segunda-feira, 21 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Saneamento está melhor, mas quadro ainda é vergonhoso

O Globo

Apenas investimentos privados poderão oferecer condições sanitárias dignas, revela novo estudo

Houve, nos últimos anos, avanços no saneamento básico brasileiro, mas a situação continua precária, revelam os dados mais recentes do ranking elaborado pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a GO Associados. Para acabar com os indicadores vergonhosos, é preciso acelerar os investimentos. O Brasil perdeu muito tempo deixando o setor à mercê das empresas estatais de água e esgoto, sem capacidade de investir e dominadas por interesses políticos. Apenas com o Novo Marco Legal do Saneamento, em 2020, a situação passou a melhorar. Infelizmente, em ritmo aquém do necessário para oferecer condições sanitárias dignas à população.

Agora, a questão a resolver é como acelerar os investimentos para atingir a meta de, até 2033, levar água tratada a quase toda a população e o esgoto a 90%. Pelos últimos dados, falta água potável a 16,9% dos brasileiros, e 44,8% não têm coleta de esgoto. Para universalizar os serviços, estima o documento, seria preciso dobrar o volume atual de investimentos — de R$ 22,5 bilhões verificados em 2022 para R$ 46,3 bilhões anuais até 2033.

Hora de ser brasileiro – Fernando Gabeira

O Globo

Desejar uma unidade nacional que transcenda nossas divergências políticas não significa que elas desapareceram

Isso de ser brasileiro é estranho porque, às vezes, passa um tempo esquecido; às vezes, uma certa decepção com as elites políticas aborrece. Mas, ao contrário do verso de Drummond, há um momento em que todos os bares se abrem, e todas as virtudes se afirmam. A carta de Trump fixando uma tarifa absurda sobre os produtos brasileiros é um desses momentos. Como assim, logo o Brasil, que tem déficit comercial com os Estados Unidos?

Felizmente, sou carta fora do baralho em Brasília. Mas isso não me exime de pensar e fazer algo. É uma oportunidade para que todos façam, pois é um tipo de luta aberta a todos, por menor que seja a contribuição de cada um. Pelo menos é assim na visão estratégica que me parece adequada.

As aves que aqui gorjeiam- Demétrio Magnoli

O Globo

Como cantar as glórias do presidente dos EUA quando é o Brasil inteiro que está na mira?

O poeta nostálgico errou. As aves daqui gorjeiam igualzinho às de lá. Transliteram, imitam, transcrevem, copiam, macaqueiam. O boné vermelho de Tarcísio de Freitas, a bandeira das 50 estrelas na mão dos militantes “patriotas”, a pátria é outro país, uma nostalgia invertida, o permanente exílio ideológico. Não podia dar certo, como provou Trump no dia da sanção política que, graças à tentação do autoengano, ainda nomeamos “tarifa”.

Fogo no aviário. Naquele dia, as aves já não sabiam o que gorjear. Tarcísio, Zema, Caiado responsabilizaram Lula, que nem sequer foi mencionado na carta do herói deles. Os filhotes Bolsonaros, fiéis ao texto sagrado e a seus interesses profanos, culparam o STF — ou seja, Alexandre de Moraes. Todos, porém, na primeira hora, cederam ao impulso neural do alinhamento à pátria estrangeira: Trump tem razão.

A favela paga. O Estado não retorna - Preto Zezé

O Globo

É preciso parar de tratar o consumo das periferias como fonte de receita e enxergar esses territórios como prioridade

No Brasil, é sempre a mesma história: quando o governo precisa arrecadar mais, olha para baixo. O recente tarifaço sobre o IOF é mais uma prova disso. O imposto, cobrado sobre operações financeiras como crédito, seguros e câmbio, poderia ser um mecanismo para tributar fortunas e grandes transações financeiras. Mas, na prática, quem sente o peso são os pequenos empreendedores, os trabalhadores endividados e as famílias das favelas.

Ação antecipa efeitos eleitorais que viriam em eventual prisão - César Felício

Valor Econômico

Oposição ao presidente Lula tende a se fragmentar em mais de uma candidatura no campo conservador

A colocação da tornozeleira eletrônica no ex-presidente Jair Bolsonaro, na sexta-feira (19), antecipa politicamente os efeitos no cenário eleitoral que eram projetados para o momento de sua prisão, evento aguardado para setembro ou outubro. A oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva tende a se fragmentar em mais de uma candidatura no campo conservador. Uma delas tende a ser da família Bolsonaro, com respaldo do presidente americano Donald Trump para contestar desde o início a legitimidade do pleito. Dividirá o espaço com um ou mais dos governadores de siglas do Centrão que se movimentam desde o ano passado para se viabilizarem.

Todos querem sua fatia do orçamento público - Bruno Carazza

Valor Econômico

Corporações do serviço público buscam ficar a salvo do ajuste fiscal e ter liberdade para autoconceder benefícios

Enquanto a sociedade se distrai com os tarifaços de Trump ou as reviravoltas do processo contra Bolsonaro, a deterioração fiscal e a apropriação de recursos públicos por grupos privados correm soltas.

Na semana passada, usei este espaço para denunciar os pagamentos de honorários para advogados públicos, que estavam sendo realizados em valores superiores a centenas de milhares de reais sem a divulgação no portal de transparência do governo federal desde novembro do ano passado.

Num caso raro de resposta rápida a uma cobrança pública, que foi amplificada por reportagens em diversos veículos de imprensa, o governo disponibilizou as informações sobre os valores na quinta-feira. No dia seguinte, uma procuradora da Fazenda Nacional que recebeu R$ 193.226,92 em honorários apenas no mês de janeiro deste ano me procurou numa rede social para me acusar de estar agindo em nome dos grandes escritórios de advocacia da Faria Lima para “sucatear os serviços públicos”.

Cenário complicado com sanção de Trump e mais vendas chinesas - Assis Moreira

Valor Econômico

Produtor nacional terá mais dificuldade para exportar para os EUA e mais pressão interna de produtos chineses

O governo brasileiro começou o ano projetando uma ligeira queda de 5% no saldo da balança comercial neste ano, ficando em torno de US$ 70 bilhões. Recentemente, na segunda previsão, em meio a persistentes turbulências na cena global, Brasília previu -32% no saldo comercial, encolhendo para US$ 50 bilhões, ou US$ 24 bilhões a menos do que em 2024.

Agora, a ameaça de sanção contra o Brasil anunciada por Donald Trump torna a situação ainda mais delicada, ao coincidir com um momento de retração do superavit brasileiro com a China, seu principal parceiro comercial.

Lula define estratégias para enfrentar pressão Trump - Renata Giraldi

Correio Braziliense

A tática reúne duas frentes: uma política, comandada pelo próprio presidente, que busca apoio global em defesa da democracia e da soberania nacional, enquanto Alckmin intensifica as articulações com os empresários em busca de acordos

A menos de duas semanas para o prazo final do tarifaço de 50% sobre os produtos nacionais, estabelecido pelo governo Donald Trump, dos Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em Santiago, no Chile, para intensificar a articulação global em torno da defesa da democracia e da preservação da soberania, enquanto o presidente em exercício e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, reforça as conversas com os empresários.

O governo definiu uma estratégia bem clara para reagir à pressão de Trump. Na corrida contra o relógio, Lula e Alckmin vão evitar falar no ex-presidente Jair Bolsonaro e na família dele. A resposta padrão será que se trata de um assunto do Judiciário, mais precisamente do Supremo Tribunal Federal (STF). Assim há um evidente esforço de afastar a trama política da diplomática, econômica e comercial. Tanto o presidente da República quanto o vice-presidente vão focar nas negociações e nos eventuais avanços que poderão vir.

Presidentes punidos, democracias fortalecidas - Carlos Pereira

O Estado de S. Paulo

No Brasil e na Coreia do Sul, instituições sólidas e competição política freiam desvios e autoritarismos

Esses dez dias na Coreia do Sul me fizeram refletir sobre as semelhanças políticas e institucionais com o Brasil. Ambos os países se tornaram democracias praticamente ao mesmo tempo – o Brasil em 1985, a Coreia do Sul em 1987. São sistemas presidencialistas, multipartidários, em que o presidente concentra amplos poderes constitucionais, mas o Judiciário atua com independência notável.

As coincidências não param nas instituições. Tanto no Brasil quanto na Coreia, a única mulher a ocupar a presidência foi afastada do cargo por impeachment. Park Geun-hye foi condenada a 32 anos de prisão por corrupção, mas cumpriu apenas cinco, após receber perdão do então presidente Moon Jae-in. No Brasil, Dilma Rousseff também teve seu mandato interrompido, embora por crimes fiscais e orçamentários. Já Lula foi condenado a 12 anos de prisão por corrupção, mas teve a pena anulada pelo STF após 580 dias de cárcere.

Eduardo Bolsonaro sepulta sua carreira - Camila Rocha

Folha de S. Paulo

Deputado precisaria voltar ao país para reassumir o mandato, mas demonstra estar despreocupado com isso

O prazo da licença de Eduardo Bolsonaro na Câmara dos Deputados se encerrou em 20 de julho. Após 120 dias afastado do cargo, o parlamentar precisaria voltar ao Brasil para reassumir o mandato.

No entanto, Eduardo não poderia estar mais despreocupado com o cargo. Inclusive, já afirmou que se voltar ao Brasil agora corre risco de ser preso. Por esse motivo, sua opção provavelmente será: "deixar o tempo correr e perder o mandato por falta".

O motivo de tamanha despreocupação é seu deslumbramento com uma possível candidatura presidencial em 2026. Em uma entrevista recente, comemorou: "Meu nome já figurou em algumas pesquisas, né? Fiquei feliz."

O deputado reconhece que a escolha definitiva pelo representante do bolsonarismo em 2026 depende da decisão do pai. Porém, deixou clara sua intenção caso tenha sinal verde: "Obviamente, se for uma missão dada pelo meu pai, vou cumprir."

Efeitos eleitorais da justiça tributária - Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

Entre os candidatos, o distributivismo oportunista gera uma espécie de corrida armamentista para ver quem dá mais

Será que a contraofensiva midiática do governo, centrada na questão da justiça tributária, teve impacto na reversão da queda de popularidade do presidente? A questão é muito complexa porque coincidiu, em larga medida, com um choque externo no sistema: o tarifaço de Trump. Mas os dados de pesquisa da Quaest nos ajudam a analisar a questão.

Democracia sempre

A história nos demonstrou repetidamente que a democracia é o melhor caminho para garantir a paz, a coesão social e as oportunidades para todos

Em diferentes partes do mundo, a democracia enfrenta um momento de grandes desafios. A erosão das instituições, o avanço dos discursos autoritários impulsionados por diferentes setores políticos e o crescente desinteresse dos cidadãos são sintomas de um mal-estar profundo em amplos setores da sociedade. A isso se somam as persistentes desigualdades, o retrocesso nos direitos fundamentais, a disseminação da desinformação e de discursos de ódio em plataformas digitais e a expansão de redes criminosas que desafiam a legitimidade do Estado.

Diante desse cenário, não cabe o imobilismo nem o medo. Defendemos a esperança. Em um mundo cada vez mais polarizado, como líderes progressistas temos o dever de agir com convicção e responsabilidade frente àqueles que pretendem enfraquecer a democracia e suas instituições. Porque não basta evocar a democracia nem falar em seu nome: devemos fortalecê-la, renová-la e torná-la significativa para aqueles que sentem suas promessas não cumpridas. É com mais democracia que criaremos mais oportunidades para as gerações futuras, e como melhor nos adaptaremos aos desafios globais impostos pela inteligência artificial ou a mudança do clima. Resolver os problemas da democracia com mais democracia, sempre.

Golpismo bolsonarista inova com populismo globalizado nas redes

Fabio Victor e Renata Galf / Folha de S. Paulo

Trama golpista e 8/1 guardam semelhanças a aventuras autoritárias do passado, mas com características próprias

Entre tantos golpes e tentativas de golpe ocorridos no período republicano, o golpismo bolsonarista guarda traços semelhantes aos de muitas aventuras autoritárias do passado, mas ao mesmo tempo possui características próprias, que a tornam única nesse imenso painel nacional da infâmia.

Segundo estudiosos do tema, o perfil mais corporativo (para preservar benefícios e manter cargos) por parte de militares, junto a uma mobilização marcada pelo intenso uso de redes digitais numa conjuntura de um populismo de extrema direita globalizado, além de instituições mais robustas, são alguns dos distintivos da trama golpista que levou Jair Bolsonaro (PL) e vários de seus asseclas ao banco dos réus, sob acusação de tramarem impedir a posse de Lula (PT) após a eleição presidencial de 2022.

Poesia | Manuel Bandeira - Circuito da Poesia do Recife

 

Música | Mariana Aydar e Jazz Sinfônica - Espumas ao Vento