançado pelo Banco Central, a imprensa perguntou o que o então presidente Jair Bolsonaro achava da iniciativa. Sem ter a menor ideia do que se tratava, Jair perguntou se era um negócio de aviação civil. Na campanha de 2022, mentiu que tinha criado o Pix.

Mas os Bolsonaros parecem não ter aprendido a usar a nova tecnologia. Pelo que vimos na última busca e apreensão, agora estocam dólares. Também costumam comprar seus imóveis com dinheiro vivo.

Donald Trump comunicou ao Brasil que quer acabar com o Pix. Enquanto tenta livrar da cadeia o pior criminoso de nossa história republicana, o companheiro de farra do pedófilo Jeffrey Epstein resolveu roubar nosso dinheiro.

Bolsonaro e o fim da empatia - Mariliz Pereira Jorge

Folha de S. Paulo

Rolou um déjà-vu desgraçado de quando a gente acordava pensando em qual seria o pesadelo do dia

Era para ser uma crônica sobre como homens e mulheres ainda consideram amizade entre gênero ficção cientifica, afinal, macho que é macho não consegue controlar o bilau dentro das calças. Mas o Brasil acordou com a Polícia Federal na porta de Jair Bolsonaro na sexta-feira (18). Toc toc toc. Como ignorar as notícias e, principalmente, os memes? Pensei, que a justiça seja feita –e fui tocar a vida.

Em frente à minha casa tem uma estação de bicicletas. Todos os dias, renovo minha fé em não ter mais carro e ainda contar com uma opção ecologicamente correta, saudável e charmosa. Acho sexy adultos que circulam de bike e não de SUVs. Obrigada, Itaú, pela graça alcançada. Mas quando eu pegava a magrela, a TV do bar mostrava, de novo, aquela cara sebosa falando que nunca viu um pendrive. Meti um Oasis no fone de ouvidos para lembrar como a década de 1990 foi boa e a gente sabia.

Truculência debilita direita – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Com Bolsonaro ligado a uma tornozeleira, o centrão terá de rever seus planos eleitorais para 2026

A truculência custou a reeleição a Jair Bolsonaro (PL) e agora o leva ao caminho do infortúnio pessoal e da inevitável perda de relevância no cenário nacional.

A trilha foi aberta pelo filho Eduardo (PL) no afã de posar como fonte de inspiração de Donald Trump na ofensiva por imposição de prejuízos ao Brasil.

Começou exigindo anistia ao pai e acabou colocando nele uma tornozeleira de vigilância cautelar, a fim de que não repita a façanha de Carla Zambelli (PL) que fugiu do país nas barbas da justiça. É o mesmo 03 da bazófia sobre fechar o Supremo Tribunal Federal com "um cabo e um soldado".

Geopolítica da loucura encenada - Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

Produto das telas e redes, portanto, de um novo tipo de estupidez, Trump busca nobreza eleitoral na insanidade

O imperador Calígula dizia ser um deus e conversar com a lua. Sanguinário, devasso, aperfeiçoava métodos de tortura, exilava cidadãos. Encabeça a lista dos governantes absolutistas mais loucos do mundo, próximos às ideias monarquistas de Curtis Yarvin, pensador da extrema direita, consultor de Elon Musk para um terceiro partido. Seria apressado associá-los a Trump, embora a crueldade do régulo americano tenha afinidade com o rol histórico dos desatinados. Eleito, ele veste carapuça imaginária de imperador, com fúria caligulesca de deportações e sombrios rumores sexuais. Mas de olho além da Lua, em Marte.

Supremacia cristã - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Livro mostra origens religiosas do antissemitismo e do racismo contra negros

"Christian Supremacy", de Magda Teter, é uma obra de fôlego que mostra as origens comuns do antissemitismo e do racismo contra negros. O pecado original é a religião.

Os primeiros cristãos queriam ao mesmo tempo uma religião que fosse nova, podendo expandir-se sem embaraços, e que gozasse da respeitabilidade de uma tradição mais longa. A solução foi inscrever o cristianismo no judaísmo. O novo credo já estaria previsto nas profecias de uma fé bem mais antiga e teria vindo para substituir a antiga aliança por uma nova (supersessionismo).

Opinião do dia - Antonio Gramsci* (Partido Político)

"Será necessária a ação política (em sentido estrito) para que se possa falar de "partido político"? Pode-se observar que no mundo moderno, em muitos países, os partidos orgânicos e fundamentais, por necessidade de luta ou por alguma outra razão, dividiram-se em frações, cada uma das quais assume o nome de partido e, inclusive, de partido independente. Por isso, muitas vezes o Estado-Maior intelectual do partido orgânico não pertence a nenhuma dessas frações, mas opera como se fosse uma força dirigente em si mesma, superior aos partidos e às vezes reconhecida como tal pelo público. Esta função pode ser estudada com maior precisão se se parte do ponto de vista de que de um jornal (ou um grupo de jornais), uma revista (ou um grupo de revistas) são também "partidos", "frações de partido" ou "funções de determinados partidos",

*Antonio Gramsci (1891-1937), Cadernos do Cárcere, V. 3, p. 349, Civilização Brasileira, 2007

Mickey sem Disney - Pablo Spinelli*

Planeta Terra, 2054. Mickey Barnes e seu amigo Timo estão falidos após um fracasso nos negócios e fugindo de um agiota. Sem alternativas, eles se alistam como tripulantes de uma nave que deixa a Terra para colonizar o planeta Nilfheim, projeto do ambicioso casal Kenneth Marshall e sua esposa, Gwendolyn. Enquanto Timo vira parte da equipe de pilotos da nave, Mickey, de forma involuntária e impensada torna-se um “descartável”, um ser humano que terá sua memória condensada e seu corpo será morto com direito a reimpressões que trazem o mesmo corpo de volta, mas com personalidades diferentes. Eis que chega na versão de número 17, que começa por conta de acasos a não encontrar a morte que é dada como certa pela nave, com a versão 18 acabando por ser reimpressa, dilemas para versão 17 começam a surgir, sendo o principal a certeza do fim do seu eterno retorno.

Poesia | Adriana Calcanhotto - O elefante, de Carlos Drummond de Andrade

 

Música | Teresa Cristina - Feitio de Oração (Noel Rosa)