- Folha de S. Paulo
Fim do auxílio emergencial pode produzir catástrofe social; projetos de lei no Congresso apontam saída
Nesta
semana acontecem os últimos pagamentos do auxílio emergencial. O benefício
deixará de ser pago a 41 milhões de brasileiros, 15 milhões dos quais têm no
auxílio a única fonte de renda. A expectativa é que 20
milhões de pessoas passem a viver abaixo da linha de pobreza.
Apesar
da catástrofe social iminente, o governo Bolsonaro ainda não apresentou um
programa social que possa conter essa drástica expansão da pobreza que vai
engolir 10% da população brasileira.
A
saída mais rápida, a renovação do auxílio emergencial, parece enterrada, tanto
pelo governo Bolsonaro, como por Rodrigo Maia, ainda que o TCU tenha indicado
que os restos a pagar do orçamento de guerra pudessem ser utilizados para essa
finalidade sem o rompimento do teto
de gastos em 2021.
No
Congresso tramitam duas propostas para reformar as políticas de transferência
de renda.
Na Câmara tramita o PL 6072/19 de autoria da deputada Tabata Amaral que reforma o Bolsa Família. O projeto recebeu há pouco um substitutivo do deputado Eduardo Barbosa que estabelece duas linhas de cortes, uma para pobreza (R$ 260 per capita) e outra para extrema pobreza (R$ 130 per capita) e pretende, com o valor base, tirar todas as famílias da extrema pobreza.
Além
disso, o substitutivo cria valores adicionais por filho, sem limite por
família, corrigindo uma notória deficiência do Bolsa Família. Seriam R$ 100
para cada criança até 5 anos e R$ 50 para cada criança ou adolescente entre 6 e
17 anos. A proposta busca investir na infância, sobretudo na primeira infância,
equilibrando os esforços sociais que hoje estão concentrados nos cidadãos mais
velhos. O substitutivo também prorroga o auxílio emergencial por nove meses com
redução gradual do valor até equiparar com o valor desse novo bolsa família.
No
Senado, tramita o PL 5343/20 de autoria do senador Tasso Jereissati a partir de
proposta do Centro de Debates de Políticas Públicas. O projeto também
estabelece cortes de pobreza (R$ 250 per capita) e extrema pobreza (R$ 120 per
capita) e reforma o Bolsa
Família, estabelecendo um valor base mais simples orientado a acabar
com a pobreza extrema.
Além
disso cria dois outros benefícios que funcionam como uma poupança: um orientado
a compensar as flutuações de renda dos informais e outro voltado aos
estudantes, que poderiam sacar após a conclusão do ensino médio. O projeto
estabelece fontes dos recursos (remanejadas do Bolsa Família, abono salarial e
seguro defeso) e cria metas sociais de redução da pobreza que, se não forem
cumpridas, podem suspender desonerações.
*Pablo Ortellado, professor do curso de gestão de políticas públicas da USP, é doutor em filosofia.
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