Podemos
e devemos fazer é afastar pelo voto ou outro meio legal dirigentes que falharam
em proteger seus governados
Numa
era que abomina desigualdades, nenhuma delas poderia ser mais vital do que a
diferença no acesso a
vacinas contra a Covid-19.
Enquanto a União Europeia já contratou imunizantes para inocular toda a sua
população duas vezes, o Reino Unido e os EUA, para quatro, e o Canadá, para
seis, vários países pobres ou remediados ficaram chupando o dedo.
Não é a face mais nobre da humanidade, mas o fenômeno era esperado. Apenas repete em escala biofarmacológica o que já víramos acontecer na disputa por respiradores no início da pandemia.
Nem vejo muito como recriminar os governantes dos países que açambarcaram o mercado. Eles, afinal, não foram a uma gôndola de supermercado e levaram para casa muito mais víveres do que serão capazes de consumir. Só acumularam tantas doses porque, diante das incertezas que cercavam e ainda cercam as vacinas, diversificaram suas apostas —o que é bem básico.
Quando
esses dirigentes
firmaram seus acordos, ainda não se sabia quais imunizantes
funcionariam e quais seriam descartados no meio do processo. Também não havia
clareza em relação à eficácia de cada um deles e aos prazos de entrega.
O fato, porém, é que o Canadá não vai vacinar seus cidadãos seis vezes no próximo par de anos, de modo que há uma sobra de imunizantes contratados. O destino que o país dará a eles pode fazer a diferença entre uma atitude, digamos, fominha e uma posição ética. O ideal é que essas nações que adquiriram mais vacinas do que usarão doem o excedente a países pobres.
Embora
sempre possamos sonhar com um mundo igualitário, em que os habitantes do Sudão
receberiam vacinas no mesmo dia que canadenses, não devemos ver nada parecido
tão cedo, e não me parece que devamos condenar os governantes que se mostraram
capazes de proteger seus governados. O que podemos e devemos fazer é afastar
pelo voto ou outro meio legal os dirigentes que falharam nessa missão.
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