terça-feira, 22 de julho de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Promoção da democracia perde espaço sob Trump

O Globo

Diplomacia americana sofre restrições para criticar eleições fraudulentas no exterior

Em comunicado a embaixadas americanas, o secretário de Estado, Marco Rubio, determinou na semana passada que comentários sobre eleições devem evitar opiniões sobre legitimidade e imparcialidade do processo eleitoral ou os “valores democráticos do país em questão”. Se um posto diplomático quiser criticar uma eleição por violência ou fraude, deverá buscar orientação em Washington. As permissões, avisa o texto enviado na quinta-feira, serão raras. Com Donald Trump no poder, nada disso é surpreendente. O comunicado é mais um indício do abandono pelos Estados Unidos da política de promoção da democracia.

Na sexta-feira à noite, Rubio anunciou a revogação dos vistos americanos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e familiares próximos. Estão na lista oito dos 11 integrantes da Corte: Alexandre de MoraesLuís Roberto Barroso, Dias Toffoli, Cristiano Zanin, Flávio Dino, Cármen Lúcia, Edson Fachin e Gilmar Mendes. Esse foi o último exemplo de pressão sobre o Judiciário da segunda maior democracia das Américas. Poderá não ser o último. O Departamento de Estado ainda cogita usar a severa Lei Magnitsky. Bens sob jurisdição dos Estados Unidos que pertençam aos alvos serão congelados, e operações envolvendo o sistema financeiro americano excluídas. A legislação foi concebida para punir abusos dos direitos humanos. Portanto sua aplicação contra ministros do STF seria uma aberração, mais uma no rol encabeçado pela carta com a ameaça do tarifaço em agosto.

Os planos para enfrentar tarifaço - Míriam Leitão

O Globo

Negociadores devem continuar a buscar solução com EUA para tarifas. Ao mesmo tempo é preciso se preparar para enfrentá-las sem improviso fiscal

Faltam nove dias para a data que Donald Trump marcou para o começo do tarifaço. O ministro Fernando Haddad disse, em entrevista à CBN, que o Brasil nunca saiu da mesa de negociações. Ao mesmo tempo, prepara planos de contingência. O Brasil tem que viver esses dias fazendo exatamente isso: esforço negociador e preparação para os cenários alternativos. Nesse momento, a incerteza já atinge produtores, exportadores, investidores e financiadores, com reflexos na economia.

Tudo acontece antes de acontecer na economia, porque as decisões precisam ser tomadas com antecedência. A incerteza tem efeito paralisante, o que por si tem impacto econômico. Empresas já estão tendo prejuízo, principalmente os fornecedores de produtos perecíveis. Não se pode esperar o dia primeiro de agosto para depois pensar em como resolver os problemas.

Ontem, na entrevista de Haddad ao Jornal da CBN, eu lhe perguntei se o governo tem planos para socorrer empresas atingidas por esse tarifaço, se ele ocorrer.

— Numa situação como essa, de agressão externa injustificável, o Ministério da Fazenda se prepara para todos os cenários. Então, nós temos plano de contingência para qualquer decisão que venha a ser tomada pelo presidente da República. Mas eu insisto em dizer que o Brasil jamais saiu e jamais sairá da mesa de negociação, porque não há compreensão da nossa parte de que essa situação perdure para benefício mútuo, tanto dos Estados Unidos quanto do Brasil. Agora, o plano de contingência nós somos obrigados a fazer. É uma situação emergencial que não se previa até 15 dias atrás. Ninguém podia imaginar uma decisão unilateral dessa envergadura.

O rato que ruge - Merval Pereira

O Globo

Nessa disputa retórica, o Brasil só tem a perder, assim como Bolsonaro, pois os dois são mais frágeis que seus oponentes.

Dizer que a revogação dos vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) é “inadmissível”, como fizeram o presidente Lula e o chefe da Casa Civil, Rui Costa, é uma linguagem política que coloca os que a pronunciam, especialmente sendo duas figuras das mais importantes do país, numa situação-limite. Se é “inadmissível”, farão o quê? O rato que ruge? Exército Brancaleone? Nessa disputa retórica, o Brasil só tem a perder, assim como Bolsonaro, pois os dois são mais frágeis que seus oponentes.

O governo brasileiro tem uma vantagem institucional, pois é uma das maiores economias do mundo democrático. O país, diante da maior potência econômica e militar do mundo, não tem como confrontar o oponente, a não ser no campo moral, mesmo que tenha razão. Já Bolsonaro, não tem como confrontar o Supremo Tribunal Federal (STF), mesmo que tenha o apoio do presidente daquele país, pois não tem o apoio dos fatos, que o condenarão por ter atentado contra a democracia brasileira.

O GPS, o Swift – Pedro Doria

O Globo

É muito difícil fazer desconexão de uma quantidade imensa de satélites de um país do tamanho do nosso

Os dois boatos que tomaram as redes bolsonaristas nos últimos dias, de novas sanções que o governo Donald Trump poderia impor ao Brasil, não têm pé nem cabeça. Um sugere que o Brasil poderia ser cortado do sistema GPS, aquele que faz nossos mapas de celular funcionar. O outro determina que o Brasil poderia ser cortado do Swift, o protocolo adotado internacionalmente para transferências monetárias internacionais. O primeiro deixaria o país incapaz de ter sistemas internos para localização. O outro impediria toda transação financeira para fora. As ideias são absurdas por motivos técnicos e por motivos políticos.

Tornozeleira é a maior arma da guerra comercial - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

A atuação conjunta entre Executivo e STF tornou-se o arranjo institucional dos tempos de guerra 

O objetivo de Donald Trump é derrotar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2026 e colocar no seu lugar um aliado como Jair Bolsonaro com quem possa contar para agregar o Brasil ao “grande Panamá” no qual pretende transformar seu quintal para melhor enfrentar a China. Este “antiamericanismo” já não causa as cizânias de tempos atrás no Itamaraty, na Esplanada e até em setores do empresariado.

Até 1º de agosto, quando os tarifaços americanos começarão a valer no mundo todo, a adesão em maior ou menor grau a este consenso move o Brasil não bolsonarista. Depois disso, conte-se, pelo menos, mais um mês. A articulação esbarra no verão do Hemisfério Norte durante o qual nada que é sólido se move. Chega-se, então a setembro, quando deve se iniciar o julgamento do ex-presidente.

Brasil é lanterna, mas paga pelo avanço do Brics - Pedro Cafardo

Valor Econômico

Trump, com seu tarifaço, mira no bloco, mas atira no mais fraco, enquanto se mostra, por ora, cauteloso no ataque às três potências nucleares do grupo

Quando os países do Brics se reuniram no Rio, há duas semanas, ficou claro o incômodo que representam para os EUA. Durante a cúpula, o presidente Donald Trump ameaçou tarifar em 10% qualquer país que venha a se alinhar com políticas antiamericanas do grupo. Terminado o encontro, em 9 de julho, Trump anunciou a bombástica taxação de 50% dos produtos brasileiros.

Trump já havia ameaçado taxar em 100% as importações dos países do Brics se vierem a usar moeda alternativa ao dólar para suas transações comerciais. Na semana passada, ameaçou introduzir tarifas de 100% contra a Rússia (se não houver trégua na Ucrânia) e seus parceiros comerciais, principalmente China, Índia e Brasil, não por coincidência, outros três fundadores do Brics. Finalmente, pediu a abertura de investigação comercial contra o Brasil. Até pagamentos eletrônicos (leia-se Pix) entraram na mira.

Trump e a chantagem como método - Sergio Fausto

O Estado de S. Paulo

A ameaça feita ao Brasil é parte da exacerbação generalizada do ímpeto imperial americano

Trump emprega contra outros países a mesma técnica que utiliza contra seus adversários internos (qualquer instituição ou indivíduo que ouse se interpor à realização de sua vontade). A chantagem é uma constante em sua trajetória empresarial e política.

Dentro dos Estados Unidos, Trump está levando ao extremo a teoria do caráter unitário do Poder Executivo (Unitary Executive Theory), segundo a qual todas as agências e funcionários do governo estão submetidos ao presidente. Segue-se que, nesse âmbito, ele pode admitir e demitir pessoas, fechar e criar órgãos e agências, interferir no modo de execução das leis e desembolso do orçamento, independentemente da autorização do Legislativo ou do Judiciário. Não contente com isso, Trump busca subtrair poder dos outros ramos do governo.

A escalada da crise com os EUA - Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo

O custo dessa política de confrontação com o governo dos EUA recairá sobre o setor privado

A crise comercial entre Brasil e EUA escalou perigosamente, podendo contaminar a relação política e diplomática entre os dois países.

Os entendimentos comerciais mantidos pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e o Itamaraty, para negociar o tarifaço de abril, de 10%, para todos os países, foram confirmados em carta de 16 de maio e prosseguiram até 4 de julho, sem qualquer reação americana.

‘Movimentações atípicas’ - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Quem, como e por que lucrou montanhas de dinheiro com o anúncio do tarifaço de Trump?

Agora, mais essa: quem teve informação privilegiada e lucrou montanhas de dinheiro com o anúncio de tarifas de 50% para produtos brasileiros nos EUA? É uma suspeita gravíssima e envolve Donald Trump, capaz de tudo na principal potência do mundo, que parece anestesiada diante de tantos descalabros. Um deles, aliás, também passou praticamente em branco: Elon Musk remexendo documentos secretos do Pentágono sobre a China, onde tem negócios bilionários. Inacreditável!

Segundo o Jornal Nacional, da Rede Globo, houve uma daquelas formidáveis “movimentações financeiras atípicas” no dia 9 de julho, coincidindo com a carta de Trump anunciando o tarifaço para o Brasil. A conexão entre a divulgação da carta e as operações de compra e venda de dólar entrou no radar da AGU e do Supremo: o ministro Alexandre de Moraes mandou investigar.

Bolsonaro dobra aposta na crise de Trump com Lula e acirra polarização - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Bolsonaro tenta se colocar como peça central de uma guerra maior, apresenta-se como vítima de um complô de Lula e Moraes. Trump, ao endossar sua defesa, fortalece o discurso de perseguição, a narrativa da oposição

A semana começou em alta voltagem. O ex-presidente Jair Bolsonaro dobrou a aposta no caos institucional e na narrativa de perseguição política para manter viva a polarização com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em meio à crise diplomática com os Estados Unidos, provocada pelo tarifaço de 50% de Donald Trump sobre os produtos brasileiros, Bolsonaro intensificou sua atuação política. Mesmo com as limitações das medidas cautelares adotadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que o mantêm monitorado por tornozeleira eletrônica e proíbe entrevistas públicas e postagens nas redes sociais.

Nesta segunda-feira (21/7), Bolsonaro desafiou os limites das medidas cautelares de Moraes. Pela manhã, já havia concedido uma entrevista à jornalista Andrea Sadi, da Globo News. À tarde: esteve no Congresso para reuniões com deputados e senadores da oposição. Apesar da recomendação de advogados para evitar declarações públicas, desafiador, o ex-presidente aproveitou a saída do encontro para produzir matéria prima para postagens nas redes. Ao apontar para a tornozeleira eletrônica, reforçou o discurso de vítima: “Não roubei os cofres públicos, não desviei recurso público, não matei ninguém. Isso aqui é um símbolo da máxima humilhação em nosso país. Uma pessoa inocente”.

O que fazer com as tarifas de Trump? - Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

É hora de olhar para fora, procurando novos mercados e buscando novos acordos comerciais

A esta altura, depois de reiteradas falas de Trump e da revogação dos vistos de ministros do Supremo, quem ainda insistir em dizer que as tarifas de Trump não têm nada a ver com Bolsonaro —e que seu real interesse, inexplicavelmente secreto, é punir o Brasil (e unicamente o Brasil) por seu papel no Brics— está apenas reproduzindo narrativa política. Trump dá todas as mostras de que quer sim dobrar nossa Justiça.

Eduardo fez sua escolha. Está disposto a destruir o Brasil para livrar o pai da Justiça. "Se tudo der errado, estaremos vingados." Agora o Brasil tem que se haver com as consequências dessa vingança.

Soberania, só, não faz verão – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Em 2026, o eleitor não vai avaliar Trump: vai escolher o que lhe parecer melhor para sua vida no Brasil

O ministro Alexandre de Moraes não poderá entrar nos Estados Unidos, bem como "seus familiares e aliados da corte", conforme anunciou o secretário de Estado, Marco Rubio.

Guardadas as proporções, algo parecido foi tentado anos atrás pelo presidente Luiz Inácio da Silva (PT), que queria cancelar o visto do então correspondente do New York Times, Larry Rohter, por causa de uma matéria que o desagradou.

Lula foi em boa hora impedido por Márcio Thomaz Bastos, à época ministro da Justiça, cuja morte o privou de seu melhor conselheiro. Estivesse entre nós, doutor Márcio talvez lhe dissesse para maneirar na reação às provocações do celerado do Norte.

A crônica morreu, mas passa bem - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

O que se pode afirmar com certeza é que ela não morreu e anda cheia de apetite

A discussão já dura uns 50 anos. Apesar das evidências, volta e meia surge alguém dizendo que a crônica morreu. Morreu, mas passa bem. Uma das provas é um livro recém-lançado, "Um Milhão de Ruas", no qual Fabrício Corsaletti passeia pela São Paulo de hoje com a mesma curiosidade e sofisticação de João do Rio no início do século 20.

Em "Viagem no País da Crônica", que acaba de chegar às livrarias, Humberto Werneck põe fim a outra pendenga. O gênero chegou ao Brasil em 1852 trazido da França pelo diplomata Francisco Otaviano. Ruy Castro confirma a informação e acrescenta que Otaviano foi o primeiro a usar o termo flanar, versão do francês "flâner".

O marxismo, a cultura e as mudanças – Ivan Alves Filho*

A presença do marxismo na construção da cultura contemporânea é um fato que impressiona ainda hoje, revelando a força do Humanismo no mundo, o valor da luta pela Justiça Social e pela Ética nas relações entre as pessoas, e isso em vários pontos do planeta. 

No epicentro deste fenômeno se encontra inegavelmente a III Internacional fundada por Vladimir Lenin e seus companheiros em 1919. Não que a tradição marxista se esgote na experiência iniciada pela Revolução Russa de 1917, evidentemente. Aliás, sequer começou com ela: o Manifesto do Partido Comunista, redigido por Karl Marx e Friedrich Engels data de 1848.  Mas, a Revolução Russa foi o acontecimento mais marcante do século XX. 

Lady Tempestade -Ricardo Marinho*

Livro resenhado: Gomez, Sílvia. Lady Tempestade. Rio de Janeiro: Cobogó, 2025. 96 págs.

Imagem da capa: Mércia Albuquerque em visita a Gregório Bezerra, na Casa de Detenção do Recife A fotografia se encontra no arquivo pessoal desta e não consta a data em que foi feita.

Hoje, Mércia Albuquerque (1934-2003) ainda não é considerada pelas poucas leitoras e leitores uma das testemunhas mais importantes das atrocidades da ditadura civil-militar brasileira imposta em 1964 e uma intelectual significativa do século XX.

Em uma madrugada, A. (Atriz) é surpreendida por um telefonema de R. (um homem misterioso) desconhecido, que avisa: um pacote será enviado para o seu endereço. Em três dias, ela recebe os manuscritos do diário de Mércia Albuquerque, advogada pernambucana que defendeu presos políticos durante a ditadura civil-militar brasileira.

Soy loco por ti, MPB - IFBA concede título de Doutor Honoris Causa a Capinan

Por Luize Meirelles / IFBA

A sessão solene de outorga do título acontecerá na sexta-feira, 1º de agosto, às 17h, no Espaço Cultural 2 de Julho, da Reitoria do IFBA. Com parceria com Gilberto Gil, João Bosco, Sueli Costa, Moraes Moreira, Roberto Mendes e Paulinho da Viola, entre outros, o poeta e compositor baiano José Carlos Capinan é considerado um dos maiores letristas da música popular brasileira

“Quem me dera agora, eu tivesse a viola pra cantar. Ponteio”. Lá pelo ano de 1967, esses versos da música Ponteio invadiram os lares brasileiros na terceira edição do Festival de Música Popular Brasileira, organizado pela TV Record, e arrebataram o primeiro lugar entre as canções apresentadas, como Alegria, Alegria, de Caetano Veloso, Domingo no Parque, de Gilberto Gil, O Cantador, de Dori Caymmi e Nelson  Motta, e Roda Viva, de Chico Buarque.

Quem assinou a composição junto com Edu Lobo, que interpretou a canção no Festival, foi José Carlos Capinan, o poeta baiano que atuou e tem atuado em momentos e movimentos importantes no Brasil. Pelo seu relevante papel artístico, cultural e político, Capinan será homenageado com a concessão do título de Doutor Honoris Causa pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA).

A sessão solene de outorga do título acontecerá na sexta-feira, 1º de agosto, às 17h, no Espaço Cultural 2 de Julho, da Reitoria do IFBA, localizada na Avenida Araújo Pinho, nº 39, no bairro do Canela, em Salvador, Bahia. A cerimônia, que contará com a participação da reitora do IFBA, Luzia Mota, será aberta ao público, considerando a limitação do espaço. Os(as) interessados(as) devem se inscrever por meio do link https://suap.ifba.edu.br/eventos/inscricao_publica/448/

Poesia | Te esperei, de Capinan, voz do autor, violão de Gerado Azevedo

 

Música | Edu Lobo e Bena Lobo - Ponteio (Edu Lobo e José Carlos Capinam)